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Terça-feira,
23/10/2007
Cucarachas, uni-vos!
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O Tordesilhas, Festival Ibero-americano de poesia contemporânea começa na terça-feira, dia 30 de outubro, e se estende até 4 de novembro em São Paulo. O encontro de poetas brasileiros e do exterior se propõe a "apresentar e discutir a produção recente de poesia na América Latina e Península Ibérica", tendo como lema "Desconstruindo a linha de Tordesilhas". E a interação vai além.
Com curadoria de Claudio Daniel e Virna Teixeira, Tordesilhas será no Caixa Cultural, mas a programação noturna vai percorrer diversos centros culturais paulistanos, como o Instituto Cervantes e a Academia Internacional de Cinema.
Trinta convidados estrangeiros, em companhia dos hermanos daqui, vão conversar sobre temas de interesse como "Revistas latino-americanas impressas e eletrônicas" (com Léon Félix Batista, Marcelo Chagas...) "Editoras independentes ibero-americanas" (Luís Serguilha, Victor López...), "Território e linguagens na web - blogs de poesia" (João Miguel Henriques, Allan Mills, Bruna Beber...). Da mesma forma que discussões sobre a poesia espanhola e portuguesa atuais, assim como acerca do lugar deste gênero na universidade.
Nota-se que Tordesilhas pretende trazer uma poesia próxima e muitas vezes desconhecida do grande público brasileiro, sendo que é uma iniciativa bastante aguardada se pensarmos, por outro lado, na boa divulgação e tradução que a nossa poesia contemporânea tem recebido em alguns países. Diversos lançamentos dentro do próprio festival demostram este reconhecimento meio às escondidas, assim como o caminho contrário: se a montanha vem até nós, nós também propomos algo a ela...
Parte da produção poética contemporânea nacional estará presente em livros com ânsia de leituras estrangeiras, a serem lançados durante o evento (dia 2 de novembro). É o caso das coletâneas de Caos Portátil, poesia contemporánea del Brasil (Cidade do México, El Billar de Lucrecia, 2007) e Antologia Vacamarela (São Paulo, 2007). Além dos livros de capa artesanal do selo Demônio Negro, com um esperado relançamento.
Caos portátil é uma edição bilíngüe português/espanhol da editora mexicana capitaneada por Rocío Cerón, a El Billar de Lucrecia. Com traduções de Camila do Valle e Cecilia Pavón, segundo Bruno Solomonoff, são "280 páginas de potencia poética, sin lugar a dudas uno de los libros más esperados de esta década. Ese continente aparte que es el Brasil, se le abrirá al lector en castellano con esta extraordinaria selección".
Se Caos traz 13 poetas, a Antologia Vacamarela, projeto do coletivo homônimo, reúne 17 poetas brasileiros com a intenção de revelar parte da jovem produção poética deste início de século. Para tanto, os textos do livro se abrem em edição trilíngüe português/espanhol/inglês. "A tradução de todo o conteúdo para o espanhol e o inglês representa um esforço de superação da barreira da língua para a poesia em língua portuguesa", anuncia o grupo.
São pequenos editoriais e parcerias entre autores e tradutores que fazem movimentar - ainda que de maneira pontual pela dificuldade da distribuição e tiragem limitada -, a literatura de hoje, sem dúvida em busca de um diálogo e um fazer aparecer-se salutar. Mas, apenas querer não basta, hoje é essencial repensar estratégias de publicação e divulgação. Rocío, em entrevista sobre difusão de poesia à revista argentina Plebella, pondera sobre a questão: "Tanto los autores como las editoriales están obligadas a repensar las formas o vías de encuentro con sus posibles consumidores. Si no estaríamos condenados a sólo leernos entre poetas, en el mejor de los escenarios posibles."
Um profundo interesse pela poesia brasileira também acontece na Argentina. Nosso vizinho Cristian De Nápoli esmiúça a poesia latino-americana, nos presenteando com os livros da coleção Black&Vermelho, sem contar o Festival latinoamericano de poesía Salida al Mar.
Evidentemente, a internet também participa deste jogo. Um dos convidados do Tordesilhas, o catalão Joan Navarro, mantém desde 1999 uma primorosa revista eletrônica dedicada à poesia, a sèrieAlfa - fulls temporals d'art i literatura.
Assim, o Festival Tordesilhas tem uma grande importância em si por ser uma iniciativa pioneira e pelo esforço de aproximação entre Brasil, os outros países da América Latina e Península Ibérica. Mas também por possibilitar um abrir de olhos especial sobre a poesia brasileira contemporânea. E a constatação é de que não se faz nada sozinho (de outra forma nem teria graça!). São os veículos colaborativos que estão fazendo a diferença.
Quem sabe construindo outras linhas, sobretudo imaginárias, curvas criativas, atravessando cordilheiras e oceanos. Seria este o mote da vez?
Para ir além:
Tordesilhas, Festival Ibero-americano de poesia contemporânea - 30 de outubro a 4 de novembro - das 9h às 21h - Caixa Cultural São Paulo - Praça da Sé, 111 - Entrada Franca.
Postado por Elisa Andrade Buzzo
Em
23/10/2007 às 12h56
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