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Sexta-feira, 30/10/2015
O Futuro e a Reforma do Paraíso
Raul Almeida
+ de 900 Acessos

A conversa seguia muito animada quando o Futuro levantou-se com ar solene e pediu atenção. Queria dizer algo que achava de grande importância. Todos assentiram ao pedido e foram se acomodando nas enormes almofadas e sofás de veludo e seda, ou encostando às colunas do refinado salão das delicias.
-Tenho pensado num assunto que nos diz respeito.Assim começou seu discurso lançando forte olhar em direção a cada um.
Por toda a eternidade praticamos a mesma forma de triagem e distribuição dos nossos feitos. Muitas vezes mudamos um ou outro caso, fazemos uma ou outra surpresa. Mas o resultado é a reciclagem. A mesmice está me cansando.
Vocês não acham que é hora de pedir audiência à Palavra e sugerir um novo regulamento de acesso ao Paraíso? Quem sabe, aproveitar para fazer uma reforma, pintura, sei lá.
O pronunciamento pegou todo mundo de surpresa. Imagine só, mudar as regras e, ainda por cima, reformar o Paraíso. Para que? O que isso significava? A coisa estava funcionando tão bem desde antes dos tempos.
-Que conversa mais estranha essa do Futuro, pensou o Ódio, cercado das irmãs Ira e Raiva, e do irmão mais moço, Rancor. As primas Perversidade, Crueldade e Brutalidade não esconderam o espanto.
A Sorte, o Infortúnio, a Fatalidade e o Acaso interromperam mais uma das acaloradas discussões sobre quem era quem, e qual merecia mais crédito em suas intervenções e olharam para o Futuro, como se nada tivessem percebido. Quase pediram que repetisse, mas não foi necessário.
Ninguém ousou questionar a proposta do Futuro. Estavam acostumados às suas novidades estapafúrdias e esta não seria a razão para maiores discussões. A reunião estava tão cordial e equilibrada que não valeria a pena começar um bate-boca. A votação foi proposta pela Calma. Sua característica conciliadora necessitava da legitimação daquela idéia, evitando que a mesma caísse no vazio. Tudo aprovado voltaram às suas conversas, comidinhas e libações.
Sentindo-se satisfeito e prestigiado como sempre, o Futuro desapareceu em suas próprias vestes, rodopiando e sibilando até que o Passado espargiu bruma sobre o local onde se encontrava.
Todos sabiam que iria correndo, redigir a petição rogatória à Palavra. Era só esperar para ver no que ia dar essa coisa de renovar as regras para ingresso no Paraíso.
Em sua enorme casa lá no infinito absurdo, a Palavra pensava e não chegava a nenhuma conclusão para a proposiçao do Futuro.Não encontrava nenhum nome que pudesse, sozinho, arcar com responsabilidade de tal magnitude, alguém que fosse capaz o suficiente para ser o arquiteto de um projeto, cujo objetivo era romper com a rotina sedimentada no fundo do tanque dos juízos.
Depois de muito pensar, murmurar, caminhar em círculos, trovejar e relampejar, a Palavra decidiu atender a petição e convocar uma grande assembléia.
Pensou de novo e definiu seus jardins, lagos e fontes, por serem completamente neutros, como lugares ideais para o evento, evitando melindres e ressentimentos, já que em outras oportunidades, os participantes manifestaram preferência para fazer reuniões no inferno, nas montanhas azuis do céu ou nas barrancas dos penitentes.
Em seguida estabeleceu o roteiro:
A ideia e argumentação do Futuro seriam descritas próximo ao lago da Serenidade. Depois, todos seguiriam para as primeiras discussões às margens do caudaloso rio das Emoções. Em seguida, apresentariam as conclusões nos jardins das Delicias e, finalmente, o veredicto no Salão da Criação. A finalização de um encontro deste porte com um tema desta envergadura seria um fantástico banquete, com espetacular queima de fogos, raios e trovões, nos terraços da Eternidade.
As proclamas para o grande acontecimento ficaram a cargo dos Arcanjos e seus comandados.Os anjos, potestades, tronações, serafins e querubins fizeram uma revoada magistral em todos os cantos da luz.
Para a turma da treva, as criaturas horríveis, aladas, caminhantes, claudicantes e rastejantes completaram a convocação.
A cobertura foi total sobre todos os reinos.Terra, Ar, Fogo e Água receberam cartazes, faixas, folhetos, folders, broad siders, filipetas e outdoors. Todo o material foi colocado em todas as esquinas, becos, cafundós, furnas, nuvens, caramanchões e alamedas. Nenhuma dimensão ficou de fora.
Uma campanha de peso, para que o resultado do encontro fosse absolutamente indiscutível.
A velocidade do querer da Palavra determinou o nada como tempo suficiente para que todos fossem, devidamente avisados, convocados e confirmados.
No prazo indicado, cada qual foi chegando com seu séqüito, suas hierarquias, seus agentes, criados e acólitos.
O Ódio, a Raiva, a Ira e o Rancor combinaram juntar as comitivas e assim impressionar mais fortemente. Suas carruagens aladas, tiradas pelas enormes bestas de fogo e horror, vinham precedidas por legiões de ôgros e carrascos vestidos de negro e fumo. O ruído ensurdecedor que produziam com seus brados e urros, ribombava por toda parte.Em seguida a Inveja, a Ganância, o Remorso, a Vergonha, a Mentira e Falsidade chegaram, exibindo suas vestimentas luzidias, sorrindo e distribuindo afagos a todos, enquanto alguns dos seus criados tentavam tirar alguma vantagem, entregando brindes com uma das mãos, e recolhendo o que pudessem, com a outra.
Após breve momento a turma liderada pela Bondade chegou ao portal do grande jardim.
Menos ruidosos ou exibidos, o Bem, o Amor, a Piedade, a Complacência, a Caridade, a Misericórdia, o Carinho, e a Gentileza, antecederam a turma da Pobreza, Mediocridade, e Abandono.
A Luxúria, o Despautério, a Desfaçatez, a Depravação, a Sedução a Loucura e o Medo, com as comitivas compactas e uniformes foram se espalhando entre os que já se haviam instalado, com seus sorrisos, piscar d'olhos, gestos, e extravagâncias.
A expectativa era grande. A Palavra nunca aparecia, pois se o fizesse, devastaria tudo tal a sua energia, brilho, esplendor e força. Apenas trovejava, relampejava à distância, ou iluminava tudo com a luz de sóis magistrais e multicoloridos.
Os grupinhos foram se formando, as turmas se misturando conforme as hierarquias, sorvendo néctar e comendo ambrósia. Quando menos se esperava, um tilintar sutil, forte e cristalino chamou a atenção para uma enorme caixa com a tampa semi-aberta, bem no meio do gramado que envolvia e contornava o Lago da Serenidade.
Todos voltaram a atenção para a estranha aparição. Um murmúrio foi ouvido tal qual o rolar dos trovões longinquamente detonados, e, num crescente transformou-se num alarido desordenado, um brado coletivo de horror e medo.
O Futuro aproximou-se da aparição, rodopiou em toda a sua volta e, acalmando-se, enquanto todos com as vozes já suspensas aguardavam alguma explicação, falou:
- Acho que a Palavra já deu a sua opinião. Para que possamos começar a modificar a situação do presente, é preciso que entremos todos nesta caixa, e esperemos que o Dom Divino do Deuses volte a nos libertar.
Ninguém disse mais nada. Estava entendido que Pandora aguardava apenas a volta de todos.
Então o Futuro voltou a falar, declarando sua absoluta falta de vontade de mudar qualquer coisa, rodopiando e indo embora.
Para que reformas?
A reunião acabou, todos voltaram para suas posições e desígnios e o Universo nem soube de nada.


Postado por Raul Almeida
Em 30/10/2015 às 10h58

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