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Sexta-feira,
1/4/2016
Como num filme
Anchieta Rocha
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Sempre que ele chega, me atira na cama, não dá uma palavra, enfia com raiva, veste a roupa e vai embora. Tem vez que nem espera chegar no quarto e ainda no corredor me agarra. Um dia até rasgou minha roupa.
Mulher sou eu, de rabo quente, põe ele maluco, coisa que a outra não faz, fresca que é. Aposto que abre a porta do carro pra ela, puxa cadeira no restaurante e uma porção de coisa. Já pegou o meu jeito, vou aceitando sem reclamar, o peito cada dia mais apertado. Alguns homens chegam, homens que muita mulher queria ter, em cima de mim, não adianta, é só ele. Queria ser outra. Igual uma, li numa revista feminina. Vai pra cama cada dia com um. Nada de amor, de dengo. A boba aqui é só ele bater o olho. Carinho e agrado nunca. Me dá muito pouco.
Desde o início me encantoou de tal jeito, que cada dia mais fico sem saber o que fazer da vida.
Vai ver os dois estão agora na cama por obrigação, enfastiados. Ela pode até gemer debaixo dele, se é que geme de verdade.
Sempre fui uma morena bonita. Quando os homens falavam que eu parecia com a Sônia Braga, mais balançava a bunda.
Se soubesse que a coisa ia ficar desse jeito, no primeiro dia tinha voltado da porta com a mala. Enquanto a mulher me mostrava o serviço, ele corria o olho no meu corpo.
Não passou uma semana, numa noite foi entrando, tapando minha boca, me agarrando. Sentei na cama e decidi que no outro dia eu ia embora tão logo ela chegasse do plantão.
Cedo eu estava na pia da cozinha. Veio por trás, me pegou e falou qualquer coisa no meu ouvido. A água arrepiou meu braço mais ainda.
Quando ia pra lavanderia, eu não gostava de ver a roupa dos dois saindo grudadas da máquina. As dela, atirava num canto. As dele, na hora de passar, ficava alisando os peitos das camisas e as calças.
Foi assim durante muito tempo. Nem uma delicadeza nem nada. Chegava e pulava em cima como se eu fosse uma égua. Se não vinha, rolava na cama, ardendo de vontade e de raiva, o ouvido no quarto deles, uma cega no cinema.
Num fim de semana, um tempão sem me procurar, me desesperei. Antes de dormir, peguei uma camisa dele no cesto de roupa suja e enrolei no travesseiro.
Uma noite não aguentei e esmurrei a porta. Abriram assustados. Prendi a respiração. Pedi um comprimido e fui deitar. Resolvi que cedo ia embora.
Chorando, disse que ele mal falava comigo, que eu queria ter uma vida como todo mundo, um lar. Prometeu que ia encontrar um jeito, que eu tinha que ter mais paciência, que as coisas não podiam mudar de uma hora pra outra.
No dia seguinte ele veio e demorou. Depois cruzou comigo de cabeça baixa muitas vezes.
Dei um basta apontando pra mim em frente do espelho. Quando me viu fazendo a mala, a voz entalou:
— Se você for embora eu não sei o que vai ser de mim.
— Você tem ela.
— Não tenho, você nunca vai entender.
Sentou na cama, abaixou a cabeça escondendo o rosto nas mãos.
De lá pra cá nada mudou. No mais chega, me trata como um pano de chão. Quando não vem, fico passando o filme dos dois na cabeça e peço a Deus pra ficar velha depressa que eu não aguento mais esta fogueira ardendo dentro de mim.
Postado por Anchieta Rocha
Em
1/4/2016 às 22h32
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