COLUNAS
Sexta-feira,
13/10/2006
Um grande sarau na região de Campos do Jordão
Tatiana Cavalcanti
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Que tal ir ao cinema no meio da rua, ou ainda assistir a uma palestra conceituada rodeada por galinhas ou mesmo dentro de uma estufa? Parece estranho, mas assim é o Festival dos Mellos, que ocorreu de 15 a 17 de setembro na Serra da Mantiqueira, no interior de São Paulo. Em sua segunda edição, o evento atraiu cerca de quatro mil pessoas em três dias, e contou com uma variedade cultural num circuito de música, cinema, circo, dança e palestras. O que diferencia o FestMellos é o cenário, repleto de montanhas, cachoeiras, fazendas e casas rurais centenárias.
A sexta-feira, primeiro dia do festival, teve como abertura o cortejo em frente à igrejinha local, que teve participação da população, estudantes, visitantes e o grupo Namakaca, formado por artistas circenses, além da Banda de Fanfarra de Santo Antônio do Pinhal, que se apresentou ao redor da fogueira à noite.

Nas "conversas" de sábado, como são chamadas as palestras, o público pôde interagir com Gustavo Franco, economista que integrou o grupo responsável pela criação do Plano Real, e Luciano Coutinho tratando de questões relacionadas ao futuro da economia brasileira. A palestra foi mediada pelo jornalista e apresentador de televisão Paulo Henrique Amorim numa estufa e teve recorde de público, com 500 pessoas. A conversa com a ex-ministra Dorothea Werneck e a zen budista Monja Coen aconteceu em frente à casa da Dona Furtada, antiga moradora dos Mellos. Numa casa de tijolos simples, com galinhas, cachorros, pássaros, as folhas das árvores e o vento, as pessoas formavam um círculo, sentadas no chão ou em toras de madeiras dispostas em torno das convidadas. Nesse mesmo dia ocorreu uma oficina, "Curta dos Mellos", projeto de filmagem com a participação da comunidade, que tinha como objetivo a construção de um vídeo em dois dias, incluídos todo o trabalho do figurino, direção de arte, fotografia e edição. E eles conseguiram.
O ponto alto do dia foi a pré-estréia do filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues, que foi precedida por uma palestra com o próprio cineasta. Nessa sala de cinema ao ar livre, no meio da rua, com carros passando entre a tela e o público, os telespectadores prestavam atenção absoluta ao filme.

O último dia do festival teve início com a Meditação das 4 Direções. Depois de relaxar o corpo, as pessoas seguiram num cortejo com o grupo Maracatu de Baque Virado até uma bela cachoeira. Para chegar até o local, era necessário descer uma enorme escadaria, rodeada por árvores e flores, ao som da queda das águas da cachoeira, e, no meio disso tudo, o grupo apresentava danças de raízes brasileiras para uma platéia animada e participativa. Ao mesmo tempo acontecia na estufa, não muito longe dali, mais uma conversa, desta vez com a presença do vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia, o inglês Peter Fry e o senador paulista Eduardo Suplicy. No meio da tarde, houve a apresentação de trechos do espetáculo de dança Milágrimas, do coreógrafo Ivaldo Bertazzo. O festival foi encerrado com o show do músico Davi Moraes.
Mellos é um bairro rural pertencente a Campos do Jordão, e segundo alguns moradores, o festival está ajudando a modernizar o local e também está despertando o interesse pela região. A intenção do diretor do festival Rodrigo Martins é promover a revitalização do local, trazendo acessibilidade cultural aos moradores. "Pessoas de todas as idades, classes sociais e graus de instrução se fizeram presentes nos três dias de eventos, confirmando a vocação aberta e ampla do festival", destaca Martins. A boa recepção do público ao evento está estimulando a comissão organizadora a iniciar os planos para a terceira edição, no ano que vem. "O FestMellos 2006 foi um sucesso, mas já começamos a pensar em 2007, ou seja, fazer da terceira edição um evento ainda mais organizado, com convidados tão instigantes quanto os que brilharam nos encontros e apresentações deste ano", diz Rodrigo Martins. Segundo ele, palestrantes e artistas ficaram tão contentes quanto o público com a participação no evento. "Eles foram unânimes em destacar a importância de um festival como esse para a região e o prazer em fazer parte da iniciativa. Era interessante ver gente vasculhando a região e espantar-se quando deparados com convidados como Gustavo Franco e Monja Coen em uma estufa", diz.

O FestMellos é um fim de semana para quem aprecia diversidade cultural e para quem gosta de interagir com personalidades e mesmo moradores locais, que também têm muito a dizer. Aos que gostaram da idéia, é uma experiência diferente e uma forma interessante para se ampliar os horizontes. Só resta agora esperar pela próxima edição.
Para ir além
Festival dos Mellos 2006
Tatiana Cavalcanti
São Paulo,
13/10/2006
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