DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
30/5/2003
Em pouco tempo não serás mais o que és
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 136 >>>
É raro encontrar um artista que, musicalmente, siga uma carreira ascendente. As tentativas são comuns no universo do rock, por exemplo. O "roqueiro" cresce e descobre que não pode mais continuar compondo, cantando e tocando como se tivesse sempre quinze anos. Então migra para um gênero mais elaborado; no Brasil, naturalmente, a MPB. Vide a geração dos anos 80 (que nem sempre foi feliz): Cazuza, Lobão, Herbert Vianna. Todos flertaram com a música brasileira dita séria. Mais recentemente (nos anos 90?), no reino das intérpretes, a nova safra de cantoras se embrenhou no mundo dos acordes com sétima e nona: Cássia Eller, Zélia Duncan e Ana Carolina. Mas, obviamente, alguém começou com tudo isso muito antes. Pode-se apontar Rita Lee, e sua saga pós-Mutantes. Mas... será? O mais certo é falar numa figura quase sempre esquecida nessas ocasiões: Ney Matogrosso. Depois de sair do seu atual show, em que esbanja afinação em canções de Cartola, é quase impossível imaginá-lo num disco dos Secos & Molhados. Mas ele esteve lá. "Rosa de Hiroshima", inclusive, é entoada no bis. Ney vem da escola de cantores-com-voz (segundo a classificação de Nelson Motta), que remonta a Elis Regina, Wilson Simonal e inevitavelmente à era dos festivais (aliás, novo livro de Zuza Homem de Mello). Quem assiste às performances de Marisa Monte (aquela cantora dos Tribalistas...) e não consegue entender de onde vieram aqueles braços e aquelas mãos, deveria se arriscar na temporada de Matogrosso no Tom Brasil. Está tudo lá. Aquela presença cênica que atualmente só pode ser encontrada nas apresentações de Maria Bethânia. O modo de efetivamente encarnar personagens, e conduzir a platéia através de mínimos gestos (calculados). Nada em excesso, nem sequer um sorrisinho de canto de boca - vive-se sob o domínio rigoroso da técnica. O que parece "espontaneidade do momento" pode ser encontrado, exatamente igual, no disco "Ney Matogrosso interpreta Cartola ao vivo" (2003), da gravadora Universal. As surpresas, portanto, foram todas previstas. O espetáculo, no entanto - ao contrário do que possa parecer -, não deixa de ser surpreendente. Matogrosso é seguramente o maior cantor de sua geração (não que nela haja muitos), e perdê-lo é como perder um capítulo da História do canto moderno brasileiro.
>>> Ney Matogrosso interpreta Cartola ao vivo | Tom Brasil
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Julio Daio Borges
Editor
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