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Sexta-feira,
27/3/2009
Salvem os jornais de Portugal
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Jornalismo, como o tivemos, não durará. Existe uma certa "demissão" na transferência para o virtual. O cidadão "informado" — que, acima de tudo, se quer, a ele próprio, informado — "reduz-se", em grande medida, à fragmentação; ao "pluralismo" em linha. Encontra-se, parcialmente, "desligado". Este modelo, como complemento de uma tentativa de agarrar o "actual", embora menos reflectido, é já "necessidade". Longe de substituir o conhecimento integrado que o artigo de opinião, a reportagem densa e a investigação demorada conferem. Numa realidade em que muita da "actualidade" não passa de tentativa de desinformação, manipulação, apropriação ou veículo de marketing e propaganda, afirma-se a necessidade de atenção ao pormenor. A tentação do entretenimento, o jornalismo direccionado ou o argumento do consumidor "activo" encerram a contradição de um maior "sedentarismo". A World Wide Web torna-se, assim, menos "democrática". Na afirmação das nossas "escolhas", vamos ao encontro do que já somos. A notícia "num clique", "confirma-nos": mantém-nos longe. O jornalismo escrito, enquanto produto, não pode ser encarado exclusivamente como tal: "ele é aquilo que me alerta para o que eu não sou". O único veículo que possuo para estar atento relativamente ao que é exterior à minha diminuta capacidade de alcance e atenção: o poder.
A acomodação do consumidor à formatação "preguiçosa" dos jornais em linha tem conduzido ao desinvestimento publicitário, diminuição qualitativa e consequente perda de novos leitores, emagrecimento de redacções e falência de inúmeras publicações a nível global. O relativista, na sua constante necessidade de "almofadar" a realidade dirá que tudo se recompõe: o mercado regula sempre, como sempre nos quiseram fazer crer, apesar de inúmeros avisos, a interminável corte de "padres" economicistas.
Começa aqui o problema: "o mercado", visto como um gigante, ausente de influência humana. Redundância. Segundo previsões, o formato em linha, numa hipotética realidade — de resto, segundo alguns, mais próxima do que desejaríamos acreditar — em que o suporte físico desapareça, poderá apenas cobrir 10% dos custos que as publicações actuais exigem. Saber custa dinheiro. Pelos vistos, a democracia também. Por isso, compro um jornal por dia.
Afonso Pimenta
* * *
Faço parte dos muitos que, gradualmente, foram deixando de comprar jornais. O processo começou há anos. A partir de certa altura, todos os principais jornais estavam on-line. Na internet conseguia ler mais jornais do que seria possível em papel.
Quando, há cerca de 8 anos, trabalhei como jornalista num site, nos meus favoritos havia uma pasta "Jornais", e dentro, uma pasta para cada país. Entre jornais portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, alemães, italianos e americanos, tinha uns 30 links disponíveis, que me permitiam saltar rapidamente para a página do jornal. Isto aconteceu, obviamente, na pré-história.
Actualmente, com a subscrição de feeds, o meu método anterior é algo de anacrónico e obsoleto. No Google Reader, no telemóvel, num PDA, em qualquer tipo de suporte é possível subscrever as actualizações de uma publicação on-line. É possível organizar, filtrar, personalizar a recepção dos novos textos, através do leitor de feeds que usarmos. Dessa forma podemos acompanhar, arquivar e pesquisar uma quantidade grande de informação.
Sei perfeitamente que a internet oferece ferramentas interessantes e versáteis, que — e faço a inversão de sentido sem ironia — os jornais não podem substituir. O que motivou a minha participação no MFJEP [Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago] não é sentir, de alguma forma, repulsa ou sobranceria em relação aos jornais e outras publicações on-line, e muito menos algum tipo de desprezo ou fobia em relação ao meio WWW.
Associo-me desde o início ao MFJEP porque vejo nesta iniciativa uma forma de cidadãos exigentes e atentos lutarem contra a degradação deste pilar fundamental da democracia que é o jornalismo. Sei que dizer, em relação ao jornalismo, que se trata de "um pilar fundamental da democracia" é um cliché gasto pela repetição — pelo menos tanto quanto a expressão "movimento a favor".
Talvez o desinteresse e a falta de iniciativa, crónicas e contagiosas maleitas de que padecem os portugueses, expliquem que nos custe tanto movimentarmo-nos em conjunto a favor de algo que nos diz respeito. A maior parte das pessoas não se alarma com o perigo de degradação da qualidade do jornalismo, quanto mais reflectir sobre as suas consequências directas na degradação da qualidade da democracia.
É também aqui que pretendemos atacar, ferindo a inércia e a preguiça, despertando e usando de saudável agitação. Tal como o Afonso refere no texto [acima] que lançou este movimento, o jornalismo que conhecemos hoje, pode acabar dentro de pouco tempo. O modelo existente ainda tem o jornal de papel com o seu preço de capa e a sua publicidade tradicional, mesmo se nos sites se concentram mais serviços e, na maior parte dos casos, mais notícias e mais actualizadas que na versão em papel. Ora, com a queda nas compras e os custos de manutenção não só da versão impressa mas também da versão e serviços on-line, muitos jornais correm o risco de fechar. Outros, ainda que não acabem, poderão ser desvirtuados até ao ponto de se perderem grande parte dos critérios jornalísticos. Se nada mudar, ficaremos entregues a um número (ainda mais) reduzido de jornais, quase todos apenas na versão online. E, o problema maior é esse, a versão on-line não será o que é hoje — com as redacções a serem reduzidas e os jornalistas a acumular tarefas e a ficar sem tempo para assegurar qualidade e rigor.
Compra um jornal por dia! Estás a assegurar o teu futuro, não só o dos jornais. Ou preferes um mundo sem informação credível? Escolhe viver num futuro em que a imprensa livre se reforça e consolida, em vez de desaparecer ou ficar moribunda.
Nuno Miranda, no Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago, que, a partir do MySpace, tenta salvar os jornais impressos de Portugal.
Postado por Julio Daio Borges
Em
27/3/2009 à 00h55
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