A Última Ceia de Leonardo da Vinci | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 12/2/2013
A Última Ceia de Leonardo da Vinci
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 22700 Acessos

Prólogo

Cristo está no centro de uma grande mesa, os seus discípulos estão sentados à sua esquerda e direita; Ele disse: "Há um entre vós que me trairá!" - e esta afirmação inesperada alvoroça todo o grupo. Somente ele permanece mudo, mantendo os olhos baixos, e este silêncio contém a repetição das palavras: "Sim, há um de vocês que me trairá".

O tumulto não perturba Cristo, que se mantém totalmente quieto. Suas mãos estão estendidas descontraidamente, como se ele tivesse dito tudo o que havia para ser dito. Diferente das antigas representações da Ceia, o Cristo de Leonardo não fala, nem ao menos ergue os olhos, mas se mantém no mais eloquente dos silêncios da história da arte. É o silêncio terrível que exclui toda esperança.

A obra prima

A Última Ceia foi encomendada por Ludovico Sforza e os frades dominicanos para a decoração da parede do refeitório da igreja de Santa Maria della Grazie, em Milão. A pintura foi iniciada em 1495 e concluída três anos depois, no fim de 1497. Sua medida é de 9 metros de comprimento por 4,20 de altura.

Para a obra, Leonardo usou gesso seco, tinta à óleo e verniz, que se revelaram incapazes de resistir à umidade e ao rigor dos anos. Desrespeitando a regra do afresco, quando a parte da superfície que é pintada tem de ser concluída no mesmo dia em que é preparada, uma vez que a técnica emprega tinta à base de água sobre gesso molhado, o seu método à óleo se revelaria a condenação da grande pintura, que se danificou bastante ao longo dos séculos. Vasari, que a viu em 1556, descreve-a como "tão mal conservada que não há nada visível, exceto uma confusão de manchas".

Intensamente dramática, ela retrata o momento em que Cristo diz haver entre os seus discípulos um traidor. A marca da dramaticidade se revela na escolha da distribuição dos personagens e na representação da atitude de cada um: espanto, suspeita, indiferença, dúvida, indignação, amor.

Há uma afirmação de Leonardo da Vinci em seu Tratado de Pintura que diz o seguinte: "É mais digna de louvor a figura que, por suas ações, expressa as paixões da alma." Podemos encontrar nestas palavras a chave da criação dessa obra prima.

Existe uma grande quantidade de esboços não só do conjunto da obra como de cada um dos discípulos, inclusive despidos, onde se pode ver a preocupação do pintor com o movimento corporal e gestual dos personagens.

Sendo que o instante da pintura é o momento da frase fatal de Cristo na sua última ceia com os apóstolos, Leonardo procura registrar a intensidade dramática do momento. Cada uma das figuras à mesa revela-se um retrato psicológico instantâneo que parece revelar seus pensamentos de agora e até os que virão depois. Embora partilhem a reação de surpresa, cada um reage de uma maneira inteiramente própria ao vaticínio do Mestre.

A Última Ceia de Ghirlandaio, datada de 1480, e realizada, portanto, quinze anos antes da pintura de Da Vinci, contém os elementos típicos da composição com que Leonardo se deparou à sua época: a mesa, com laterais recurvadas; Judas sentado na frente, sozinho: os outros onze postados atrás, com João adormecido ao lado do Senhor, os braços apoiados na mesa. Cristo elevou a mão direita, dizendo algo. Mas a revelação da traição já deve ter ocorrido, portanto se veem os discípulos contristados, alguns protestam sua inocência e Judas é admoestado por Pedro.

A obra de Ghirlandaio mostra uma reunião desprovida de um centro, vendo-se as meia figuras mais ou menos autônomas, comprimidas entre as duas grandes linhas horizontais, formadas pela mesa e pela parede traseira rente sobre as cabeças. Há ainda o acréscimo de um ornato sustentando o arco, que aparece justamente no meio da parede, obrigando o artista a afastar Cristo para livrá-lo do embaraço.

Leonardo rompeu com a tradição em dois pontos. Ele tirou Judas de seu isolamento, fazendo-o sentar-se ao lado dos outros discípulos, e, além disso, emancipou-se do velho motivo que mostrava João aconchegado ao Senhor (adormecido, como se dizia). Desta maneira, ele obteve um maior equilíbrio da cena, e os discípulos puderam ser distribuídos simetricamente dos dois lados do Senhor.

Leonardo, para quem era de suma importância ressaltar a figura principal, jamais teria aceito qualquer ornato. Pelo contrário, na configuração do pano de fundo, ele busca novos recursos que atendam aos seus objetivos: centralizar Cristo em meio à luz que se infiltra na cena. Toda a perspectiva do recinto como a forma e a decoração das paredes são subordinadas à intenção de extrair o máximo efeito das figuras. Tudo converge para o realce da solidez e volume dos corpos. As linhas não fazem concorrência às figuras, como no caso de Ghirlandaio, que com seus grandes arcos no fundo fazem as figuras parecerem pequenas.

Leonardo conservou apenas uma linha horizontal, a linha da mesa, suprimindo ainda as laterais recurvadas. Ainda o artista cria o impossível: a mesa é pequena demais para caber todos os apóstolos e Cristo. Leonardo quis evitar que os discípulos se perdessem na mesa comprida, e o efeito é tão eficaz que nem notamos a insuficiência dos lugares. Por isso, juntou as figuras em grupos fechados, mantendo-as em contato com a figura principal.

Os grupos todos se movimentam. A palavra de Cristo caiu como um raio, gerando um tumulto de sentimentos que irrompe em toda parte. Não falta dignidade aos apóstolos, mas suas posturas os definem como homens aos quais está por ser arrebatado o que lhes é mais sagrado.

Os pintores antigos haviam representado o momento da comunhão como um momento de paz em que cada apóstolo deveria ter desejado estar sozinho para mergulhar em seus pensamentos. Leonardo escolheu o momento terrível em que Jesus diz: "Um de vocês me trairá". Imediatamente aquela fileira de indivíduos serenos foi unida pela emoção. Por isso, o sentido da unidade e do drama são as qualidades essenciais que diferenciam a obra de Leonardo das representações anteriores.

Leonardo cria uma soma enorme de expressões inteiramente novas, buscando revelar a intensidade inaudita dessas expressões. Por isso, abandona o uso de acessórios dispersivos. Diferente de Ghirlandaio, que oferece plantas raras, aves e animais e, ainda, os detalhes da mesa como entretenimento adicional, Leonardo espera que a tensão dramática seja o único foco do espectador.

Segundo Wölfflin, o efeito dramático de A Última Ceia depende inteiramente da disposição e do movimento das figuras, e não da expressão de seus rostos. Leonardo cria uma economia na distribuição dos papéis que as figuras desempenham de acordo com os motivos que a definem. As figuras laterais na cabeceira da mesa são mais quietas. Em seguida inicia-se a movimentação, que vai crescendo nos grupos postados ao lado de Cristo, cujo vizinho esquerdo separa os braços num gesto largo, "como se subitamente visse o abismo aberto diante de si"; do lado direito, bem junto ao Salvador, Judas recua com um movimento repentino. Os contrastes foram pensados também, João sentado no mesmo grupo de Judas.

No gesto de Cristo e em sua figura há uma calma e majestade aristocráticas. O que diferencia a obra de Leonardo das antigas representações é o papel que Cristo desempenha no conjunto do quadro. Leonardo conserva a frase durante toda a cena do quadro, pois ela é a força motriz dos personagens, que propaga-se dinamicamente pelo grupo.

O principal meio usado por Leonardo para a sua composição é não deixar que nada distraia o olho do tema principal. Diz Leonardo no seu Tratado de Pintura: "Na pintura histórica, jamais coloque muitos ornamentos em suas figuras ou em seu cenário, pois confundirá a forma e as atitudes das figuras ou o caráter essencial da cena".

Há na composição despojamento e severidade, o que não ocorreu na arquitetura fantasista e decorativa das representações das obras dos artistas anteriores à composição de A Última Ceia. O ponto de fuga da perspectiva está centrado na figura principal. Cada forma e cada gesto convergem para ele. É a mais literária de todas as grandes pinturas, uma das poucas cujo efeito pode ser largamente transmitido pela descrição. É o oposto dos grandes pintores decorativos, como Paolo Veronese, nas quais os elementos são escolhidos mais por seu efeito decorativo do que por sua expressão.

Os pintores do barroco, como é o caso de Tintoretto, sacrificaram a serenidade e a claridade da exposição do tema numa cena de violência e confusão na qual os apóstolos gesticulam e se movimentam entre os criados e espectadores desconhecidos (imagem abaixo).

Leonardo torna as massas dinâmicas unidas e mantidas em repouso por um único ponto de equilíbrio. Os grupos deveriam ser coerentes e ao mesmo tempo movimentar-se de forma a relacionar-se com o centro. Leonardo variou cada movimento, calculou cada intervalo, equilibrou cada modificação de atitude. "A construção de tais sequências, sem dúvida, é uma das maiores manifestações do poder intelectual na arte", segundo Kenneth Clark.

Para ir além:



Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 12/2/2013

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