Fahrenheit 451*, Oralidade e Memória | Consultório Poético

busca | avançada
63772 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Fé, Engenho e Arte | OS TRÊS FRANCISCOS - Museu de Arte Sacra de São Paulo
>>> 89% dos brasileiros concordam que a IA pode aumentar a criatividade
>>> Palestra gratuita orienta pais e estudantes sobre a escolha da carreira profissional
>>> Autoempoderamento: a chave para implementar mudanças
>>> Fabrício Carpinejar e Importadora Decanter unem vinho e poesia em collab para o Dia dos Namorados
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
>>> Diogo Salles no Roda Viva
>>> Pulp Fiction e seus traços em Cocaine Bear
>>> Rabhia: 1 romance policial moçambicano
>>> Nélio Silzantov e a pátria que (n)os pariu
>>> Palavras/Imagens: A Arte de Walter Sebastião
>>> Rita Lee Jones (1947-2023)
>>> Kafka: esse estranho
>>> Seis vezes Caetano Veloso, por Tom Cardoso
>>> O batom na cueca do Jair
Colunistas
Últimos Posts
>>> Uma história da DoubleClick (2014)
>>> Eduardo Andrade de Carvalho sobre MOS
>>> Interney sobre inteligência artificial (2023)
>>> Uma história do Yahoo! (2014)
>>> O Lado B da MTVê
>>> A história de Roberto Vinháes (2023)
>>> Something About You (Cary Brothers & Laura Jansen)
>>> Uma história do Airbnb (2023)
>>> Vias da dialética em Platão
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
Últimos Posts
>>> Não esqueci de nada
>>> Júlia
>>> Belém, entre a cidade política, a loja e a calçada
>>> Minha Mãe
>>> Pelé, eterno e sublime
>>> Atire a poeira
>>> A Ti
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Por uma lógica no estudo da ortografia
>>> Gabriel García Márquez (1927-2014)
>>> A diferença entre baixa cultura e alta cultura
>>> Trump e adjacências
>>> Heard It Through The Grapevine
>>> Estranho Wittgenstein
>>> É suave a noite
>>> Meu 16 de Agosto
>>> Dirty Dancing - Ritmo Quente
>>> Villa-Lobos tinha dias de tirano
Mais Recentes
>>> Curso de Direito Administrativo - Refundida e atualizada de Themistocles Brandão Cavalcanti pela Freitas Bastos (1977)
>>> Español em Acción - Gramática Condensada Verbos de María Eulalia Alzueta de Bartaburu pela Hispania (1998)
>>> Economia Internacional - Teoria e Política 6ª edição de Paul R. Krugman e Outro pela Pearson (2005)
>>> Introdução à Economia - Princípios de Micro e Macroeconomia de N. Gregory Mankiw pela Campus
>>> Eram Cinco de Ernst Jandl Norman Jungue pela Cosacnaify (2005)
>>> Eram Cinco de Ernst Jandl Norman Jungue pela Cosacnaify (2005)
>>> Dona Baratinha - Ilustrações Maria Eugênia de Ana Maria Machado pela Ftd (2004)
>>> Teologia desde El Cautiverio - Colección Iglesia Nueva 23 de Leonardo Boff pela Indo American (1975)
>>> Teoria Z - Como as Empresas Podem Enfrentar o Desafio Japonês de William Ouchi pela Nobel (1986)
>>> Acumulação e Crescimento da Firma - Um Estudo de Organização Industrial de Eduardo Augusto Guimarães pela Guanabara (1987)
>>> Teoria da Administração Financeira - Ezra Solomon de Ezra Solomon pela Zahar (1969)
>>> Teoria Macroeconômica - Segundo Volume de Gardner Ackley pela Pioneira (1969)
>>> A Bolsa para Mulheres - A Experiência de um clube de investimento de Sandra Blanco pela Campus (2008)
>>> Microeconomia - Princípios Básicos - Uma Abordagem Moderna de Hal. R. Varian pela Campus (2003)
>>> Teoria Macroeconômica - Primeiro Volume de Gardner Ackley pela Pioneira (1969)
>>> Os Homens Que Mudaram a Humanidade Arquimedes de Filippo Garozzo pela Três (1975)
>>> Qual República Queremos? de Lincoln Penna pela Autografia (2022)
>>> Aspectos da Tapeçaria Brasileira - Aspects of Brazilian Tapestry de Clarival do Prado Valladares pela Spala (2023)
>>> O Brasil dos Viajantes 3 Volumes de Ana Maria de Moraes Belluzzo pela Odebrecht (1994)
>>> Habitando Tempo - clandestinidade, sequestro e exílio de Marília Guimarães pela Liberars (2017)
>>> Os Seres e as Cores nas Terras do Sem Fim uma iconografia da Mata Atlântica do Cacau da bahia de José Carlos Capinan, outros pela Petrobras (1993)
>>> Messer Filippo Neri, Santo I de De Luca pela De Luca (2023)
>>> Amelia Toledo: the Natures of Artifice de Agnaldo Farias pela Co-sponsors (2023)
>>> Nas Asas do Correio Aéreo de Isio Bacaleinick & Tania Carvalho pela Metalivros (2002)
>>> Kolonialismens Svarta Bok de Mar Ferro pela Leopard (2003)
BLOGS >>> Posts

Sexta-feira, 1/5/2015
Fahrenheit 451*, Oralidade e Memória
Mariana Portela
+ de 2800 Acessos

O caixão passa despercebido pela multidão, inerte pelas imagens paralisantes de uma televisão. Uma criança — pois a infância é menos distraída — pergunta aos pais: quem é o morto? O pai responde, sem tirar os olhos entorpecidos: "É a literatura, meu filho. Ela não tem mais lugar nesse mundo".

Já nos anunciava Ray Douglas Bradbury, escritor da história que deu origem à obra prima de François Truffaut "Fahrenheit 451" (1966) que a televisão nos deixaria órfãos do prazer literário. Embriagados pelo imediatismo dos videoclipes, em poucos anos não só deixaríamos de ler, como passaríamos a repreender aqueles que quisessem passar horas solitárias em companhia de um livro.

As palavras podem soar extremistas, ou mesmo absurdas. No entanto, é inegável a metáfora. Até mesmo nossas refeições são apimentadas pelo televisor. Dificilmente uma pessoa passa um dia sem ligar o aparelho. Postas de lado, as pequeninas folhas tornam-se cada vez mais amareladas, esquecidas na cabeceira. O livro se tornou uma espécie de adorno, mais um item indispensável na decoração de uma morada.

O início do filme já anuncia uma de suas simbologias. Os créditos são lidos por uma voz em off. Não há nenhuma letra, nada que possa ser lido pelo espectador. A primeira cena do filme já demonstra o suspense que irá permear toda a trajetória da película. Um rapaz recebe um telefonema que o alerta do perigo de permanecer em sua casa. Em poucos segundos ele abandona o recinto. Na sequência, uma equipe de bombeiros chega ao local e começa a busca por livros. A primeira referência é uma edição condensada de Dom Quixote. Toda a literatura impressa presente na casa é defenestrada. No meio de uma multidão de curiosos transeuntes, os livros são incendiados pelos bombeiros.

Em nenhum momento do filme fica explícito qual é o país ou a época. Entretanto, trata-se claramente de um regime totalitário no qual as pessoas são proibidas de ler. O único meio de comunicação permitido para os cidadãos é a televisão — fonte de informações nitidamente manipuladas.

O protagonista, Montag (Oskar Werner), é um jovem bombeiro dedicado ao trabalho. No princípio do filme ele não se questiona sobre a natureza de seu ofício, nem entra em conflitos existenciais. Todavia, ao conhecer uma vizinha, a professora Clarisse (Julie Christie), sua vida é posta em xeque. Ela o questiona se ele nunca lê nada daquilo que queima. A primeira epifania do filme é então anunciada — por que se deve incendiar os livros se nem ao menos se sabe o que neles está contido?

A partir desse momento, Montag aproveita suas buscas para guardar os livros em sua casa. Com uma dificuldade terrível, consegue ler as primeiras linhas de David Cooperfield (Charles Dickens). É engraçado identificar o movimento infantil da personagem. A falta de intimidade com a leitura faz dele um analfabeto funcional: é preciso ler em voz alta e pausadamente.

Em contraposição à evolução interna de Montag está sua mulher, também vivida pela atriz Julie Christie. A personagem Linda é praticamente um zumbi. Passa os dias em frente à televisão, absorvendo sem consciência crítica tudo aquilo que lhe é mostrado. Toma diversos comprimidos que a anestesiam dos sentimentos mais sofridos.

Um dos momentos fundamentais para compreender a mente de uma sociedade pautada em televisores é o diálogo entre Montag e Linda. Logo depois da transformação instantânea da personagem principal pela leitura, ambos discutem sobre a importância do livro. Ela demonstra uma profunda ojeriza. Diz ao marido que os livros deixam as pessoas tristes. A essa altura, Montag já se deu conta de que a tristeza é parte integrante e essencial do ser humano.

Montag vê-se, pois, títere do sistema. Incendiar a memória humana já não é mais concebível para ele. O ápice de sua epifania ocorre quando ele testemunha uma velha senhora a preferir ser queimada junto com seus livros do que existir em um mundo desprovido da imaginação literária.

A obra de Truffaut é toda envolta em maneirismo. A inversão dos valores humanos — salvaguardar a cultura e a história através das bibliotecas — é uma forma de lidar com a ambivalência constituinte do humano. O uso dos paradoxos por Truffaut não é apenas intuitivo ou acidental. Colocar as coisas de cabeça para baixo — bombeiros que provocam fogo, pessoas voluntariamente impossibilitadas de ler, livros vistos como armadilhas para a humanidade, etc. — tudo faz parte de um tear chamado Nouvelle Vague, movimento artístico da década de 60. Os realizadores que participaram dessa vanguarda, como Godard em Acossado, tinham como principal objetivo expor a palavra louca.

Talvez o grande triunfo do filme ainda fique para o final. Após o abandono de sua função, Montag descobre através de Clarisse que há uma sociedade alternativa, marginal ao regime totalitário. É a sociedade dos homens-livros. Todas as pessoas que não suportaram a ditadura televisiva formam uma espécie de aldeia onde cada um tem a obrigação de se tornar um livro, decorando-o.

É necessário ressaltar que a origem etimológica da palavra decorar tem o sentido de colocar no coração. Ou seja, em seu signo primeiro, decorar nada tem a ver com o movimento mecânico de ensino.

Sendo assim, os homens-livros têm a missão de memorizar o livro preferido e depois disso queimá-lo, para não serem condenados pelo regime. A beleza da mensagem é simples: nenhuma ditadura pode atingir o coração e a imaginação do ser humano.

Fahrenheit 451 e a Idade Média: aproximações

A primeira consideração diz respeito ao livro. No filme os livros são considerados diabólicos, elementos que retiram o homem do contato com seus semelhantes. É uma oposição à dimensão sagrada que o livro assumiu durante os tempos medievais. Há uma inversão de tudo: bombeiros que incendiam, televisões que educam, livros amaldiçoados. De acordo com Chevalier & Gheerbrant (2002), "o livro fechado significa a matéria virgem, conservando o seu segredo, mas se aberto a matéria está fecunda e o conteúdo é tomado por quem o investiga".

As casas do filme também requerem uma breve análise: são todas à prova de fogo. Isso pode carregar o sentido de que toda forma é preservada, frente ao conteúdo. Os primeiros livros da Idade Média tinham características semelhantes: como eram objetos muito caros para serem confeccionados, suas capas eram enfeitadas por diamantes. As pessoas gostavam de mostrar os livros como símbolo de status.

A supremacia do fútil, da superficialidade é apontada por diversas ocasiões no filme. Uma muito nítida é a personagem Linda, esposa de Montag. Ela supre suas angústias com pílulas que a retiram da tristeza. Para ela a verdade não tem nenhuma importância, "porque dói". Outro exemplo é o toque. Em várias cenas é possível ver as personagens a tocar em suas peles, como se o corpo fosse a única fonte de prazer.

Assim como as bruxas foram condenadas por estarem a difamar a palavra de Deus, a enxergar outras realidades inconcebíveis para a Igreja Católica, os livros em Fahrenheit 451 são oráculos da dúvida, do sofrimento, da transcendência. Diz o capitão a Montag: "A única maneira de sermos felizes é que sejamos todos iguais". O diferente, aquele que tem consciência crítica torna-se demasiado perigoso para os regimes totalitários.

O filme apresenta duas imagens muito belas que dizem respeito à memória. A primeira delas é um dos últimos diálogos que Montag tem com sua mulher. Ele a questiona onde foi que os dois se conheceram. Ela não consegue mais se recordar. A incapacidade de lembrar-se impede a evolução do ser humano.

A segunda imagem é ainda mais nítida. No fim do filme, quando Montag descobre que existe uma sociedade alternativa, na qual as pessoas são os livros, é quase impossível não ter o questionamento: isso é totalmente inverossímel! Nenhuma pessoa é capaz de decorar um livro inteiro!

Só um pesquisador atento pode desconstruir essas exclamações. Apenas alguém que estudou a fundo a Idade Média conhece a capacidade do ser humano de memorização. Decorar — de coração — é algo que há em nossas capacidades intelectuais, embora tenha se perdido ao longo do tempo. Segundo Bradbury (2003):

- [...] Todos nós possuímos memória fotográfica, mas passamos a vida aprendendo a bloquear as coisas que estão realmente lá dentro. Simmons trabalhou nisso durante vinte anos e agora dispomos de um método pelo qual podemos evocar tudo o que já tenhamos lido. Montag, algum dia você gostaria de ler a República de Platão?

- Claro!

- Eu sou a República de Platão. Gostaria de ler Marco Aurélio? O senhor Simmons é Marco Aurélio. [...] Quero que conheça Jonathan Swift, autor daquele pernicioso livro político, As viagens de Gulliver! E esse sujeito aqui é Charles Darwin, e este aqui é Schopenhauer, este outro é Einstein, e este aqui ao meu lado é o senhor Albert Schweitzer, um filófoso realmente muito gentil. Estamos todos aqui, Montag. Aristófanes, Mahatma Gandhi, Gautama Buda, Confúncio, Thomas Love Peacock, Thomas Jefferson e o senhor Lincoln, se você quiser. Somos também Mateus, Marcos, Lucas e João. [...] Somos todos fragmentos e obras de história, literatura e direito internacional. Byron, Tom Paine, Maquiavel ou Cristo, tudo está aqui. (2003, p. 186-187)

O menino que está a guardar o livro de seu tio, em uma das últimas cenas, é uma metáfora para a aparente dicotomia memória/esquecimento. Ele só consegue memorizar as últimas frases porque coincidem com a neve e a morte do seu mentor. O esquecimento é o desejo do menino em eternizar o seu tio, tal como na Idade Média o esquecimento dos poetas não está assim tão distante da memória. Segundo Ferreira (1991), esquecer também faz parte do legado do trovador medieval pois é algo:

que desliza, sob os mais diversos pretextos, nas sequências narrativas, situações em que se mascaram, eufemizam ou simplesmente se omitem fatos e passagens. Deve-se lembrar a questão da seletividade e de como o indivíduo, a comunidade ou o próprio atrito entre eles expulsa os elementos indesejáveis, aquilo que faz explodir a tensão. A dupla esquecimento/memória, portanto, é apenas uma aparente oposição. Numa grande medida, estas oposições são instrumentos conjuntos e indispensáveis em projetos narrativos que dão conta de eixos do conflito.

A oralidade, tanto no filme como na Idade Média, é parte constitutiva da comunidade. É só no grupo de exilados que Montag encontra seu lugar, liberto da ditadura igualitária que paralisa. Jamais seria possível encontrar seu caminho sem estar no mundo com outras pessoas que o compreendessem.

As pessoas que eram responsáveis pelas tertúlias medievais também representavam o arquétipo da comunidade na qual viviam. Segundo Zumthor, "A voz poética assume a função coesiva e estabilizante sem a qual o grupo social não poderia sobreviver" (ZUMTHOR, 1993: 139).

Uma última consideração que aproxima os leitores da Idade Média ao protagonista do filme é o ruminar. Montag precisa ler em voz alta, devagar. Passa os dedos por cima das palavras, como uma criança que inicia a alfabetização. Porque na realidade é uma metáfora: ele está a irromper todo um mundo imaginário, como se fosse a primeira vez — e é.

Não é possível nem necessário imaginar se Bradbury ou Truffaut pensaram em resgatar os antigos ensinamentos da oralidade ou da memória. Todavia, o filme ultrapassa as óbvias análises. Não é apenas um alerta aos perigos totalitários. Não é um hino de amor à literatura, somente. É um filme que toca em nossas potencialidades adormecidas. Desperta das trevas conceitos e símbolos que caminham com a humanidade há milhares de anos. Arde os olhos como o fogo.

_________________________________________________________

*O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados. Convertido para Celsius equivale a 233 graus.



Postado por Mariana Portela
Em 1/5/2015 às 13h49

Mais Consultório Poético
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro em box - Greenwich Park
Katherine Faulkner
Tag / Record
(2022)



Solfejos melódicos e progressivos- Volume 2
Maria Luisa de Mattos Priolli
Casa Oliveira de Músicas LTDA



Cânticos Condados Divinos
Dario Bittencourt
Jotanesi
(1994)



Mini Exploradores - Máquinas
Girassol
Girassol
(2019)



Diseño y Comunicación Visual
B. Munari
Gustavo Gili
(1973)



Livro de bolso - The Oxford Bookworms Library: Stage 6
John Escott
Uop Oxford
(2003)



Manual de Cardiogeriatria
Jairo Lins Borges
Libbs
(2002)



Perspectivas do Moderno Teatro Alemão - Estruturas e Funcionamento
Henry Thorau
Brasiliense
(1984)



Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação pós-anestésica
Maria Lucia Pimentel de Assis Moura
Senac
(2008)



Clarissa
Erico Veríssimo
Globo
(1991)
+ frete grátis





busca | avançada
63772 visitas/dia
1,3 milhão/mês