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Quarta-feira,
15/7/2015
A cegueira de Adão e Eva.
Raul Almeida
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-Na próxima semana continuaremos abordando a teoria da evolução. Quero que façam um resumo para discutirmos o assunto.
- Professor, lá em casa e na Igreja que é dona deste Colégio, acreditamos nas sagradas escrituras. Aprendemos que a vida começou a partir de Adão. Deus fez o homem, depois a mulher. O casal pecou e povoou o mundo. Daí o Pecado Original. Somos filhos de Adão. O senhor está nos ensinando errado!
A lição de historia natural recém terminada, prolongou-se durante os cinco minutos de intervalo. Nenhum aluno levantou-se ou pediu para sair. Ficaram esperando a resposta ao colega que argüira, com audácia, arrogância e firmeza ao professor, talvez o mais querido entre todos.
- Ouvimos e acreditamos que D'us criou o Universo a partir da treva.
A luz chegou dando forma, destacando os relevos, permitindo o reconhecimento de cada detalhe e a visualização das diversas criaturas, arvores, flores, rios, cascatas, montanhas e mares.
Penso em outra possibilidade. Primeiro por que D'us não tem antes nem depois e luz e treva sempre fizeram parte da absoluta verdade que é a sua existência.
O professor, um dos poucos laicos do corpo docente do respeitável e tradicional colégio, respondia tranqüila e pausadamente, no momento em que o mestre da aula seguinte entrava para aproveitar o intervalo e arrumar o lugar. Ao escutar a resposta ficou parado e atento, olhando para o outro que nem notou a sua chegada.
-Achar que um Adão-homem veio primeiro, é próprio do machismo dos mitos primitivos.
Adão e Eva foram criados juntos, no mesmo momento e da mesma matéria sutil. Os dois lados de uma mesma moeda, os dois pólos de uma mesma esfera, as duas formas para uma mesma verdade. O ativo e o passivo. Continuou.
O único sentido que tinham era o tato. Assim não teriam condições de repetirem aquele momento exclusivo de D'us, que se fazia representar sem se multiplicar.
Os alunos estavam petrificados, ouvindo a resposta com atenção e surpresa.
-Sendo Uno, Absoluto, D'us não falou nada nem escutou nada daquelas criaturas surdas, mudas, sem olfato ou visão, mas inteligentes. Capacidade a eles atribuída em maior quantidade, do que às outras, igualmente, recém criadas.
Ambos foram criados após e para a complementação do Paraíso.
O Paraíso não se restringia a um lugarzinho qualquer do Oriente Médio. Essa conversa serviu, apenas, para facilitar a compreensão dos indivíduos que por ali viveram e escutaram uma das versões da história da criação do mundo. Os gregos, também tinham a sua versão, assim como os asiáticos e os hindus. Desde os velhos tempos, os povos procuravam entender de onde tinham vindo, porque estavam ali, porque sofriam. No caso específico de Adão e Eva, a tradição dos hebreus antigos, um povo inteligente, brioso, mas humilde, tosco e ingênuo.
Muito mais do que o mundinho da velha história, o Universo é a obra criada por D'us mais próxima de nós. O universo é parte do Paraíso.
Há muito mais alem do Universo, dos mundos e dimensões. Há D'us. Aquele que é Maior.
Éden e Paraíso são distintos. Continuou o professor.
O Éden é uma pequena parte do Universo. Paraíso é toda a criação, O Éden é a parte que se primeiro imaginou. É o visível, o desejável, o conhecido, o que se quer, com o que se sonha.
Apesar de terem capacidade para percorrer todo o Universo, a cegueira não lhes permitia ver o céu, ou o firmamento repleto de estrelas. Dotados apenas do tato, Adão e Eva perambulavam por ali orientados pela vontade de D'us.
No momento da criação da luz, um único raio ficou preso na treva e deu vida a serpente.
Um murmúrio indefinido percorreu a sala.
- A serpente é uma criatura onde um resquício da treva, se impregnou de luz o suficiente para participar daquele momento de criação divina.
A serpente não tinha conseguido entender o que era nem para que servia a Arvore da Sabedoria. E, era a única criatura curiosa o bastante para especular porque nenhum outro ser tinha interesse em experimentar seus frutos. Tudo, de todos os reinos, animal, vegetal, mineral, já tinha sido tocado, revolvido, ou explorado em sua natureza, por todas as criaturas.
Observando Adão e Eva que vagavam, cada um para seu lado, sempre longe daquela arvore, a serpente se deu conta de que eles poderiam resolver o enigma. Cega, mas sensível ao calor e ao frio, recurso herdado da treva foi esgueirando-se e fazendo tudo para aproximá-los o bastante até que se tocassem. Finalmente, conseguiu. Como não enxergavam, ouviam ou sentiam nada alem do tato, a formidável descoberta ensinou-lhes a surpresa.
O ranger das cadeiras mostrava a inquietação dos alunos, procurando mais conforto enquanto fixavam os olhos e ouvidos na figura e nas palavras do professor.
-Tocando aqui e ali, foram conhecendo suas semelhanças e diferenças e passaram a viver juntos.
Andavam para todo lado, mas não tinham nada mais do que as afinidades, semelhanças e diferenças já descobertas.
Usando do mesmo estratagema, a serpente os fez sentir a presença e a forma do fruto da Arvore da Sabedoria.
Já contaminados pela curiosidade da serpente, o levaram à boca e, no mesmo instante começaram a ver e a sentir os maravilhosos aromas, os sabores, perfumes e beleza do ambiente à sua volta. Também começaram a falar e ouvir um ao outro. A escutar o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas, o ruído das cascatas e cachoeiras, as vozes sem palavras dos outros animais.
D'us então, limitou-os a capacidade de ir e vir apenas ao Éden. O Universo não estava mais ao seu alcance.
Aqui começa a humanidade. Aqui começa o mundo material. Antes tudo era sutil, etéreo. Agora o espírito ganha corpo, cada individuo do Éden se materializa, tal como entendemos a matéria, a Terra, o nosso mundo.
D'us queria medir até aonde seriam capazes de ir, de se sustentar e de representar a sua semelhança, tal como pensara no momento da criação.
Começaram as dificuldades: A primeira o medo, a segunda a fome, depois o frio e o calor, mais a diante a dor, em seguida a tristeza. Por ultimo, para aliviar um pouco, o prazer e o amor. D'us atribuiu maior quantidade de Prazer a Adão, e de Amor à Eva. Os dois tinham os dois sentimentos em medidas diferentes. A descoberta trouxe-lhes a impressão de que poderiam repetir a grande obra da criação, tal como D'us havia feito.
O mestre continuava seu raciocínio e a surpreendente resposta, enquanto a classe permanecia num silencio absolutamente glacial.
-Novamente o Todo Poderoso lhes colocou mais sentimentos: A inveja, a ira a maldade, a crueldade, o rancor, o ódio e o arrependimento.
A cada momento, desde a criação até hoje, D'us nos ensina a superar o mal e a desenvolver os bons sentimentos.
Ao nos dar a sublime capacidade de ter Fé, vencemos a incerteza, a fraqueza e a desconfiança. Com a inteligência, e o pensamento, desenvolvemos a capacidade de reconhecer e vencer as dificuldades. E vamos aprendendo uns com os outros sempre abaixo da vontade de D'us.
Mitos são mitos. Acreditar sem pensar pode não ser o caminho que nos leva a D'us, Único e Maior.
"Compreender para crer, crer para compreender".- Santo Agostinho concluiu citando o venerado Padre.
O aluno inquisidor ficou mudo e perplexo com a rapidez da resposta do professor. Lívido, desconcertado e surpreso nada mais disse.
A classe inteira escutou, em absoluto silencio, a inesperada versão para a historia de Adão e Eva. O outro professor, aquele que chegara bem no início da resposta, estava atônito. Entre deslumbrado e incomodado, esperava que o colega saísse para dar inicio ao seu trabalho.
-Bem, na próxima aula, como já determinei, continuaremos com a compreensão da Teoria da Evolução, segundo Darwin. Não deixem de fazer um resumo do que entenderam hoje.
E cumprimentando o colega, despediu-se dos alunos com o costumeiro:
-Até a semana, estudem! E nada de radicalizar! Sempre haverá uma segunda opinião. Darwin conseguiu provar a dele.
Postado por Raul Almeida
Em
15/7/2015 às 09h22
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