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Domingo,
15/11/2015
As 3 ditaduras
Felipe Pait
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O Brasil sofreu 3 ditaduras militares desde a Independência: a que depôs a monarquia, a que acabou com a República Velha, e a que chamamos simplesmente "a Ditadura", seja por proximidade ao nosso tempo, seja por conhecimento limitado da história. O reconhecimento insuficiente das semelhanças entre as ditaduras se deve ao predomínio das narrativas antiliberais da história nacional. A Ditadura teve caráter essencialmente autoritário, enquanto a ditadura de Getulio era populista, e a ditadura de Floriano tinha características proto-tenentistas, comportando ideologias que mais tarde seriam tipificadas algumas como autoritárias e outras como populistas, embora raramente liberais.
Nossas repúblicas foram derrubadas em momentos de crise. A Ditadura tomou o poder num momento de incerteza quantos aos rumos da política e péssima situação econômica, devido à gestão desastrada de Jango, que aprofundou os problemas anteriores em vez de resolvê-los. Getúlio derrubou um governo eleito, que não tinha apoio suficiente, em meio à enorme depressão de 1929. Embora também enfraquecida politicamente, a monarquia foi derrubada em condições completamente diferentes, ao contrário do que sustentam as historiografias oficiais. A narrativa nacional-ufanista exige mostrar um constante progresso da nação, portanto tende a olhar o regime monárquico anterior como ultrapassado. E a narrativa marxista também vê história como uma sucessão de crises conduzindo teleologicamente à ditadura do Partido, e tem dificuldade em enxergar méritos num regime conservador.
Mas o fato é que apesar de suas fraquezas institucionais - o Império era tão fraco que foi derrubado meio por acaso, por um militar monarquista e desastrado - o período após a Abolição foi um grande boom econômico. Internamente, o fim de sistema obsoleto - além de cruel e desumano - conduziu a uma melhoria das condições de produção e otimismo quanto ao futuro. Internacionalmente, após o fim da escravatura o Brasil era o país da vez, sua monarquia tendo prestígio junto aos regimes conservadores, o liberalismo e a abolição garantindo a amizade dos progressistas, e a unidade nacional criando confiança entre os investidores. A economia passava por uma fase de euforia, talvez uma bolha de investimentos, depois denominada de "encilhamento", cuja ruptura fez do início da República uma fase particularmente difícil.
Será que se o regime monárquico tivesse sido mais representativo e popular, e tivesse melhor controle do exército, a suposta bolha não teria se mantido por décadas de crescimento econômico e inclusão social, evitando as sucessivas rebeliões da República Velha e conduzindo talvez a uma transição ordeira para um regime republicano, como imaginava o próprio imperador? Impossível dizer, e mesmo se fosse possível não tenho competência para tal. Fica então essa anotação de que a situação no final do Império era mais favorável do que a gente aprende nas escolas.
Postado por Felipe Pait
Em
15/11/2015 às 12h33
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