Wilson Simonal: o rei do Pa-tro-pi | Mônica Herculano | Digestivo Cultural

busca | avançada
58271 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Hebraica recebe exposição de Victor Brecheret
>>> SHOPPING GRANJA VIANNA TRAZ GUI MONTEIRO E CONVIDADOS ESPECIAIS PARA A PROGRAMAÇÃO DO SOM NA PRAÇA
>>> Omodé: O Pequeno Herói Preto no Sesc Bom Retiro
>>> Estímulo Mostra de Dança do 40º Festival de Dança de Joinville trará para o palco do Juarez Machado
>>> Sesc Sorocaba apresenta Nas Águas do Imaginar com a Companhia de Danças de Diadema
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
>>> Diogo Salles no Roda Viva
>>> Pulp Fiction e seus traços em Cocaine Bear
>>> Rabhia: 1 romance policial moçambicano
>>> Nélio Silzantov e a pátria que (n)os pariu
>>> Palavras/Imagens: A Arte de Walter Sebastião
>>> Rita Lee Jones (1947-2023)
>>> Kafka: esse estranho
>>> Seis vezes Caetano Veloso, por Tom Cardoso
>>> O batom na cueca do Jair
Colunistas
Últimos Posts
>>> Interney sobre inteligência artificial (2023)
>>> Uma história do Yahoo! (2014)
>>> O Lado B da MTVê
>>> A história de Roberto Vinháes (2023)
>>> Something About You (Cary Brothers & Laura Jansen)
>>> Uma história do Airbnb (2023)
>>> Vias da dialética em Platão
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
Últimos Posts
>>> Não esqueci de nada
>>> Júlia
>>> Belém, entre a cidade política, a loja e a calçada
>>> Minha Mãe
>>> Pelé, eterno e sublime
>>> Atire a poeira
>>> A Ti
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Culture to Digest
>>> Um travesseiro nada confortável
>>> O site da cultura brasileira
>>> Saudações
>>> Telemarketing, o anti-marketing dos idiotas
>>> Paco Entre Dos Aguas (1976)
>>> Apologia dos Cães
>>> Cartier-Bresson: o elogio do olhar
>>> Calcanhotto, Lancellotti, Veloso e Antunes no Auditório Ibirapuera
>>> Formando Não-Leitores
Mais Recentes
>>> Enciclopédia do Patrimônio da Humanidade de Vários Autores pela Altaya (1998)
>>> A Revolução Americana de Vários Autores pela Três
>>> A Poética visual contemporânea de Juan Muzzi de Alberto Beuttenmuller pela Do Autor (2011)
>>> Contando a arte de Juan Muzzi de Oscar D Ambrosio pela Nova America (2007)
>>> The Microeconomics of Public Policy Analysis de Lee S Friedman pela Princeton University Press (2002)
>>> Anjos e demônios de Dan Brown pela Sextante (2004)
>>> Como fazer amigos e influenciar pessoas de Dale Carnegie pela Companhia Nacional (2012)
>>> Aula nota 10 - 49 técnicas para ser um professor campeão de Audiência de Doug Lemov pela Fundação Lemann (2011)
>>> O Caçador de Pipas de Khaled Hosseini pela Nova Fronteira (2005)
>>> Rodadas Pedagógicas de Vários Autores pela Penso (2014)
>>> Lessons of Hope - hOw to fix our schools de Joel Kleen pela Harper Collins (2014)
>>> Memoria Social - Urugaya Tu Eres Parte : No te quedes aparte de Oriana Jara , Brígida Scaffo pela São Paulo (2011)
>>> Ensino Híbrido de Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto, Fernando de Melo pela Instituto Península (2015)
>>> O Príncipe de Nicolau Maquiavel pela Jardim dos Livros (2007)
>>> Tenho Algo a Lhe Dizer - coleção encontro 2 de Pe Carlos Afonso Schmitt pela Paulinas (1976)
>>> A Cidade do Sol de Khaled Hosseini pela A Cidade do SOl (2007)
>>> Esperança Além da Crise de Mark Finley pela Casa Publicadora Brasileira Tatui (2021)
>>> É Apenas o Vértice do Mundo Interior de Vladmir Pablik pela Não encontrada
>>> Como Avaliar um Livro Didático: Língua Portuguesa de Francisco Gomes de Matos; Nelly Carvalho pela Pioneira (1984)
>>> Ondas: um dia de nuvens listradas vindas do mar de KAtia Maciel pela Mis (2009)
>>> Experiências Inovadoras de ensino e aprendizagem de Edson Sadao Iizuka pela Tikinet (2015)
>>> Estado, Governo e Sociedade de Norberto Bobbio pela Paz e Terra (2012)
>>> As crianças mais Inteligentes do Mundo e como elas chegam lá de Amanda Ripley pela Três Estrelas (2014)
>>> Gestão de Custos e Formação de Preços 461 de Adriano Leal Bruni pela Atlas (2010)
>>> Ultra Metabolismo 461 de Mark Hyman pela Sextante (2007)
COLUNAS >>> Especial 1964-2004

Segunda-feira, 26/4/2004
Wilson Simonal: o rei do Pa-tro-pi
Mônica Herculano
+ de 11600 Acessos
+ 5 Comentário(s)

Nascido numa quarta-feira de Cinzas, ainda em tempo de pegar o finzinho do Carnaval de 38, como o próprio narrou numa entrevista em 1967, Wilson Simonal de Castro parece mesmo ter chegado ao mundo ouvindo o som dos tamborins e vendo os passos da mulata. E com o gingado carioca que o recebeu, viveu e levou uma vida mais alegre a milhares de pessoas, que lotavam estádios repetindo seus refrões.

Simonal venceu as barreiras da pobreza e transformou-se num dos artistas mais populares e bem pagos do Brasil. No final da década de 60, em plena ditadura militar, época de fortes manifestações políticas e culturais e com o país tomado por um maniqueísmo desenfreado, ele era como um rei, acima de qualquer luta entre o bem e o mal.

Ruy Castro contou em seu livro Chega de Saudade que, quando surgiu no Beco das Garrafas, Simonal "provocou uma sensação que é hoje indescritível e talvez inacreditável". Ele definiu o cantor como "o máximo para seu tempo": "grande voz, um senso de divisão igual ao dos melhores cantores americanos e uma capacidade de fazer gato e sapato do ritmo, sem se afastar da melodia ou sem apelar para os scats fáceis".

Para o amigo César Camargo Mariano, Simonal tinha um talento singular. "Trabalhar com ele foi uma grande escola para todos nós. Fazia uma música pop, de boa penetração em todas as camadas sociais, leve, alegre e de uma qualidade absurda. O disco tinha o mesmo cuidado que era passado para o palco. Simonal sempre soube muito bem o que queria fazer e tinha um tino artístico e profissional muito forte."

Tanto talento pedia um espaço nobre para ser apresentado. E qual seria melhor naqueles tempos do que as noites da TV Record? O primeiro negro a apresentar sozinho um programa de televisão no país pôde levar para o seu "Show em Si...Monal" os músicos e o diretor com quem mais se identificava: César Camargo Mariano, Sabá e Toninho, que formavam o Som 3, e Carlos Imperial.

A convivência diária de Simonal, Imperial e Mariano fez surgir um estilo popular, mas novo e diferente de tudo o que estava acontecendo. Enquanto bossa nova, tropicália e artistas como Roberto Carlos dividiam a cena musical da época, o que estava "deixando cair" mesmo era a "pilantragem". E era apenas uma etapa da sensacional loucura causada pelo artista e descrita pelo jornalista Mylton Severiano na revista Realidade, em 1969.

Contratado para fechar a parte inicial do show de Sérgio Mendes no Maracanãzinho, para uma platéia de 30 mil pessoas, Simonal acabou sendo a atração principal. Severiano contou: "Nunca se havia visto coisa igual. Por trás do palco, enquanto lá nas arquibancadas a multidão rugia e assobiava, exigindo mais Simonal, e enquanto ele mesmo era socorrido, após desmaiar de emoção, havia um sobressalto de homens agitados. 'Isso só acontece uma vez na vida', murmuravam."

Mas aconteceram muitas outras. Simonal continuava comandando milhares de pessoas todas as noites no Canecão e em qualquer casa que se apresentasse, e ainda em 1969 assinou com a Shell o que o Jornal da Tarde noticiou como "o mais fabuloso contrato de publicidade já assinado no Brasil".

Em 1970, o cantor foi escolhido para acompanhar a seleção brasileira de futebol à Copa do Mundo. A atuação dos maiores artistas das duas grandes especialidades brasileiras - música e futebol - foi vitoriosa: Simonal em campanha de sucesso e Brasil tricampeão. Na volta do México, porém, descobriu um grande desfalque em sua empresa de produções artísticas e despediu o contador, contratado cerca de um ano antes.

A partir daí, viu seu castelo desmoronar. Uma série de acusações feitas pelo ex-empregado e por alguns policiais levou o cantor a ser apontado como informante do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). "Aquele 'cara' que todo mundo queria ser", como descreveu o Jornal do Brasil em 1970, transformou-se em um grande rejeitado pela sociedade. Abolido da mídia, das vitrolas e dos palcos.

Até hoje duas coisas não foram esclarecidas: o envolvimento ou não de Wilson Simonal com a polícia política da época e o tratamento que a imprensa deu a ele nos anos seguintes. Se até 1971 só se via elogios a ele nos jornais, a partir daí as notícias passaram a ser cada mais raras e negativas.

Era como se o "dedo-duro" que o jornal O Pasquim publicou estivesse gravado na memória de cada um dos repórteres que iriam falar dele ou com ele. Tomaram como verdade absoluta seu suposto envolvimento com o Serviço Nacional de Informação e nem após a anistia concedida a presos políticos e torturadores, voltaram a tratá-lo como o showman que, não havia dúvidas, ele era.

O terror repreendido imposto pelo regime militar pode, como muitos alegam, ter levado os jornalistas do período a tomar Simonal como "bode expiatório". Mas a imprensa errou em condenar sem provas. Também é bom lembrar que pode ter havido uma grande armação contra o cantor. Afinal, ninguém sabe dizer de onde vinham as pessoas que o acusaram e podiam estar perfeitamente, por intrigas pessoais, tentando derrubá-lo. Ninguém procurou investigar isso.

A verdade é que a vaidade e o gosto que Simonal tinha em falar do sucesso incomodavam. Para algumas pessoas podia causar mais transtorno do que admiração ver um negro vindo do morro chegar num restaurante fino, pagar a mais cara champagne para dezenas de pessoas, sentar com toda a pose e dizer, com o sorriso mais maroto, que iria fazer o lado direito da platéia cantar uma nota e o esquerdo cantar outra, e realmente fazê-lo.

A história, realmente, envolve aspectos próprios da época, envolve política, mas o resgate da carreira de Wilson Simonal deve ser tratado com seriedade e urgência. Afinal, um rei nunca perde a majestade, e o brilhantismo de Simonal sempre permanecerá em nosso "Pa-tro-pi".


Mônica Herculano
São Paulo, 26/4/2004

Mais Mônica Herculano
Mais Especial 1964-2004
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/5/2004
16h32min
Parabéns pela iniciativa de resgatar a memória desse ídolo que pagou caro e injustamente.
[Leia outros Comentários de Mirthes]
4/5/2004
18h12min
parabens pela realização de ter ressuscitado esse mito injustiçado... palmas e + palmas para esse homem rico, riquissimo, de nossa da musica brasileira... eterno negro Simonal..
[Leia outros Comentários de sergio luiz f.]
27/2/2005
13h29min
Excelente a oportunidade de resgatar a memória de Simonal. Pode ter incomodado muita gente, e por certo incomodou, e foi, no final dos anos 60, um fenômeno, basta ver a apresentação no Maracanãzinho, onde regeu um publico de mais de 20.000 pessoas. Quando será que publicarão um livro sobre Simonal, se ninguém se candidata, de repente, eu vou tentar.
[Leia outros Comentários de Marco Antonio]
6/9/2006
21h13min
Um negro, de origem humilde, fazendo sucesso. Era muito para a elite branca que sempre dominou este país. Wilson Simonal foi o bode expiatório que procuravam não só regime militar mas a sociedade como um todo, para expor as mazelas deste país. Anistiemos o Wilson Simonal.
[Leia outros Comentários de jose williams alves ]
13/9/2008
16h44min
Pois é, e o Brasil ainda se diz livre de racismo... Por que essa injustiça aconteceu justo com um negro? Tanto músico por aí... Wilson Simonal foi O cara. Nasci bem depois do sucesso dele, mas venho descobrindo o seu talento a cada dia, e me revolta muito saber da injustiça que ele sofreu... Ele sim foi, e sempre será, o nosso rei! Talento puro no suingue e na alegria! Parabéns pela matéria!
[Leia outros Comentários de Lud]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Pequena Porta-estandarte
Daniel Renard
Seed
(1996)



Dietoterapia na Prática Médica
Nilton M. Braga de Oliveira
Cultura Médica
(1975)



Life Beginner A1 Workbook com CD
Helen Stephenson
Cengage Learning



Livro - O Luxo Eterno; da Idade do Sagrado ao Tempo das Marcas
Gilles Lipovetsky
Companhia das Letras
(2005)



Gordelícias
Simone Gutierrez - Cacau Protásio - Mariana Xavier - Fabiana Carla
Academia
(2017)



Becky Bloom - delírios de consumo na 5ª avenida
Sophie Kinsella
Record
(2004)



Grandes Monumentos da Humanidade 8
Vários Autores
Delta
(1982)



Maintenance Practices in Today's Paper Industry
Ken L. Patrick
A Pulp Paper



Administração da Produção
Joseph G. Monks
Mc Graw Hill
(1987)



A Preface to Milton
Lois Potter
Longman
(1971)





busca | avançada
58271 visitas/dia
1,3 milhão/mês