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COLUNAS

Segunda-feira, 3/11/2008
Uma defesa de Juno
Giovana Breitschaft
+ de 9400 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Juno é um filme sobre gravidez na adolescência, certo? Errado! Olhe mais de perto e você verá que Juno é, na verdade, um filme sobre relacionamentos. E um belo filme.

Em torno da gravidez indesejada da adolescente Juno, se desenrolam três histórias com uma questão em comum: o que faz um relacionamento dar certo?

A primeira história é justamente a de Juno. A personagem principal é uma adolescente nada convencional. Ela não é uma líder de torcida bonitona e esnobe e tampouco é uma CDF no pior estilo "Betty, a feia". Ela toca guitarra, gosta de filmes de terror, tem um telefone no quarto em formato de hambúrguer (para falar hoooras com as amigas) e é, também, por que não, muito bonita. Como ela própria deixa muito claro em dois momentos do filme:

"Eu não sei que tipo de garota eu sou."

Imagino que seja um alívio para 90% dos adolescentes ver personagens que sintam a mesma angústia diária que eles, a angústia de não saber quem se é. A pressão para se encaixar em um rótulo, que existe durante toda a nossa vida mas é ainda mais intensa nessa fase, vem de todos os lados. E algo dentro de nós resiste, dizendo: "puxa... eu gosto de ler mas eu também gosto de esportes e eu também sou vaidosa... e agora, qual tribo vai me aceitar?..." O próprio conceito de tribo é dissolvido na perspicácia do filme. A melhor amiga de Juno, por exemplo, é uma líder de torcida linda e formosa que, em vez de namorar os atletas mais populares do colégio, tem uma quedinha por professores intelectuais. Nada mais atual.

Bem, essa garota nada convencional provavelmente escolheria como alvo de suas paixões alguém alternativo como ela, certo? Nada disso! Uma pessoa como Juno jamais seria assim tão previsível. Quem faz o coração da jovem roqueira bater mais forte não é nenhum Kurt Kobain mirim, mas sim o tímido e certinho Paulie Bleeker, um magricela que gosta de correr usando roupas de ginástica à la anos 80. Bom filho, bom atleta e bom estudante, ninguém descreve melhor Paulie Bleeker do que a canção que o apresenta no filme, "A well respected man", do The Kinks, desenterrada direto dos anos 60 para compor a fantástica trilha sonora do filme.

Juno e Bleeker se gostam, mas ainda têm muito o que aprender (e ensinar!) sobre o amor. Ela engravida logo na primeira transa dos dois e, após algumas "reflexões profundas" com sua melhor amiga, resolve levar a gestação adiante e entregar o bebê para a adoção. É aqui que entra a segunda lição sobre relacionamentos do filme. Juno encontra num anúncio de jornal o casal perfeito para adotar seu bebê: uma executiva bem sucedida e um compositor de músicas para comerciais, lindos e apaixonados, vivendo numa bela casa e levando uma vida perfeita exceto pela ausência de filhos. Eles tentaram engravidar por cinco anos, mas não conseguiram. Juno é o milagre que eles estavam esperando. Tudo é acertado, então, para a adoção.

Aos poucos, porém, a vida perfeita do casal começa a revelar suas trincas. Vanessa, a esposa, é mostrada como uma mulher perfeccionista e controladora, mas do pior tipo, aquele tipo com voz doce e jeitinho meigo que sabe transformar a vida de um homem num inferno. Mark, o marido, por sua vez, é o cara descolado e moderninho, que tem uma profissão alternativa, trabalha em casa e sonha com a reunião de sua antiga banda de rock, mas vive sufocado pela esposa. Nitidamente os dois não estão em sintonia. Mas como neste filme não há espaço para clichês, a narrativa mostrará que não há vilões e mocinhos, mas apenas pessoas normais, tropeçando e levantando, errando e acertando na busca incansável da felicidade.

A terceira história talvez nem possa ser considerada uma história, pois não tem começo, meio e fim. A vida do pai de Juno e sua esposa parece apenas um complemento, um pano de fundo para as outras duas histórias, mas as lições tiradas dali alçam a atuação daqueles personagens à condição de história. Os pais de Juno são divorciados e ela vive com o pai e a madrasta. Juntos esses dois tiveram uma nova filhinha, que tem então cinco anos. O pai é um especialista em sistemas de aquecimento e ar-condicionado. A madrasta possui um salão de beleza. Não são pobres nem iletrados, mas evidentemente o grau de glamour em torno desses dois é próximo de zero. Como uma família dessas vai lidar com uma gravidez indesejada? Bem, esta é mais uma das agradáveis surpresas deste filme que joga todos os clichês pela janela. Nada de sermões moralistas, escândalos inúteis ou brigas para saber quem é o culpado. Pai e madrasta se entendem muitíssimo bem e encaram a situação se não com naturalidade, o que já seria exagero, com maturidade. O que está feito está feito e resta então lidar com as conseqüências. A cumplicidade do casal "de segunda viagem" é mais um nó na bem montada teia que se desenrola diante de nossos olhos, mostrando como o "amor escreve certo por linhas tortas".

Desta família também não convencional ― se é que se pode dizer que segundos ou terceiros casamentos são a exceção nos dias de hoje ― emerge uma relação entre pai e filha de dar orgulho a qualquer psicólogo que trabalhe com aconselhamento familiar. É sabido e notório que a melhor maneira de lidar com os filhos é na base da confiança. Vigilância excessiva, superproteção, castigos, privação da liberdade, tudo isso pode evitar que os filhos façam burradas por algum tempo, mas se eles tiverem que fazer burradas, eles vão fazer de qualquer jeito, não importa se as forças armadas dos EUA estiverem atrás deles. Só a confiança pode garantir acesso ao que se passa na cabeça e nos planos dos filhos. Fácil falar, difícil fazer, mas pelo menos um bom exemplo pode ser visto aqui. Mesmo após fazer uma das maiores burradas que uma adolescente pode fazer, ou seja, engravidar, o pai não retira a liberdade dela. Juno continua a levar sua vida da mesma maneira que levava antes, saindo com o carro, indo e vindo como bem entende. O pai sabe a filha que tem e a filha sabe o pai que tem. A recompensa que ele ganha por esse voto de confiança não poderia ser maior. A filha conversa com ele sobre o amor, discute com ele se é possível duas pessoas ficarem juntas por uma vida inteira e quais as condições para isso. Quantos pais já tiveram a honra de ter uma conversa desse tipo com seus filhos?

Diablo Cody, a roteirista revelação, parece ter o dom para captar nas linhas de um roteiro a essência das pessoas comuns, com tudo de incomum que essas pessoas têm. O roteiro possui alguns exageros, sim, provavelmente frutos da rebeldia incontida de Diablo, que já trabalhou até como stripper. Mas todos os elementos ― desde as ótimas atuações até a produção cuidadosa em cada detalhe, passando pela trilha sonora deliciosamente esquisita ― se somam para compor o resultado final: um filme encantador na mesma medida em que é despretensioso.

Na cena final, Juno e Paulie Bleeker aparecem ao violão tocando e cantando I don't see what anyone can see in anyone else but you, uma canção com uns três acordes no máximo e que mesmo assim eles conseguem desafinar. Nada mais amador, nada mais perfeito. A receita do relacionamento duradouro, afinal, parece ser essa, exatamente como o pai de Juno descreve para ela a certa altura: "encontre alguém que goste de você exatamente pelo que você é, de bom humor, mau humor, feio, bonito, não importa, a pessoa certa sempre vai te achar a última bolacha do pacote". Impossível não terminar o filme com um sorriso no rosto.

Nota do Editor
Giovana Breitschaft mantém o blog Eu escrevo, tu escreves, ele escreve...


Giovana Breitschaft
São Paulo, 3/11/2008

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Mais Giovana Breitschaft
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
6/11/2008
18h16min
Gostei do texto! Principalmente porque revela grande prazer em ter assistido ao filme. Eu, que não tinha tido vontade de vê-lo a partir das resenhas tradicionais, agora quero assiti-lo!
[Leia outros Comentários de Roberta Resende]
14/11/2008
16h00min
Excelente resenha! Você não focou na belíssima atuação dos atores, coisa que se nota em todas as outras resenhas, apenas captou a essência do filme, o que fez toda a diferença! Parabéns!
[Leia outros Comentários de Rachel]
18/11/2008
02h20min
Muito bem! Você conseguiu expressar com palavras justamente o que o filme mostra de maneira tão encantadora. Um belo problema que algumas pessoas costumam "pairar na superficie". Não entendem do que realmente se trata a coisa toda... Parabens!
[Leia outros Comentários de Carolina]
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