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COLUNAS

Terça-feira, 2/7/2013
A verdadeira resistência
Celso A. Uequed Pitol
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Quando a seleção francesa veio a Porto Alegre disputar um amistoso contra a seleção brasileira, o Estádio Olímpico Monumental, antiga casa do Grêmio e recentemente substituído pela moderníssima Arena Tricolor, foi o escolhido para ser o campo de treinos da equipe. Os motivos para a escolha foram óbvios: a recém-inaugurada Arena, inspirada nos melhores e mais modernos estádios da Europa, havia sido reservada para os canarinhos treinarem, enquanto o Beira-Rio, o outro estádio da cidade, estava - e ainda está - em obras. Restou aos franceses fazer uso do velho Olímpico, cujo destino já está selado: será implodido para dar lugar a um conjunto habitacional.

Acolhidos pelo estádio inaugurado no longínquo 1954, depois de terem jogado no ainda mais antigo Centenário, no Uruguai - inaugurado no ainda mais longínquo 1930 - onde haviam perdido para a Celeste por 1 x 0, os franceses terminaram ali a sua excursão pela América do Sul. Podemos apenas imaginar o que significa uma viagem destas para quem vem da Europa, e ainda mais de um país tão central em todos os sentidos para a cultura européia como a França. Por isso, vale a pena ler o que disse um jornalista francês das suas experiências no velho Olímpico:

"Gostei bastante do Estádio Olímpico. É um estádio que tem mais um ´espírito sul-americano´. Não é depreciativo o que eu falo, é diferente dos estádios que a gente vê na Europa e mais semelhante ao Centenário. Esse tipo de estádio tem um charme". E acrescentou: "Nós passamos pela Arena. Muito bonita e moderna, mas é como qualquer estádio que vemos na França ou na Alemanha."

Detenhamo-nos um pouco num ponto importantíssimo da declaração do francês: "Um estádio com o espírito sul-americano". O que viria a ser isso? Sabemos nós, sul-americanos que frequentamos estádios, o que é um estádio com o "nosso espírito"? Temos, naturalmente, a ideia de que um jogo em La Bombonera ou no Maracanã tem uma vibração muito diferente da que se vê no Santiago Bernabeu, em Old Trafford ou no Delle Alpi: nem o mais complexado sul-americano deixará de reconhecer que nossas torcidas são incomparavelmente melhores do que as deles. Mas isto é a torcida, não o estádio. Entre nós, a expressão "estádio tipicamente sul-americano", se for alguma vez usada, pode significar muitas coisas, mas dificilmente algo parecido com "ter charme". Não vemos nossos estádios como algo típico, como portadores de uma marca, da nossa marca, do nosso "espírito".

E, no entanto, têm. E como têm! Não é preciso que um estádio como o El Cilindro, do Racing de Buenos Aires, esteja cheio de torcedores para saber que ali pulsa algo diferente, algo muito próprio. Assim como não é preciso ver o velho Olímpico cheio, com a Geral apoiando o Grêmio, para sentir a presença deste "espírito". O jornalista francês, que viu-o pela primeira vez, percebeu isso. E percebeu também que a Arena, a impecável Arena, a europeia Arena, a moderníssima Arena, é bonita, sim, moderna, sim, mas em nada diferente do que há de bonito, moderno e impecável nas Arenas europeias. É tudo isto. Mas não é autêntica. Não tem o nosso espírito. Podemos confiar - torcedores vivem de confiança - que, com o tempo, as coisas mudem. Mas, por hora, não tem.

O jornalista ficou pouco tempo aqui em Porto Alegre. Se viajasse para outros estados perceberia que o mesmo processo ocorre no país inteiro. Em todo o Brasil, os Olímpicos com espírito e charme sul-americanos vêm sendo substituídos por estádios iguais aos que se vê na França ou na Alemanha. Qual o motivo para isso? As exigências da Fifa para competições internacionais. É preciso cuidar do tamanho do gramado, da distância das arquibancadas - agora não mais arquibancadas, e sim cadeiras numeradas - para o campo, o número de saídas, a iluminação, o tempo de evacuação, etc, etc. As exigências são muitas, e a maioria delas impede que os velhos estádios da América do Sul se possam adequar e permanecer como são. É preciso então mandá-los abaixo. Ou então promover reformas tão profundas, tão grandes, que do estádio original acabe por restar apenas o nome.

Diante disto, impressiona que a revista alemã Zeit tenha dito, em face dos recentes protestos no país, um caloroso "Obrigado, Brasil" - ver aqui - ao discurso anti-Fifa dos manifestantes. Disse a prestigiada revista que "Os protestos (no Brasil) não só atestam a maturidade democrática de um País que foi governado por generais por 30 anos. Eles estabelecem que até mesmo os gigantes do esporte (futebol) deram um sinal de parada: (vamos) até este ponto, e não mais". E vai além: "A Fifa e o COI agora vão se fazer perguntas, diante das imagens das ruas (...). Os eventos precisam ser humildes, individuais e transparentes (...) Os contratos restritivos (da Fifa), no valor de bilhões, preveem um completo alívio fiscal, além de prever a exclusividade para patrocinadores bilionários, além de demandas ainda maiores para estádios, hotéis e aeroportos".

Um leitor cuidadoso da revista, da realidade dos protestos e da atitude geral dos brasileiros facilmente quantificará o quanto de wishful thinking europeu há neste discurso da Zeit, tanto acerca do que a Fifa decidirá no futuro quanto no que respeita ao que os brasileiros estão exigindo. E o mesmo leitor cuidadoso perceberá que ecoa na Zeit o mesmo sentimento do jornalista francês: pede-se um evento mais humilde, individual e transparente - ou seja, mais autêntico, com mais "espírito" -, e que se tenha coragem para dizer "chega" a quem não liga para autenticidade e transparência.

Este clamor, vindo de onde vem, é sinal indicativo do que é a verdadeira resistência nos tempos que correm: resistir, hoje, é saber permanecer com o que importa.


Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 2/7/2013

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