A verdadeira resistência | Celso A. Uequed Pitol | Digestivo Cultural

busca | avançada
72798 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Festival SP Choro In Jazz apresenta a série online Sound Talks de 30 de abril a 9 de maio
>>> hoovaranas - Show do álbum Três (2024)
>>> Cine Nave apresenta sessão gratuita e seguida por debate em São Paulo
>>> Nos 100 anos de Surrealismo, editora paulista publica coletânea com textos fundamentais do movimento
>>> Matheus Fonseca lança ‘Feitiço Carioca’, uma bossa sobre amores inacabados
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Entrevista com o vampiro
>>> Bienal do Livro Bahia
>>> Querem acabar com as livrarias
>>> La buca de la verità
>>> Banana Republic
>>> Elon Musk Code Conference 2016
>>> Mabsa e seu jardim de estátuas
>>> Livros felizes
>>> Os melhores do cinema brasileiro em 2003
>>> De una catástrofe a otra
Mais Recentes
>>> Fernando Pessoa Antologia Poética de Douglas Tufano pela Paulus (2009)
>>> Flavio Shiro de Paulo Herkenhoff (organizador) pela Btg Pactual (2015)
>>> Insurgente de Veronica Roth pela Rocco (2013)
>>> Salvador Dali de Grandes Mestres Da Pintura pela Folha de Sao Paulo (2007)
>>> Do Que Eu Falo Quando eu Falo De Corrida de Haruki Murakami pela Alfaguara (2007)
>>> Vincent Van Gogh de Van Gogh pela Fisicalbook (2007)
>>> O Papagaio De Van Gogh de Antônio Barreto pela (2013)
>>> Minhas Historias Dos Outros de Zuenir Ventura pela Objetiva
>>> Eny E O Grande Bordel Brasileiro de Lucius De Mello pela Objetiva (2002)
>>> Longman Dictionary Of Contemporary English de Addison Wesley Longman pela Longman (2003)
>>> Balanced Scorecards & Painéis Operacionais Com Microsoft Excel de Ron Person pela Alta Books (2010)
>>> Poder Do Habito de Charles Duhigg pela Objetiva (2012)
>>> Diario De Um Banana de Jeff kinney pela Vergara E Riba (2013)
>>> Power Of 2: How To Make The Most Of Your Partnerships At Work And In Life de Rodd Wagner pela Gallup Press (2009)
>>> Bright Ideas 1 Class Book de Diversos Autores pela Cheryl Palin (2018)
>>> Luz Sobre O Yoga de B. K. S. Iyengar pela Pensamento (2016)
>>> Obesus Insanus de Rogério Romano Bonato pela Geração Editorial (2011)
>>> Pilates Para Fazer Em Casa de Alycea Ungaro pela Publifolha (2013)
>>> As Mentiras Que Os Homens Contam de Luis Fernando Verissimo pela Objetiva (2001)
>>> O Mistério Da Casa de Cléber Galhardi pela Boa Nova (2020)
>>> Léxico Grego-português Do Novo Testamento. Baseado Em Domínios Semânticos de Vários Autores pela Sociedade Bíblica Do Brasil (2013)
>>> Janete Clair de Artur Xexéo pela Ediouro
>>> Boneco De Neve de Jo Nesbø pela Record (2017)
>>> How Full Is Your Bucket? de Tom Rath, Donald O. Clifton pela Gallup Press (2004)
>>> Os Elefantes Não Esquecem de Agatha Christie pela Nova Fronteira (1972)
COLUNAS

Terça-feira, 2/7/2013
A verdadeira resistência
Celso A. Uequed Pitol
+ de 3300 Acessos

Quando a seleção francesa veio a Porto Alegre disputar um amistoso contra a seleção brasileira, o Estádio Olímpico Monumental, antiga casa do Grêmio e recentemente substituído pela moderníssima Arena Tricolor, foi o escolhido para ser o campo de treinos da equipe. Os motivos para a escolha foram óbvios: a recém-inaugurada Arena, inspirada nos melhores e mais modernos estádios da Europa, havia sido reservada para os canarinhos treinarem, enquanto o Beira-Rio, o outro estádio da cidade, estava - e ainda está - em obras. Restou aos franceses fazer uso do velho Olímpico, cujo destino já está selado: será implodido para dar lugar a um conjunto habitacional.

Acolhidos pelo estádio inaugurado no longínquo 1954, depois de terem jogado no ainda mais antigo Centenário, no Uruguai - inaugurado no ainda mais longínquo 1930 - onde haviam perdido para a Celeste por 1 x 0, os franceses terminaram ali a sua excursão pela América do Sul. Podemos apenas imaginar o que significa uma viagem destas para quem vem da Europa, e ainda mais de um país tão central em todos os sentidos para a cultura européia como a França. Por isso, vale a pena ler o que disse um jornalista francês das suas experiências no velho Olímpico:

"Gostei bastante do Estádio Olímpico. É um estádio que tem mais um ´espírito sul-americano´. Não é depreciativo o que eu falo, é diferente dos estádios que a gente vê na Europa e mais semelhante ao Centenário. Esse tipo de estádio tem um charme". E acrescentou: "Nós passamos pela Arena. Muito bonita e moderna, mas é como qualquer estádio que vemos na França ou na Alemanha."

Detenhamo-nos um pouco num ponto importantíssimo da declaração do francês: "Um estádio com o espírito sul-americano". O que viria a ser isso? Sabemos nós, sul-americanos que frequentamos estádios, o que é um estádio com o "nosso espírito"? Temos, naturalmente, a ideia de que um jogo em La Bombonera ou no Maracanã tem uma vibração muito diferente da que se vê no Santiago Bernabeu, em Old Trafford ou no Delle Alpi: nem o mais complexado sul-americano deixará de reconhecer que nossas torcidas são incomparavelmente melhores do que as deles. Mas isto é a torcida, não o estádio. Entre nós, a expressão "estádio tipicamente sul-americano", se for alguma vez usada, pode significar muitas coisas, mas dificilmente algo parecido com "ter charme". Não vemos nossos estádios como algo típico, como portadores de uma marca, da nossa marca, do nosso "espírito".

E, no entanto, têm. E como têm! Não é preciso que um estádio como o El Cilindro, do Racing de Buenos Aires, esteja cheio de torcedores para saber que ali pulsa algo diferente, algo muito próprio. Assim como não é preciso ver o velho Olímpico cheio, com a Geral apoiando o Grêmio, para sentir a presença deste "espírito". O jornalista francês, que viu-o pela primeira vez, percebeu isso. E percebeu também que a Arena, a impecável Arena, a europeia Arena, a moderníssima Arena, é bonita, sim, moderna, sim, mas em nada diferente do que há de bonito, moderno e impecável nas Arenas europeias. É tudo isto. Mas não é autêntica. Não tem o nosso espírito. Podemos confiar - torcedores vivem de confiança - que, com o tempo, as coisas mudem. Mas, por hora, não tem.

O jornalista ficou pouco tempo aqui em Porto Alegre. Se viajasse para outros estados perceberia que o mesmo processo ocorre no país inteiro. Em todo o Brasil, os Olímpicos com espírito e charme sul-americanos vêm sendo substituídos por estádios iguais aos que se vê na França ou na Alemanha. Qual o motivo para isso? As exigências da Fifa para competições internacionais. É preciso cuidar do tamanho do gramado, da distância das arquibancadas - agora não mais arquibancadas, e sim cadeiras numeradas - para o campo, o número de saídas, a iluminação, o tempo de evacuação, etc, etc. As exigências são muitas, e a maioria delas impede que os velhos estádios da América do Sul se possam adequar e permanecer como são. É preciso então mandá-los abaixo. Ou então promover reformas tão profundas, tão grandes, que do estádio original acabe por restar apenas o nome.

Diante disto, impressiona que a revista alemã Zeit tenha dito, em face dos recentes protestos no país, um caloroso "Obrigado, Brasil" - ver aqui - ao discurso anti-Fifa dos manifestantes. Disse a prestigiada revista que "Os protestos (no Brasil) não só atestam a maturidade democrática de um País que foi governado por generais por 30 anos. Eles estabelecem que até mesmo os gigantes do esporte (futebol) deram um sinal de parada: (vamos) até este ponto, e não mais". E vai além: "A Fifa e o COI agora vão se fazer perguntas, diante das imagens das ruas (...). Os eventos precisam ser humildes, individuais e transparentes (...) Os contratos restritivos (da Fifa), no valor de bilhões, preveem um completo alívio fiscal, além de prever a exclusividade para patrocinadores bilionários, além de demandas ainda maiores para estádios, hotéis e aeroportos".

Um leitor cuidadoso da revista, da realidade dos protestos e da atitude geral dos brasileiros facilmente quantificará o quanto de wishful thinking europeu há neste discurso da Zeit, tanto acerca do que a Fifa decidirá no futuro quanto no que respeita ao que os brasileiros estão exigindo. E o mesmo leitor cuidadoso perceberá que ecoa na Zeit o mesmo sentimento do jornalista francês: pede-se um evento mais humilde, individual e transparente - ou seja, mais autêntico, com mais "espírito" -, e que se tenha coragem para dizer "chega" a quem não liga para autenticidade e transparência.

Este clamor, vindo de onde vem, é sinal indicativo do que é a verdadeira resistência nos tempos que correm: resistir, hoje, é saber permanecer com o que importa.


Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 2/7/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Minha história com o Starbucks Brasil de Julio Daio Borges
02. A Onda de Protestos e o Erro de Jabor de Humberto Pereira da Silva
03. A poesia concreto-multimídia de Paulo Aquarone de Marcelo Spalding
04. A literatura em perigo de Luiz Rebinski Junior
05. Repetição: AC/DC, Satriani, Metallica e Extreme de Rafael Fernandes


Mais Celso A. Uequed Pitol
Mais Acessadas de Celso A. Uequed Pitol em 2013
01. De Siegfried a São Jorge - 4/6/2013
02. O tempo de Arturo Pérez-Reverte - 5/11/2013
03. Os burocratas e a literatura - 5/2/2013
04. O Direito mediocrizado - 26/3/2013
05. A Vigésima-Quinta Hora, de Virgil Gheorgiu - 5/3/2013


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Zupi - Ano 03 - Edição 10
Vários Autores
Zupi
(2008)



Nada Dura para Sempre
Sidney Sheldon
Record
(1994)



Genoma - A Autobiografia de Uma Espécie em 23 Capítulos
Matt Ridley
Record
(2001)



Aspectos Clinicos e Farmacologicos
Márcio Bernik
Edimédica
(2010)



Livro Avaliação Emancipatória Desafio À Teoria e À Prática de Avaliação e Reformulação de Currículo
Ana Maria Saul
Cortez
(2001)



Criar Filhos no Século XXI
Vera Iaconelli
Contexto
(2021)



Os Mecanismos da Liberdade (Microssociologia)
Lauro de Oliveira Lima
Polis
(1980)



As Receitas Preferidas de Ana Maria Braga
Ana Maria Braga
Best Seller
(1997)



Fernando de Noronha 360
Luiz Claúdio Lacerda / Rogério Randolph
Trezentos e Sessenta Graus
(2010)



Leading in Hyper-complexity
Marcus Hildebrandt Line Jehle Stefan Meister
Libri Publishing
(2016)





busca | avançada
72798 visitas/dia
2,5 milhões/mês