Os extremos do amor virtual | José Knoplich | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 13/8/2002
Os extremos do amor virtual
José Knoplich
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Os jornais internacionais e os nacionais volta e meia descrevem casos de assassinatos e violências, resultantes de encontros presenciais (reais, concretos) marcados depois de um excitamento resultante de contatos anônimos e/ou sob pseudônimos, portanto virtuais, fantasiosos ou românticos que evoluem mal, sob o aspecto dos interesses iniciais desses encontros on-line, que era a procura de amor eterno, por uma via pouco usual.

Os jornais noticiam somente os casos que resultam em desgraças e tragédias, pois essas notícias vazam, sem o consentimento dos protagonistas. Dois exemplos desse tipo de noticiário: uma menina palestina atraiu um adolescente israelense, para um encontro, quando esse foi morto, por outras pessoas, dentro das tragédias do conflito do Oriente Médio; e, faz poucos dias, um brasileiro matou uma adolescente americana, de 13 anos, nos Estados Unidos, que marcou um encontro sexual por e-mail, e foi asfixiada durante o ato, porque queria experimentar sensações sado-masoquistas. Com menor freqüência são noticiados casos bem resolvidos, provavelmente devido ao desinteresse dos próprios protagonistas, que preferem deixar o seu caso particular envolvido na atmosfera romântica (que exclui a procura do companheiro pela internet).

Para começar, as atividades sexuais on-line, por si só, revelam uma tão ampla liberdade (e fantasia), que os envolvidos também têm dificuldades de definir essas fronteiras com parâmetros do mundo real. O que é permitido e o que não é? Quando o contato on-line é para valer e fazer um novo relacionamento ou é uma brincadeira? Os parceiros de um romance estável, praticam uma infidelidade cibernética, participando de bate-papos eróticos? E se contarem para o companheiro?

Mas tudo se complica quando essas mesmas pessoas resolvem transferir esses relacionamentos para o mundo real, pois acabam trazendo todos os comprometimentos e dificuldades psicológicas, sociais e econômicas que qualquer relacionamento real traz, e que a internet minimizou ou até mesmo eliminou, no sexo on-line. Às vezes, as conseqüências do encontro real são devastadoras, mas outras vezes são de filmes americanos ou de contos de fadas, com final feliz.

Nos Estados Unidos, já existem mais de 10 livros publicados sobre o tema e inclusive outros sairão até o fim do ano. Esse assunto já propiciou várias teses acadêmicas e discussões em Universidades. Dos livros publicados, dois chamam a atenção, pela postura que adotam sobre o tema: "Virtual Addiction: Help for Netheads, Cyberfreaks, and Those Who Love Them" (New Harbinger Publications, Oakland, Califórnia, Setembro de 1999), escrito por David N. Greenfield, psicólogo, com doutorado e colaborador. Um outro livro que foi recentemente publicado (Novembro de 2001) "Infidelity on the internet: Virtual Relationships and Real Betrayal", escrito por uma psicóloga, com doutorado na área, Marlene M. Maheu e colaboradora.

David Greenfield é o fundador e administrador do Center for internet Studies (www.virtual-addiction.com.)), com sede em Connecticut. Esse Centro é um fórum para educar, treinar e prevenir os comportamentos negativos resultantes do excesso de uso (ou seja: do vício) da internet. Esse Centro tem sua atividade focada para a comunidades de negócios, escolas, universidades, departamentos de saúde mental, convênios médicos e de apoio a famílias.

Esse autor afirma que as pessoas que passam mais de 4 horas na internet aumentam os casos de depressão e isolamento social. Apesar da maravilha que é a internet, existe um lado obscuro que precisa ser melhor estudado pois numa enquete, que se fez com cerca de 18.000 internautas, encontrou 6% de pessoas que se enquadravam nos critérios médicos de portadores de problemas graves de comportamento compulsivo e que se poderia considerar como viciados em internet (da mesma forma como existem pessoas que são compulsivas para jogar no bingo, no Jóquei Clube, com baralho etc). Outros 4% apresentavam essa compulsão de forma mais moderada. De qualquer maneira, pode-se afirmar que uma apreciável porcentagem de pessoas podem considerar que a internet causou conseqüências negativas em suas vidas, trazendo dificuldades no trabalho, de relacionamento, no casamento etc. A pergunta que o autor faz é se essas pessoas não teriam um comportamento de "viciadas", comparando a intensidade que ficam ligadas na rede, nos assuntos relacionado a sexo, como têm os indivíduos que são compulsivos em ler jornal, assistir a TV, ouvir novela, etc. A resposta do autor é: se a empolgação é igual, então todas essas atividades são equivalentes. O autor constatou que aproximadamente 50% das respostas dessa enquete afirmavam que quando estavam ligados na rede, não percebiam que o tempo passava (essa é mesma sensação que tem os jogadores viciados e apreciadores de TV).

No meu entender, a diferença é que, na rede, o compulsivo é ativo, ou seja, ele pode procurar o tema que quiser e desenvolver a sua fantasia. Isso não ocorre por exemplo com quem assiste TV. Só pode assistir o que os canais produzem; pode até rever os programa várias vezes, pode passar para outro programa em outro canal, mas não pode fazer um programa próprio. Na internet, ele pode procurar um tema filosófico, científico, pode se comunicar com outro internauta, etc., com infinitas variações de temas, quantas vezes quiser e a qualquer hora do dia ou da noite. E qual o assunto mais procurado na rede? Sexo e depois companhia (se estiverem juntos melhor ainda). Todas as pesquisas mostram que são as mulheres que mais usam os e-mails e a internet para procurar companhia e sexo associados.

Essa capacidade de procurar, programar e obter quase uma resposta imediata às suas fantasias, pelo e-mail, pelos mecanismo de comunicação instantânea, excitam demais os internatas compulsivos. Podem aumentar as fantasias; podem se corresponder como homem sendo mulher ou criança; podem se comportar como homossexual. Não há controle, não há censura.

A linha de pensamento do livro do Dr. Greenfield, em relação à idéia do amor virtual, parte do princípio de que a internet propicia uma liberdade muito, muito ampla, associada a idéia que a criatividade (a fantasia) não tem limites nem geográficos nem físicos, pois tudo é permitido. Em relação aos temas amor e sexo, essa liberdade, num indivíduo reprimido fatalmente, poderá - de início - viciar, depois perverter, deixando seqüelas na vida pessoal do jovem e do adulto, trazendo malefícios para a sua vida profissional, social e mental. Nesse caso, a internet, o computador, seria uma espécie de casa de bingo, uma sucursal do Jóquei Clube ou de um cassino. A internet teoricamente seria a liberdade que o movimento hippie, pregava na década de 80, com Paz e Amor. Os advogados e os psiquiatras americanos envolvidos nos inúmeros casos, que resultam em dolo, já estão estudando como caracterizar a culpabilidade no encontros marcados pelo e-mail e no sexo estimulado pela internet (chamados em inglês de : on-line dating e cybersex).

A psicóloga, Marlene M. Maheu, autora do segundo livro citado, é editora do Selfhelp Magazine desde 1994 e também tem um site de prestação de serviços (http://drmarlenemaheu.com/bio.html). Adota uma postura mais otimista em relação a internet e ao amor virtual, achando que a rede é um lugar que se pode, aprender, treinar e melhorar a saúde mental em relação a diversos assuntos polêmicos e inclusive ao amor, estudando o tema da infidelidade conjugal virtual.

Escreveu anteriormente em colaboração o livro "E-Health, Telehealth and Telemedicine: A Guide to Startup and Success", em 2001, editado por Jossey-Bass, defendendo a tese que se pode - com o auxílio da internet - fazer consultas sobre temas de psicologia, saúde mental (como largar de fumar), ajudando os tímidos e introvertidos a resolverem seus problemas. Esse tipo de consulta, permitida nos Estados Unidos, é teoricamente proibida na internet brasileira. "E-health" é um termo similar ao termo "e-Commerce", significando uma comercialização de serviços psicológicos pela internet, para quem tem essas fantasias sexuais, associadas ou não à idéia de que fato constitui uma infidelidade para com o companheiro.

O seu segundo livro, também em colaboração chama-se, "Infidelity on the internet". Saiu publicado pela editora Sourcebooks, no final de 2001, e tem muito a haver com o tema do amor virtual. A tese das autoras é que a infidelidade praticada na internet é mais inocente do que a real e, muitas vezes, é na realidade uma maneira de liberar fantasias sexuais que não comprometem homens e mulheres, quando tem controle sobre o compromisso assumido.

As autoras consideram esse livro um manual de sobrevivência, no campo da infidelidade, sugerindo vários testes para monitorar o grau de comprometimento do leitor com o sexo cibernético. Esse livro, ao contrário do anterior, acha que tanto adolescentes como adultos podem, na "brincadeira" da internet, ter alguns benefícios e crescer nessa área. Cita alguns exemplos: treinar a abordagem com o sexo oposto, vencendo a timidez; avaliar o grau de ousadia; verbalizar o nível de suas fantasias - tudo sob controle, evidentemente, se possível, com serviços de psicologia oferecidos pelo site, mas complementado com conversas telefônicas ou presenciais.

As autoras não vêm os perigos de uma compulsão, a não ser em casos muito raros e oferecem um meio de controlar esse novo problema, para não atrapalhar na realidade diária dos internautas com certos cuidados externos e auxílio profissional. Chamam a atenção para pessoas que, mesmo com o auxílio psicológico, se mantêm presas na realidade virtual, tentando ignorar e fugir dos compromissos reais. As autoras sugerem em exemplos desses casos crônicos várias soluções que se poderiam aplicar. A idéia é que esse amor virtual seja monitorado, mantendo a fantasia que aquece o coração e o pensamento, sem deixar que a compulsão interfira nas vidas social (das famílias ameaçadas) e na vida pessoal (dos envolvidos).


José Knoplich
São Paulo, 13/8/2002

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