...ou talvez numa
lanchonete aqui no countryside de São Paulo. Conversando sobre
qualquer coisa, como por exemplo, cores de batom, gado nelore, memórias
de colégio ou neoliberalismo. Afinal, com Fabio Danesi Rossi,
o mundo estará sempre entre a fantasia e realidade, entre o drama
e a ironia. No meio da rua, ou das batatas fritas, eu disse que trabalhar
com imagem me dava tanto ou mais prazer do que com palavras. Que minha
vidinha (im)produtiva (feita de fenomenologia e multimídia) poderia
se resumir em imagens de síntese, ou melhor, "mexer no Photoshop".
Convite feito. Toda semana, uma ilustração.
Nosso editor, algum
tempo depois, estendeu o convite para os outros Colunistas. Resultado
prático: toda semana, um monte de ilustrações.
Trabalho sério, organizado, tranqüilo e divertidíssimo.
Do jeito que eu gosto.
Mas no bonde, andando,
ou num bar qualquer, conheci os Digestores alguns meses antes das ilustrações
surgirem. Não me lembro as razões que me levaram ao bar
(e ao bonde andando), mas naquele dia acabei conhecendo Julio Daio Borges,
Rafael Azevedo, Juliano Maesano, Rafael Lima, Daniela Sandler. Até
então, o Digestivo Cultural era o site que eu acessava
para ler as colunas do Paulo Salles, no começo da sexta-feira,
com uma mug de café e um cigarro.
No dia a dia, pego
o bonde andando por e-mail. Cada imagem é sempre um começo.
Técnica, experiência, pesquisa, criatividade, nunca me
dão a certeza de um bom trabalho. Analiso os textos, procurando
fugir dos ícones, buscando sempre respeitar o estilo e as idéias
de cada um. São textos que me fazem pensar qual é a cor
da vaidade ou da fome (Polzonoff), como dar forma a um "milk-shake
metafísico" (Salles), traduzir a dor ou a angústia
(Baggio), mostrar como cenoura é e não é arte (Sandler).
De vez em quando alguém me pede um Armstrong tocando em cemitério,
macarrão na xícara, ou até um sequestrador à
beira do suicídio. Coisas normalíssimas...