Sereníssima | Ramon Mello

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ENSAIOS

Segunda-feira, 7/6/2010
Sereníssima
Ramon Mello
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+ 1 Comentário(s)


LIANA TIMM© (http://timm.art.br/)

o sereno da magrugada

Não me importo se você finge não me ouvir, vou dizer e ponto. Posso entrar nessa caixa fria, coberta de espelhos, descer até o fundo do poço ou parar no playground e gritar sem dar importância à vigilância da síndica: Sou um idiota apaixonado! Desses que manda buquê na noite de pré-estreia, com bilhetinho anônimo, e esconde livros em papel de jornal entre os espinhos das flores. Sei que o elevador já chegou, não sou cego! Já disse, preciso falar, vou ficar aqui até essa angústia desaparecer. Deixa o elevador subir, alguém deve ter chamado. Se eu quiser, desço no de serviço ― não sou metido, esnobe, arrogante. Melhor, posso ir de escada. Desço os sete andares, gritando na hora em que todos estão dormindo. Duvida? Não deveria fazer pouco caso dos meus sentimentos. Como não? Cadê suas lágrimas? Você é muito macho, esqueci. Claro, eu sou sensível demais. Deixa o elevador descer, que saco! Ouça: Não adiantou você dizer que não queria nada sério. Tarde demais, não percebeu? A culpa deve ser minha. Eu te sufoquei ou você não soube optar? Do sexo você gostava, não é? Eu também. Confesso. Nós transávamos gostoso, nunca tive nada melhor. Pode rir. Roupa espalhada pela cozinha, cueca pendurada na mesinha do computador, tênis debaixo do sofá, corpos rolando no carpete até nos arrastarmos para cama. Colchão duro, lençol vermelho e o espelho da penteadeira velha insistindo em exibir sua bunda branca e dura enquanto me lambuzava inteiro. Ô boquete delicioso! Que merda! Não entendo por que tem medo. Sei que não vai responder. Por quê? É a minha idade? Só pode ser. Engraçado, eu não me importo com seu rosto liso. Eu tenho que aprender a me relacionar com jovenzinhos tesudos, pseudo-inocentes. Burro, sou muito burro. Por que fui tão entregue, vulnerável? Carência, só pode ser carência. É o preço que se paga por morar longe da família. Fico me perguntando se você é aquilo tudo que desejo. Será? Risos, filmes de madrugada, poesia no ouvido. Vou acender um cigarro. Foda-se a regra do condomínio! Desculpa. A gente foi sempre passional. Chorávamos ouvindo Lhasa de Sela cantar Con Toda Palabra, tomávamos Cointreau em copo de requeijão, trepávamos no banheiro e depois voltávamos a nos drogar. Pra quê? No dia seguinte nos entupíamos de Lexotan para conseguir parecer gente de verdade. Percebeu que a nossa casa, nossa cama, era apenas um ringue? Um ou outro sempre saía machucado, era inevitável. Deveríamos ser apenas amigos, bebendo de vez em quando e quem sabe até transando. Mas insistimos num romance previamente anunciado como um fracasso. Você trazia seu histórico de decadência e eu acrescentava as minhas fraquezas. Fracos. Fomos muito fracos. Ficamos iludidos com pretensa intenção de um ajudar o outro, servir de muleta. Nada. Agora estamos aqui em pé, sem apoio. Olhe! Encare o espelho e responda: Cadê você? Esse não é o cara alegre que conheci. Não se preocupe, desconheço a mim também. Tenho medo das coisas que passam pela minha cabeça. Não tenho coragem de levar às últimas consequências, mas não posso mentir: Todo dia eu penso em desaparecer, todo dia. Veja como estamos parecidos. Cadê aquele menino inocente, lourinho, com cara de estivador? Hum? Cadê? A dor não é exatamente por perder você, mas pelo sentimento da perda de mim mesmo. Desculpe. Acho que nunca fui tão sincero. Que tempo é esse que nos uniu no momento errado? Por que fui acreditar que amor era uma fotografia na praia, as horinhas de descuido estampadas numa camiseta surrada? Não é nada disso. Eu vou embora pro hotel. Sim, alugar um quarto, assim eu não preciso olhar pra aquelas paredes da sala que pintamos juntos. Amareladas, envergonhadas com o nosso fracasso. E as almofadas coloridas em cima da cama? Tudo desbotado. Sou um pouco culpado, tenho que admitir, sabe? Por ter bancado você quando estava fodido, sem grana, se acabando nas anfetaminas. Devia ter deixado você se virar, mas não. Deixei que me arrastasse contigo para o buraco. Não é drama, é carência. Mas acabou. Não sou mais tão ingênuo, não vou escrever tudo. Nada de aguardar os cinquenta para publicar a obra célebre. Quem sabe você não se torna um personagem da minha história? Protagonista não, coadjuvante. Assim mato você e todo esse superego que carrego comigo. Quais são os grandes romancistas da língua portuguesa? Eu. Agora estou assim. Não me esqueço do seu riso irônico desdenhando meus rascunhos. Pra quê? Pra me sentir pior. Havia um pouco de masoquismo de minha parte, você sabia disso e aproveitava para pisar na minha cabeça. É masoquismo, só pode ser masoquismo. Vou escrever a partir das coisas que ninguém dá atenção. Entendeu? Não preciso de você. Acho que descobri o motivo de vir até aqui, foi pra te dizer isso: Não preciso de você. Sei que você também não precisa de mim. O que pensava? Num depósito de porra? Não era disso que você gostava? Meter, gozar e voltar pro seu remedinho. Muitas vezes senti medo de você, me senti constrangido. Primeiro por sua exposição e segundo pela sua falta de cuidado com o outro. Conseguiu compreender o ciúme? Não creio. Você só entende a sua liberdade e que se dane quem não concordar contigo. E o acordo entre o casal, onde fica? O não dito também é importante. Não se trata de hipocrisia, apenas defesa. É uma fase de transição, me dizia, ansiedade. Transição foi quando recomecei a fazer análise com aquela louca que me abandonou. Lembra? Fiquei paranóico achando que a culpa fosse minha. Louco, devo ser louco. Não sei por que ainda estou aqui. O que vim fazer? Até sei, mas não devia. Você não merece, ou melhor, eu não mereço, ainda mais depois de tanto desprezo. Ainda não parou com esta merda? Seu braço vai cair, ouviu? Cair. Você vai morrer se continuar desse jeito. Não vou despachá-lo pra fora do país, entendeu? Vai morrer abandonado numa cidade que não é a sua. Bobagem, você nunca esteve em lugar nenhum. Vai continuar em silêncio? Sempre bancando o pobre coitado, eu devia ter percebido isso desde o início. Sabe que me arrependo de ter pedido aquele maldito cigarro? Sim, arrependimento. Um maço fechado e um sorriso; não resisti. Antes não tivesse aceitado, teria me poupado, não estaria aqui falando com as paredes. Llorando de cara a la pared se apaga la ciudad. Para de me olhar com essa cara. Não adianta, não vou parar de falar. Estou calma, calmíssima. Você odeia quando eu falo no feminino. Foda-se! Não banco o garanhão que quer comer as mulheres para se autoafirmar. Não sabe como me aborreceu com sua fase hétero. Por quê? Nosso relacionamento não era careta, transávamos com quem desejássemos. Nunca tive dúvidas, desde os nove anos meu pau já ficava duro quando eu apreciava as pernas dos meninos no campinho de futebol. Ou quando espiava meus tios sem camisa, o peito cabeludo. Acho que faltou um tio, um priminho, pra dar um jeito em você. Não quero mais falar disso. Tô exausto. Ah, eu sou um mostro, não é? Ambicioso, pedante, egoísta. Eu me acho o máximo. Você dá uma de bonzinho, mas é vaidade pura. Você é a pessoa mais egoísta que eu conheço. Como é não se importar com o outro? Deve dar muito prazer. Fique tranquilo, vou desaparecer da sua vida. Nosso amor virou essa gritaria, cabeça na parede, dor, lágrima ― fingi não entender. Te amo, porra! Bastava dizer que só queria trepar. É para alimentar sua fome narcisista? Áries? Não, claro que não. Câncer, você já falou. Para de olhar o relógio, já tô indo embora. Pensei que os caranguejos fossem mais românticos. Sim, você tentou. E eu não? O tempo inteiro me esforçando pra não explodir e dizer que estava completamente envolvido. Depois de um tempo, disse que não queria nada: Gosto de falar para não ter problemas ― deveria se lembrar dessas frases feitas antes de gozar e gargalhar de prazer com as pernas contorcidas de tesão. Sim, você não tem culpa. Relaxa. Quem é o culpado? Eu não sei. O que ainda estou fazendo aqui? Aperta o botão pra mim. Agora responde: Fui importante pra você? Só saio da vida de alguém quando percebo que fui importante, pelo menos um pouco. Ouvi essa frase numa peça de teatro. Não me olha assim, e não precisa responder. Duas semanas ou dois anos, o que importa? O tempo não significa nada mesmo. O guarda-chuva? Não, eu não quero. Fique com ele, vai precisar mais do que eu. Assim, quando cair um temporal, eu me lembro do seu cheiro. Quem sabe não ligo ou mando uma mensagem de celular com um convite pra ir ao cinema, mesmo sabendo que não vai responder. O elevador. Obrigado. O pior de tudo é que te amo todo dia. Boa viagem. Pode segurar a porta, por favor? É melhor eu ir embora, senão vou acabar fazendo besteiras. Sim, é madrugada, a portaria.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Parte integrante do livro Como se não houvesse amanhã (Record, 2010, 160 págs.), organizado por Henrique Rodrigues. Ramon Mello mantém o blog Sorriso do Gato de Alice.

Para ir além






Ramon Mello
Rio de Janeiro, 7/6/2010
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01. Os sem-celular de Vanessa Barbara
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Mais Ramon Mello
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
8/6/2010
05h04min
A geração beat anda corada em nossos tempos. Se recordar as fogueiras sentimentais do passado em que transar era algo entre quatro paredes, sem importar com o sexo. Valia tudo, até se morder.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
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