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Segunda-feira, 25/5/2015
Janelas indiscretas
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
+ de 1200 Acessos

Com estas palavras iniciarei um romance: Quem viu a janela enxergou o morador. E, aos olhos, o vento desdobrando direções do fechar e abrir. Janelas vivem e respiram. Seus caixilhos recortam cenas, histórias e sentimentos.

Das janelas do meu apartamento vejo quase tudo no prédio dos fundos. Quem chega. Quem sai. Móveis. Crianças. Gato. Cachorro. Passarinho. As janelas descortinam a alma das pessoas ─ ouvi isso de uma senhora na fila do supermercado. Na semana seguinte, esperando a vez de pagar as compras, um senhor puxou conversa comigo: "Tem dias que eu penso em parar de fumar e fazer um regime pra emagrecer. Mas, tanto sacrifício! Então, me pergunto pra quê?". Homem de meia-idade. Devia pesar uns cento e quarenta quilos. Ao sair, seguiu em direção à minha rua. Poucos metros adiante de mim, a fumaça do seu cigarro buscava meu nariz. Diminuí o passo.

Com o temporal que caiu lá pelas duas da madrugada, me levantei pra fechar a janela da sala. Eu morava nesse apartamento havia um mês. No tal prédio dos fundos, janela em frente à minha, luzes acesas, reconheci o homem gordo que de manhã se perguntara "pra quê?". Sozinho, TV ligada, sentado no sofá, devorava um pacote de biscoitos. Então, passei a bisbilhotar a vida de outros moradores daquele edifício. A tal senhora tinha razão: "As janelas descortinam a alma das pessoas".

Olhei para um dos apartamentos do primeiro andar. Ninguém lá dentro. Vazio de móveis e ruídos. Luz acessa àquela hora. Primeiro dia. Segundo. Terceiro. A lâmpada continuava ligada. Será que alguém morreu no banheiro? Vão vender o imóvel? Alugar? No fim da semana apareceu um casal. Fizeram faxina. Trouxeram guarda-roupa e caixas de papelão. Cortininha de renda. Perto da janela, uma rede estampada. Pareciam felizes. Ao engendrar sua história, afirmo que são felizes. Há dois dias não aparecem por lá. Minha imaginação vai longe. Terrível o calor desta cidade. Foram à casa dos sogros em Itaipava.

Imagino histórias sobre tudo que vejo e sobre o que não vejo. No segundo andar, a mulher de camisola verde toma vinho enquanto aguarda o marido. Ou será namorado? Ele não virá essa noite. Está resfriado. Ou foi ao dentista ─ tratamento de canal. Talvez, venha amanhã. Posso mudar a vida dos personagens. Quanto a mim, não sei se vou espirrar daqui a um segundo. Não sei se vou comer biscoitos ou frutas no lanche. Ofício solitário o de escrever.

Hoje, sentado no sofá, o vizinho que pesa cerca de cento e quarenta quilos, e fuma, continua comendo e fumando. Mãos trêmulas, taquicardia, marcou médico para amanhã.

Não fumo. Sou magra. Quando acordo, vou à cozinha preparar o café. Se trabalho muito, devoro tudo. Pão. Iogurte. Geleia. Chocolates. Não preciso parar de fumar. Nem preciso emagrecer. Preciso da imaginação. Do relógio não tenho necessidade. E as histórias ressurgem ao fundo das janelas.Antigos e mudos, os ponteiros do relógio ignoram o apartamento pleno de solidão. Alheio ao outro, o sexo adormece perdido em delicada fúria. Ainda não sei se esse trecho cabe ao homem gordo ou à mulher de camisola verde. Ou caberá a outro personagem?

Registro várias histórias ao mesmo tempo. Preciso das janelas. De alumínio. De madeira. De pano. De plástico. Janelas d'água. E de areia. Sem grades, todas. Preciso das janelas abertas. Através delas, desejos e mitos atiram-se na calçada. Minhas janelas localizam personagens enquanto a transparência do vidro inventa acontecimentos. Da janela do meu quarto caem livros, hipopótamos, jaquetas, libélulas, caixas, etc. A calçada tornou-se pequena para o que me salta janela abaixo.

. Ao entrar no escritório, também a rua desce janela abaixo. Entre a paisagem e a violência, a cidade se dilata e se contrai. Pelos bueiros escoam pensamentos e fábulas. Nas praças escreve-se o memorial do nada. Solitário, íntimo, escrever tornou-se meu ofício. Não desejo parar. Entanto, diante da tela e do tema, ou ante o texto que me antecede, me pergunto: Pra quê? E à solidão do trabalho, uma estória me arde na garganta: Pra quem?


Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em 25/5/2015 às 18h13

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