BLOGS
>>> Posts
Sexta-feira,
1/1/2016
Recém chegada
Raul Almeida
+ de 900 Acessos
Ela estava ali, encostada à parede sem demonstrar qualquer emoção, sentimento ou graça.
Esguia, exibia bizarra elegância vestindo aquela coisa estranha que tanto poderia ser uma bata, se colocada acima, um vestido se estivesse ao meio ou um saiote, logicamente abaixo da linha da cintura,
Insisti no olhar buscando algum significado para tanta displicência. Não adiantou nada. Do jeito que chegou, ficou. Meio inclinada, apoiada mesmo, como se aquele novo mundo que estava sendo oferecido nada influísse em sua vida.
Fiquei pensando: Tão jovem e não dá a mínima a um futuro possivelmente brilhante, podendo tornar-se indispensável, fundamental na vida das pessoas que a abrigaram com tanto interesse, quem sabe até com algum sentimento maior de afeição, amor, quem sabe.
Continuou alheia a tudo e a todos.
A nova casa era moderna, boa, arejada, longe da rua e da poeira levantada pelos automóveis, caminhões e ônibus. Ainda com uma bela vista para o exterior, sem poluição visual, sem favela, sem prédio do lado, sem vizinho muito próximo a ponto de incomodar e obrigar as cortinas sempre cerradas.
Quanta insensibilidade.
Rebusquei a memória recente e tive clara sua imagem passiva e sem nenhuma graça ou o que quer que fosse da escolha do destino. Tomei a decisão de uma abordagem física. .
Liguei a vitrola Telefunken Stereo e coloquei diversos elepês dançantes para tocar.
Agarrei-a pela mão e começamos um deslizar primeiro dolente, depois ritmado, até chegar a frenéticos rodopios.
Encostamo-nos, atritamos nossos corpos, sentimos um ao outro.. A volúpia do baile chegou ao bizarro, com contrapassos, cortadas, cruzadas e quebradas até que a exaustão obrigou-me a parar.
Ficamos ali os dois, no meio da sala sem dizer nada, enquanto o último acorde de um bolero romântico, acho que cantado pelo Luiz Miguel, se fazia ouvir. O verso final dizia, -" y jo nasci nel dia em que te conoci".
A levei de volta ao ponto de partida, agora menos estranha, menos misteriosa, menos metida e a bem da verdade, muito mais importante,
Só ficou faltando escolher um nome para a minha nova vassoura.
RA
Postado por Raul Almeida
Em
1/1/2016 às 17h13
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|
|