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Quinta-feira, 28/4/2016
d'EUS
Heberti Rodrigo
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Picasso

"Deus é o existirmos e isto não ser tudo". Fernando Pessoa


Não lhe disse palavra alguma. Não poderia. Há coisas que apenas o silêncio consente em comunicar. As palavras não compartilham tudo. Não dizem, por exemplo, o que é real. Talvez não digam porque é possível que o real seja algo não-definido, e toda palavra traga em si mesma um limite que a define. É certo que algumas abrangem um espectro maior de significações: são mais elásticas, por assim dizer, mas mesmo estas não podem ser distendidas indefinidamente sem que venha a ser desfigurada a sua própria essência, a acepção que a faz ser ela e não outra. Significar é limitar, e há coisas que permanecem arredias a um significado. Não que sejam insignificantes, mas porque há nelas elementos antagônicos e intangíveis. Assim, sempre que tentamos descrever a realidade somos obrigados a deformá-la, extirpar-lhe certos predicados, enfim, limitá-la para que possa ser envolvida pelas palavras. Para um artista comunicar o que está muito além dos lugares-comuns surge, então, a questão de como elaborar uma linguagem apropriada aos seus desígnios; e, justamente neste ponto consiste o desespero de um grande escritor: de que modo dizer o inaudito, atingir o inatingível?

Ela parecia saber que toda palavra acarreta uma meia verdade. Como disto chegou a saber, e, mais do que isso, como conseguiu estabelecer tão singular linguagem entre eles para comunicar aquilo é coisa que me causa espanto. Instinto materno?Impossível asseverar tal possibilidade mesmo porque muitas são as mães que parecem ignorar semelhantes potencialidades. O que se pode afirmar é que agiu como se soubesse acompanhá-lo até o ponto crítico, aquele a partir do qual um átomo de “eu”, recaindo vertiginosamente sobre seu próprio núcleo, torna-se tão demasiado exaltado e denso que violentamente atinge outros “eus”, irrompendo o envoltório e a incomunicabilidade e o silêncio que o envolve para, de um singelo “eu”, desdobrar-se na pluralidade “nós”, num ilimitado universo de elementos antagônicos. Como é possível tal universo originar-se do caos e da instabilidade de um único “eu”? Pode realmente a unidade em si mesma comportar o infinito? Entre a realidade de um indivíduo e a do mundo, o “eu” e o “nós” onde está a fronteira? Existirá uma? Se não houver, como abarcar tudo isso que me esforço em lhes dizer nos limites da palavra sem destruir a essência de cada uma? A mim, parece que as respostas a estas questões, bem como a todas sobre a natureza do real, sempre nos escapam.

“De uma costela de Adão, Eva; e de Eva, todos nós” - é o que anos mais tarde lhe responderia sempre que ele a questionasse sobre como tudo começou. Diante de seu olhar incrédulo à sua resposta, ela silenciava. Mais não se atrevia a dizer. Não que lhe faltasse o conhecimento ou a intuição (o que era a mesma coisa em seu caso) de tudo aquilo, mas porque faltava a ele a experiência de mundo e de si mesmo (o que também no caso dele dava no mesmo) que lhe permitisse atribuir um sentido mais profundo àquelas palavras. Todavia, estou me antecipando. Por enquanto, ele ainda é só um coração que bate no útero dela. Sim, está vivo, mas nada sabe da vida. Ela, no entanto, sabe que justamente por ele ainda não haver rompido os limites de seu corpo e individualidade - que o protege, o alimenta, e cada vez mais o constrange -, por não haver deixado seu ventre e se exposto ao contato direto com o mundo, não adquiriu aquela experiência intima que mais tarde se mostrará tão reveladora. Enfim, ela sabia que ele ainda não era ele próprio: apenas uma parte dela, e isso tornava ela própria uma parte dele. Até aquele momento, entre ele e o mundo, estava ela com suas experiências e expectativas. Por isso, o que porventura viesse a aspirar tornar-se ela não sabia se era por vontade dele ou dela. Até aquilo que ele talvez imaginasse ser naquele instante, ela não sabia se de fato o era por ele mesmo. O que sabia, e aos dois bastava naquele momento, era que para ele seguir imaginando e desejando e existindo, haveria instantes em que teria de deixá-la. Quando o primeiro deles adveio, chorou ao ouvi-lo chorar. Ele chorou porque pela primeira vez experimentava a solidão de estar no mundo; ela, por simplesmente ouvi-lo. Comoveu-se, mas não se inquietou: sabia que chorar significa viver. Também não se apressou a satisfazê-lo. Queria que experimentasse sua própria presença no mundo e, com ela, a solidão que dali em diante o acompanharia. Até então apenas sentira o mundo através dela, por isso não conhecia nem o frio nem a fome nem o medo. Não conhecia a vida. Ela havia decidido lhe dar uma, não poderia recuar agora. Deixou-o, então, chorar e só mais tarde tomou-o em seus braços. Quando ele sentiu o calor de seu corpo o choro cessou. Não se sentia sozinho.

Não obstante se conservasse junto a ela, estava agora em contato com o mundo, existia. Porém, estar no mundo ainda não é ser, pois 'ser' é algo do qual apenas nos avizinhamos quando nos sentimos irremediavelmente entregues a nós mesmos, e, naquele momento ele ainda não estava. Não havia tomado a decisão de tornar-se o seu próprio Eu e, ainda que jamais viesse a saber o que isso possa significar, pois há coisas que permanecem arredias a um significado, tinha de ousar tornar-se se quisesse ser...


Postado por Heberti Rodrigo
Em 28/4/2016 às 19h06

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