O Equilibrista

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Quinta-feira, 5/1/2017
O Equilibrista
Heberti Rodrigo
 
Artista de Rua - Stand by Me

Com muita freqüência encontro com um de meus vizinhos no portão de nosso prédio. Em muitos desses encontros ele carrega suas telas debaixo dos braços (as que têm as bicicletas como tema, em especial, me agradam muito) para tentar expô-las nas cafeterias e bares da cidade. Já conseguiu vender algumas. De uns tempos para cá comecei a pensar cada vez com mais assiduidade sobre a vantagem de ser pintor ou músico na hora de mostrar o próprio trabalho. O que um escritor faria nestas situações, além de colocar seus livros na calçada e tentar vendê-los sem que ninguém os lesse. Uma música, assim como um quadro gosta-se ou não quase que de imediato. Já a leitura exige mais tempo e um certo esforço, coisas raras de se encontrar nas pessoas hoje em dia. Logo um escritor dificilmente venderá os livros que expor na rua. Em se tratando de um escritor como eu que nem possui livros publicados, mas apenas textos isolados, a situação se complica.

Pensando nisso, resolvi aceitar a sugestão de alguns amigos, e dar iniciar a este blogue: O Equilibrista. Enquanto selecionava os primeiros textos, comecei a me comparar a um artista de rua. Se gostarem de algum texto que escrevi, na ausência de um chapéu para as moedinhas, ficarei grato se receber uma curtida ou, simplesmente, ser divulgado. Quem me aconselhou disse que eu já deveria ter feito isso há mais tempo. Sempre hesitei, mas agora que o blogue foi iniciado, ficarei na rua até conseguir atingir minha singela meta, que é tomar um cafezinho com meu trabalho. Então, quem passar e gostar, deixe sua moedinha. Quando atingir a meta, postarei uma foto de minha xícara.

Como diz a letra de Stand by Me, cheguei ao momento em que se precisa de alguém.

Sejam bem-vindos para ouvir a minha música e minhas telas.

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Postado por Heberti Rodrigo
5/1/2017 às 18h23

 
Duas Vidas


Matisse


A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda. Gabriel Garcia Marquez


Como um ritual, todas as manhãs descerrava as janelas antes de sentar-se à mesa de trabalho. Não a movia apenas a necessidade de inspirar o frescor do ar das montanhas que lhe infundia alento e serenidade, mas porque sentia igualmente vontade de iluminar. Agradava-lhe sobremodo ver a luz natural penetrar cada cômodo, como se apenas esta fosse capaz de reavivar a singularidade de cada detalhe. A luminosidade das lâmpadas parecia suscitar-lhe frieza, lançando sobre seus quadros, livros e plantas uma espécie de superficialidade monótona, como uma camada de poeira a lhes furtar o brilho de uma vida interior rica. Sim, para ela, os livros e os quadros e as plantas tinham uma vida própria, e rica. Para ela, riqueza era sentir-se viva. Sem a luz natural, tornar-se-iam pálidos e inexpressivos. Morreriam. Ela própria, nos dias em que não abria as janelas, tornava-se inexpressiva. Não era assim que gostava de se sentir, sobretudo quando encostava a porta do quarto e sentava-se à mesa com a intenção de escrever, logo após as crianças terem saído para a escola. Sozinha, apagava uma a uma das luzes que os meninos haviam deixado acesas para trás e descerrava cortinas e janelas banhando a si própria e tudo derredor na iridescente luz solar. Esses momentos solitários, vividos numa mudez contemplativa, eram os que precediam sua escrita. Desta maneira, religiosamente, viveu todas aquelas manhãs de março. Nos últimos dias, entretanto, o que mais lhe chamara a atenção foi o azul com tonalidades cada vez mais acinzentadas. Céu pouco brilhante, montanhas pardacentas – tudo agora de cor e brilho pouco celestiais. Não mais havia aquelas nuvens de todos os tipos e tamanhos que a alegrava mostrar para as crianças. Cada uma do seu jeito – aladas, alvas e macias, pequenos tufos de algodão doce, bolachas douradas quase duras, grandes montanhas brincalhonas, ilhotas purpúreas e melancólicas. Era como se todas tivessem dado lugar àquela incomensurável massa monótona e sonolenta. Era assim, observando a mudança na luminosidade dos dias que sabia que o outono chegara. Não que se ressentisse com a ausência do azul cerúleo. A verdade, a pura verdade, é que lhe propiciava uma felicidade sem limites essa luz acinzentada que empalidecia suas manhãs ao mesmo tempo em que sentia compensá-la tornando-a mais sensível para o mais íntimo de seu ser. Assim, durante todo o outono, ela se organizou para se recolher tão logo tivesse colocado as crianças para dormir. Queria levantar antes de todos e ficar sozinha tomando sua xícara de café nos minutos que antecedem a aurora. Nos dias em que não escrevia esta lhe era a hora das horas, pois antes de o sol vir a ser encoberto por um céu monótono e cinzento, ela sabia que durante um breve instante poderia sentir o seu efêmero, mas essencial, alento. Então, com uma felicidade que não é deste mundo diante de si, percebia o quanto se tem de esperar para viver semelhante momento. Brilhar como aquele sol outonal, com a sua luz cambiante a quebrantar um pouco da palidez de todos aqueles dias era algo que perseguia. Ser “efêmera mas intensamente vibrante”. Contemplando o sol, comparava-se a ele. Iluminar os pequenos detalhes de seu mundo interior, reavivá-los e compartilhá-los por meio de sua escrita era o que a fazia se sentir viva. Não podia viver apenas num mundo fora dela: no mundo de seus pais, no mundo de seus amigos ou mesmo no mundo de seus filhos. Precisava criar o seu próprio mundo, uma atmosfera em que pudesse respirar e recriar-se quando se sentisse destruída pelo próprio viver. Sem escrever, se perderia. Não seria capaz de recomeçar, de se reconciliar com os outros e doar-se a eles. Não lhe seria possível experimentar a vida duas vezes, e intensamente: no momento em que a vive e, em retrospectiva, ao rememorá-la na criação de seus personagens. Sufocaria numa rotina fria, artificial e sem brilho. Morreria. Sabe disso porque nos dias em que não escreve se sente como se lhe fosse indiferente o sol surgir ou não no horizonte.

Novo Blogue:http://oequilibristanacorda.blogspot.com.br/

Contato: [email protected]


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Postado por Heberti Rodrigo
3/1/2017 às 22h55

 
We are the crowd


Skull, Andy Warhol


"A única coisa que não respeita a regra da maioria é a consciência de cada um." Harper Lee

"Sentado na poltrona, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar." Raul Seixas



Numa das principais marginais da cidade, o tráfego fora interrompido. Em instantes uma aglomeração de veículos e pessoas se formou dificultando o acesso da equipe de resgate ao local do acidente. A poucos metros da vítima um guarda vasculhava sua mochila.

- Não há um documento sequer em sua bolsa, nem ao menos um celular ou um eventual telefone de contato. Apenas alguns romances e um guia rodoviário. Por que isso não aconteceu a um desses homens e mulheres que circulam por toda a parte com crachás pendurados ao pescoço? Seria tão fácil identificá-lo. Quem é esse homem? Monologava contrariado com o insólito ocorrido ao fim de seu expediente.

- Não vi nada! Não sei de coisa alguma! – repetia desviando o olhar da vítima, um transeunte apressado, receando que o guarda o interpelasse.

- Santo Deus! Um menino ainda! Exclamou horrorizada uma senhora antes de desmaiar e ser amparada pela multidão.

- O que ele tinha em mente vindo, ao que tudo indica, na contramão? Nunca o vi por aqui. Quem afinal era ele? – o guarda ainda monologava, mas sua atenção ia se desviando para a multidão que encorpava em torno de si.

- Isso foi um suicídio! sentenciou um sujeito alto e espadaúdo ao apontar o indicador em direção à vitima.

- O motorista não teve culpa! ajuntou uma jovem universitária, e todos à sua volta aquiesceram num movimento silencioso e harmônico de cabeças.

...Nem ele...nem ele... Eu o conheço. É meu amigo! Fez-se ouvir um homem ainda jovem que envergava um elegante terno. Curiosos, todos se viraram. A sobriedade de seu tom de voz e gestos o distinguia. Ele dirigiu-se, primeiramente, ao sujeito alto e espadaúdo como se a defender o amigo: - Ele não tinha a intenção de se matar! Foi uma fatalidade...Só então continuou a abrir caminho em direção ao corpo. Ao vê-lo, manteve-se ao seu lado, agachado e em silêncio por alguns segundos. Vendo os assim tão próximos, ninguém os tomaria por amigos tamanho o contraste entre suas aparências. O próprio guarda, incrédulo, hesitou em abordá-lo:

- Se o senhor o conhece talvez possa me ser útil. Preciso do nome, endereço e telefone de contato da família.

- Apenas posso ajudá-lo com o nome, respondeu, mas sem tirar os olhos do amigo. Há alguns minutos estávamos conversando no Apero. Ao nos despedirmos, me disse que passaria na biblioteca. Talvez lá possamos obter um endereço ou telefone de contato. Estes devem ser os que tomou emprestado – e, ao reconhecer um dos livros, esticou o braço em sua direção. Era O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse.

- De onde o conhece? Trabalhava com o senhor? Disparava o guarda, ansioso por maiores esclarecimentos.

- Estudamos juntos na universidade, prosseguiu, mas ele a abandonou e, desde então, o contato que mantínhamos era breve e esporádico. Hoje, ao acaso, nos reencontramos e fomos tomar um café. Ele não trabalhava por aqui, mas comentou que nos últimos dias caminhava a esmo pelo centro da cidade enquanto planejava uma viagem.

- Acaso é domingo? Ninguém perambula por aqui nos dias de semana. Decerto era um vagabundo, concluiu o guarda, acrescentando: - Isso explica o fato de não haver consigo nada que me permita identificá-lo.

Ao ouvir isso o homem se ergueu e, pela primeira vez, olhou o guarda nos olhos.

- Ele não era como nós, mas não era um vagabundo, pelo menos não um vagabundo comum - respondeu enfatizando cada negação enquanto rememorava algumas das atitudes e palavras do amigo. - Embora, às vezes, se referisse a si mesmo nesses termos, se era vagabundo, certamente, não era do tipo ordinário.

- Está fazendo caso de mim? Se ele próprio o dizia, então não há o que discutir. Era um vagabundo, ora bolas, e olhe o transtorno que causou a toda essa gente! - replicou o guarda como se a culpa que atribuía à vítima o justificasse diante da multidão que dava notórios sinais de estar a se impacientar. Sentia que lhe cobravam um desfecho rápido àquele caos ao mesmo tempo em que se ressentia de não conseguir reaver as rédeas da situação. Sua irritação e ressentimento tornavam-se maiores à medida que se via arrastado para aquela discussão inútil, e da qual não conseguia se esquivar. Quanto mais resistia, mas se afundava. Em troca de dados objetivos, nome e endereço, recebia detalhes demasiado subjetivos. O conhecimento da realidade pessoal da vitima, exposto por um homem que despertava uma atenção e respeito que cria serem devidos somente à sua autoridade policial, começava a contrariá-lo mais do que as circunstancias do óbito. Diante de tal estado de coisas sua autoridade fraquejava, e seu regulamento que, até então nunca lhe faltara como um sólido amparo, afigurava-se-lhe, agora, não apenas frágil, mas absolutamente irreal. Simplesmente não abarcava aquela realidade na qual fora atirado. Sentindo-se intimamente inferiorizado e desprotegido, começava a externar prepotência. O medo de mostrar-se fragilizado e impotente perante toda aquela gente, de não corresponder às expectativas, o perturbava profundamente. Despertava e inflamava em seu íntimo o impulso de aniquilar aquele cadáver como se assim pudesse dar um fim ao seu mal-estar. Mais do que alguém se defendendo diante de um inimigo a ameaçar-lhe a vida, transbordava de ódio, descarregaria seu revolver naquele corpo se estivessem a sós. Matá-lo-ia não uma, mas tantas vezes quanto sua munição lhe permitisse.

- Não, de modo algum estou a fazer caso do senhor – tornou a objetar. Eu realmente não o tinha na conta de vagabundo.

- Então quem era esse desocupado? Preciso identificá-lo. Não é todo dia que alguém se mete a fazer o que ele fez. Hoje em dia as pessoas estão bem esclarecidas quanto à direção correta. Ademais, há sinalização e fiscalização por toda a parte. Mesmo os vagabundos quando se embriagam não ignoram em que sentido encaminhar seus passos.

- Compreendo, perfeitamente, seu guarda. Direi o nome de meu amigo. Entretanto, gostaria de pedir que se refira a ele de modo mais respeitoso. Como acabou de afirmar, aqui todos sabem a direção correta, e nisto há um evidente motivo para não tomá-lo por vagabundo. Ainda segundo o senhor, mesmo este tipo de gente está em condições de distinguir o direito do esquerdo, o que evidentemente não parece ter sido o caso de meu amigo. Ele não era um vadio. Simplesmente era o que era. Como ele próprio dizia, era alguém, e queria descobrir o que isso significa. Essa questão o atormentava. Sentia uma sincera e impetuosa necessidade de buscar sua própria resposta de modo que nem sempre lhe era possível caminhar na mesma direção que nós. Sucedia-lhe, então, de em algumas ocasiões sua vida enveredar por caminhos...

- Proibidos é o que o senhor quer dizer. - completou o guarda esboçando um malicioso sorriso nos lábios que conferia um ar estúpido à sua figura.

Nesse momento, um menino de oito anos se interpôs entre eles espichando o pescoço, curioso em ver o cadáver. Sua mãe vinha em seu encalço tentando detê-lo, mas ao perceber que era tarde, repreendeu-o horrorizada:

- Está vendo, meu filho, por que digo que deve fazer o que sua mãe diz. Não quero que tenha o mesmo fim desse moço. Tenho pena da mãe dele. Pobre mulher! e, num gesto decidido, tomou a mão do menino: - Vamos sair daqui!

Ao ouvir as palavras da mãe ao filho, o guarda reanimou-se. Voltou-se ao amigo da vítima, mas como quem se dirige, acima de tudo, à multidão, disse:

- O cidadão que me desculpe, mas ele estaria vivo se compreendesse e aceitasse que há coisas que não se discutem. Foi o que aprendi no batalhão, e bem antes disso com meus pais. Na sociedade há regras e é preciso obedecê-las. Se seu amigo tivesse tido o bom senso de respeitá-las por certo que estaria vivo.

- E viver é isso? Murmurou o amigo, inconscientemente, uma pergunta que a vítima constantemente se fazia enquanto observava o ir e vir das pessoas no centro da cidade. Não mais dava atenção ao que se passava à sua volta. Apenas perscrutava detidamente o semblante do amigo. Reconhecia nele algo de provocativamente sereno.

Como o buzinaço se intensificava, o guarda finalmente pediu que o ajudassem a erguer o cadáver da pista e o depusessem na calçada à espera de um resgate que jamais chegaria. Mostrou-se aliviado ao ver que não tinha mais a vida daquele homem diante de si. Sentia estar em condições de retomar o pleno exercício de suas funções. Pouco a pouco recuperava o domínio da situação. Recomeçava a mostrar-se seguro; tornava a recrudescer em seu intimo a fé na autoridade de seu uniforme e de seu regulamento conforme observava o tráfego escoar segundo o silvo de seu apito. A multidão ia se dispersando, mas jamais se afastaria completamente. Mais do que uma aglomeração física que se formara em torno de sua pessoa, era a manifestação de uma poderosa força em sua vida, expressão de uma identidade e consciência.

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Postado por Heberti Rodrigo
29/12/2016 às 13h46

 
Pai e Filho



Hoje é o primeiro dia em que eu e meu filho ficamos longe um do outro. Ele acompanha a mãe ao trabalho. Quando Theo nasceu, eu e a Namorada tomamos a decisão de que eu ficaria com ele ao invés de colocá-lo numa creche ou entregá-lo aos cuidados de uma babá ou qualquer outra pessoa que fosse. Creche, só depois que ele se comunicasse bem conosco. Passados quase três anos posso dizer que foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida. Cuidar de um filho envolve muito tempo e energia de modo que tive de deixar em segundo plano o que entendo ser minha vocação. Escrever e ler se tornaram um luxo do qual eu apenas consigo desfrutar com calma nas férias de minha esposa. Em fins de semana, até consigo ler, e a escrita fica restrita a alguns poucos posts, pois tenho que conciliar ambas atividades com outros afazeres cotidianos. Quem vivenciou ou vivencia semelhante experiência sabe do que estou falando, sabe que não é trivial ser pai, mesmo quando não se passa o dia com os filhos. Havia momentos, ou melhor, há momentos em que sinto muita falta de não ter tempo para escrever. Entretanto, não me arrependo da escolha que fiz pois hoje tenho uma relação muito especial com meu filho, além de saber que ele teve carinho, atenção e condições de se desenvolver que não sei se teria se estivesse sob os cuidados de outra pessoa – conheço poucas pessoas tão sensíveis como eu no que diz respeito à alimentação e outras necessidades de uma criança como as de simplesmente brincar, fantasiar e se movimentar, seja em casa seja nos parques.

Uma coisa que ameniza os momentos em que sinto falta de escrever é a ideia de que em breve tornarei a ter mais tempo, afinal meu filho está crescendo e logo irá para a escola, começará a ter uma vida além do pai e da mãe. Antes disso e partir do ano que vem minha esposa entrará em licença e passará mais tempo com ele. Será o último ano antes de ir para a escola e ter um contato maior com outras crianças além do que tem pelas manhãs nos parquinhos. Os limites do mundo dele começarão a se alargar fora da esfera familiar. Sinto que fiz o que estava ao meu alcance para que Theo tivesse a companhia de um bom pai em seus primeiros anos. Sinto que agora é hora de eu voltar a escrever até mesmo para que continue sendo capaz de ser o pai que tenho sido, alguém que ao longo de sua vida contribua para que ele encontre sua vocação, aquilo que o faça sentir-se vivo. Sinto que não poderei ajudá-lo se eu mesmo não voltar a me dedicar a minha. Foi difícil mas gratificante ter acompanhado de perto o dia a dia de meu filho até aqui, mas de agora em diante penso que tornar a ler e a escrever, a passar algumas horas do dia sozinho, será tão importante para mim como para o ele. Na verdade, acredito que será importante para nós três enquanto família.

Para terminar, deixo, abaixo, umas palavras da escritora Natalia Ginzburg, com as quais tenho grande afinidade, sobre a educação de nossos filhos:

Uma vocação, a paixão ardente e exclusiva por algo que não tenha nada a ver com dinheiro, a consciência de ser capaz de fazer uma coisa melhor que os outros, e amar essa coisa acima de tudo, é a única possibilidade de um garoto rico não ser minimamente condicionado pelo dinheiro, de ser livre diante do dinheiro: de não sentir em meio aos demais nem orgulho pela riqueza, nem vergonha por ela. Ele nem se dará conta das roupas que usa, dos costumes que o circundam, e amanha poderá passar por qualquer privação, porque a única fome e a única sede serão, nele, sua própria paixão, que devorará tudo o que é fútil e provisório, despojando-o de todo hábito ou atitude contraído na infância, reinando sozinha em seu espírito. Uma vocação é a única saúde e riqueza verdadeiras do homem...

E, se nós mesmos, pais, tivermos uma vocação, se não a traímos, se continuarmos a amá-la no decurso dos anos, a servi-la com paixão, podemos manter longe do coração, no amor que sentimos por nossos filhos, o sentimento de posse. Porém, se não tivermos uma vocação, ou se a tivermos abandonado e traído por cinismo, ou medo de viver, ou um amor paterno mal compreendido, ou por uma pequena virtude que se instala em nós, então nos agarramos aos nossos filhos como um naufrago ao tronco da arvore, pretendemos vigorosamente que nos devolvam tudo o que lhe demos, que sejam absoluta e implacavelmente tal como nós os queremos, que obtenham da vida tudo o nos faltou terminamos pedindo a eles tudo o que somente uma vocação pode nos dar: queremos que sejam nossa obra em tudo, como se fossem não seres humanos, mas obra de espírito. Porem, se tivermos em nós uma vocação, se não a renegamos ou traímos, então podemos deixá-los germinar tranquilamente fora de nos, circundados da sombra e do silencio que o brotar de uma vocação e de um ser requer. Esta talvez seja a única oportunidade real que temos de ajudá-los em alguma medida na busca de uma vocação, conhecê-la, amá-la e servi-la com paixão, porque o amor à vida gera amor à vida.


Natalia Ginzburg

Contato: [email protected]

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Postado por Heberti Rodrigo
15/12/2016 às 11h00

 
Why do I write?




"Trata-se de deixar de ser um impassível animal de rebanho. Trata-se de reconhecer-me no servo que caminhava cabisbaixo ao sol, sob o temor do chicote de seu senhor, e, ainda que ciente do risco de ser fustigado no rosto e cegar, vira-se exibindo ao seu dominador uma boca enfadada de murmurar “Sim, senhor” e dois olhos faiscantes a protestar: “Isso já foi longe demais, basta!”. Trata-se de ser tomado pelo mesmo furor deste escravo em desejar mais que os outros lhe ensinaram que poderia desejar. Trata-se de atingir o que ninguém ousa atingir. Trata-se de sujeitar-se a ser perseguido, achincalhado, a correr o risco de padecer de fome e frio e abreviar seus dias por acreditar em algo maior que a própria vida. Trata-sede acreditar na liberdade do mundo do faz de conta, na potência criadora da mente humana.Trata-se, também, de dinheiro, mas de algo que nem todo dinheiro do mundo seria capaz de comprar.".
Extraído de meu autorretrato, Heberti Rodrigo


"O restante da pequena viagem aérea efetuou-se em silêncio. Assim que chegaram e se recostaram confortavelmente nos sofás pneumáticos do quarto de Bernard, Helmholtz voltou à carga. Falando muito lentamente, perguntou:

- Você nunca teve a sensação de ter em si alguma coisa que, para se exteriorizar, espera somente que você lhe dê a chance? Uma espécie de força excedente que você não esteja utilizando, algo assim como aquela água toda que se precipita na cachoeira em vez de passar pelas turbinas?

Dirigiu a Bernard um olhar interrogativo.

- Você se refere às emoções que se poderia experimentar se as coisas fossem diferentes?

Helmholtz balançou a cabeça.

- Não é bem isso. Estou pensando numa sensação estranha que experimento às vezes, a sensação de ter alguma coisa importante a dizer e o poder de exprimi-la...só que eu não sei o que é, e não posso utilizar esse poder. Se houvesse algum outro modo de escrever...Ou, então, outros assuntos a tratar... - Calou-se; depois: - Você vê, eu sou bastante hábil em inventar frases, quero dizer, essas expressões que nos dão um sobressalto, quase como se a gente sentasse sobre um alfinete, tão novas e excitantes elas parecem, embora se refiram a alguma coisa hipnopedicamente óbvia. Mas isso não parece suficiente. Não basta que as frases sejam boas, seria preciso que o que delas se fizesse também fosse bom.

- Mas as coisas que você produz, Helmholtz, são boas.

- Ah, sim, dentro dos seus limites. - Helmholtz deu de ombros. - Mas são limites tão estreitos! O que faço, de certo modo, não é bastante importante. Sinto que poderia fazer coisas bem mais importantes. Sim, e mais intensas, mais violentas. Mas o quê? O que é que há de mais importante para dizer? E como é possível dizer algo violento sobre assuntos do gênero que se é forçado a tratar? As palavras podem ser como o raios X, se usarmos adequadamente: penetram em tudo. A gente lê e é trespassado. Essa é uma das coisas que procuro ensinar aos meus alunos: como escrever de modo penetrante. Mas que diabo serve uma pessoa ser trespassada por um artigo sobre Cantos Comunitários ou sobre o aperfeiçoamento dos órgãos aromáticos? Além disso, será possível fazer com que as palavras sejam verdadeiramente penetrantes - quero dizer, como os raios X mais duros - quando se trata de assuntos desse gênero? Pode-se dizer alguma coisa sobre nada? É a isso, afinal, que se reduz a questão."

Trecho extraído de Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley

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Postado por Heberti Rodrigo
4/11/2016 às 07h46

 
A Ilha Desconhecida



"Quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver" José Saramago


Não estava muito claro o que faria de minha vida quando abandonei a universidade. Somente depois de decorridos alguns meses em que estive completamente desorientado, descobri a escrita e, com ela, algo óbvio, embora nem sempre fácil de reconhecer, que para se encontrar, um homem há de se perder e, mais do que isso, precisa ter a humildade de admitir que se perdeu, ou que errou. Ao admitir que em algum momento me perdera, tornei a vivenciar sentimentos e sonhos que me acompanharam durante a infância e a adolescência, e pareciam-me terem ficado para trás. À medida que eles iam retornando, de um modo que ainda não sei explicar, ia me sentindo menos perdido. Era como se eu fosse me reencontrando comigo mesmo, com meu destino. Enquanto tudo isso acontecia, eu ganhava força, e recrudescia em mim a intuição de que em algum momento precisaria de dinheiro para ir além do ponto em que havia me perdido. Foi um tempo de recomeço, de reaprendizado, de preparação para tentar novamente. Intimamente sabia que uma hora chegaria novamente a este ponto. Sentia que ao atingi-lo teria de fazer uma aposta, tomar uma decisão incomum, e não poderia recuar ou protelá-la por muito tempo pelo simples medo de errar novamente ou pela dificuldade em relação ao dinheiro. Aliás, de modo algum, aceitaria que o dinheiro se tornasse uma desculpa para deixar de realizar o meu sonho. Não me esconderia atrás desta justificativa. Eu sabia que com um pouco de planejamento e sorte ele deixaria de representar um problema. Assim, ao longo de todos esses anos economizei sempre que pude, fazendo eu mesmo a limpeza da casa e com um orgulho terrível, semelhante ao descrito por Balzac em suas cartas, pouco tempo depois de sua chegada à Paris, em que dizia ter ele próprio de fazer a faxina em sua mansarda. Em 2012, quando respirei o ar de Paris pela primeira vez, fui tomado pela convicção de que era para lá que deveria voltar nos anos seguintes. Sem diplomas ou trabalho de carteira assinada, não imaginava como isso seria possível. Tinha que eu mesmo dar um jeito de encontrar como ir. Planejei e, com a ajuda da Namorada, tudo começa a se concretizar. Daqui em diante, sinto como se não dependesse mais de mim. É com o destino, com a vida. Não estou mais no controle, se é que se possa dizer que temos o controle sobre nossas próprias vidas. Quando se quer alargar os horizontes - e eu quero - temos de deixar a terra firme e nos atirarmos ao mar, às incertezas. É no mar que sentimos nossa pequenez, nossa insignificância, mas é também navegando em suas águas que descobrimos que o horizonte está um pouco mais além do que pensávamos, que podemos avançar mais do que acreditávamos que ser capazes. Se ficarmos em terra firme, levando nossas vidas como todos, não viveremos isso, e encolheremos. É navegando nossos próprios sonhos que grandes conquistas e descobertas pessoais se tornam reais, e, quando alcançamos uma delas, nos sentimos, também, maiores. Nossas vidas parecem se tornar maiores. A primeira das descobertas que fiz desde que aceitei as incertezas e dúvidas de ser quem sou, de desejar o que desejo, enfim, de viver como vivo foi a minha fé de que cedo ou tarde alcançarei meu destino. Com essa descoberta, descobri, também, que, às vezes, é preciso duvidar para se encontrar a própria fé. É preciso se perder para se encontrar, como disse. Quero mais descobertas. Quero ir à Paris. "Por quê?", perguntam-me. Porque busco na companhia de minha mulher e de nosso filho sentir que estou tornando minha vida maior. Quero dividir isso com eles, viver isso ao lado deles. Espero que bons ventos me levem a novas descobertas, a despeito do risco de tempestades e naufrágios. Viver também é isso: colocar a vida em risco para salvá-la, para não amesquinhá-la. Seja como for, estou pronto para navegar, para a vida, para perdas e reencontros, e é isto que responderei a todo aquele que me perguntar o que faremos em Paris. É um tanto vago, alguns dirão, no entanto, mais do que isso não posso dizer. Se insistirem em saber mais, direi que cabe a cada um descobrir por si mesmo o que tudo isto significa. O que significa viver? Que cada um procure a sua resposta. Que cada um procure a si mesmo e por si mesmo, se isso lhe for necessário. Para mim, é.

Segue um trecho lido ontem à noite, numa daquelas leituras ao acaso que tanto me surpreendem pela ligação com o que ando vivendo:

"Pedi demissão da IBM", diz.

"Que bom. O que vai fazer agora?"

"Não sei. Vou ficar ao léu um pouquinho, acho."

Ela espera ouvir mais, espera ouvir seus planos. Mas ele não tem mais nada a oferecer, nenhum plano, nenhuma idéia. Como é simplório. Por que uma garota como caroline se dá o trabalho de mantê-lo a reboque dela, uma garota que se aclimatou na Inglaterra, fez de sua vida um sucesso, que o passou para trás em todos os sentidos?

...não há despedida em seu último dia de trabalho. Ele esvazia sua mesa em silêncio, despede-se de seus colegas programadores. "O que você vai fazer?". pergunta um deles, com cautela. Evidentemente, todos ouviram a história da amizade; isso os deixa rígidos e incomodados. "Ah, vamos ver o que aparece", ele responde.

É um sentimento interessante, acordar na manhã seguinte sem ter de ir para nenhum lugar. Um dia de sol: pega o trem para Leicester Square, faz uma excursão pelas livrarias da Charing Cross Road. Está com a barba de um dia; resolveu deixar crescer a barba. Com uma barba talvez não pareça tão deslocado entre rapazes elegantes e garotas bonitas que saem das escolas de línguas e pegam o metrô. E que aconteça o que tiver de acontecer.

De agora em diante, decidiu, sempre vai se colocar no caminho do acaso. Os livros estão cheios de encontros casuais que levam ao romance - ao romance ou à tragédia. Está pronto para o romance, pronto até para a tragédia, pronto para qualquer coisa, de fato, contanto que seja consumido por isso e refeito. É por isso que está em Londres afinal: para se livrar do seu velho eu e se revelar em seu novo, verdadeiro, apaixonado eu; e agora não há impedimento à sua busca.

Paira no horizonte o problema do dinheiro. Suas economias não vão durar indefinidamente...Tudo o que pode fazer é esperar em prontidão o dia em que o acaso por fim lhe sorrir.

Trecho do livro Juventude, de J. M. Coetzee

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Postado por Heberti Rodrigo
23/10/2016 às 12h34

 
Paris é uma Festa


A Alegria de Viver, Matisse




Paris é uma Festa

"Dar um passo pode ser fruto de uma decisão complexa. Há a possibilidade de seguir para a direita ou para a esquerda, posso continuar em frente ou voltar para trás, desfazer. Cada escolha lançará uma cadeia de resultados. Mal comparado, é como acordar na estação Sèvres-Lecourbe e não ter mapa do metro, nunca ter estado ali, não saber sequer onde se está, não saber sequer o que é o metro. Ter de aprender tudo. Ao fim de um tempo, com sorte, conversando com pedintes cegos, tocadores de concertina, talvez se consiga chegar à conclusão que se quer ir para a estação Ourcq, esse é o lugar onde se poderá ser feliz, mas como encontrar o caminho sem mapa, sem conhecer linhas e ligações? É possível arrastar a vida inteira no metro de Paris e nunca passar por Ourcq. É também possível passar por lá e não reconhecer que é ali que se quer sair."

José Luís Peixoto


"Não é o acaso que traz gente como nós a Paris. Paris é simplesmente um palco artificial, um palco giratório que permite ao espectador entrever todas as fases do conflito. Por si só, Paris não inicia drama algum. Os dramas começam em outro lugar qualquer. Paris é simplesmente um instrumento obstétrico que arranca o embrião vivo do útero e coloca-o na incubadora. Paris é o berço dos nascimentos artificiais. Balançando-se aqui no berço, cada um escorrega de volta para a sua terra: sonha-se em voltar para Berlim, Nova York, Chicago, Viena, Minsk. Viena nunca é mais Viena do que em Paris. Tudo é elevado à apoteose. O berço entrega os bebês e outros novos ocupam os seus lugares. Pode-se ler aqui nas paredes onde viveu Zola,Balzac, Dante e Strindberg, e toda gente que foi alguma coisa. Todos viveram aqui em uma ocasião ou outra. Ninguém morre aqui..."

Trecho de Trópico de Câncer, de Henry Miller

Paris é uma Festa

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Postado por Heberti Rodrigo
21/10/2016 às 16h30

 
Escritor e Fisiculturista


A Árvore da Vida, de Klimt

Rebecca Solnit diz que andar permite “conhecer o mundo através do corpo”, ou, nas palavras do poeta modernista Wallace Stevens (1879-1955): “Eu sou o mundo no qual caminho”. Trata-se, pois, de uma experiência cognitiva, muito necessária nesses tempos em que as pessoas se deslocam sobretudo utilizando carros, trens, aviões. Mas caminhar também envolve um processo de autoconhecimento, quando não de inspiração. “Os grandes pensamentos resultam da caminhada”, diz o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), uma ideia que Raymond Inmon expressa de forma mais poética: “Os anjos sussurram para aqueles que caminham”.

Na segunda-feira, dia em que completei 40 anos, fiz o que muitas vezes faço quando meu filho não acorda junto comigo ou enquanto estou tomando o café da manhã. Olhei para os livros que tenho em casa, peguei um ao acaso e comecei a folheá-lo. Naquele dia, o livro que tinha em mãos era Les Livres de Ma Vie, de Henry Miller. Em certo momento, deparei-me com uma passagem com a qual tanto me identifiquei que a transcrevi mais abaixo. Ela está intimamente relacionada com o meu sentimento de vida, com tudo aquilo que venho buscando ao longo da minha própria. Aos 40 anos, reconheço em mim o mesmo impulso descrito por Henry Miller de buscar conhecer e libertar-se. Aos 40, quero mais daquilo que sempre quis: um acréscimo de força e vitalidade, a ousadia de viver aquilo que corre em minhas veias. Dizem que antes de morrer há três coisas a se fazer: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. A árvore que quero cultivar é a minha própria vida. Quero ver a semente germinar e acompanhar o amadurecimento de minhas potencialidades. Quero colher seus frutos, mesmo que espinhosos. É com essa mentalidade que vou para Paris daqui a poucos meses. É também por encarar este momento de minha vida como decisivo para alcançar o que aspiro que iniciei um treinamento mais intenso com um campeão brasileiro de fisiculturismo. Abri este post com uma citação aplicada à caminhada. A meu ver ela se encaixa perfeitamente à musculação. Esta permite que se conheça melhor o próprio corpo e é através de nossos corpos que adquirimos conhecimento a respeito do mundo. Todo o conhecimento fundamental na vida de um homem está de algum modo relacionado ao funcionamento de seu corpo. Quando as palavras calam, o corpo ainda pode falar. É um poderoso instrumento de linguagem, como demonstrou Chaplin, e não apenas ele. Basta pensar na dança. Desejo aprofundar meus conhecimentos sobre mim mesmo e isso me parece impossível sem explorar as possibilidades de meu corpo. Para mim, escrever é explorar todo os recursos de linguagem e conhecimento. Quero expressar o que fez e continua a fazer parte de meus dias, compreender o padrão de minha vida. Ambiciono que tudo aquilo que sempre me interessou, que sempre me foi vital, se expanda e frutifique antes que eu morra. Quero deixar de ser alguém meramente potencial para me tornar parte da realidade, tornando real a minha realidade mais íntima. Aos 40, quero me tornar cada vez mais eu mesmo. Não necessariamente melhor ou pior, mas ser mais eu mesmo e menos do que os outros acham que deveria ser. Isso significa romper preconceitos e limites, como os que envolve o fisiculturismo, sobretudo aqui no Brasil. O que diriam de um escritor fisiculturista? Que ou se é uma coisa ou outra, como se fossem atividades que se excluem? É para ganhar força para romper preconceitos como esse - e aqui tomo todo preconceito como um limite, uma estreiteza - que escrevo e sou tão apegado às atividades físicas. Escrevendo e treinando ganho confiança para prosseguir em minha busca de expressar e libertar e afirmar tudo aquilo em que se resume minha pessoa, meu sentimento de vida e de mundo. Escrevendo e treinando me sinto vivo e sentir-se vivo, para mim, é vivenciar em si mesmo aquela força vital que se confunde com esse querer tantas vezes repetido ao longo deste post. O que hoje sei de mim é que eu sou alguém que quer viver plenamente o que me faz sentir vivo.

Seguem, então, as palavras de Henry Miller que estão relacionadas com o que escrevi e tive a felicidade de me deparar na segunda-feira ao acordar.

Quels ont été les sujets qui m'ont fait rechercher les auteurs que j'aime, qui m'ont permis d'être influencé, qui ont façonné mon style, mon caractère, ma conception de la vie? Les voici en gros: l'amour de la vie, la poursuite de la vérité, de la sagesse et de la compréhension, le mystère, la puissance du langage, l'ancienneté et la gloire de l'homme, l'éternité, le but de l'existence, l'unité de toute chose, la libération de soi-même, la fraternité humaine, la signification de l'amour, les rapports entre sexe et l'amour, le plaisir sexuel, l'humour, les bizarreries et les excentricités dans tous les aspects de la vie, les voyages, l'aventure, la découverte, la prophétie, la magie (blanche e noire), l'art, les jeux, les confessions, les révélations, le mysticisme, et plus particulièrement les mystiques eux-mêmes, les religions et cultes divers, le merveilleux dans tous les domaines et sous tous ces aspects car "il n'y a que le merveilleux et rien que le merveilleux". En ai-je oublié? Remplissez vous-mêmes les vides! Je me suis intéresser à tout. Même à la politique..."vue d'en haut". Mais le combat que livre l'être humain pour s'émanciper, c'est-à-dire pour se libérer de la prison qu'il s'est bâti lui-même, voilá pour moi le sujet suprême. C'est pour cela, peut-être, que je ne parviens pas à être complètement l'"écrivain". C'est peut-être pour cela que, dans mes ouvrages, j'ai fait une si grande place à la simple expérience de la vie. Peut-être aussi est-ce pour cela - bien que si souvent les critiques ne sachent pas le percevoir - que je suis tellement attiré vers les sages, ceux qui ont fait pleinement l'expérience de la vie et qui donnent la vie - les artistes, les grandes figures de la religion - les pionniers, les innovateurs et les iconoclastes de toute sorte. Et peut-être - pourquoi ne pas le dire - est-ce pour cela que j'ai si peu de respect pour la littérature, si peu de considération pour les auteurs accrédités, que je apprécie si peu les revolutionnaires sans lendemain. A mes yeux, les seuls vrais revolutionnaires sont les inspirateurs et ceux qui poussent à l'action, les figures comme Jésus, Lao-Tseu, le Bouddha Gautama. La mesure que j'emploi c'est la vie: la position des hommes face à renverser um gouvernement, un ordre social, une forme de religion, un code moral, un système d'éducation, une tyrannie économique. Mais plutôt quelle influence ils ont eue sur la vie elle-même. Ce qui distingue, en effet, les hommes auxquels je pense c'est qu'ils n'ont pas imposé leur autorité à l'homme; au contraire, ils ont cherché à détruire l'autorité. Leur but et leur dessein étaient de révéler la vie, de donner à l'homme le goût de la vie, d'exalter la vie... et de ramener tous les problèmes à la vie. Ils ont exhorté l'homme à comprendre qu'il possédait tout la liberté en lui-même, qu'il n'avait pas à se préoccuper du destin du monde (problème qui ne le concernait pas) mais à résoudre son propre problème individuel, lequel était de se libérer, et rien de plus.

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Postado por Heberti Rodrigo
5/10/2016 às 07h43

 
Trecho do livro Jakob Von Gunten - Um diário



"Aqui se aprende muito pouco, faltam professores, e nós, rapazes do Instituto Benjamenta, vamos dar em nada, ou seja, seremos, todos, coisa muito pequena e secundária em nossa vida futura. As aulas a que assistimos visam sobretudo a inculcar-nos paciência e obediência, duas qualidades que ensejam pouco ou mesmo nenhum sucesso. Sucessos interiores, sim. Mas o que se ganha com eles? Conquistas interiores porventura nos dão de comer? Eu gostaria muito de ser rico, andar por aí em caleches e gastar um bocado de dinheiro. Conversei sobre isso com Kraus, meu colega de instituto, mas ele só fez encolher os ombros com desdém, não se dignando dirigir-me sequer uma única palavra. Kraus é possuidor de princípios; firme na sela, cavalga a satisfação, montaria inadequada a quem deseja galopar. Tão logo cheguei aqui, ao Instituto Benjamenta, consegui transformar-me num enigma para mim mesmo. Também a mim contagiou certa satisfação, bastante curiosa e, no meu caso, inédita. Obedeço razoavelmente bem, não tão bem quanto Kraus, que é mestre em precipitar-se de cabeça ao encontro de ordens, pronto a servir. Num ponto, nós todos - Kraus, Schacht, Schilinski, Fuchs, o grandão do Peter, e eu etc., alunos do Instituto Benjamenta - nos igualamos, a saber: em nossa total pobreza e dependência. Somos pequenos, pequenos até a insignificância. Quem quer que possua uma nota de um marco é já considerado um príncipe favorecido. Quem fuma cigarros, como eu, desperta preocupação em virtude do dinheiro que esbanja. Vestimos uniformes. Usar uniforme é algo que, a um só tempo, nos humilha e enobrece. Parecemos pessoas privadas de liberdade, o que talvez constitua humilhação, mas ficamos bem de uniforme, e isso nos distancia da vergonha profunda dos que andam por aí em trajes mais que próprios e no entanto sujos e esfarrapados. Para mim, por exemplo, vestir uniforme é muito agradável, porque nunca soube ao certo que roupa usar. Também nisso, porém, sou, por enquanto, um enigma para mim mesmo. Talvez abrigue um ser humano bastante vulgar. Ou talvez corra sangue aristocrático em minhas veias. Não sei. De uma coisa tenho certeza: no futuro, o que vou ser é um zero à esquerda, muito redondo e encantador. Na velhice, terei de servir a jovens grosseirões, arrogantes e mal-educados; do contrário, vou precisar mendigar para não perecer."

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Postado por Heberti Rodrigo
17/9/2016 às 08h15

 
Fora de Forma




Na solidão, o solitário devora a si mesmo; Na multidão, devoram-no inúmeros. Então escolhe. Friederich Nietzsche

Amanhecia quando os últimos precipitaram-se pela escada. Seria natural supor que logo depois fizesse o mesmo. Ao longo de todos aqueles anos poucas vezes se ausentou, e sempre que isso ocorreu tinha uma boa justificativa. Nunca havia sido punido. Demorou-se ali porque sentiu vontade de ficar só antes de vestir a farda e entregar-se àqueles oito lances de escada que unem o alojamento e o pátio interno do quartel, onde se perfilaria ao lado dos demais cadetes para formatura matinal. Restavam pouco menos de cinco minutos, e não demonstrava inquietar-se com as consequências de um iminente atraso. O toque do corneteiro advertia; no entanto, portava-se como se não lhe dissesse respeito, permanecendo ensimesmado diante da janela do banheiro a observar o mar. “É tão vasto que parece revelar algo maior que ele próprio”, murmurou, não sem alguma excitação, ao notar em suas águas o reflexo do sol que se erguia no horizonte. Chegava-lhe ainda, embora cada vez mais distante, o ruído surdo e cadenciado da batida dos coturnos de seus colegas no chão duro do pátio interno. “Estão entrando em forma. O chefe de turma terminou a contagem e deve estar comunicando minha falta ao tenente”. Sabia que caso se ausentasse, sem apresentar uma justificativa convincente, seria severamente punido. Ainda assim, não a tinha. Só a apresentará anos mais tarde. Até lá, seu comportamento será visto como uma estúpida afronta, como se motivado por uma rebeldia efêmera e infantil. Não era o que se passava. Era algo mais profundo e, por isso mesmo, difícil de alcançar e debelar. Tudo lhe sobrevinha com a intransigência própria do irremediável. Sua existência deixava de seguir como um toco em enchente para fixar-se num ponto distinto e imprevisto, à margem de tudo o que até então havia reconhecido como vida. A correnteza seguia, mas não ele. De onde se isolou, não sem um misto de melancolia e orgulho, contemplava a corrente pela qual seus colegas se deixavam levar. Houve quem, ao passar por ele, censurasse-lhe, amigavelmente, a demora, prevenindo-o de que seria punido e que o mais sensato seria entrar em forma imediatamente. Não lhes deu atenção. Não poderia. Não com aquele horizonte emergindo diante de si, sobre si, em si. Sentia-se envolvido, dominado por algo maior que ele próprio. Em sua solidão pressentia uma transformação indefinivelmente intensa a desvelar-se em seu destino. Aconteceu-lhe, ao contemplar o mar, o que anos depois nomearia “sentir-se ser”, uma irresistível e perturbadora maneira de ver a si mesmo tomando parte no mundo e, ao mesmo tempo, ausente dele; a sensação de estar a se desviar e a se perder para vivenciar as angústias e alegrias inerentes a um tortuoso processo de redescobrir-se. Tudo ressurgia sob uma perspectiva nova. Minutos antes, parecia-lhe evidente pensar que, naquele instante, era ele, e não seus colegas, quem estava a fazer nada, apático. Ao acontecer-lhe de “sentir-se ser”, principiou a lançar um olhar singular sobre os acontecimentos, não raro interpretando-os como que pelo avesso: “são eles, e não eu, que permanecem passivos”. Não fazer nada passou a significar, dali em diante, uniformizar-se, deixando-se levar pelo mesmo impulso que arrasta todos à sua volta.

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Postado por Heberti Rodrigo
1/9/2016 às 14h58

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