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Terça-feira, 2/2/2016
Blog de Cassionei Niches Petry
Cassionei Niches Petry
 
O voo, o véu e a verdade

(Com este texto encerro minha participação como blogueiro aqui no Digestivo Cultural. Continuarei como colunista apenas.)

“O velho Montag queria voar perto do Sol e agora que queimou as asas, pergunta por quê.” (Ray Bradbury, Fahrenheit 451)

O mito de Ícaro – a história do jovem que voou com um par de asas de cera que se derreteu ao chegar muito perto do sol, o que o levou à morte – é uma das tantas alegorias criadas pelo homem para mostrar que ele deve ter limites para chegar ao conhecimento. Devemos, no entanto, ir até as fronteiras e parar?

Em um ensaio do livro Mitos, emblemas e sinais, o historiador Carlo Ginzburg escreve sobre os opostos alto e baixo, relacionados ao chamado conhecimento proibido. “É significativo”, escreve ele, “que digamos que algo é ‘elevado’ ou ‘superior’ – ou, inversamente, ‘baixo’ e ‘inferior’ – sem nos darmos conta do motivo por que aquilo a que atribuímos maior valor (a bondade, a força etc.) deva ser colocado no alto.” Nesse sentido, nas mitologias e religiões, os deuses estão sempre no alto, superiores, e nós, meras formiguinhas, seres inferiores, aqui embaixo.

Na Idade Média, o conhecimento esteve encastelado, literalmente, em mosteiros, cujas bibliotecas possuíam o acervo do que de mais importante havia sido escrito. Muitos desses paraísos do saber ficavam no alto das torres. Por isso o período foi denominado de Idade das Trevas, erroneamente, segundo muitos estudiosos, devido ao obscurantismo intelectual no qual vivia a população das classes baixas. Mais tarde, o homem comum passou a ter acesso ao saber. A Reforma Protestante, por exemplo, ajudada pela invenção da imprensa, possibilitou que qualquer pessoa pudesse ler e interpretar a Bíblia, fonte de conhecimento para os cristãos. “Voando” para os dias atuais, vemos que o saber se expande cada vez mais através da rede de computadores e os limites do conhecimento vão sumindo no horizonte. Ou não existem mais esses limites?

Pois apesar de todos esses voos já realizados rumo à luz do conhecimento, ainda há quem deseja nos cortar as asas. Para eles, o ser humano não pode querer ser Deus. Essas pessoas impõem barreiras às pesquisas como as das células-tronco ou da criação de vida artificial e não aceitam ser contestados com relação a seus dogmas. Devemos nos ater, dizem, a nossa insignificância e não tentar entender as coisas do “alto”. Pensamento mesquinho de quem quer ser dono de uma verdade e deseja que os demais a aceitem e, além disso, tenta encobrir as fontes que podem provar o contrário de seu pensamento. Quebrar essas barreiras é o que o super-homem proposto pelo filósofo Nietzsche deve fazer. Não há muro intransponível para quem pode voar.

Não estou dizendo que não devemos ter nenhum limite. A falta de limites para crianças e jovens, por exemplo, está criando seres que não respeitam seus pais, muito menos seus professores. Quem não respeita limites no trânsito causa acidentes. Até na alimentação temos que ter um limite para não prejudicarmos nosso organismo. Devemos, no entanto, deixar livres as fronteiras do conhecimento. Não deve haver limites para o saber, a experiência, a informação, a ciência, a filosofia, a cultura, a fantasia, as artes. Só assim buscamos a “aletheia” dos gregos, que segundo outro filósofo, Martin Heidegger, é o “desvelamento” ou “desencobrimento” do que está oculto, caindo, portanto, o véu que nos fecha os olhos para que possamos descobrir a verdade.

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Postado por Cassionei Niches Petry
2/2/2016 às 14h28

 
20 anos de Graça Infinita, de David Foster Wallace

(Graça Infinita, do David Foster Wallace, completa 20 anos de sua publicação hoje. Aqui, resenha que escrevi sobre o tijolão para o jornal Gazeta do Sul no ano passado.)

Com a graça de David

O escritor que criou uma obra como Graça infinita (Companhia das Letras, 1.136 páginas) não poderia ter feito o que fez: enforcar-se na garagem de sua casa, justamente o lugar onde escrevia seus livros. David Foster Wallace nasceu em 1962 e se suicidou em 2008, mas foi reconhecido ainda em vida como um dos grandes nomes da literatura de sua geração nos Estados Unidos. No Brasil, o romance era lido por poucos, na língua inglesa, em tradução para o português de Portugal ou até mesmo em espanhol, através de e-books compartilhados na internet. Agora, finalmente chega por estas bandas.

Pensando bem, não dá pra julgar a atitude de DFW (sigla pela qual é chamado por seus leitores mais fiéis. Não me surpreenderia se alguém começasse a dividir a literatura em antes e depois de DFW.). Ele sofria de depressão e vivia à base de medicamentos. Como bem escreveu o tradutor de Graça infinita no Brasil, Caetano Galindo, em um artigo para a revista Piauí, “ninguém entende os motivos de um suicida. Ninguém. A única pessoa talvez capaz de entendê-los é morta pelo ato. Nem mesmo quase suicidas que quase morreram dão relatos muito racionais e organizados. Eu? Nem tento.”

O romanção Graça infinita foi publicado originalmente em 1996. Antes disso, DFW havia publicado o romance The broom of system, que serviu como conclusão de seu curso de graduação, e o volume de contos Girl with Curious Hair, além de um tratado acadêmico sobre o Rap, escrito em conjunto com um colega da universidade. Presentes nessas obras estão a metalinguagem, os jargões acadêmicos, o vocabulário científico, a criação de palavras, a ironia, o humor negro, os enormes enunciados e as notas de rodapé que se tornaram características marcantes do autor.

Não deixe de ler as notas de rodapé. Algumas são essenciais para o entendimento da história. Faz-se necessário, para não se perder tempo, a utilização de dois marcadores de páginas, pois as notas estão no final do romance e são difíceis de localizar. Aliás, não espere nada fácil nesse livro. Desde o peso para segurá-lo, passando pelas letras pequenas e chegando à complexidade do enredo, tudo é difícil, chegando a ser chato e cansativo muitas vezes. O livro é para aqueles que realmente não buscam uma literatura de entretenimento, apesar de a trama tratar, entre outras coisas, sobre esse tema. É o que chamo de Literatura com L maiúsculo e que requer um Leitor com L maiúsculo. Feitas essas ressalvas, vamos à história.

O enredo é ambientado na ONAN, Organização das Nações da América do Norte, numa época futura, em que as denominações dos anos são subsidiadas por marcas de produtos, sendo que boa parte dos acontecimentos se passam no Ano da Fralda Geriátrica Depend. A maioria das personagens – que são inúmeras – gira em torno dos Incandenzas, uma família feliz ou infeliz a sua maneira – para glosar Tolstói, também adepto do romanção, mas no século XIX. O patriarca é James O. Incandenza, cientista e cineasta, produtor de filmes experimentais, mas chamados de entretenimento, contidos em cartuchos, o que seria o equivalente às fitas de videocassete dos anos 90, e o principal e mais misterioso desses filmes é o que dá título ao romance – retirado, por sua vez, de uma frase de Hamlet, de Shakespeare – e que, devido à elevada carga de entretenimento, provoca a morte de quem assiste. James, conforme ficamos sabendo logo no início, cometeu suicídio metendo a cabeça num forno de micro-ondas – a descrição de como isso foi possível é impagável. Completam a família a mãe, Avril, diretora da Academia de Tênis Enfield, de propriedade da família; o filho mais velho Orin, jogador de futebol americano; Mario, o filho do meio, adolescente com dificuldades físicas e mentais; e Hal, o caçula, gênio na escola e prodígio como jogador de tênis, personagem central da história.

As primeiras páginas me fazem lembrar do clichê do início de muitos filmes hollywoodianos, em que um estudante é entrevistado para ingressar em uma universidade, sendo que os diretores estão interessados muito mais nas suas qualidades de esportista do que nas notas do indivíduo. O comum é vermos promissores jogadores de basquete ou futebol americano. Em Graça infinita, a história gira em torno do tênis, e Hal passa por uma fracassada conversa com diretores de uma instituição de ensino superior em que deseja ingressar. Os jogos, de uma forma geral, são importantes na trama, mas o tênis é talvez uma das principais metáforas para serem decifradas. “Você compete com seus próprios limites para transcender o eu em imaginação e execução. Sumir no jogo: romper limites: transcender: melhorar: vencer. (...) Você busca vencer e transcender o eu limitado cujos limites são a mesma razão do próprio jogo.”

Há ainda a destacar os outros núcleos que, de certa forma, se relacionam com os Incandenzas: 1 – Os internos na Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool alimentam outro tema importante do romance, que é o vício, seja o proporcionado por substâncias tóxicas ou mesmo o proporcionado pelo entretenimento dos cartuchos. Pode-se dizer que a leitura do romance também é viciante. “Que quase todas as pessoas viciadas em Substâncias também são viciadas em pensar, o que significa que elas têm uma relação compulsiva e patológica com o seu pensamento.” 2 – Os separatistas denominados Cadeirantes Assassinos do Quebéc, que praticam atos terroristas com intuito de separar o Canadá dos EUA e usam como instrumento o cartucho com o filme de James O. Incandeza.

Já revelei muitas coisas, por isso paro por aqui, para não estragar a viagem de quem resolver se embrenhar na mata fechada de DFW. Fica o convite ao leitor, ou melhor, ao Leitor, que reserve boas horas do seu dia, durante os próximos meses, nessa experiência infinita. Torne-se um viciado, se necessário, e saia da leitura em estado de graça.

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Postado por Cassionei Niches Petry
1/2/2016 às 17h41

 
Os 33 mineiros e nossa visão limitada

(Texto originalmente publicado no jornal Gazeta do Sul e no blog deste cronista em outubro de 2010.)

O resgate dos 33 mineiros chilenos me põe a refletir numa porção de coisas que passam desapercebidas pela maioria das pessoas. Talvez seja esse meu grande defeito: não tenho a mesma visão do senso comum, o que é um pecado grave num mundo em que o politicamente correto é pensar como todo mundo pensa.

Comecemos por aí: o “ver” as coisas. Lembrem que os mineiros tiveram que sair com óculos escuros e à noite, porque ficaram muito tempo sem ver a luz solar. Inevitavelmente, pensei na "Alegoria da Caverna", do filósofo grego Platão. É um exercício filosófico interessante de se fazer: pense numa caverna onde vivem pessoas acorrentadas durante todas as suas vidas. Voltadas para o fundo da caverna, veem apenas sombras projetadas na parede por uma fraca luminosidade vinda de fora. Para eles, a realidade são as formas que conseguem definir por essas sombras. Um dia, um deles consegue se livrar das correntes e sai da caverna. Fica cego por um bom tempo, até que suas retinas se acostumam com a luminosidade. Quando consegue definir tudo, fica deslumbrado. Volta para dentro, para contar o que viu a seus companheiros, mas o chamam de louco e é escorraçado.

Há várias interpretações para a alegoria, mas fiquemos com uma: a luz do sol é o conhecimento e as sombras são falsas percepções da realidade. As pessoas acorrentadas são as que se conformam com as verdades que nos obrigam a acreditar desde crianças e o “louco”, por sua vez, é o filósofo ou um escritor que tenta mostrar uma nova versão dos fatos e que não devemos acreditar em tudo que nos impõem.

Esses bravos mineiros chilenos trabalhavam em determinadas condições com as quais acabavam concordando por precisarem sustentar suas famílias. O acidente mostrou não só a eles, mas a todo mundo, que não podemos ser condizentes com os que querem explorar nosso trabalho. A ideologia do senso comum diz: “em boca fechada não entra mosca”. A ideologia dos inconformados diz: “em boca fechada não entra comida”. Temos sim que abrir a boca quando algo está errado. Temos de reconhecer que somos nós os donos de nossas próprias decisões.

Por outro lado, a mobilização mundial em torno do assunto prova o gostinho que as pessoas têm por um reality show. Os que assistiram ao resgate pelas tevês do mundo todo deram uma audiência considerável às redes de televisão. No Brasil, algumas emissoras comemoraram por estar à frente do IBOPE. Você, caro leitor, que assistiu ao resgate, estava preocupado pela vida dos 33 chilenos? Se sim, tem a mesma preocupação por outras milhares de pessoas passando fome? Nesse caso, mais uma vez nossa visão é limitada. A sala de estar da nossa casa é a caverna, a fraca luminosidade da tela da TV nos permite ver apenas uma parte da realidade e nos sentimos felizes com isso. Mas olhe para fora de sua casa. Não há uma pessoa que também merece ser resgatada?

Temos que pensar nos outros, mas não pensar como os outros. Temos que ser indivíduos, mas não individualistas. Temos que nos solidarizar com os 33, mas também com outros tantos milhões. Mas essa é só minha opinião. Tenha você a sua.

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Postado por Cassionei Niches Petry
30/1/2016 às 08h11

 
BBB, Zé Ramalho, Pitty, Iron Maiden e Nietzsche

“Povo marcado, povo feliz”. É o verso do poeta que me vem à mente quando ouço a maioria da população brasileira dando palpites sobre o reality show da Globo. Vocês fazem parte dessa massa que assiste ao "BBB"? Eu não, mas não consigo me livrar de ouvir ou ler e, por consequência, escrever sobre assunto. Dos programas de rádio que escuto, aos jornais que leio, além dos diversos sites da internet, em tudo há alguma informação sobre o programa. Não sei os nomes de quem participa, mas sei alguma coisa sobre eles. Há alguns anos, havia uma colega da área de Letras. Hoje, há até um doutor em filosofia entre os participantes. Como gado, as pessoas foram marcadas pelo símbolo da Vênus Prateada. Não é à toa que ela tem esse epíteto, pois a Vênus, ou Afrodite na mitologia grega, era a deusa da beleza, do amor e da sensualidade (daí surgiram palavras como camisa de vênus e afrodisíaco). A Globo seduz com suas belas imagens, mostrando mulheres igualmente belas, revelando o que mais seduz em seus corpos. Por isso chamei o "BBB", em outra crônica, de Bobagens, Besteiras e Bundas.

A música de Zé Ramalho se chama “Admirável gado novo”, inspirada no romance Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932. Nesse romance, em um tempo futuro, as pessoas nascem em laboratórios, tendo seus genes condicionados para assumirem determinadas funções na sociedade. Depois, sofrem também um condicionamento psicológico. Isso tudo para que cada “cidadão” se torne aquilo que os governantes querem que ele seja. Todas as suas ações serão de acordo com as regras já estipuladas, desde as compras, o trabalho, passando pelos relacionamentos, o tipo de divertimento e até a droga que deve ser usada. Mesmo controladas, as pessoas se sentem felizes, pois nunca são ensinadas a ter pensamento próprio. Fazer parte do rebanho, ser uma ovelhinha feliz, pronta para ser devorada pelo lobo, é com isso que as pessoas estão acostumadas. “Lá fora faz um tempo confortável/A vigilância cuida do normal”, diz um dos versos da música de Zé Ramalho.

O livro também inspirou a cantora Pitty a compor a música “Admirável chip novo”, dessa vez comparando as pessoas a robôs programados para pensar e consumir de acordo com o sistema: “Pense, fale, compre, beba/Leia, vote, não se esqueça/Use, seja, ouça, diga.../Não senhor, Sim senhor/Não senhor, Sim senhor”. Quando um robô descobre que não era humano (“Até achava que aqui batia um coração/Nada é orgânico, é tudo programado/E eu achando que tinha me libertado”), logo alguém vem para reinstalar a programação e a ameaça à sociedade é evitada, tudo volta ao normal. Quando roda a vinheta do Big Brother, as pessoas, como que programadas pelo sinal, não correm para a frente da TV?

Como escreveu o filósofo Nietzsche, nós, seres humanos, possuímos “o instinto do animal de rebanho”. A felicidade para nós “aparece sob a forma de estupefação, de sonho, de repouso, de paz, numa palavra, sob a forma passiva”, como escreveu o poeta Waly Salomão. No entanto, estamos deixando justamente a condição de humanos quando nos deixamos ser levados para ser abatidos, condicionados a agir conforme o sistema (seja o de televisão ou o dos governos) ou programados como robôs para servir. Como canta a banda Iron Maiden, em outra música inspirada pelo romance de Aldous Huxley: “Você é planejado e está condenado/Nesse admirável mundo novo”.

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Postado por Cassionei Niches Petry
25/1/2016 às 17h26

 
BBB e Narciso

Todos nós somos um pouco narcisistas, já dizia Freud. Uma das primeiras coisas que fazemos pela manhã é nos olhar no espelho. Na maioria das vezes, nos assustamos com o que vemos. Começa aí todo o processo de cuidar da aparência. Num grau de narcisismo menor, a pessoa vai apenas lavar o rosto, escovar os dentes e pentear o cabelo. Em graus maiores, não deixa nem o quarto sem aplicar uma maquiagem. Antes de sair de casa, mais uma olhadela no espelho. Na rua, até as vitrines das lojas servem para dar mais uma conferida no visual. Os vidros dos carros estacionados também servem. Vale tudo para cuidar da vaidade.

Muitos sabem o significado de narcisismo, mas poucos conhecem a história que deu origem à expressão. Na mitologia grega, Narciso, filho do deus Cefiso e da ninfa Liríope, teve previsto pelo oráculo que sua vida seria longa, desde que nunca olhasse para si mesmo. Quando jovem, porém, ao passar por um lago, ele acabou vendo seu reflexo na superfície da água. Na versão de Ovídio, na obra Metamorfoses, Narciso ficou à beira do lago contemplando sua beleza até definhar e acabou se transformando em uma flor, a que se deu o nome de narciso. Em outra versão do mito, encantado com a figura na água, pensando que era outra pessoa, debruçou-se para abraçá-la e acabou morrendo afogado.

Os mitos tinham, entre outras funções, o objetivo de servir de ensinamento sobre fatos da nossa vida. No caso, há um alerta sobre os perigos da vaidade excessiva. O nome Narciso vem da mesma raiz grega da palavra narcótico. Ou seja, o culto exagerado da nossa beleza pode nos deixar entorpecidos e esquecer tudo e todos que estão ao nosso redor. O mais grave é se isso acontece na frente de milhões de pessoas.

O reality show Big Brother é o paraíso dos narcisistas. Nessa casa, com espelhos por todos os lados, os participantes deixam aflorar, no mais alto grau, seu lado eu-me-amo-não-posso-mais-viver-sem-mim, para lembrar uma música do "Ultraje a Rigor". Eles não passam pelos espelhos sem dar uma olhada e dar um retoque no visual, com o acréscimo de que sabem que estão sendo assistidos. Eis um paradoxo interessante. Todo o narcisismo aplicado aqui não é apenas para si próprio, mas também para os outros. Ao mesmo tempo, narcotizados que estão por ser o centro das atenções, esquecem que estão sendo julgados e estão pouco se importando com o que o público, ou melhor, a massa, vai pensar sobre sua conduta na casa.

Há nos últimos BBB’s participantes acostumados a se exibir em público, seja posando para revistas femininas e masculinas, seja tirando a roupa na frente de uma webcam. Mesmo sendo acostumados a serem julgados pelos outros, mal sabem os riscos que tal exposição na mídia pode oferecer a sua imagem. Quantas pessoas não perderam empregos devido a fotos de gosto duvidoso postadas em redes sociais na internet? Se conhecessem a história do ser mitológico, saberiam que ser tão popular não é tão positivo, pois, como já filosofaram os "Engenheiros do Hawaii": “o pop não poupa ninguém”.

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Postado por Cassionei Niches Petry
23/1/2016 às 11h12

 
BBB, 1984 e FEBEAPÁ

Em época de BBB (sigla para Besteiras, Bobagens e Bundas), reality show da TV assistido por milhões de pessoas em todo o país, nada melhor do que lembrar a obra literária que deu origem ao nome da atração. Trata-se do romance 1984, do escritor britânico George Orwell.

Publicada em 1948 (houve também uma versão cinematográfica dirigida por Michael Radford nos anos 80), a história se passa em uma sociedade futura, onde os “cidadãos” são vigiados por tele telas, que seriam os olhos do Grande Irmão (em inglês, Big Brother), chefe supremo do Partido governante. Nesse regime totalitário, o personagem principal, Winston Smith, é funcionário do Ministério da Verdade, cuja função é modificar as notícias dos jornais, manipulando os fatos para perpetuar o Partido no poder. Uma das passagens marcantes acontece quando o protagonista, depois de ser flagrado com uma mulher (o que é proibido), é preso e torturado. O torturador, chamado O'Brien, pede que ele responda qual o resultado de 2 + 2. Ele dá a resposta correta. O algoz diz que está errado, pois ele deveria responder 5. E tome tortura, até que ele acaba respondendo de acordo com a ordem. Mais tarde, em um café, Winston escreve sobre a poeira da mesa: 2 + 2 = 5. Ou seja, sua mente foi manipulada para esquecer a realidade.

Logicamente, devido ao programa televisivo, a expressão Big Brother, que servia como símbolo de um totalitarismo deplorável, se banalizou (pensando bem, o que a TV não banaliza?). Diferentemente do romance, o Grande Irmão são os milhões de telespectadores que se detêm na frente da tela para cuidar da vida de outras pessoas, tendo o poder de eliminar aquelas que não são de seu agrado. Os que estão sendo vigiados podem namorar, se divertir, usar roupas curtas (de preferência bem curtas) e não precisam nem trabalhar. Ainda podem embolsar uma boa quantidade de dinheiro e outros prêmios para fazerem isso. E quem tem a mente manipulada não são os vigiados, mas sim os que estão vigiando.

Se estivesse vivo, o cronista Stanislaw Ponte Preta colocaria o BBB no seu livro FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País.

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Postado por Cassionei Niches Petry
21/1/2016 às 16h34

 
Eu e minhas circunstâncias

O filósofo José Ortega y Gasset escreveu uma das frases mais acertadas de todo o pensamento universal: "eu sou eu e minhas circunstâncias", presente no seu primeiro livro, de 1914, Meditaciones del Quijote. Cada vez que a leio, as circunstâncias são diferentes e, por conseguinte, as interpretações também. Na primeira vez, li a frase pensando na maneira com as pessoas guiam suas vidas. Elas se adaptam ao meio, acabando por se acomodar e a imitar o que os outros fazem.

Hoje, no entanto, vejo a sentença de outra forma. Como o filósofo se utiliza do pronome possessivo "minhas", ele pode estar excluindo as circunstâncias externa ao indivíduo. Parto do princípio, então, de que sou eu que devo criar as circunstâncias, não esperar que os outros se adaptem às minhas ou que eu acabe me acomodando com as circunstâncias que me apresentam. Aliás, a continuação da frase elucida um pouco mais a questão: "eu sou eu e minhas circunstâncias, se não me salvo a elas, não me salvo a mim mesmo". Em outras palavras, se nos deixamos nos levar pelo coletivismo, acabamos esquecendo o nosso "eu" e nos tornamos infelizes.

Sinto-me um peixe fora d'água (ah, os clichês!). Tenho um círculo de amigos que não tem os mesmos gostos do que os meus. Eles não leem, não são críticos, gostam de músicas pelas quais tenho um certo distanciamento. Nas escolas onde trabalho, é difícil encontrar alguém com quem trocar ideias, mesmo sendo professores. Ficar no intervalo ouvindo falar de novela, do cachorro que está doente, da roupa que compraram, do perfumes da Avon que a fulana está vendendo, das últimas do reality show do momento, etc., etc., tudo isso é uma forte porção de drogas para os ouvidos e o cérebro.

Por isso, crio eu minhas próprias circunstâncias. Nessas horas me lembro de letras dos Engenheiros do Hawaii: "Ando só/como um pássaro voando/ando só/como se voasse em bando", na música Ando só, do álbum "Várias variáveis". Ou em Humano demais, do álbum "Minuano", em que Humberto Gessinger cita Ortega y Gasset: "e agora somos só nós dois: eu e minha circunstância/sempre foi só nós dois: eu e minha circunstância/sempre só nós dois: eu e eu". Nesses momentos que não me agradam fico quieto no meu canto, às vezes observando para, quem sabe, utilizar tudo que ouço em algum conto (sou um vampiro, lembram?). Ou tento ler um livro, a única coisa que me faz fugir da realidade para poder entendê-la.

Sei que pareço criar um muro floydiano em volta de mim, mas antes o muro separando do que uma ponte me unindo às imbecilidades do cotidiano. Parafraseando Camões, prefiro andar solitário entre as pessoas.

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Postado por Cassionei Niches Petry
7/1/2016 às 10h33

 
Com os olhos bem abertos

Um filme pode nos conquistar através das imagens elaboradas, que chamem bastante atenção na tela do cinema, ou através de um roteiro igualmente bem escrito, com diálogos inteligentes e, o mais importante, com um enredo bem fundamentado. O primeiro caso acontece quando a cena fala por si mesma, seja no sentido poético, seja na cor ou ainda nos efeitos especiais de impacto. Quanto ao roteiro, que é a base de tudo, ele vai atender a demanda de um determinado público, podendo ser simples, com começo, meio e fim bem delimitados, pegando um expectador que quer apenas entretenimento, ou mais do tipo quebra-cabeça, que requer um expectador ativo, que esteja disposto a pensar e não quer nada fácil e mastigado.

A origem ("Inception"), de 2010, tem um pouco de tudo isso, salvo a linearidade. Na divulgação, a primeira coisa que me fez esperar com expectativa o filme foram as imagens baseadas no artista plástico M. C. Escher, como a cidade se dobrando sobre si mesma, as pessoas andando pelas paredes e tetos e passando por escadas labirínticas. O tema igualmente me interessou, pois se trata da possibilidade de invadir sonhos e mexer com o subconsciente das pessoas. Soma-se a tudo isso a mão de um diretor diferenciado - responsável por uma das experiências mais inquietantes a que assisti, o filme Amnésia ("Memento") -, e teremos outra experiência do mesmo nível.

Não se pode resumir muito coisa do enredo, com o risco de revelar as soluções do quebra-cabeça. Temos um invasor de sonhos, Don Cobb, vivido por Leonardo di Caprio, que trabalha no roubo de informações industriais escondidas na mente das pessoas. Contratado por um poderoso executivo, que lhe promete resolver um problema que o impede de ver seus filhos, Cobb tem que encarar seus próprios fantasmas interiores, ajudado pela novata "arquiteta" de sonhos chamada, não por acaso, Ariadne, mesmo nome da mulher que, na mitologia grega, ajudou Teseu a escapar do labirinto de Creta e salvá-lo do Minotauro, amarrando o herói num fio.

Invasor + mundo irreal versus mundo real + entrar e sair desses mundos dormindo e se conectando com outras pessoas + ação + efeitos especiais + referências mitológicas e filosóficas =... Alguém pensou em Matrix aí?

Essa nova missão, no entanto não é roubar, mas sim inserir uma ideia, como se fosse um vírus, no subconsciente no herdeiro de uma grande corporação empresarial, com o objetivo de fazê-lo seguir rumos diferentes no empreendimento da família. Nesse ponto, paramos para refletir nos pequenos detalhes que modificam a personalidade, o caráter e as ideologias e nos perguntamos: e se tudo isso fosse possível? Seríamos talvez, presas fáceis do Estado, controlando nosso pensamento, ou então correríamos o risco de termos nossos segredos revelados e perderíamos nossa individualidade. Por outro lado, poderia ser uma ajuda para as pessoas resolverem seus problemas: Freud ou Jung adorariam essa possibilidade.

Falando na dupla de psicanalistas, o filme todo deve ser analisado por uma perspectiva psicanalítica, mas fazê-lo agora, aqui nesse espaço, seria revelar muita coisa. Primeiro assista ao filme, leitor, e depois, quem sabe, se cartas e sinais de fumaça chegarem à redação, retorno neste espaço para conversarmos mais um pouco. Isso, claro, se nesse exato momento não estamos apenas dentro de um sonho conectado - eu sonho que estou escrevendo e você sonha que está lendo - e se não despertarmos...agora!

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Postado por Cassionei Niches Petry
6/1/2016 às 10h06

 
O vampiro de almas

(Resenha publicada originalmente em 2010.)

Um desavisado pode pensar - a julgar pelo título e a capa escura com um rapaz de rosto pálido - que o livro é mais um dos que tratam de jovens chupadores de sangue que arrancam suspiros das meninas. Jogada da editora para atrair leitores nas prateleiras das livrarias? Talvez. Confesso que gostaria de ver um desses adolescentes sedentos por "leituras-de-entretenimento-escritas-para-virar-filme" sendo enganado, pois teria contato com uma "leitura-de-qualidade-escrita-para-ser-literatura".

Chá das cinco com o vampiro (Objetiva, 236 páginas), do paranaense Miguel Sanches Neto, é um misto de roman à clef com bildungsroman. O primeiro termo se refere a um romance que se utiliza de nomes fictícios para retratar pessoas reais, mas percebemos sobre quem se está escrevendo devido a algumas semelhanças com pessoas e fatos da vida real. O segundo termo é também chamado de romance de formação, visto que narra o processo de crescimento moral, intelectual e social de um indivíduo desde sua adolescência. A narrativa de Sanches intercala momentos da vida do protagonista, Roberto Nunes Filho, e seu convívio com um escritor recluso e famoso da cidade de Curitiba.

O misantropo retratado, Geraldo Trentini, na verdade é Dalton Trevisan, considerado um dos maiores contistas do país, e que escreveu justamente um livro chamado O vampiro de Curitiba, que, como em seus outros livros, narra cenas da vida de gente comum da capital paranaense. Ele mesmo se denomina vampiro, pois chupa muitas das suas histórias ouvindo conversas nos lugares que frequenta ou contadas por informantes. No caso, vampiro não de sangue, mas "Vampiro de almas", título de um dos seus contos - chupado por sua vez do título de um filme americano.

Acontece que Dalton Trevisan ficou irritado por saber da existência do romance, pois Miguel Sanches Neto teria se aproveitado da amizade que teve com ele para saber de suas intimidades. Contraditório, afinal de contas seu ex-discípulo não fez nada diferente do ex-mestre ao pintar um personagem curitibano como ele realmente é.

A polêmica até rendeu visibilidade à obra, mas fez a crítica, mais interessada na fofoca, esquecer as partes que relatam a formação do narrador Beto Nunes, "levemente" inspirado no próprio Sanches. São capítulos igualmente importantes - pois a história é do Beto e não de Trentini - e neles vemos o jovem na pequena Peabiru tendo sua iniciação literária com a tia Ester, personagem cativante que incentiva o sobrinho a seguir o caminho da literatura, indicando livros e pagando a faculdade para ele, além de aconselhá-lo a procurar Geraldo Trentini. Há também a relação com seus pais: uma mãe, figura apagada, que queria sempre o filho embaixo de suas saias, e um pai alcoólatra que, bem pelo contrário, queria vê-lo longe. Nesse ponto, a narrativa lembra o relacionamento de Franz Kafka com seu genitor, em uma das tantas referências literárias no romance. Por isso Beto procura por um novo pai, dessa vez literário, que da mesma forma o decepciona.

Talvez o vampiro da obra de Miguel Sanches Neto seja na verdade a própria literatura, enfiando seus dentes no nosso pescoço e nos tirando a essência que lhe dá a vida. Seu livro mostra que o mundo literário tem efeito parecido - com seus membros vaidosos, a falsidade, a inveja - pois tira do escritor momentos preciosos que seriam usados para o que é realmente importante: escrever.

Segundo a lenda, o vampiro só entra dentro de uma casa se for convidado e depois seduz a vítima para atacá-la. Cuidado, leitor, se levar esse livro para seu lar, pois sua alma será prisioneira desse vampiro de almas chamado literatura.

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Postado por Cassionei Niches Petry
5/1/2016 às 09h51

 
Sobre escrever diários

Já tentei várias vezes escrever um diário. A última tentativa denominei de "Bauman foi mais esperto", pois gostei do título que o sociólogo deu ao seu, que dialoga com a pintura do cachimbo de Magritte. Ainda esbocei algumas coisas em caderninhos, que chamo de "molekine de pobre". Nada vai adiante. Poderia simplesmente retomar o diário de onde parei e registrar algo como "ah, não escrevo há tantos meses" ou "me perdoe, querido diário, por abandoná-lo". Sinto, porém, que devo começar um novo. E não mais publicá-lo no blog ou nas redes sociais. Será um diário íntimo. "A alegria intensa é recolher-se e calar-se. Falar é dispersar", escreveu Amiel em seu exemplar diário.

O crítico Rodrigo Gurgel elencou, em um texto de seu site, "10 motivo para escrever um diário". Destaco o número 2: "Escrever um diário despertará sua autoconfiança. Você está livre diante da página em branco. Pode julgar os homens do seu tempo e você mesmo sem pudor, sem qualquer tipo de censura - o que não deixa de ser uma higiene mental." Há muita coisa presa nessa minha mente inquieta. Como sou professor, no entanto, sinto necessidade de me conter, pois já escrevi muita coisa que pesou contra mim em muitas ocasiões. Às vezes pensamos que devemos ser livres para dizer o que bem entender, mas não é bem assim. Agora mesmo estou pensando uma porção de coisas sobre alguns alunos que se formaram no Ensino Médio e preciso colocar no papel. Vou fazê-lo, portanto, num diário a que somente eu terei acesso e que não terá relevância para ninguém além de mim mesmo. Os amigos das redes sociais não precisam mais saber tudo o que eu penso. E acredito que ninguém queira saber mesmo, salvo aqueles que planejam me prejudicar.

Leio alguns diários. Mergulho no momento no de Abelardo Castillo e na fila está o de Ricardo Piglia. Preciso reler o de Kafka. E preciso escrever um de verdade sobre as minhas verdades.

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Postado por Cassionei Niches Petry
4/1/2016 às 12h28

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