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Sábado, 30/1/2016
Blog do Carvalhal
Guilherme Carvalhal
 
O impacto de Bolaño



O entendimento da relevância da obra de Roberto Bolaño para a literatura latino-americana é algo que tem sido bastante discutido pela crítica literário atual. Sua obra quebra com o paradigma regionalista e fantástico, sendo urbana e globalizada. Seus livros retratam personagens inseridos em um contexto mais amplo, nas grandes cidades, abordando temas da atualidade como a violência, um de seus preferidos.

O ponto alto do estilo do autor é sua criação de enredos e a inserção de personagens nas histórias. A criatividade e principalmente a profundidade com que elabora personagens dos mais variados tipos é seu marco maior. De um rapaz pobre levado para ser policial e servir aos poderosos a um escritor de passado nebuloso cuja imagem está ligada a uma série de homicídios, ele consegue construir pessoas complexas e singulares, fugindo de qualquer esteriótipo. Por exemplo, ao elaborar Fate, o repórter de uma revista focada no público negro dos Estados Unidos, ele vai mais além do que um mero militante de uma causa: o personagem questiona seu editor e tenta ir além da política editorial ao viajar ao México para cobrir uma luta de boxe.

Em Detetives Selvagens a construção dos personagens é poderosa e remete às próprias pretensões do escritor em sua juventude, tanto que o personagem principal é Arturo Belano, seu alter ego. Nessa obra um grupo de poetas do movimento real visceralista vive o cotidiano de sua própria falta de importância, porém se veem como a mais forte tendência literária do mundo. Essa é uma das melhores produções referentes ao egocentrismo e a como pessoas geniosas lidam com a própria insignificância.

Os personagens de Bolaño possuem um forte valor por suas referência a tipos reais e mostram a riqueza de vivências do autor, que consegue incluir Osman Lins, pintores medievais e filmes de terror japonês em todo seu contexto. Ele aborda da intelectualidade acadêmica aos caudilhos latino-americanos e as classes baixas. Seus livros são um caldeirão cultural muito extenso e aqui se encontra uma das marcas do autor, que é inserir a América Latina em um mundo globalizado.

Um exemplo disse é a primeira parte de 2666, “A Parte dos Críticos”. Aqui, quatro tradutores do escritor alemão Benno von Archimboldi (para italiano, inglês, francês e espanhol) estão às voltas com o estudo da sua obra, indo a congressos, etc. Os tradutores para francês e espanhol e a tradutora para inglês viajam para o México, onde ele supostamente viveria após desaparecer do mundo (o para italiano é cadeirante e não acompanha). Então em um país da América Latina converge toda uma trama originada na Europa.

O estilo de Bolaño difere bastante de outros autores clássicos da literatura latino-americana, principalmente os do realismo mágico. Ao invés de mundos fechados onde o surreal prevalece, seus cenários são mais amplos e modernos. Se o coronel e a cultura interiorana e arcaica prevaleciam, agora os problemas da modernidade como a violência são o mote. Bolaño poderia ser relacionado a Cortázar ou a Borges, porém seu estilo é diferenciado. Borges e Cortázar não imaginaram no mesmo nível do autor chileno uma América Latina em interação com o resto do mundo, uma situação que se tornou mais evidente (e consequentemente mais temática para a literatura) em tempos mais recentes. Uma obra que poderia ser classificada como algo próximo ao estilo de Bolaño seria Cabeça da Hidra, de Carlos Fuentes, que apresenta uma intriga internacional ao estilo John Le Carré envolvendo judeus, árabes e norte-americanos em território mexicano.

Bolaño ganhou grande reconhecimento após sua morte em 2003. Tem sido merecidamente apontado como um dos maiores autores latino-americanos ao lado de nomes como Neruda, Borges e García Márquez. Ele criou um estilo literário que extrapola as fronteiras de um país e é comum a todo o continente. Cabe agora com o tempo compreender qual será o impacto de sua obra na produção de uma nova geração de autores.

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Postado por Guilherme Carvalhal
30/1/2016 às 19h12

 
Questões de Representatividade

Jessica Jones foi abusada pelo vilão da série, confrontou-o ao longo dos episódios e finalmente o derrotou ao final. Em novelas da Globo o tema do beijo gay tem aparecido de maneira mais constante. O visual de personagens como princesa Leia e Lara Croft tem sido a tônica de discussões. Esses assuntos e diversos outros causam impacto sobre o público quando esse assiste temas de seu interesse em produtos midiáticos diversos. Em tempos em que a inclusão de grupos outrora excluídos, esse tipo de presença gera sensações de mudança maior, como se o mundo correspondesse a uma resposta do que aparecesse nos meios de comunicação.

Nessa sociedade fragmentada e midiatizada em que vivemos, é um movimento muito corriqueiro que as pessoas se vejam representadas e atingidas através da comunicação em massa. Militantes feministas enxergam a derrota de Kilgrave diante de Jessica Jones como uma bandeira do fortalecimento feminino e, de igual maneira, tirar da heroína seu aspecto sensual é um símbolo de desconstrução de uma conceituação da mulher enquanto mero elemento sexual. Semelhante a isso, os personagens negros se tornam mais corriqueiros, não apenas incluídos nos papéis que tipicamente caberiam apenas a negros em produções, mas em novas posições dentro da trama. A sugestão de homossexualidade em um filme de 007 foi algo que gerou amplas discussões.

A problemática está justamente nos aspectos da sociedade em que ela se vê fragmentada e muitas vezes em contato com a realidade apenas à distância, recebida pela TV ou pela internet. Para a classe média, pobreza e miséria são conteúdos midiatizados ou no máximo fruto de passeio antropológico. De igual maneira para pessoas brancas o racismo é algo distante. O conhecimento da desigualdade e da exclusão chega menos pelo contato direto do que pelos meios de comunicação. Além disso, falamos de públicos diferentes, que apesar de se crerem militantes ou engajados, o são pela ótica capitalista, meros consumidores contabilizados na audiência. Ou seja, acredita-se em uma representação midiática fomentada por um discurso autoral ou mobilizador quando na verdade o que se tem é o envolvimento de um cliente com um determinado produto feito com o intuito de gerar lucro.

Quando falamos da representação de um determinado grupo social, falamos de um grupo que dentro de si mesmo é multiplamente fragmentado. Se falarmos em mulheres, podemos dividir por faixa etária, renda, escolaridade, cor, etc. Com negros ou quaisquer outro tipo de grupo, o mesmo ocorre. No modelo atual do capitalismo, vivemos um modelo de marketing focado em uma sociedade cada vez mais fragmentada em nichos específicos. E é para esses nichos mais específicos que os produtos tendem a ser desenvolvidos. TV por assinatura tem um conteúdo mais focado em pessoas com renda mais alta, enquanto a TV aberta tem conteúdo mais popular. Questões de marketing.

Ao observarmos a produção de conteúdo televiso, aberta e por assinatura, nitidamente podemos perceber como ao longo dos anos temos conteúdo cada vez mais picotado, de reality show de surfe a programa de culinária indiana. De tal maneira, a abrangência de senso de representação tende a aumentar cada vez mais por parte dos diferentes públicos. Basta ver como a novela Babilônia conseguiu chamar a atenção de um determinado nicho de público (apesar de sofrer críticas de outra parte).

Esse senso de representação acaba criando distorções de percepção, fruto do entendimento de que a mensagem passada é o correspondente fiel da realidade. Isso é tema de discussões filosóficas na área de semiótica. O conteúdo midiático é um signo, uma mensagem repassada. É apenas uma comunicação que representa algo e atinge o receptor. Porém, em tempos de alta mediação, quando os valores transmitidos assim possuem valor maior que aqueles mais tradicionais (família, escola, igreja), quando alguém se vê mais inteirado com uma TV do que com o vizinho, essa mensagem atinge um significado maior.

Imagine uma produtora de filmes ou de programas de TV. Um grupo roteiriza, outro produz, outro atua, e isso tudo é embalado e entregue ao espectador. É fruto de uma indústria de produção, algo nem tanto artístico, focado no mero entretenimento. Sua capilaridade consegue atingir níveis muito altos de público, levando ideias, conceitos e valores que interagem com essa sociedade. Podemos dizer que algo realizado dessa forma constitui de fato uma mediação entre o indivíduo e a realidade? Quando um roteiro sobre criminalidade é filmado, nós temos um retrato da violência como ela é ou a maneira como o roteirista a enxerga, dentro de sua realidade e de sua visão de mundo? O mesmo pode valer para qualquer outro tipo de temática.

Edward Said em seu livro Orientalismo fala sobre como a população do Oriente Médio nunca se representou, mas sempre foi representada por outros povos. Então a construção de sua imagem passa pelo crivo das pessoas que se envolvem na elaboração da mensagem. Quando um filme sobre romance que tem por base atingir o público feminino é exibido, a figura masculina é mostrada como doce, atenciosa, um modelo de príncipe de contos de fadas. Quando se fala em um filme focado para público masculino, a figura feminina é desprotegida e busca o homem para defendê-la. Meras adaptações conforme o interesse de um público em encontrar histórias que agradem ao seu estereótipo de realidade.

Portanto, é complexo afirmar que alguma produção massiva possa ser taxada como a realidade em si. Seu enfoque sempre estará na mera representatividade de alguma ideia ou valor, levando em consideração aspectos múltiplos como os perfis de públicos a serem atingidos em sua transmissão e a própria relação dos produtores com aquilo que se propõem a abordar. O efeito pode se notar mais enquanto representatividade do que como uma apresentação de realidade.

Quando falamos em protagonista negro ou lésbica, o efeito sobre o público será no âmbito de como se vê a representação desses grupos de pessoas na sociedade. No caso do negro, historicamente sua representação sempre foi limitada a conceitos determinados de seu papel na sociedade. É a figura do escravo em filmes de época, a do favelado, do jogador de futebol, do malandro, do sambista. Nas produções estrangeiras, é a figura do morador de periferia, de alguém inserido na cultura do hip hop. O negro enquanto protagonista heroico é algo pouco explorado, fruto das relações capitalistas, pois sempre será preferível o branco aos olhos do público. Olhando os negros que ganharam Oscar, temos uma percepção bem abrangente disso. Forest Whitaker ganhou por representar Idi Amin Dada, ditador de Uganda. Octavia Spencer ganhou em Histórias Cruzadas representando uma empregada negra nos Estados Unidos em uma época de forte preconceito racial. Ou seja, é uma representação categoricamente estereotipada. Tanto que produções como Shaft e a figura de Sidney Poitier foram emblemáticas na indústria do entretenimento, ao aparecer o negro heroico, ativo e defensor dos bons valores - fruto muito forte do movimento negro nesse país, que primou em colocar o negro como figura ativa e preponderante da sociedade.

Quando falamos de heroísmo, falamos de algo fruto da fantasia. Mas podemos colocar um paralelo disso dentro da sociedade. Como é nos múltiplos nichos da sociedade deparar-se com um policial negro que enfrenta os bandidos? Será que há um reconhecimento disso enquanto algo palpável? Ou temos uma representação, como por exemplo, pessoas que passam a se orgulhar de sua raça ao vê-la exposta dessa maneira em um veículo de comunicação? Mais ainda, podemos dizer que o efeito dessas produções podem ser positivos dentro da sociedade, funcionando como um fomento do orgulho para grupos que sempre se viram excluídos? Outro ponto é pensar que junto à representação vem juntamente o nicho de mercado. A inclusão do negro nas produções carrega também a formação de novos públicos consumidores, tanto é que junto a esse movimento veio junto um mercado de produtos para público negro.

McLuhan cunhou o termo aldeia global, referindo-se ao senso de proximidade que os tempos modernos propiciaram. A menina correndo após bombardeios no Vietnã ou o rapaz que parou uma fila de tanques na China são memórias emblemáticas pelo furor causado. É basicamente sobre isso que a representação midiática tange. Temos um sofrimento ou um ato heroico que simbolicamente comove o mundo inteiro. Ao mesmo tempo há muitos outros fatos semelhantes que não recebem o mesmo destaque. O 11 de setembro e a imagem das torres caindo geram um impacto muito forte, apesar de que mundo afora tragédias humanitárias de maior gravidade não atinjam com tal impacto o imaginário coletivo, efeito semelhante ao dos recentes ataques em Paris. Ou seja, a figura expressa em uma produção talvez não seja um correspondente social, mas gera essa sensação de que sim. Uma figura feminina forte à frente de uma produção pode dar a mulheres de classe média (essas menos atingidas pela exclusão do que mulheres de renda mais baixa) um senso de autoconhecimento, de se refletir nela, apesar de não ser esse o panorama geral, em que mulheres estarão em um patamar de emprego e renda abaixo dos homens.

É difícil traçar um panorama de como produções em massa podem promover mudanças na sociedade. O que se pode com maior facilidade notar - fenômeno impulsionado em tempos de web 2.0 - é o reverberar dessas produções através do reconhecimento do público por elas. Essa relação não é necessariamente de realidade, mas encarada enquanto tal.

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Postado por Guilherme Carvalhal
6/1/2016 às 23h23

 
O longo sucesso de Guerra nas Estrelas



Nunca fui um profundo admirador da série Guerra nas Estrelas. Ela sempre me passou uma ideia de mescla de elementos agradáveis amarrados por uma trama política passada em tempos futuros e com belos efeitos ontem e hoje, porém sem maior profundidade. Um pastiche em níveis mais elevados.

Os elementos apresentados pela série buscam na mitologia e em narrativas clássicas boa parte de sua expressão. O conflito entre pai e filho, o homem bom que se corrompe ao longo do tempo, o mestre sábio que treina o rapaz novato, todos esses são enredos bastante caricatos que tornam a história atrativa. O robô C3PO tem a função de ser o elemento engraçado, ao estilo Sancho Pança (função que Jar Jar Binks também encarnou), Han Solo representa o herói desprendido e sedutor, inspirado em personagens como Robin Hood, D'Artagnan ou Lancelot, que tem a bravura ilimitada.

O elemento político também não tem nada de inovador, basicamente inspirado em Roma e nos demais modelos em que uma república senatorial é fechada por um grupo autoritário que passa a ditar as regras. Nisso, os cavaleiros jedis são o elemento de proteção, como a Távola Redonda do rei Artur. A própria filosofia jedi bebe em fontes do misticismo oriental, como a retidão de caráter para o aprimoramento das artes marciais. Mestre Yoda guarda muitas semelhanças com o senhor Miyagi ou qualquer outro sábio oriental.

O fio narrativo dos três primeiros filmes (no caso, os episódios IV, V e VI) focou no conflito entre os rebeldes contra o Império e na formação pessoal de Luke Skywalker, que de jovem iniciante se torna um verdeiro guerreiro ao final. Elemento típico da jornada do herói, um modelo narrativo bem antigo que é marcado por um jovem que rompe com seu lar e trilha um longo caminho até se tornar um herói completo. Nesse caminho, há o confronto edipiano de Luke com seu pai Anakin, agora convertido no vilão Darth Vader, com direito à redenção desse personagem maléfico ao final.

Já a sequência (os episódio I, II e III) mostrou o que se passou previamente à trilogia inicial, com os conflitos que puseram fim à república, expurgaram os jedis e formaram o império. Como principal gancho, há a trajetória de Anakin, que de poderoso jedi acabou se rendendo ao lado negro e trilou o caminho do mal. Aqui, há um caminho inverso: o do soldado puro que vai à queda, uma nova referência a mitos antigos, como o de Lúcifer, que de anjo radiante vai em oposição a Deus e é condenado.

Se os episódios IV, V e VI puderam dispor de liberdade criativa, o I, II e III ficou atrelado ao sucesso da série original. Houve a necessidade de criar personagens que suprissem a leva inicial, como o bobo da corte, a mocinha indefesa e o herói intrépido. O roteiro ficou preso por precisar explicar o que se passou e trazer os elementos que fizeram a primeira trilogia um sucesso de público. Houve a explicação, festival de efeitos especiais, porém não atingiu o mesmo nível de interação como os primeiros. Darth Maul não supera o Vader, Jar Jar Binks não é melhor bobo da corte e o Anakin Skywalker não convence em nenhuma de suas fases.

Guerra nas Estrelas é uma produção divertida e sofisticada, apesar de estar longe de ser algo de profundidade. O roteiro é costumeiramente previsível (no caso do I, II e III, já se sabia de antemão o que aconteceria ao final) e não se sustenta pela criatividade, mas pelo universo todo criado. Ele bebe em muitas produções de ficção científicas existentes previamente sem ser algo de totalmente novo. Alienígenas de nomes exóticos, robôs inteligentes, batalhas espaciais, nada disso foi uma novidade.

Reitera-se que o modelo de produção inaugurado por George Lucas juntamente com Spielberg, os filmes denominados arrasa-quarteirão (blockbuster, no termo original), é altamente pautado por uma estratégia de marketing, sendo produções mais próximas da indústria do que da arte. Bonecos dos personagens, animações exibidas na TV, todo tipo de atrativo foi utilizado para atrair novos públicos. Tudo influi para alcançar o máximo de pessoas, até mesmo a data de lançamento.

O sucesso da série se estende no atual momento, quando o episódio VII está prestes a ser lançado. As estratégias de marketing já estão funcionando (como nos perfis de Facebook com as pessoas empunhando sabre de luz) e as polêmicas já ajudaram a ganhar espaço na imprensa. O lançamento agora prestes ao fim de ano com certeza foi fruto de uma forte estratégia publicitária. Tudo indica que o filme será um grande sucesso de bilheteria, mostrando como arrasar quarteirões continua sendo uma estratégia forte.

A mescla desses elementos explica muito o porquê de Guerra nas Estrelas fazer tanto sucesso. Ela usa e abusa de narrativas que historicamente se mostraram atraentes, traz cenas de ação empolgantes e tem uma fortíssima indústria de marketing por trás. Ao longo de tanto ano a produção angariou uma grande quantidade de fãs, o que garante um público fixo. A força publicitária é tão grande que é bastante provável que uma nova leva de fãs surja agora com esse novo episódio.

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Postado por Guilherme Carvalhal
17/12/2015 às 13h50

 
Divisões históricas

Uma notícia em um portal sobre a adaptação do livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch, para a emissora History Channel, provocou um debate estranho. De um lado aqueles que se dizem de esquerda atacaram a proposta pelo fato do autor ser ligado à Veja e que seria paradoxal realizar uma produção financiada com dinheiro público. Já os ditos de direita apoiaram, pois seria uso de verba pública para a divulgação de um ponto de vista que não seja o da esquerda.

Esse debate é fruto de um momento singular que vivemos no Brasil atualmente, de uma divisão cada vez mais acentuada entre aqueles que se dizem de esquerda e aqueles que se dizem de direita. E, como não poderia ser diferente, é uma divisão altamente temperada pela alienação com relação a política, economia, e com baixíssimo nível de dialética. Dificilmente um grupo se presta a entender o ponto de vista do outro, sem contar os termos tão rasos usados para rebaixar o outro (coxinha, fascista, esquerda caviar, comunista).

É curioso como esse tipo de abordagem é utilizada de maneira um tanto quanto estranha ou até equivocada. Nesse caso específico, pega-se a história, que é uma ciência com toda uma base metodológica de estudos, e se transforma em mera disputa de poder entre um grupo ou outro. Isso mostra como popularmente as ciências sociais ainda são vistas como mero achismo, como se um pesquisador produzisse apenas embasado por convicções políticas. Não se tacham físicos, engenheiros, matemáticos, biólogos ou astrônomos como esquerda ou direita. Mas economista, historiadores, geógrafos, sociólogos, esses sim são de direita ou de esquerda.

Um dos fatos que envolvem esse pensamento é a diferenciação entre produção acadêmica e a posição política de muitos estudiosos. O fato de um economista, um historiador ou outro acadêmico considerar que medida X ou Y seja melhor para o país o coloca logo em descrédito pelo grupo que detém o ponto de vista oposto. O nível de divisão na qual o país se encontra atualmente leva essa definição a ser cada vez maior.

Eric Hobsbawn, ao escrever A Era dos Extremos, explica como é difícil produzir estudos sobre história de uma época em que o historiador viveu, justamente pela paixão que os fatos contemporâneos geram. O ideal é que se estude aquilo que aconteceu antes mesmo do nascimento do pesquisador, de maneira fria. Tanto é que discutir Ditadura Militar ainda gera muitos dissabores, mas a Proclamação da República é fato menos movido a sentimentalismos ou saudosismo (apesar de ter surgido um movimento pedindo a volta da monarquia no Brasil).

As divisões políticas que vivemos no Brasil são fruto de uma complexa série de fatores históricos. Essa dualidade entre esquerda e direita nasce da Guerra Fria, que apesar de finalizada com a queda do muro de Berlim, ainda reverbera pela América Latina. As propostas do Consenso de Washington, que firmaram as premissas do neoliberalismo, se misturam a uma herança de imperialismo e acabam sendo consideradas como uma falta de patriotismo e entreguismo. Por outro lado, essa mesma herança de imperialismo gera uma esquerda com toda faceta de populismo, sustentada em muita retórica e simbologia, com uma visão agravada pela lembrança de tomadas de poder através de um exército popular, o que na América só ocorreu em Cuba e na Nicarágua, tendo todas as outras iniciativas fracassado. Enquanto Estados Unidos e Cuba voltam a se relacionar e Samuel Huntington em seu Choque de Civilizações afirmou que a nova ordem mundial se baseia em questões culturais e não mais na dualidade entre capitalismo e comunismo, no Brasil temos uma divisão que remete a décadas passadas.

Temos um misto de memórias que se confundem junto a uma forte dificuldade de compreender o presente, agravado pelo baixo processo de dialética, o que impede que se analise o próprio pensamento de maneira crítica. Vejo muitas opiniões em oposição a Marx, Gramsci, Mises, Friedman, e tenho uma forte impressão de que a quantidade de críticas não é proporcional à leitura de textos desses pensadores. Na poesia acontece um processo de mudança de sentido: pega-se uma frase de um determinado escritor, tira de contexto e se tem um autor de autoajuda, sem contar na imensa quantidade de frases inventadas - nesse quesito Clarice Lispector sofre imensamente. Algo similar acontece nesses autores que tangem economia, história, política, etc: frases soltas para se tentar criticar, fora de seu contexto e, assim, sem causar uma reflexão maior.

É natural que em uma sociedade venham a ocorrer os mais diversos choques de opinião. É isso o que move uma democracia. Porém, retomando a ideia do método socrático, da tese e da antítese é preciso surgir uma síntese. No caso do Brasil, é por vezes assustador que esse processo não ocorra, dando uma impressão de que a sociedade cada vez mais se divide e que a continuidade democrática possa entrar em choque.

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Postado por Guilherme Carvalhal
4/12/2015 às 13h57

 
A primeira ofensa recebida sobre algo que escrevi

Nessa segunda-feira, dia 30 de novembro, recebi minha primeira ofensa enquanto escritor. Já havia recebido várias críticas, a grande maioria delas construtivas, pois é esse ir e vir de comentários que forma a melhoria de qualquer atuação que alguém tenha na vida. Quando eu trabalhava com jornal diário havia um professor e poeta que possuía alguma implicância comigo, pois sempre me enviava um e-mail quando uma matéria minha saía com erro de digitação.

O que recebi dessa vez foi uma ofensa propriamente dita, daquelas que a pessoa aparenta estar furiosa, babando de raiva do outro lado. De alguma maneira o que escrevi (o autor da mensagem não frisou especificamente o que eu escrevi que o deixou tão ofendido/magoado/chateado) despertou instintos bem negativos na referida pessoa. Foi obviamente por e-mail, pois é a frieza do mundo virtual que faz surgir comentários agressivos; o distanciamento físico impede muitas pessoas de entenderem que do outro lado existe uma pessoa de carne e osso, dotada de sentimentos, sonhos, forças e fraquezas como qualquer outra. Obviamente que não respondi, porque nos dias de hoje é até perigoso dar muita trela para alguém que não sabemos quem é, principalmente quando está em estado de raiva contra você.

A ofensa, entremeadas de palavrões e outros termos que são comuns para se colocar abaixo quem pretende realizar alguma produção cultural ("pseudointelectual", no caso, um chavão vago, porém aparentemente de bom uso) incentivava-me a abandonar de vez a produção literária, vendo minha notória falta de talento. Esse tipo de opinião até era esperado, tendo em vista que publico sempre por conta própria e sem editor e dessa maneira é dificílimo atingir um patamar mais elevado de produção. Mas o que me chamou a atenção foi uma frase que o autor da ofensa escreveu: "Chega de vocês! Vão fazer qualquer outra coisa da vida que não escrever e atrapalhar o caminho de quem realmente sabe trabalhar!"

Foi um tanto quanto vislumbrante, para não dizer até uma massagem no ego, alguém afirmar que eu, publicando por pequena edição, investindo meu pouco dinheiro na impressão, mandando livros para uma pessoa aqui, outra acolá, promovendo noite de lançamento na cidade de Itaperuna, no interior do estado do Rio de Janeiro, ser considerado como alguém está atrapalhando os escritores que realmente sabem escrever de realizar seu trabalho. Fiquei por alguns instantes tentando captar onde está meu desserviço em prol da literatura brasileira e não consegui atinar. Definitivamente não consigo pensar no Cristovam Tezza dizendo "Que droga, o Guilherme Carvalhal está escrevendo" e tendo um bloqueio criativo ou alguém deixar de comprar O Filho Eterno para levar algo escrito por mim. Curioso também que ele escreveu no plural: apesar de dirigido a mim, a ofensa é coletiva, provavelmente pelos muitos outros eus que estão por aí publicando e atrapalhando a literatura do Brasil.

Uma das coisas que me chamou a atenção foi que a postura do autor da ofensa foi de colocar a literatura no pedestal de coisa sacra, intocável. Grupos musicais de pequeno porte podem realizar sua música à vontade. Pintores de não muito talento ou sem maior reconhecimento podem realizar seus quadros. Grupos de teatros montam suas peças para públicos muitas vezes escasso. Isso aí não prejudica em nada a cultura brasileira; é até visto com bons olhos.

Agora, diminuir a sacra literatura, ainda mais em um país de terceiro mundo que carrega seu ranço de atraso econômico, social e cultural, isso não pode. O país de Machado de Assis, Guimarães Rosa e companhia, que são o ápice e a salvação de uma intelectualidade em um país de baixa educação, não podem ser prejudicados por uma produção de baixa qualidade.

Acredito que o fator lentidão da literatura influa na sensação de perda de tempo. Ouvir um disco é uma experiência rápida, de menos de uma hora. Uma peça teatral também não leva mais do que duas horas. Apreciar um quadro para público leigo é questão de instantes. Já um livro é um processos trabalhoso. Demanda horas de dedicação que não podem ser gastas com uma obra ruim. Talvez esse seja o foco da fúria do meu interlocutor, a sensação de que roubei seu precioso tempo.

Quando se fala em cultura no Brasil, sempre estaremos olhando para uma lógica centralizadora e excludente. A cara do Brasil está no Carnaval, no Rock in Rio, na Flip. São os eventos que grande porte e que, cada um na sua área, aglutinam o seu público. Porém, ainda há pelas muitas cidades os blocos de carnaval, os pequenos eventos musicais que produzem cultura e lazer para sua respectiva população, eventos literários e iniciativas pequenas e localizadas que tentam fazer com que a população tenha maior acesso à literatura.

O Brasil é um país continental, com mais de 200 milhões de habitantes e formado por uma pluralidade cultural muito diversificada. Falar em literatura nacional, além de ser a produção de altíssima qualidade que realmente precisa existir, também é criar um leque de representações locais, de expressar essas múltiplas realidades existentes em um país tão grande e tão múltiplo. A literatura de cordel foi um dos mais expressivos movimentos desse tipo.

A possibilidade de criação cultural no Brasil é algo de extrema dificuldade. Converse com quem tem uma banda de qualquer estilo e veja como é trabalhoso gravar um disco ou cumprir uma rotina de shows. Ou então pintores, que na realidade majoritária tem dificuldade para expor seu trabalho. Somos um país mais excludente do que inclusivo, está na nossa natureza.

Quando me proponho a realizar uma produção literária, é óbvio que tenho sim o interesse de atingir um grande nível de excelência e de conseguir publicação por uma grande editora. Porém, resido em uma cidade que possui característica singulares e uma produção literária próxima do zero. A proposta é mostrar um viés de uma cultura brasileira, um pequeno espaço desse macrocosmo, além de tentar agir com algum nível com a promoção da cultural local. Recentemente fui convidado para dar uma palestra em uma escola pública: poder falar de literatura e de escrita para um grupo de crianças de classe baixa que estão sendo iniciadas pelos professores na leitura e ver um olhar contente no rosto de cada uma delas derruba qualquer ofensa que um anônimo envie por e-mail.

Acredito que enquanto consumidores de literatura, precisamos pensar que existe um mundo muito além do que pensar exclusivamente na produção de grande amplitude nacional. Há vivências muito vastas que podem ser abordadas dentro da literatura. Os usos e costumes de uma cidade podem gerar uma literatura que faça sentido dentro daquela região. E isso precisa ser valorizado, mesmo que os autores, por questões financeiras, de produção e muitas outras, não consigam atingir a excelência dos grandes autores. Esses precisam existir, pois dão o norte da literatura brasileira enquanto pertencente a uma única nação. Porém, é essa literatura de baixa expressão que pode mostrar uma conjuntura muito mais vasta do que se pode perceber.

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Postado por Guilherme Carvalhal
30/11/2015 às 23h54

 
O que era da TV e agora é do cinema. E Vice-versa



Há não muitos anos, a casa era o local onde se devia sempre manter o respeito e os bons costumes e a rua era o local onde as práticas não permitidas se davam. O namoro era apenas pegar na mão e beijaço era da porta para fora. Um caso curioso sempre foi a série de restrições ao conteúdo televisivo, enquanto pelos cinemas havia maior permissão para se assistir conteúdo proibido.

Os cinemas de filme pornô foram forte nesse quesito. Com a moralidade que se deveria manter em casa, o local para se acessar esse tipo conteúdo devia ser público, porém escondido. Dona Flor e seus dois maridos figura entre uma das maiores bilheterias do cinema nacional tendo o conteúdo erótico como uma forte atração. Sempre me lembro de um senhor que conta seu choque adolescente quando viu Brigitte Bardot nua em E Deus criou a mulher.

Assistir a série Jessica Jones me deu a impressão de como essa ótica do cinema e da televisão parece um tanto quanto alterada. Nas telonas onde se exibia o conteúdo proibido estão os filmes moralistas e com algum tipo de recado ético. Nas telas da TV está o conteúdo que a sociedade tende a considerar agressivo ou que provoca maiores discussões.

O modelo de filmes das Marvel é de grande covardia e moralismo. O primeiro do Capitão América salta às vistas: é um filme sobre a Segunda Guerra, com um herói que combate a Alemanha, mas o nazismo e o Holocausto parecem mero detalhe. Nenhuma referência a judeus executados em campos de concentração, mas enfoque no Caveira Vermelha com planos maléficos que deixariam Hitler no chinelo. O Homem de Ferro nos quadrinhos sofre de alcoolismo. No filme, o problema dele é com contaminação radioativa por parte do aparelho que o mantem vivo. Olhando todos esses filmes, como Os Vingadores, Homem-Formiga e Guardiões da Galáxia, temos uma produção feita para a família, para os pais levarem seus filhos para ver um filme de heróis onde o vilão é derrotado no final.

Quando a produção se deu para Netflix, atingindo o âmbito privado das residências, o conteúdo mudou completamente. Nas duas obras feitas até agora, Demolidor e Jessica Jones, o que se tem é um panorama completamente diferente. Aqui, muitos outros valores que o sistema vigente de moral prega são postos de lado. Vilões matam e usam da tortura, o uso de álcool e drogas é exposto até por parte dos heróis, além de dramas internos pouco compatíveis com a figura de salvador da pátria. Ou seja: o conteúdo considerado positivo está nos cinemas e o negativo está dentro de casa.

A lógica social hoje em dia está em patamares bem diversos de épocas anteriores. Os pais com filhos pequenos já cresceram em uma sociedade globalizada em que muitos valores mantidos já não eram tão rígidos. A geração que cresceu com a violência do videogame ou com a introdução de conteúdo mais erotizado na programação televisiva (que sempre passava em altas horas da noite ao invés de poder ser acessada a qualquer momento pela TV por assinatura ou pela internet) é essa que hoje cria seus filhos em um mundo bastante diferente do de algumas décadas atrás.

Também é preciso pensar que, dentro dessa mudança de parâmetros na sociedade, a indústria midiática acaba atendendo a outros apelos por parte do público. Um dos principais filões dos cinemas dos últimos anos tem sido sagas adolescentes, esse eternamente figurando como principal público do cinema. Jogos Vorazes, Harry Potter e demais produções tem alcançado grandes bilheterias, ao utilizar temáticas que são interessantes a essa faixa etária, como rompimento com a inocência e a ideia de a busca por grandes aventuras. A pornografia, tão restrita há algumas décadas, tornou-se algo banal e que não move mais grandes mutirões. Poderíamos citar 50 Tons de Cinza como exceção se esse não fosse arrastar o público mais pelo sucesso de vendas do livro do que pelo interesse de se excitar assistir ao longa.

De tal forma, o conteúdo para o público adulto, esse mais diversificado em seus gostos do que a linearidade do adolescente, acaba sendo levado para dentro de casa. Tanto que sua definição de público é mais maduro, para pessoas que tenha maturidade para encarar o enredo. Séries como Narcos, Família Soprano e Sons of Anarchy tem teor altamente contrário aos padrões comportamentais e estão ao alcance com um clique do controle remoto.

Dizer que houve uma inversão na sociedade e que o ambiente privado da casa é o local da permissibilidade e as ruas o do pudor seria um completo exagero. Porém, o mundo passou por muitas mudanças (como o complexo conceito de pós-modernidade) e muitas das referências de então não nos cabem mais. Nesse caso específico de indústria cultural, novas tecnologias e novos referenciais de gostos e de relacionamento geraram esse espaço diferente onde o proibido se dá ou não. Basta lembrar que o deputado federal Protógenes Queiroz quis impedir a exibição do filme Ted dos cinemas. Da exibição na TV por assinatura ninguém questionou.

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Postado por Guilherme Carvalhal
27/11/2015 às 15h23

 
Uma pérola poética nas animações brasileiras



A produção nacional de animações tem crescido em qualidade e relevância de maneira significativa nos últimos anos. O filme Rio deu o choque de modernidade ao abordar dentro da visão estética predominante atualmente uma história e uma caracterização plenamente brasileira. Já Uma História de Amor e Fúria é uma animação mais adulta que pega a história do país como fonte de sua história e dá uma brecha para um Brasil ciberfuturista aos moldes de Akira, de Katsuhiro Otomo.

Em O Menino e o Mundo, do diretor Alê Abreu, temos uma história que não brilha tanto pelo impacto técnico desses dois filmes citados anteriormente. Aqui, o que chama a atenção é o estilo singelo com o qual se apresenta a história, utilizando uma forte carga emocional em traços muitas vezes simples, outras vezes de maneira mais complexa. O filme é mudo, então é uma narrativa que atrai o espectador por todo seu impacto visual, deixando algumas brechas sobre o que ocorre na história.

O enredo mostra uma família que reside em uma propriedade rural. Um dia o pai parte de trem, sugerindo que está indo para a cidade em busca de emprego. O garoto então o segue para tentar encontrá-lo, deixando sua casa e sua mãe, em um choque de realidade que vai levá-lo da infância à maturidade. Nessa jornada atrás do pai ele vai conhecendo realidades diversas. Assiste ao trabalho dos catadores de algodão, entra em uma fábrica de tecidos, vê seus funcionários sendo mandados embora quando o dono automatiza a produção, chega à cidade, vê o trânsito, a praia, a favela, a construção civil.

O estilo com o qual a obra é feita vai mostrando o impacto. No começo, quando no conforto da família, o clima é mais onírico, quando ele consegue escalar árvores até se deitar nas nuvens. À medida em que ele se afasta desse recinto seguro, o clima de fantasia vai se perdendo. Na zona rural os traços são muito coloridos e simples. Na cidade tudo é monocromático e complexo. As atividades profissionais são mostradas como repetitivas, mostrando uma automação dos movimentos do corpo. É o choque entre o rural e o urbano, entre o simples e o complexo, entre o belo e o funcional que vão levando o menino a essa viagem pelo mundo, não o mundo inteiro, mas particularmente um mundo brasileiro.

Tudo no filme remete ao país, como as desigualdades sociais, as vestimentas, a favela, a migração rural. Além de ser uma obra de inovação artística de alto lirismo e de mostrar um mergulhar no processo de amadurecimento de uma criança, ele também tem seu lado político. Os funcionários demitidos quando são substituídos pelas máquinas, o desmatamento, as pessoas morando no lixão, tudo isso soa como uma crítica, em caráter de conflito com a beleza inicial do ambiente rural, fruto de qualidade de vida e tranquilidade para o garoto. A presença dos militares é apresentada conjuntamente à esse processo de modernização, trocando as cores vivas pelas frias do metal e do cimento.

Em contraponto a esse processo maquinal, o filme utiliza muito das expressões dos personagens, das cores e da música para mostrar um contraponto popular a essa opressão. Por todos os locais onde o garoto percorre surge alguma sonoridade, algum tipo de festejo, sendo a vivacidade popular uma oposição à mecanização. Os rostos das pessoas pobres sempre expressam algo, seja alegria, consolo ou tristeza, enquanto os rostos dos militares ou dos empresários tem expressões mais frias, tão mecânicas quanto aquilo que representam na obra. As cores, como já dito, são a expressão desse mesmo conflito. E a música tem caráter especial na obra.

Do começo ao fim o garoto possui uma relação delicada com os sons. Desde quando pega a música tocada pelo seu pai e guarda em uma caixa (uma excelente metáfora à memória do pai que um dia partirá) até a todas as manifestações musicais, ele se envolve afetivamente com as pessoas através da música, sendo que ela está em todos os estilos: no carnaval, na banda de um homem só do artista de rua, na flauta do pai. A expressão musical é ricamente trabalhada para participar da estrutura desse filme mudo.

É difícil dizer qual o impacto que esse filme pode causar. Apesar de ser uma das mais belas obras cinematográficas do Brasil, ela é triste, mostrando a fantasia infantil que se perde ao contato com a realidade e que, de uma criança sonhadora, o mundo fará um adulto mecanizado e igual a todos os outros. Por outro lado, por trás dessa tristeza há certa esperança, como se dessas agruras que exibe pudesse surgir algo. É isso que o filme parece sugerir: uma constante mudança de cores e formas, como se isso fosse uma alusão a toda a vida.

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Postado por Guilherme Carvalhal
23/11/2015 às 12h40

 
The Book of Souls



O último disco do Iron Maiden, The Book of Souls, é inegavelmente um dos melhores trabalhos da banda nos últimos anos. Com influências variadas, revisitando pontos altos de muitos dos seus álbuns clássicos, conseguindo agradar um corpo de fãs enorme e com predileções distintas. Tem o fã que prefere a influência punk do seu primeiro disco, outros que curtem mais o trabalho muito acurado do Seventh Son Of A Seventh Son; a tendência é que agrade a quem tem suas mais variadas preferências dentro da discografia.

A banda mostra um afinamento entre si que apenas suas quase quatro décadas de trabalho podem render. A criatividade salta às vistas, mostrando uma capacidade de composição que há tempos não se via, desde os tempos em que começaram a lançar discos que não conquistaram grande parcela do pública, mantendo-se como uma banda que se destaca pelos seus trabalhos iniciais. Aliás, essa uma característica comum a praticamente todas as bandas, que conquistam seu público nos primeiros trabalhos e em um prazo de 20 ou 30 anos não conseguem emplacar músicas novas.

O problema de The Book of Souls não está no disco em si, esse indiscutivelmente muito bom, mas em sua posição dentro de toda a obra do Iron Maiden. Sendo uma das maiores bandas do mundo e com uma discografia vasta, ela já está no rol de outras como Rolling Stones e U2, com músicas marcantes e que apenas com dificuldades conseguem lançar algo de diferente.

É nesse ponto que The Book of Souls gera alguma decepção, pela sensação de mais do mesmo. É a mesma pegada já ouvida em diversos outros trabalhos, sem um viés novo a ser explorado. A banda repete sua fórmula, apesar de em uma performance brilhante. Igual sensação ocorreu com o disco The Endless River, do Pink Floyd. O disco, uma série de sobras de gravações, apesar de sonoramente belo, relembra tudo aquilo que a banda produziu anteriormente, sendo mais um caso de repetição musical.

Obviamente que esse tipo de constatação prima mais o conjunto da obra do que o disco por si só. Até porque, para se observar o fator criatividade, é preciso pensar nessa evolução temporal da banda. No caso do Iron Maiden, é uma banda que iniciou influenciada pelo punk, mas que aos poucos foi gerando um som cada vez mais elaborado e com pegadas mais melódicas. Após conseguir firmar seu estilo e se tornar uma banda mundialmente conhecida, ela passou a ter discos de qualidade nitidamente abaixo da média.

The Book of Souls foi o melhor disco do Iron Maiden em 20 anos. A banda conseguiu resgatar a qualidade de seus primeiros discos. Por outro lado, mostra que entrou em uma fórmula musical da qual não consegue mais sair.

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Postado por Guilherme Carvalhal
18/11/2015 às 14h35

 
30 anos após De Volta Para o Futuro



Toda a série de postagens recentes em torno do filme De Volta Para o Futuro leva a pensar o que faz esse filme receber tanto espaço por parte do público. O que gera relevância a esse filme são a química existente entre Michael J. Fox e Christopher Lloyd, o roteiro misturando trama adolescente, ciência e cultura pop, a ideia da viagem no tempo menos pretensiosa que nas grandes narrativas, não utilizada para se realizar grandes mudanças no passado ou entender como será o futuro, mas para alterar pequenas circunstância na pequena cidade de Hill Valley.

É interessante situá-lo em uma fortíssima onda de filmes juvenis que começaram a ser realizados no final dos anos 1970. Se durante a contracultura e demais movimentos na onda de liberação e rebeldia foram realizados filmes focados na juventude (Hair, Os Incompreendidos, Embalos de Sábado à Noite, Juventude Transviada, Amor, Sublime Amor) mostrando de aspectos políticos sociais a vazio existencial, essa nova geração se focou em outro patamar, o de mostrar a juventude como uma fase divertida e despretensiosa, quando ainda não é preciso se preocupar com as atribulações da vida adulta.

Essa onda de filmes veio inicialmente com filmes que incluem Clube dos Cafajestes e a série Porky's, muito semelhantes a American Pie, mostrando estudantes cuja maior preocupação está com a farra do final de semana. Ao longo dos anos 1980, toda sorte de filme adolescente foi produzida, abordando todos os temas possíveis e a grande maioria de verdadeiros clichês. Nesse meio, John Hughes foi um nome ímpar, pois foi quem, através da sétima arte, melhor conseguiu retratar os adolescentes dessa época.

Também é importante lembrar que na rebaba dos movimentos das duas décadas passados o mundo se tornou menos careta. Nesse ponto, o linguajar no cinema se tornou mais aberto e muitas das barreiras existentes anteriormente caíram. Desde cenas mostrando mais do corpo (sem ser filme com a tarja de para maiores de 18 anos) até um linguajar mais chulo e abordando temas como aborto e uso de drogas (como em Picardias Estudantis), as portas estavam abertas para uma expressão menos restrita.

Por outro lado, se o mundo se tornou mais aberto ao debate de vários temas, por outro aquele modelo rebelde que se associou à juventude mudou de foco. Não há uma expressão política ou crítica, apenas rebeldia contra a chatice da escola ou as restrições familiares. Isso foi um fluxo de todo o cinema dos Estados Unidos dessa época, tornando-se mais um mero divertimento desprovido de maiores reflexões. A profundidade de Kubrick ou Coppola deu espaço para os arrasa-quarteirões de Spielberg

A década de 1990 marcou uma volta mais séria a essa abordagem juvenil. Kids e Trainspotting abordaram a questão de drogas juntamente ao vazio existencial. A diversão juvenil está associada a uma existência sem sentido, sendo filmes pesados e sem muita alegria. Apenas a série American Pie daria um viés diferente, tentando recuperar o modelo da década de 1980, e a série Harry Potter abriria novas portas, a de fantasia adolescente, sendo precedido por muitos e muitos filmes com abordagem semelhante. É justamente nesse último ponto em que De Volta Para o Futuro se enquadra, com 20 anos de antecedência: uma aventura fantástica por parte de um adolescente, com a inspiração da jornada do herói.

Jornada do herói é um tipo de história que pressupõe um jovem que após um momento de rompimento quebra seu vínculo familiar e parte para uma série de aventuras, sendo que aos poucos ele vai evoluindo como herói. No caso de De Volta Para o Futuro, o momento de rompimento é a viagem, que dá a brecha para uma série de aventuras, quando precisa confrontar o vilão Biff, salvar sua família e voltar para casa em segurança. Ou seja, é um tipo de fórmula que deu certo há 30 anos e ainda hoje conquista as pessoas.

Outro aspecto curioso do De Volta para o futuro é a ciência. Permeando todas as formas de arte desde a antiguidade, a capacidade de um cientista em produzir ideias mirabolantes sempre conquistou o imaginário, principalmente após a Revolução Industrial, quando a ciência começou a se mostrar como a arte com a qual a humanidade conseguiria controlar todo o mundo. Em obras como Frankenstein ou O Médico e o Monstro temos a figura de experimentos que acabam produzindo algum resultado inesperado.

A figura de Doc Brown encarna essa ideia, apesar de seguir pelo viés humorístico. É o cientista estabanado e meio descolado da sociedade, envolvido mais com seu trabalho do que com qualquer outra coisa. Seu aspecto baseado na figura de Einstein completa essa caracterização, sendo que ele mesmo embarca em sua jornada pessoal, a de deixar de ser racional e se tornar mais passional. O caráter ciência envolve vários conceitos fantásticos, como capacitor de fluxo, terminologias derivadas de espaço-tempo e as previsões de inovação tecnológica do ano de 2015. É algo corriqueiro dentro de diversas artes e no cinema e na TV não faltaram tentativas de adivinhar como seria a tecnologia do futuro.

A correlação de história adolescente, jornada de herói e um olhar pop sobre a ciência são algumas das fórmulas de sucesso que renderam tanto destaque para De Volta Para o Futuro. A trilogia é um apanhado de referências modernas e existentes há tempos na humanidade, reproduzidas em uma trama agradável e divertida. É um filme marcante que expressa muito sobre a época em que foi produzido e sobre as expectativas existentes em seu tempo.

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Postado por Guilherme Carvalhal
10/11/2015 às 14h48

 
Comentaristas de Seriados

Uma máxima popular sempre disse que futebol, religião e política não se discutem. Contrariando essa sabedoria, as redes sociais contam com debates acalorados sobre esses três temas e não é raro que o debate se torne uma verdadeira briga.

O modelo de redes sociais gera uma relação diferenciada no que diz respeito a manifestação de opiniões. Opinar acaba se tornando algo quase sagrado e um comentário despretensioso pode render debates e até gerar desafetos. Isso é fruto dessa nova vida de mão dupla, a de pessoas que nunca opinaram e conseguem colocar seu ponto de vista em uma plataforma capaz de repercutir e de leitores que se deparam com visões diferentes e que muitas vezes não possuem uma estrutura adequada para compreender o outro. Vale lembrar que uma opinião que entre em um ciclo privado é aceitável, fora de contexto pode ganhar conotações. Chamar aquele amigo de gordo, que ele próprio leva na brincadeira, pode se tornar ofensivo ao ser visto por pessoas fora desse ciclo.

Uma nova modalidade que surge nesse meio de comunicações virtuais é a do comentarista de séries. Nunca dar palpites sobre essas obras se tornou tão relevante, ganhando conotações mais elaboradas e até dando origem a jornalistas especialistas em séries. Uma série de televisivo não é meramente encarada apenas como um da indústria cultural. Ganhou status de algo mais nobre e denso, até reflexivo.

Assistir e ser fã de série não é uma novidade. Twin Peaks e Star Trek contou com seus grupos de fanáticos antes mesmo que a possibilidade de emitir comentários online existisse. O diferencial hoje em dia está na ampla repercussão de seriados, havendo uma possibilidade muito maior de se captar fãs e de se gerar repercussão com o que se apresenta ao espectador.

Um ponto fundamental foi a melhoria de padrão de qualidade que elas tem recebido nos últimos anos. Se em tempos passados seriados eram chamados de enlatados por causa dos roteiros repetitivos e do eterno mais do mesmo, nos últimos anos o padrão tem mudado. Uma qualidade digna de cinema tem sido dada a muitas profissões e o nível de roteiros tem sido alto, com direito até a adaptações de livros para as telinhas.

Aos poucos temos notado que a indústria de seriados tem atropelado a de cinema (obviamente no que se refere à indústria cinematográfica e televisiva dos Estados Unidos). Poucos filmes tem tido uma repercussão tão grandiosa como em alguns tempos atrás e até mesmo as obras de cinema tem tido seu enfoque no formato seriado (vide a Marvel que incluiu suas séries na cronologia dos filmes). A atuação de Matthew McConaughey em True Detective superou a de muitos filmes e o desfecho de Breaking Bad foi digno de obras marcantes.

Pelas redes sociais, temos notado que, assim como em dias de jogo da Seleção todo mundo tem um pouco de técnico, com relação a séries muita gente tem mostrado seu lado Rubens Ewald Filho. Foram as brincadeiras com o portunhol de Wagner Moura em Narcos ou então a repercussão sobre a morte de John Snow em Game of Thrones. Aliás, boa parte dos seriados nem tem mais seus títulos traduzidos para o português. Coisas da modernidade.

O comentarista de seriado tem se tornado um dos mais relevantes nas mídias sociais. É um pouco a ideia da Inteligência Coletiva que Pierre Levy aborda em seus livros, uma capacidade de se fomentar ideias e opiniões através da interação pela via digital. Tanto que informações de seriados estão disponíveis aos montes pelas redes: se fosse duas décadas atrás, teríamos uma revista impressa apenas falando sobre séries de TV. Ou talvez o nível de aficionados não atingisse tal nível sem a internet.

Pesquisas por algumas plataformas mostram bastante isso. No Twitter os fins de temporada sempre entram para os assuntos do momento. Blogs sobre esse tema surgem aos montes e em conversas do dia a dia chavões de seriados se tornam comum. Até mesmo a grande imprensa tem rendido parte de suas publicações a essas produções.

Mesmo que o aumento da qualidade tenha levado os padrões a um patamar elevado, é preciso lembrar que, mesmo que possamos colocar séries como uma produção cultural, sua produção atende a interesses financeiros de grandes empresas, e isso afeta diretamente no conteúdo. Tanto é que boa parte dos seriados tem enredos repetitivos: policiais caçando bandidos, comédia românticas, elementos sobrenaturais, etc. Então o apreço está correlacionado com uma ótica de mercado? O interesse por seriados é semelhante à apreciação de um texto de Shakespeare ou ao frissom quando a Nike lança um novo tênis?

O Brasil começa a ter uma geração que majoritariamente cresceu em um ambiente globalizado. Temos um sociedade que se acostumou a viver em sociedades urbanas e para quem as tecnologias da informação fazem parte do cotidiano. Os nativos digitais, que passaram a infância na companhia de celulares, computadores e video-game chegam à vida adulta e se tornam voz ativa. Então temos um grupo que foi moldado por um regionalismo/nacionalismo menos presente e que absorve com muita naturalidade cultural exterior (e eu mesmo faço parte dessa geração).

Os comentaristas de seriados são um viés de bastante volume dessa situação social, de um grupo conectado pelas redes sociais que expressa um interesse comum e seus pontos de vista. São um fruto de um mundo globalizado, no qual os Estados Unidos são o principal produtor cultural e estabelecem os gostos a serem seguidos pelos demais países. O recebimento e a absorção desse conteúdo não é novidade. O que temos de novo é o espaço de interação, que gera mais e mais interesse através da troca de informação entre os usuários.

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Postado por Guilherme Carvalhal
3/11/2015 às 14h19

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