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Terça-feira, 2/7/2024
Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
Jardel Dias Cavalcanti
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Depois de cantar em alto e bom som que não escreveria mais, fruto da decepção em relação ao meio literário ― com seus prêmios, rodadas de pizza, tapas nas costas e ações entre amigos ― Marcelo Mirisola retorna com um delicioso e amargo fruto de sua criação: Espeto Corrido, pela Velhos Bárbaros ― edição do autor ― em uma primeira tiragem numerada de 50 exemplares.

A literatura de Mirisola ― quem já leu, sabe ― é impiedosa. Politicamente incorreta, desconcerta os bem-pensantes. Mas, para além disso, o autor tem algo raro: estilo. Depois da leitura de seus livros, fica a impressão de que lemos alguém que, de fato, escreve uma literatura única, arrojada não apenas na construção de seus personagens em desvario, mas compondo cada frase que exige que se releia ― pois dá gosto ver sua formação, a inteligência, a sutileza e a maldade de sua construção.

Mirisola é autor de uma vasta obra, dentre os quais, os romances A vida não tem cura, Como se me fumasse, Notas de arrebentação, Memórias da Sauna Finlandesa, Hosana na sargeta etc. E as notáveis e imperdíveis crônicas de O Cristo empalado.

Um autor que escreve com tesão e, para jogar a casa abaixo, não economiza nas marretadas. Em Espeto Corrido, a verve tragicômica se destaca. Impiedoso com os personagens, faz de suas vidas uma sucessão de desastres. Não há saída, como diz Ângela Rorô numa música: “a vida não presta”.

E raros são os escritores que encaram de frente, e com pessimismo agudo, essa verdade. Não há redenção, muito menos sublimação ― a pedrada atinge o vidro e o espatifa a cada frase de Mirisola. E quem joga a pedra é o autor, que parece gozar, esse o lado cômico de tudo, ao assistir ao fracasso das existências que ganham vida na sua obra.

O livro é composto de uma série de histórias, digamos, bizarras. Sua base é a crença (irônica, já que se trata de Mirisola) em milagres. Diz o autor “Eu acredito em Milagres. É mais do que necessário, diante da carnificina que é a vida, acreditar em milagres”.

E o milagre, no caso, é o aparecimento do Tinder como possibilidade de mais uma vez se poder tentar criar relações humanas viáveis. É a partir das relações estabelecidas via Tinder que Mirisola conecta vidas humanas que serão imediatamente chafurdadas na selvageria da existência.

Eu não vou aqui resumir as histórias de Espeto Corrido, já que o espaço de uma resenha é curto. O que importa é dizer que tipo de literatura se trata: quando estamos diante de um romance que escapa ao registro do tipo bom-mocismo, literatura de convento para freiras, literatura pedagógica e/ou ideológica de redenção/salvação.

Não há nada disso na obra de Mirisola. Por isso, evidentemente, o autor se torna um marginal, uma espécie de desterrado. Na orelha do livro, escrita por Leo Lama, ele diz: “Marcelo Mirisola está isolado de sua geração como todo criador honesto deve estar(...) Precisamos contar com artistas que sabem que é preciso permanecer à margem, ainda que uma ampla escala de leitores lhes seja devida”.

Os encontros via Tinder (esse “açougue virtual”) anunciam para seu personagem principal uma espécie de felicidade possível, já que realiza, via aplicativo, uma comunicação entre humanos.

Aí é que mora a filosofia: esses humanos não são mais que “restos humanos” ― ou o que sobrou de uma desestruturação total de si mesmos, descritos impiedosamente pelo escritor.

Mirisola também aproveita para pensar criticamente o Brasil e suas zonas de (des)conforto, como a ilusória miragem de uma zona sul Copacabana-carioca dos sonhos dos anos 50, confrontada com a imagem do país alegre que se desfaz nos ferrados anos de verde-e-amarelo do tempo presente ― com suas “madames socialites, influencers & feitoras”, uma rede de corruptos lobos travestidos de cordeiros, numa transa do mal que envolve políticos, figurões do judiciário, artistas da Globo, polícia, milícia etc.

São alfinetadas-sínteses aqui e ali que apontam o desastre de um país dominado pela absoluta falta de sentido, um país que se parece com uma churrascaria de beira de estrada, onde todas classes sociais comem a mesma carne, mas pagam cada qual com a desgraça pessoal de suas vidas.

Claro que nem o Tinder suportará tal personagem. “Sua conta foi banida do Tinder(...) Você não poderá mais acessar sua conta do Tinder ou criar novas contas no futuro”.

O livro se encerra com um “Daqui para a frente é a realidade imposta pela censura, vida que segue, punheta(...)”

Uma alegoria sobre a impossibilidade de se escrever livremente num mundo que exige o politicamente correto do artista, da arte, da vida. Naufrágio da arte.

“Artista bom é artista morto”, já disse alguém. Como aconteceu com Hilda Hilst, por exemplo, que era “impublicável” para o grand monde da literatura ― mas que, ao morrer, viu sua obra sendo devidamente impressa e discutida, o mesmo poderá acontecer com Mirisola, quando alguma poderosa editora comprar seu espólio e o transformar num fetiche subversivo que renderá um saco de moedas de ouro aos seus cofres.

Como disse Aldir Blanc sobre Mirisola: “Marcelo Mirisola é um escritor imenso e o futuro o consagrará(...) Um país que sofre as ignomínias pelas quais passamos, que tem vermes insaciáveis em seu organismo político-social, da presidência do Senado aos empresários, empreiteiros, ruralistas, banqueiros et caterva, precisa de um criador de caso com pena afiada, de vários deles, ou morre à míngua de septicemia(...) Mirisola não é odara, não tem bom astral, não economiza ofensas, não poupa os bem-pensantes tão em voga(...) Os textos, como o autor, são paradoxais: nos iluminam por suas sombras, nos redimem lançando maldições, nos lavam a alma ao enfiá-la de cabeça no pântano em que vivemos”.

Dito e feito, não dá para não ler Mirisola, corram à livraria. E aproveitam para conhecer ― quem ainda não conhece ― toda a obra de Mirisola.


Para ir além
O livro Espeto Corrido pode ser adquirido no @sebodobac.

Nota do Editor
Leia também "O herói devolvido?", "O Herói Devolvido" e "Três vezes Mirisola".


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 2/7/2024

Quem leu este, também leu esse(s):
01. De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho de Renato Alessandro dos Santos
02. Rembrandt na privada, por Jean Genet de Jardel Dias Cavalcanti


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