O chato | Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ

busca | avançada
40213 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pessoas Idosas - Sesc Carmo 2025
>>> Pascoal Meirelles celebra o legado de Tom Jobim no Palácio da Música, no Flamengo
>>> Os Coloridos Cia. Os Crespos
>>> Quizumba Com Indômita Cia.
>>> O que se rouba Com Zumb.boys
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Um olhar sobre Frantz Fanon
>>> Pedro Doria sobre o 'pobre de direita'
>>> Sobre o episódio do Pix
>>> Eric Schmidt no Memos to the President
>>> Rafael Ferri no Extremos
>>> Tendências para 2025
>>> Steven Tyler, 76, e Joe Perry, 74 anos
>>> René Girard, o documentário
>>> John Battelle sobre os primórdios da Wired (2014)
>>> Astra, o assistente do Google DeepMind
Últimos Posts
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O dinossauro de Augusto Monterroso
>>> Decompondo uma biblioteca
>>> 50 Anos de Preguiça e Insubmissão
>>> Caminhada na Olívia Flores
>>> Alceu Penna e as garotas do Brasil
>>> O negócio do livro eletrônico, por Jason Epstein
>>> Minha segunda vez
>>> Wagner, Tristão e Isolda, Nietzsche
>>> Arcádia mineira (série: sonetos)
>>> O pulso do natal
Mais Recentes
>>> Helena O Eterno Feminino de Junito de Souza Brandão pela Vozes (1989)
>>> Structuralisme et Révolution Culturelle de Pierre Daix pela Casterman (1971)
>>> Une Histoire de France de Alain Minc pela Le livre de poche (2008)
>>> Vino Argentino - An Insider’s Guide... de Jay Miller pela Chronicle (2010)
>>> A COzinha de Francesco Carli de Bete Duarte pela DBA
>>> Dicionário Santilana Para Estudantes: Espanhol-port. / Port.- Espanhol de Miguel Diaz pela Santillana (2003)
>>> O Mundinho de Ingrid Biesemeyer Bellinghausen pela Dcl (2003)
>>> São Paulo: Novos Percursos e Atores - Sociedade Cultura Política de Lúcio Kowarick pela 34. 0 (2011)
>>> Av. Paulista - Ópera Urbana de Carla Caffé pela Cosac Naify (2009)
>>> The God the Bad and the Ugly - City in Crisis de Rod Hackney pela Muller (2016)
>>> Review 11 Typology New York Hong Kong Rome Buenos Aires de Emanuel Christ e Christoph Gantenbein pela Park Books
>>> Architecural Review Flanders 10 de Architecural Review Flanders pela Flemish (2012)
>>> Raumplan versus Plan Libre de Adolf Loos e Le Corbusier pela Delft (1991)
>>> Travail Usure Mentale de Christophe Dejours pela Bayard Jeunesse (1993)
>>> Reiser Umemoto de Andrew Benjamin pela Academy (1998)
>>> Cartas de Amor a uma Prinesa Chinesa de Matéi Visniec pela É (2017)
>>> Lake Success de Gary Shteyngart pela Todavia
>>> A Mulher-alvo e Seus Dez Amantes de Matéi Visniec pela É (2012)
>>> Terra Papagalli: Narracao Preguicosos Leitores Da Luxuriosa, Irada, Soberba, Invejavel, Cobicada E Gulosa Historia Do Primeiro Rei Do Brasil de José Roberto Torero pela Objetiva (2000)
>>> Uma Confissão Póstuma de Marcellus Emants pela Zouk (2019)
>>> Tungstênio de Marcello Quintanhilha pela Veneta (2014)
>>> Vazio de João Vitor Palermo pela Avec (2018)
>>> O Patinho Feio de Ingrid Biesemeyer Bellinghausen pela Dcl (2006)
>>> Arthropods: New Design Futures de Jim Burns pela Academy (1972)
>>> Oracle Scripts de Automação de Rajendra Gutta pela Campus (2002)
BLOGS >>> Posts

Sábado, 23/7/2016
O chato
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
+ de 1000 Acessos

Andava muito nervoso naquele ano, que muitos só se lembram de setembro, quando as torres gêmeas caíram.

Nada dava certo e os planos desmoronavam.

Assim como na canção da Cássia Eller, eu trocava cheques para sobreviver.

Num dia que uma chuva repentina me pegou, e me fez perceber que meus sapatos estavam furados, ao procurar abrigo num ponto de ônibus, dei de cara com aquele rosto ligeiramente conhecido, que se abriu em contentamentos.

Tentei recuar, mas os pingos da chuva foram mais fortes.

Um aperto de mãos, leve de minha parte, dele entusiasmada de um tanto que quase me quebrou um dedo. Meus olhos cerraram e se abriram várias vezes em torno da sua figura, tentando lembrar o seu nome.

Nunca fomos próximos, ainda assim, ele danou a falar do seu casamento, que não deu certo, porque a Rosinha – e eu tive que mentir que conhecia a Rosinha, mesmo que depois de todas as descrições eu continuasse a pensar na namorada do Chico Bento – queria riquezas que ele não podia lhe dar, mas que resultou na garota tímida, do rosto redondo e cabelos mal penteados, que naquele instante tentava se esconder no meio das suas pernas.

Contou também do desemprego, da falta de oportunidades para um profissional como ele – motorista, pintor, garçom, algo assim, não sei definir ao certo -.

O arco Iris no horizonte foi a desculpa que eu precisava para me despedir.

Na saída, o convidei para aparecer na minha casa um dia qualquer, dessas coisas que a gente fala mais por educação e cordialidade do que sinceridade.

Quando alguém bateu palmas no portão de casa no domingo pela manhã, sequer me preocupei em trocar a roupa de mendigo que costumo vestir nos finais de semana.

Pensei se tratar de algum religioso, que eu ouviria sem escutar, fingiria ler o panfleto e logo o despacharia.

Para minha surpresa, era ele, vestido com a mesma calça e camisa da última vez, sorrindo enquanto tentava equilibrar a filha no meio das pernas.

Ele entrou e fiquei com raiva do meu cachorro, que balançou o rabo, todo contente, quando ele passou as mãos na sua cabeça.

E danou a falar da ingratidão da Rosinha, o corpo aos poucos se esparramando pelo sofá, sem se importar com o tédio da filha, e eu só pensava no que faria para arranjar um cheque emprestado para trocar no dia seguinte.

Para disfarçar, servi um vinho cheirando a vinagre, que estava jogado na geladeira desde o último natal.

Bebemos e o álcool relaxou meus pensamentos, as contas a pagar aos poucos foram se apagando.

A bebida acabou no exato instante que ele recordou de um jogo do Operário, de um gol de letra do Arthuzinho e eu comecei a considerar razoável aquela nossa conversa.

O gosto do vinho nos cantos da boca foi o combustível para comprar fiado cinco cervejas e, de repente, o chato já era meu melhor amigo.

Rimos, quase choramos, recordamos de tudo um pouco, dos outros vizinhos e de namoradas que inventamos, porque sequer sabiam da nossa existência e até afirmamos que “no nosso tempo”, o ar era mais puro.

”Tem aí um violão?” perguntou e eu respondi faceiro que o vizinho tinha e fui lá buscar, enfrentando a cara feia do vizinho, que era um chato que também não gostava de visitas sem avisar e se vestia de mendigo aos domingos, mas que gostou da idéia de ouvir violão, se auto convidou, levando junto uma garrafa de 51 e uma penca de limões.

Vinho, cerveja e caipirinha.

Naqueles tempos eu bebia sem apagar, hoje, só de lembrar, sinto náuseas.

O amigo chato tocou violão e cantou maravilhosamente, um pouco de MPB, um tanto de sertanejo de raiz, e o dia passou tão ligeiro que nem percebemos.

Quando ele foi embora, acompanhei seu vulto virando à esquina, um tanto trôpego, as mãos que dançavam pelas costas da filha.

Controlei a custos o impulso de correr até ele, perguntar-lhe o nome e pedir para que voltasse outra vez.

Mas fiquei preso ao meu silêncio, à minha falta de ternura, restando apenas essa lembrança, que traduzo num suspiro dolorido, que me deixa melancólico, tomado pela certeza que fui um completo chato e insensível naquele difícil ano de 2001.


Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Em 23/7/2016 às 15h46

Mais Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




The Art Of Translating Prose
Burton Raffel
Penn State University Press
(1994)



Dictionnaire des Métiers et Appellations des Metiers
Vários Autores
Press Universitaires de France
(1955)



A Canção Da Órfã
Lauren Kate
Record
(2019)



Livro Terra Alta
Javier Cercas
Planeta
(2019)



Oráculo dos Cristais
Angélica Lisanty
Madras
(2009)



Eu Cresço - Col Eu Vivo - do Professor
Mandy Suhr e Outro
Scipione
(1996)



Ordem Mundial e Agências de Rating (lacrado)
Ricardo K. Ywata
Senac Sp
(2012)



Ensino e Aprendizagem de Matemática na Educação Superior
Elenilton Vieira Godoy, Fábio Gerab
Alta Books
(2018)



De Olho No Cliente
David Freemantle
Sextante
(2008)



Demolidor. Revelado - Volume 1
Brian Michael Bendis
Panini
(2019)





busca | avançada
40213 visitas/dia
1,9 milhão/mês