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Sábado,
27/1/2018
Quando os verões acabam
Raul Almeida
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Chega o tempo em que os verões acabam.
Meses de sol forte, chuvas fortes, sorrisos fortes, emoções fortes. Não.
O verão climático sinaliza a chegada das férias, da praia, das cores mais brilhantes, das roupas leves, da comida menos carregada, dos amores surpreendentes, das emoções e das travessuras. Vai repetir-se a cada ano, com maior ou menor intensidade para uns e para outros, nem todos.
Os que podem muito, chegam a ter dois verões no mesmo ano. Vão nadar na Grécia, na costa Amalfitana, na Cote d’Azur, em Positano. Depois o Caribe, as ilhas do Pacifico.
A turma do meio vai para o nordeste ou Floripa. Para o litoral sul de São Paulo, ou o norte do Rio. E vem argentinos, chilenos, até americanos e alemães, sem esquecer os franceses e italianos.
O pessoal da geral vai para as praias das suas cidades, dos seus bairros, enfim, dentro do raio de ação do transporte publico e do bolso para o pastel ou o milho.
Em paralelo, um enorme contingente de trabalhadores só nota que é verão por conta do aumento das vendas de cocos, refrescos, sorvetes de palito, cangas e chapéus de palha.Vendem de tudo. Sanduíche natural queijo de coalho, batidas tenebrosas onde o amendoim reina soberano ou aquela caipirinha "valha-me deus", apoiada na certeza de que o álcool liquida qualquer preocupação com a higiene. São os marcadores do verão. Surgem e se multiplicam tal como desaparecem, com o tempo ruim, baço e triste dos outros meses.
Os verões ao quais me refiro se extinguem sem importar o mês ou o hemisfério.
O sol brilha lá fora, mas a tristeza resplandece. A memória para o que interessa falha, agigantam-se as culpas,saudade, solidão em si mesmo.O outono emocional,perene, continua, por mais que se tente abrir as cortinas das boas lembranças. A realidade é cruel.
O brilho das alegrias sempre fica meio empoeirado com as verdades duras e frias da vida vivida. Os dias eventuais que se parecem com aqueles do bom verão são escassos, mas acontecerão trazendo alguma energia, um pouco do sabor e cheiro de outros tempos quando tudo parecia fácil, não havia erros, equívocos, culpas.Tudo certo. Sucesso, vitória, paz de espírito. Verdade.Era assim. Se, por acaso, alguém ficasse despedaçado ou despedaçada pelo caminho, era parte do jogo, estava escrito. Só que não era. Aquele imenso verão acabou. Os êxitos se apequenaram diante dos remorsos, desilusões, derrotas, equívocos.
O outono impiedoso segue mais longo do que seria provável, sinalizando o inverno tenebroso que começa a ser esperado com alguma ansiedade.
Acabaram-se os verões.
Agora, dias ou momentos com gosto e cara de verão são episódicos, eventuais. Não estão conseguindo mais enganar como o faziam há bem pouco tempo.
Só resta a constatação um tanto cínica:
“Não se fazem mais verões como antigamente”
Postado por Raul Almeida
Em
27/1/2018 às 16h12
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