Cenas do supermercado | Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ

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Terça-feira, 13/3/2018
Cenas do supermercado
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
+ de 2600 Acessos

Olha, eu nunca soube ao certo se o nome da mãe do Gilberto é Doracy ou Norma.

Sei, não tem nada a ver um nome com o outro, mas a confusão existe e não consigo eliminá-la.

O pai, desse eu tenho certeza, se chama Getúlio e foi padre até os vinte e cinco anos.

Formam um casal daqueles clássicos, conservadores, rezam ao acordar, na hora do almoço, nos fins de tarde, antes de dormir.

Rezam, rezam e rezam.

Dos cinco filhos, só me dava bem com o Gilberto, uma criatura extremamente amorosa, dedicada ao trabalho e aos amigos.

Gilberto é gay e para escapar da certeira reação dos pais, foi se meter nos fundos do Canadá e por lá escancarou a porta do armário.

Faz tempos que não nos falamos, mas ainda guardo o livro do Neruda que ele me deu.

Dona Doracy (ou seria Norma?) tinha o costume de fazer arroz carreteiro sempre que eu ia visitá-los.

No começo achei bom; com um ovo frito por cima, sempre caiu bem.

Mas lá pela quinta vez, comecei a achar estranho.

Seu Getúlio comia até quase se enfartar.

Disfarçava o arroto fingindo bocejos.

E dessas coisas da vida, nossos caminhos se entortaram e nunca mais nos encontramos, até o sábado último, no corredor de um supermercado.

Os reconheci de imediato, seu Getúlio no mesmo estilo de general, a esposa colada em suas mãos, o olhar um tanto perdido.

Tipo de encontro indesejado, não tinha nada para falar com eles.

Tentei escapar grudando as mãos na primeira prateleira que me surgiu, a cara enfiada entre latas de leite ninho.

Não teve jeito, dona Norma (ou seria Doracy?) cutucou minhas costas com a ponta da unha.

- Oi, você não é aquele amigo do Gilberto?

- Gilberto...?(fechei os olhos quase por inteiro, a testa em risco, extremamente franzida, como quem tenta se lembrar de algo).

- Meu filho Gilberto, vocês trabalharam juntos no jornal.

- O seu nome não é André? - perguntou coronel Getúlio na voz grave de sempre.

- Sim, sim...Mas claro, vocês são os pais do Gilberto.

- Isso mesmo, eu sou a...(ela ia desvendar a tortuosa dúvida, mas o Marechal se intrometeu e não deixou).

- Há quanto tempo, meu rapaz!

E deu-me um abraço de urso.

- Faz tempo, né? E o Gilberto? Não tive mais notícias dele.

- Está bem, mora no Canadá, está casado e tem dois filhos.

- Sei (adoção, com certeza, pensei)...

- Ele vem nos visitar sempre no fim do ano.

- Ah, que legal. Peça para ele me adicionar no whats ou no Face. Sinto saudades dele.

Dona Norma sorriu, se fazendo menininha.

- Ele não tem nada nas redes sociais.

- Não?

- A mulher dele é muito ciumenta... Sabe como é...

- Sim, sei...

De repente, uma estranha luz escapou dos olhos do Sargento:

- Ele manda cartas para nós.

Arregalei os olhos, surpreso:

- Cartas?

- Sim, cartas! Sempre teve ótima letra. Manda junto algumas fotos, dele, da família, precisa ver como a caçula se parece com a (Ia desvendar o tortuoso segredo, mas Norma/Doracy não deixou, se intrometendo, com a voz fina e uma chuva de perdigotos).

- Não, não se parece comigo, parece com ele, com o Gilberto.

- Ah, nossa, como eu gostaria de ver. (sempre tenho esses momentos de bobeira, falo sem pensar e depois arregalo os olhos, arrependido).

- Pois apareça lá em casa um dia desses? - Disse o Capitão, num sorriso de dentes amarelos. A esposa completou numa nova enxurrada de perdigotos:

- E leve sua esposa e o filho. - dei uma piscadela cúmplice e completou - Notei que estava comprando leite ninho.

- Tá bom, vamos sim, qualquer dia desses.

- Ora, deixe disso, vá amanhã! Ordenou o Tenente Coronel - moramos no mesmo endereço de sempre.

- Claro, claro, irei sim, pode contar.

Ela então postou o rosto perto de mim, fez as mãos em segredo e sussurrou: - Vou fazer aquele arroz carreteiro que você adora...

- Ah, sim, adoro mesmo, vou sim...

O General deu-se por satisfeito, apanhou a mulher por uma das mãos, enquanto com a outra esmagava meus dedos num cumprimento final.

- Vamos Jandira, precisamos comprar a carne seca para o carreteiro. Até amanhã, meu bom rapaz.

E lá se foram, sem olhar para trás.

Para me garantir, levei duas latas de leite ninho, com medo que me vissem no caixa e duvidassem de mim, a cara meio azeda, um tanto marrom, na garganta seca a pergunta em riscos de fogo: o que afinal tem a ver Jandira com Doracy...ou Norma?


Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Em 13/3/2018 às 12h02

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