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Segunda-feira, 10/9/2001
Três heróis
Airton Gontow
+ de 3900 Acessos

Nunca tive qualquer empatia por esses super-heróis dos desenhos: fortes, destemidos e invencíveis. Ao contrário, lembro que desde a infância minha mente e meu coração só tinham espaço para personagens reais, aqueles que habitam ou não o cotidiano da gente.

Meu Pai

Herói era meu pai. Você sabia que fui a todos os jogos do Grêmio durante sete anos? E que quando a gente voltava pela estrada, ia em comboio, com vários carros de torcedores e, no meio de nós, o ônibus dos jogadores e o ônibus da TV trazendo o vídeo-taipe do jogo? (Naquele tempo o "via-satélite" não existia...)

Fazia muito frio e quando entrávamos na cidade, o ônibus da TV seguia em direção ao morro Santa Tereza. Nosso carro percorria a neblina porto-alegrense até o porto seguro de nosso apartamento, lá na Protásio Alves. Aí eu ficava assistindo ao jogo do Grêmio que a TV estava começando a exibir... Aquele mesmo que eu havia assistido quatro horas antes.

Meu pai ia até o meu quarto, fazia minha cama e depois se deitava, com aquele corpo grande de pai. Derrotava a frieza dos lençóis. Em seguida, eu o via surgindo, cada vez maior, até que me pegava no colo e me conduzia pelo corredor até o meu quarto. Ele me deitava naquela cama mágica, já aquecida pelo seu calor de pai...

Você sabia (talvez já saiba um pouco, uma vez que me conhece já há algumas linhas...), você sabia que, mesmo quando meu pai fez um monte de besteiras na vida (e a vida faz graça de mau humorista com a gente), eu não consegui nunca deixar meu coração amargurado e a alma sem esperanças, porque eu sabia que ele era meu herói e os heróis não são necessariamente vencedores, mas são sempre aqueles que acalentam o coração e a alma da gente!

Seu Benjamin

Meu herói era também o seu Benjamin, pai da minha amiga e colega Eliane. Vivíamos todos no pequeno e agitado edifício Jardim Emília, com seus quatro andares e cinco apartamentos. Nós morávamos no térreo e tínhamos o privilégio de ter o único quintal do prédio. Todos os outros apartamentos eram de amigos de infância de meu pai, amigos que compraram juntos o primeiro imóvel, que casaram na mesma época, etc.

Nós, as crianças, estudávamos na mesma escola. Esqueci de dizer que, no Jardim Emília, havia dois banheiros em cada apartamento - um grande, o outro pequeno - e que entre eles existia uma espécie de vão, que deixava naquela área do prédio um eco estranho. E conto também que no segundo andar vivia o seu Benjamim, a Dona Beatriz e as filhas Eliane e a Rosane. Todos cantavam na Ópera de Porto Alegre, a OSPA. (A Eliane, que era apaixonada por mim, cantava na "OSPinha".)

Como todos acordávamos à mesma hora, ninguém usava despertador no meio da semana porque o seu Benjamim entrava no banheiro grande do 2o. andar e cantava: - "Granada! Tierra soñada!". Aquele som da voz poderosa e melódica dele passava para o vão do prédio, espalhando-se por todos os andares, invadindo os apartamentos, e penetrando nos nossos quartos para nos tocar suavemente e nos despertar.

Eurico Lara

Heróis, heróis, heróis. Sim, eu tenho meus heróis. Alguns da vida cotidiana. Outros como Eurico Lara, grande nome da história do Grêmio. Sua historia eu aprendi ao lado de seu túmulo, no cemitério, segurando a mão de meu pai, como acontece com muitos gremistas. Era um goleiro fantástico e gremista apaixonado (como todos os gremistas devem ser). Voce sabia que Lupicínio Rodrigues - sim, o autor de "Nervos de Aço" e "Felicidade foi se embora" - fez o hino do Grêmio, quando viu a torcida superando uma greve geral dos bondes de Porto Alegre e, caminhando, para lotar o estádio?

Mas eu falava sobre o Eurico Lara, que era apaixonado e gremista. Veja só: ele estava no quarto de um hospital, com turberculose, no dia da final do campeonato gaúcho contra o "inimigo" Internacional. Eurico Lara fugiu do leito para assistir ao jogo. Um empate daria o título ao Grêmio, que estava com um ponto a mais na competição.

Faltando, porém, três minutos o juiz marcou um pênalti para o "inimigo" Internacional. A torcida gremista, em grande maioria, ficou em silêncio, com medo da catástrofe. Foi neste momento que Eurico Lara disse para o homem que cuidava do portão junto ao gramado do estádio: - "Abre".

Quando entrou em campo, Eurico Lara foi tirando a camisa, as calças... - estava de uniforme por baixo e, pasme, de chuteiras! O estádio explodiu em espanto e alegria, mas, logo depois, aconteceu um silêncio sepulcral (que até hoje impressiona a todos os que assistiram à cena). Era como se não houvesse pássaros, vozes, vento...

O atacante do "inimigo" Internacional ajeitou a bola. Parecia um touro, enquanto se preparava para iniciar a curta corrida em direção a ela. O chute saiu forte, alto, no canto esquerdo. Mas Eurico Lara, meu goleiro, meu herói, Eurico Lara (cantado por Lupicínio como "o craque imortal") saltou como um gato e encaixou a bola no peito! Com ela continuou agarrado quando caiu no chão.

A torcida entrou em delírio. Os jogadores se aproximaram para reverenciar aquela lenda do futebol. O estádio era uma chuva de chapéus, como nunca mais se viu, nem mesmo com o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial.

Mas Eurico Lara continuava deitado no chão. Com a bola no peito. Sim, a bola era sua; ele não queria soltá-la. Os jogadores foram se afastando. A torcida de pé, em silêncio, compreendeu o que acabava de acontecer: Eurico Lara estava morto. Morto com a bola grudada naquele imenso peito gremista. No gramado, milhares e milhares de chapéus agora eram como flores. Flores homenageando aquele deus do futebol.

Histórias

Na verdade, as duas primeiras histórias são verídicas, mas esta terceira nunca aconteceu. Eurico Lara esteve, sim, doente de tuberculose, no hospital. E fugiu, sim, para ir à final. Mas nunca entrou em campo. Nunca jogou. Não morreu, portanto, naquele dia.

Faleceu anos depois. Dizem os médicos que sua morte foi apressada pelos meses em que jogou no Grêmio escondendo a doença.

Mas vou contar ao meu filho exatamente o que me contou meu pai, segurando sua mãozinha de gremista, ao lado do túmulo do inesquecível Eurico Lara - aquele que morreu defendendo um pênalti, com tuberculose, dando o título de campeão ao Grêmio.


Airton Gontow
São Paulo, 10/9/2001

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