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Quinta-feira, 1/9/2011
Os desajustados
Elisa Andrade Buzzo
+ de 3700 Acessos


foto: Sissy Eiko

Uma das características do centro da cidade que me faz amá-lo é a sua vocação para a preservação da história, do usado e do desgastado, do sentimento religioso que emana de suas incontáveis igrejas e imagens sacras. Assim como seu pendor em acolher os mulambentos, os solitários e toda sorte de desajustados, sem fazer troça deles, ofertando um banco um recosto, apenas querendo-os, seja desinteressada ou monetariamente, como um livro usado a espera da benquerença de um leitor afeito à garimpagem. Vamos passear por sebos e livrarias do centro de São Paulo.

Não é necessário se assustar, nem desmerecer a "cidade", como nossos pais a chamavam no tempo dos bons sapatos e das lojas de departamento. Ainda que nos debrucemos sobre um chão desgastado, cravado de escória, batido por um batalhão de trabalhadores e vagabundos, lá é o âmago vital do plexo urbano. De modo que quando aporto no centro repetidas vezes me pergunto como posso não vivenciar a sua história todos os dias, fazer parte de sua movimentação incessante, dar minha contribuição, nem que seja pela singeleza de um sorriso, um esgar, caminhar lado a lado com o fato.

E se o centro é a casa da diversidade, do acolhimento de todas as classes sociais e religiões, das pregações assustadoras no Marco Zero e no Patriarca, lá também há uma concentração de sebos e livrarias, sobretudo as religiosas. A Paulus e a Loyola se estendem próximas à Catedral da Sé, na Quintino, Senador Feijó, e na Barão de Itapetininga, não só com artigos religiosos - terços, imagens domésticas, santinhos, livretos -, mas também com muitos livros de religião, como não poderia deixar de ser, filosofia, escolares e algo de literatura também. Um ecletismo que causa um leve estranhamento, a constante abordagem dos vendedores prestativos, logo mostra que, ao deslizar-se pelo piso de azulejos, pode-se encontrar muito.

As Livrarias Saraiva da Rua São Bento e da João Mendes destacam os livros de interesse geral, os livros espíritas e de Direito, prova de que naquele mundo central se está perto de gente que se interessa por assuntos díspares, e advogados, pela concentração de escritórios e da Faculdade de Direito no Largo de São Francisco. Já a Livraria da Unesp fica no térreo do Palacete São Paulo, o segundo prédio a ser construído na Praça da Sé, e mantém um bom acervo de História e Ciências Humanas. A Martins Fontes na Praça do Patriarca é calma, ampla e, com considerável acervo, constitui-se numa referência na região.

Passemos aos sebos. Na Barão uma livraria-antiquário guarda suas relíquias com afinco, retrovisores e olhos de raposa. Tudo ao som de música clássica. Gravuras e mapas dispostos em mesas largas completam o tom europeu. Somos os únicos visitantes, num sábado frio e chuvoso. De um livro da Massao Ohno Editora saltam conhecidos de antigos carnavais, situações risíveis que o tempo tratara de bordar. Já no Messias da Praça João Mendes o ambiente é mais movimentado e um violinista toca ao vivo. Isso só no térreo, pois subindo em busca de poesia e literatura deparamo-nos com infinitas sucessões de prateleiras e uma ou outra alma se movimentando levemente. Este é um mundo suscetível a grandes vazios, gente empoleirada num banquinho baixo, livro em mãos. Retornamos à praça. No Nova Floresta a prateleira de poesia é espremida num corredor estreito e só mesmo dois poetas interessados podem fazer malabarismos e contorsões de corpo a fim de encontrar-se com seus pares. Em uma outra visita, surpresa no primeiro andar: uma estante inutilizada foi colocada bem em frente... à prateleira de poesia!

E dos livros emergem histórias pessoais e coletivas. Antigas coleções infantojuvenis da Ática e da Scipione que foram abandonadas por seus donos, talvez, e mesmo algumas já atualizadas pela própria editora se infileiram passivas. Puxamos o primeiro volume do Para gostar de ler, A palavra é... bicho, O feijão e o sonho, de autor com nome até hoje tão enigmático, Orígenes Lessa. Dou um grito de emoção ao avistar um conservado Gato preto em campo de neve, memórias do grande Erico Verissimo com capa antológica de Eugênio Hirsch! Encontro mais um distante Olegário Mariano, Cidade maravilhosa, numa mimosa coleção de bolso ilustrada, Os mais bellos poemas de amor, da década de 1930. Consideramos prefácios e biografias de antigos conhecidos, num diálogo além-livro. E diante de uma ironia do destino, levarei comigo, nesta data de homenagens drummondianas: Poesia errante, exemplar nunca aberto, como se tivesse acabado de sair da gráfica, placidamente disposto neste mar de folhas plissadas - "A máquina do tempo nos tritura/ Ao mesmo tempo cria imagens novas./ Renascemos em cada criatura/ que nos traz do infinito as boas novas."

Então, agora - ainda não e talvez nunca refeita do passeio - abro a janela do quarto para sentir o ruído do bairro, o vai e vem de gente e auto. Não é a mesma coisa, pois há apenas dois sentidos, e no centro o espaço é múltiplo, transbordante, pleno de intentos. Talvez seja melhor manter um afastamento lúcido de tal estar rodeado de passos, carregadores e seus ruidosos carrinhos de mercadorias, gritos dos vendedoras de joias, óculos e celulares, os apelos do promotor de vendas ao microfone nas lojas populares e a sensação de figuração num teatro de variedades em sessões contínuas - tendo como cenário um lugar cuja história é ignorada por seus passantes, os quais reconstroem um novo modo de vida, que por sua vez ainda será suplantado.

Pois na estação da espera e da procura eternas, a dos sebos, cada movimento pressupõe uma consequência catastrófica, um puxar de lombada, um notar de rasgo na capa, um cheirar de bolor e pó, uma dedicatória apaixonada exposta ao mundo, um ex-libris. É por excelência o espaço do acaso, um mergulho diante do desconhecido, em que voltamos revigorados por descobertas, com as pontas dos dedos envoltas numa fuligem preta de cáustico passado. Instalados no limbo do limbo, nesse universo lançado ao reuso ocasional, assim dançamos ao som da cantilena dos livros apartados de suas bibliotecas.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 1/9/2011

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