O Amor é Sexualmente Transmissível | Isabella Ypiranga Monteiro | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 13/5/2013
O Amor é Sexualmente Transmissível
Isabella Ypiranga Monteiro
+ de 9700 Acessos

Marçal Aquino não poderia ter escolhido melhores palavras para dar início à história arrebatadora do casal de amantes Lavínia e Cauby. O título do primeiro capítulo de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (Companhia das Letras, 2005), romance adaptado para o cinema no ano passado pelos diretores Beto Brant e Renato Ciasca, sintetiza com precisão a essência de um relacionamento tão impuro quanto o ambiente de guerra onde nasce. O encontro dos personagens, a instável e sedutora ex-prostituta "regenerada" pelo marido, pastor evangélico, e o fotógrafo aventureiro, acontece no interior do Pará, durante uma acirrada disputa pelo ouro entre garimpeiros e mineradoras. Em pouco mais de duzentas páginas, divididas em quatro grandes partes, o paulista descreve de modo impecável a evolução de sentimentos dos protagonistas, desde a atração puramente física até o mais intenso dos amores, com direito a ilustrativos trechos eróticos que deixariam os cinquenta tons de cinza de E. L. James enrubescidos. Jornalista experiente, vencedor do Prêmio Jabuti em 2000 pela aclamada coletânea de contos O amor e outros objetos pontiagudos, o autor recorre, diga-se de passagem, a um truque original para delinear essa trajetória. Cauby, que narra a maior parte do livro, cita com frequência frases antológicas de Benjamim Schianberg na tentativa de justificar o que vai no seu coração. As pérolas de sabedoria do filósofo fictício - que já virou, inclusive, tema de minissérie dirigida também por Brant - e, quem sabe, alter ego de Aquino nos conquistam instantaneamente, a ponto de desejarmos que ele e o seu O que vemos no mundo, espécie de tratado sobre amor e sexo, existissem de verdade. Ou então que o próprio escritor, inspirado por sua criatura, fosse um amigo íntimo com o qual pudéssemos nos sentar em uma mesa de bar para pedir conselhos sentimentais.

"Queremos o que não podemos ter,
diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor.
É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta,
é o quanto cada um quer o que não pode ter.
Nossa ração de poeira das estrelas".

Engana-se, no entanto, quem imagina que a história se ocupa apenas da dinâmica envolvendo o par central. São, aliás, os ótimos personagens secundários os responsáveis por enriquecer e costurar a trama, que vai muito além das trivialidades de uma relação proibida, da traição conjugal e de suas consequências passionais. Nessa terra sem lei, um microcosmo do Brasil onde matar e morrer beiram a banalidade, questões mais profundas como religião, política e jogo de interesses vêm à tona através da voz ressonante do pastor Ernani, companheiro de Lavínia, e de uma vingança planejada em silêncio pelo sofisticado jornalista Viktor Laurence, amigo de Cauby. No decorrer das páginas, tais figuras acabam colocando em evidência o comportamento de toda uma nação manipulada por poderes que nunca lhe ensinaram lutar pelas causas certas. Já o chinês Chang, agiota e dono da lojinha onde o casal se conhece, fascina e confunde o leitor com tiradas geniais, incompatíveis com a sua condição de pedófilo.

"O segredo, dizia Chang, o china da loja,
não é descobrir o que as pessoas escondem,
e sim entender o que elas mostram".

O romance chama a atenção também pela bela construção do texto, um excelente exemplo de como, mesmo intercalando períodos de tempo diferentes, certas narrativas conseguem soar fluidas e naturais. No vai-volta entre presente e passado, os delírios proféticos e lições de astrologia do fotógrafo oferecem algumas pistas sobre o seu destino, mantendo, claro, o suspense a cada página. Não é à toa que Aquino consegue tornar plausível o improvável amadurecimento de um amor em meio à podridão e ao ódio vigente na inospitaleira cidadezinha paraense. Se tudo no livro parece convergir para os extremos, nota-se o cuidado que ele teve em adequar a forma como a história é contada ao conteúdo. Até as passagens mais contundentes, sejam aquelas que expõem os conflitos emocionais de Lavínia, o impacto alucinante de seu sex appeal em Cauby ou a desordem local, estão descritas de maneira lírica. O autor surpreende ainda ao dar uma dimensão poética a sua prosa. Os diálogos curtos e sem travessão lembram os versos de haikais brancos.

"Entrei no banheiro e puxei a cortina de plástico. Ela ensaboava o corpo.
Tô pensando em ir embora daqui.
Pra onde?
Não sei ainda. Talvez eu volte para São Paulo.
Lavínia passou o sabonete entre as pernas, levantou um monte de espuma. E sonho.
O que foi, bateu saudade?
Não posso ficar aqui pra sempre, tenho que dar um jeito na minha vida.
Ela guiou o jato do chuveirinho para o púbis. Desfez a espuma, não o sonho".

Ajustes necessários à parte, a versão cinematográfica de Eu receberia... foi prejudicada pela extinção do encantador Careca, colega de pensão do fotógrafo que lhe relata a sua malfadada paixão platônica por Marinês - o que, por sinal, já daria um bom conto -, e do próprio professor Schianberg, personagem indispensável à obra. O ponto alto do longa, contudo, é, sem dúvida, a interpretação de Camila Pitanga no papel principal. Nenhuma outra atriz poderia encarnar a beleza e a loucura da ex-prostituta de forma tão visceral quanto ela. O último parágrafo do romance, daqueles capazes de arrepiar a mais insensível das almas, também ficou de fora no filme. Um dos encarregados do roteiro, Aquino optou por conservar o desfecho trágico e, ao mesmo tempo, redentor dos amantes nas telas, mas as cenas finais não chegam a comover tanto como a sua "poesia" impressa. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Não neste caso. Cauby receberia as piores notícias dos lindos lábios de Lavínia e eu leria esse livro de novo, de novo e de novo...

"O papel dobrado que encontrei continha uma mensagem curta.
Daria um telegrama lacônico e definitivo. Uma notícia primordial de um amor vira-lata.
Apenas duas palavras. Escritas numa letra redonda, graciosa, quase infantil.
'Amo você'. Entendeu agora por que eu fiquei"?

Para ir além



Isabella Ypiranga Monteiro
Rio de Janeiro, 13/5/2013

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