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Segunda-feira, 7/10/2013
Amor, sublime Amor
Isabella Ypiranga Monteiro
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Era uma vez um homem e uma mulher. Eles se apaixonam, se casam, têm uma filha e são felizes para sempre. Seria mesmo uma linda história caso não sucumbíssemos todos ao tempo e fôssemos obrigados a lidar com o que implica essa característica, porém incógnita "eternidade" dos contos de fadas. Diferentemente do que sugere o título, Amor (Amour no original), coprodução de 2012 entre Áustria, França e Alemanha, não tem nada a ver com um romance açucarado. Graças ao roteiro pé no chão e à direção primorosa, ambos do austríaco Michael Haneke, em 127 minutos, aquilo que costumamos chamar de "o sentimento mais bonito do mundo" nos é enfiado goela abaixo de forma avassaladora.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, além do Oscar e do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro do ano passado, o longa narra os dias que se seguem na vida de um octogenário casal de professores de música aposentado - interpretado por Emmanuelle Riva, magnífica atriz indicada pela Academia, e Jean-Louis Trintignant, brilhante em cena - depois que Anne sofre um derrame e passa a depender de Georges para cumprir tarefas simples. Quando aqueles que antes se completavam precisam aprender a conviver com os restos do que costumavam ser um para o outro, seus laços de afeto são severamente postos à prova.

Conhecido como um cineasta não comercial e por abordar assuntos que causam desconforto em sua obra, Haneke, que receberá o Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes no dia 25 de outubro, na Espanha, provoca novamente uma plateia cada vez mais habituada aos aprazíveis desfechos das tramas hollywoodianas. Embora tenha revelado não intencionar fazer uma fita política, Amor chegou a levantar alguns debates sobre a eutanásia por onde foi visto. Não se trata mesmo disso. Segundo o próprio realizador, o tema central da produção é "como enfrentar o sofrimento daquele que se ama". Para dar veracidade a esse argumento, optou por uma edição lenta, quase sem cortes, e pela total ausência de trilha sonora incidental. Foi além. Transportou o público para o lar dos protagonistas, núcleo dos acontecimentos e, curiosamente, uma reconstrução minuciosa da casa onde viveu na infância. A escolha oportuna do cenário - um antigo apartamento parisiense, cheio de interligações entre amplos cômodos que facilitam a circulação dos intérpretes - possibilita ao espectador acompanhar cada passo da ação.

Outro truque usado pelo diretor está no posicionamento inteligente das câmeras que, ora nos aproxima dos diálogos entre marido e mulher - com direito a closes que expõem toda a intimidade da dupla - ora nos afasta deles - como se só conseguíssemos ouvir suas conversas e observá-los de um aposento diferente de onde estão. Não à toa, o meio primeiro plano e o plano médio foram adotados para a filmagem nessas horas. Eles ajudam a conferir o distanciamento adequado a uma testemunha intrusa dos fatos. A sequência que melhor evidencia tal perspectiva é a que começa com Anne e Georges chegando a casa depois de um concerto, preocupados com possíveis marcas de arrombamento na porta. A lente, convenientemente disposta no interior do apartamento, não deixa dúvidas: somos nós os invasores. Ao permitir que o público espie de perto o drama vivido pelos personagens, Haneke constrói um longa angustiante do início até o fim.

De fato, Amor é tão nu e cru que pode decepcionar os sentimentais à espera de verter lágrimas no decorrer da projeção. O soco no estômago, no entanto, é suavizado com algumas doses de analgésico. Aqui, a mesma câmera responsável pelo choque de realidade também impregna a tela de certo lirismo. Exemplo disso é a tomada em que Anne é colocada na cadeira de rodas elétrica pelo marido logo após urinar na cama. O modo como o constrangimento da esposa com a situação é capturado - através dos movimentos simultâneos do cinegrafista e da cadeira - é de uma genialidade poucas vezes vista no cinema. Outras cenas são ainda recheadas de simbolismos, como as já clássicas em que Georges imagina a mulher saudável ao piano ou sonha com o hall do edifício inundado, além daquelas que mostram pombos entrando pela janela do apartamento. Mais que deixarem margem para diversas interpretações, assim como, aliás, a própria conclusão do filme, elas oferecem um pouco de beleza à história.

Houve quem criticasse o título da produção por não definir bem seu conteúdo. É provável que grande parte dos espectadores encontre dificuldade em engolir a seco tamanho flagelo, perpetuado por uma série de decisões equivocadas, sob a chancela de "amor". Talvez seja demasiado doloroso ver a relação bem sucedida do casal de protagonistas perecer, à medida que remédios, enfermeiras e trocas de acusações se instalam em um lar antes tão farto de música e cumplicidade. Pode ser complicado constatar a sutil indiferença de uma filha (Isabelle Huppert no papel de Eva), mais interessada em resolver seus problemas financeiros do que em acalentar os pais durante a doença. Mas basta um olhar ponderado para notar que sim, é possível encontrar poesia até nos momentos amargos da vida. Aqueles em que, embora o coração siga carregado de sentimento pelo nosso objeto de desejo, precisamos priorizar o lado prático. Como nos premiados Caché e A fita branca, Haneke propõe uma reflexão, sem julgamentos moralistas, sobre quem é vítima e algoz nessa tragédia palpável para muitos e tenta, de maneira magistral, nos fazer enxergar que altruísmo e egoísmo não são necessariamente autoexcludentes quando se fala de amor. Sublime!


Isabella Ypiranga Monteiro
Rio de Janeiro, 7/10/2013

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