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Segunda-feira, 8/4/2002
O Salão e a Selva
Oswald de Andrade
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O fim do ano de 19 foi agitado por superficiais emoções de formatura na Faculdade de Direito, onde tirei meu diploma de bacharel, seguindo o longínquo desejo de minha mãe. Dona Inês fazia questão de que eu tivesse um título. Poderia um dia precisar. Pobre mãe que ignorava a vocação de irregularidade e de sublevações de seu filho, inconformado sempre, sempre inimigo dos diplomas e das posições.

Fui o orador do Centro Acadêmico Onze de Agosto, eleito unicamente pelo prestígio de meu amigo Jairo de Góis. Fiz alguns discursos, todos lidos. Numa encabulação invencível enchia minha cabeça de vulgaridades e tolices, se fosse improvisar.

Evidentemente, a ambiência da Faculdade de direito, com o mistério descarado de sua “bucha” divulgado depois por Paulo Duarte e pelo general Góes Monteiro, não me atrai nem distrai.

Há três placas de mármore no interior do velho casarão conventual do Largo de São Francisco. Trazem os nomes de três poetas ilustres que por ali passaram. São eles Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.

Como teriam vivido eles em meio de estudantes de Direito duma Faculdade colonial portuguesa num planalto agreste, vandalizado por cônegos, fazendeiros escravocratas e os procuradores de seus interesses que eram os advogados?

Calculo o drama obscuro dessas três almas passadas no Inferno da mesquinha vida universitária paulista. Como se sabe, ao contrário do que aconteceu na América Espanhola, nunca se tratou de trazer para o Brasil uma universidade. Fundaram-se simplesmente os cursos jurídicos. Aqui e em Recife, isso bastava porque fornecia o bacharel, a alma e o exator dos interesses da classe senhoril. O que lhes importava era a lei. E que lei! Uma legislação buscada no refolho das ordenações medievais, sem uma crítica, um avanço, uma pesquisa própria. Derivava isso tudo do Direito Romano. A Roma infame dos Césares que produziam a legislação justinianéia, fora imediatamente transportada para cá, com seus grosseiros vícios, esses atrasos e torpezas. E isso tudo era recoberto por uma aura divina. O próprio Deus mosaico, descido do Sinai, teria fornecido esse detalhado índice de recursos feudais e pré-capitalistas destinado a presidir os destinos de nossa sociedade em evolução.

Evidentemente, como se deu comigo e algumas centenas de outros refratários, o que a família queria era o que se chamava “o canudo”. Isto é, o título obtido depois de cinco anos idiotas passados no casarão conventual do Largo de São Francisco.

As farras campestres, na Ilha dos Amores, do gelado Tamanduateí, os namoros coimbrões nas ladeirinhas da cidade, as pensões onde se vara a noite boêmia ao som do violão teriam sido as migalhas atiradas a esses corações sedentos de emoção e de amor.

Castro Alves se refugiou a sua ânsia de liberdade na luta pelo escravo, Álvares de Azevedo nas cartas de amor, Fagundes nos amores de saleta. E destinavam-se os três à advocacia.

O advogado é um bicho útil às cavilações dos potentados e à vontade dos fortes. Admito que, no Brasil, a função proba do advogado tenha surgido, talvez, com o movimento de libertação dos escravos negros ou com a propaganda republicana. Mas até hoje conservo a idéia exata do que o advogado, ou melhor, o bacharel é – sempre um monstro de pequena e especializada erudição que deixou de servir os interesses do latifundiário. Porque este deixou de existir, com imoralíssimas exceções. Mas continua a ser a sentinela do negócio, pronto a esmagar a vítima que lhe cai nas unhas, sem nenhuma preocupação de justiça ética.

Quando, alguns anos atrás, disse mais ou menos isso num dos meus Telefonemas que o Correio da Manhã publica, o nobre advogado católico Sobral Pinto mandou-me uma carta, onde narrara o episódio lancinante de um vendedor de rua que ele, como patrona, salvara. Isso não mudou a minha opinião formada. Uma honrosa exceção! Guardo ainda hoje a impressão de que o bacharel não passa de um verme. É uma tênia asquerosa do sistema patriarcal. Vivendo com todas as bênçãos e emolumentos do Deus do negócio.

Como teria vegetado no covil de bestas-feras e de bestas mansas do Largo de São Francisco os três pobres românticos do século 19? Guarda-se deles uma tradição de boêmia, talvez transportada da Universidade de Coimbra para cá. As margens puras do Mondego foram substituídas pelas agrestes margens do Tamanduateí, onde um capinzal inatingível foi chamado mitologicamente de Ilha dos Amores. Ali se teriam passado orgias com prostitutas mulatas que teriam produzido A Noite na Taverna. Pobre transferência urdida pelo romantismo europeu!

Antes de passar os umbrais do casarão legalista de São Francisco, eu acreditei nas lendas de literatura e boêmia que deixaram seus herdeiros os poetas românticos.

Nota do Editor
Texto gentilmente recolhido e cedido por Luís Antônio Giron (acompanha o seu "Um homem sem profissão nem esperança", também aqui republicado). Fonte: CEDAE/Unicamp.


Oswald de Andrade
São Paulo, 8/4/2002
Quem leu este, também leu esse(s):
01. Cenas de um casamento de Marcelo Rubens Paiva
02. Mozart, o gênio da música de Luís Antônio Giron


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