Tributo a Rogério Duprat | Antônio do Amaral Rocha

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Segunda-feira, 8/1/2007
Tributo a Rogério Duprat
Antônio do Amaral Rocha
+ de 7600 Acessos
+ 1 Comentário(s)


Agência Estado

A morte do irreverente e genial maestro tropicalista deixa a música popular brasileira menos criativa e mais careta

Rogério Duprat já foi chamado de “o George Martin da música brasileira”. Mas se o produtor inglês “só” criou o som dos Beatles, o maestro carioca fez muito mais. Já seria muito se ele tivesse apenas conhecido os meninos dos Mutantes (Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee) e criado os arranjos de obras clássicas como Os Mutantes, Tropicália ou Panis et Circensis (ambos de 1968) e A Divina Comédia (1971). Mas some-se: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Nara Leão, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Walter Franco, Jorge Ben e Lulu Santos, todos são devedores do caldeirão sonoro do mago. E só lembrar do arranjo vanguardista para “Domingo no Parque” (Gilberto Gil) e dos arranjos construídos para “Construção” e “Deus lhe Pague” (Chico Buarque) e tem-se a dimensão de sua figura.

Sem Duprat, a música brasileira não teria evoluído da bossa nova e da jovem guarda em apenas um ano e meio. E sabe-se que a soma desses dois gêneros não resultaria em filhote algum. Mas existiu Rogério Duprat e um movimento chamado Tropicalismo. Ainda bem que houve um tempo em que as pessoas se dispunham a se encontrar – tempo em que a avenida São Luís, em São Paulo, havia cedido seus grandes apartamentos da burguesia decadente para os artistas migrados da Bahia. Chegando na capital paulista, os baianos foram morar perto de onde acontecia o burburinho da noite paulistana na década de 1960. São Paulo ainda era “pequena”: a avenida Paulista ainda não era o antro da oligarquia financeira que impera hoje.

Caetano e Gil tinham passado pelo Rio de Janeiro e percebido que as oportunidades estavam na São Paulo desvairada. Caetano já havia guardado a “mala que cheirava e fedia mal” em um canto do guarda-roupa e, entre idas e vindas para o Rio, Salvador e São Paulo e longos papos pelo bairro de Perdizes, tudo parecia “divino e maravilhoso”. Mas nem tanto: em 1967, passeata dos 100 mil; em 1968, AI-5; prisão, exílio...

E o que Rogério Duprat teve a ver com o Tropicalismo? Gil conheceu o maestro Júlio Medaglia, que botou o grupo em contato com Duprat, que trouxe Os Mutantes. Duprat fez o arranjo de “Domingo no Parque” e encaixou os meninos na jogada. O grupo cresceu, era o início de 1968. Caetano compõe o que viria a ser “Tropicália” – nome sugerido pelo cineasta Luís Carlos Barreto, cuja letra é uma colagem de temas arcaicos e modernos –, uma representação figurada do Brasil (“Eu organizo o movimento, eu oriento o Carnaval”) – e o que faziam passou a ter nome. Coube a Nelson Motta publicar no jornal Última Hora um artigo intitulado “A Cruzada Tropicalista”, que anunciava que um grupo de músicos, cineastas e intelectuais brasileiros fundara um movimento cultural com a ambição de alcance internacional.

No movimento, “o avesso do avesso do avesso” da MPB vigente, estavam Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa, Torquato Neto, Capinam, Os Mutantes, Damiano Cozzella, Júlio Medaglia, Rogério Duprat e Rogério Duarte. A proposta era uma intervenção crítica no cenário cultural brasileiro, ressaltando os contrastes, casando o arcaico e o moderno, o nacional e o estrangeiro, as culturas de elite e de massa, cinema, rádio, teatro e televisão. Considerava que na música tudo era importante; abarcava samba, bolero, frevo, música de vanguarda, iê-iê-iê, rock internacional e “discriminalizou” o uso da guitarra. A aproximação com a poesia concreta paulista mereceu apoio crítico de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O embrião do movimento remonta a discussões entre Caetano, Gil, Bethânia, Torquato, Rogério Duarte, ainda na Bahia, sobre questões como a necessidade da universalização da música brasileira, ampliando as conquistas da bossa nova, a qual já tinha estourado lá fora. Bethânia chamou a atenção de Caetano em relação à modernidade de Roberto Carlos, que a exprimiu em músicas como “Baby” (“Ouvir aquela canção do Roberto”) e em “Tropicália” (“Não disse nada do modelo do meu terno, que tudo mais vá pro inferno, meu bem”). O Tropicalismo propunha redimensionar, abrir, rearranjar.

Aí entra o mago-arranjador Rogério Duprat. Carioca, nascido em 1932, deu seus primeiros passos na música ainda jovem, tocando “de ouvido” cavaco, violão e gaita de boca. Em 1950, começou a estudar violoncelo. Mudou-se para a São Paulo em 1955, onde participou com destaque da Orquestra Sinfônica Municipal. Foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de São Paulo. Criou o movimento de música erudita Música Nova, em 1961, que incorporava atitudes experimentais à execução das peças. Passou um ano na Alemanha, tornando-se colega de Frank Zappa, com quem assistiu às aulas do mestre Stockhausen. Já no Brasil, em 1963, foi arranjador e regente da orquestra da TV Excelsior. No ano seguinte, começou a compor trilhas para cinema, sendo premiado com os filmes Noite Vazia, Corpo Ardente e As Cariocas. Para ele, isso não bastava: dizendo-se cansado da caretice das orquestras e querendo sair desse círculo, aproximou-se da música popular, em que pôs em prática suas experimentações com o grupo tropicalista e fora dele, radicalizando a idéia de uma orquestração moderna no Brasil. Assinou arranjos ousados, pontuados de erudição e criatividade, misturando sons de tudo o que parecesse moderno e irônico. “Seus arranjos punham as canções em choque luminoso com o próprio campo convulsionado da música em mutação. Não se tratava apenas de ‘vesti-las’ com roupagens de estilo, mas de reinventar as linguagens, como um autêntico criador. Ninguém fez isso melhor do que ele”, definiu o professor e compositor José Miguel Wisnik.

Nas décadas de 1970 e 1980, Duprat montou um estúdio para produção de jingles e trilhas para cinema e televisão. Em 1987, ganhou um prêmio Kikito no Festival de Gramado, com a trilha de A Marvada Carne (recusou porque a música apareceu desfigurada), uma das quase 50 trilhas que compôs.

Mesmo sob a proteção dos deuses da música, o volume do som dos estúdios o deixou quase surdo, o que o obrigou a exilar-se num sítio em Itapecerica da Serra (SP), trabalhando com marcenaria e praticando ioga. E o mago do som passou a ser um “mestre zen”.

Porém, “seu coração balança a um samba de tamborim, emite acordes dissonantes”, em 1990 voltou à ativa, compondo arranjos para Lulu Santos e Rita Lee. Com sua morte neste outubro de 2006, devido a complicações decorrentes de um câncer na bexiga, a música a brasileira perde uma referência. E a possibilidade de ser menos careta.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado na revista Rolling Stone.


Antônio do Amaral Rocha
São Paulo, 8/1/2007
Quem leu este, também leu esse(s):
01. A Cultura do Consenso de André Forastieri
02. Fim da Web como Terra Prometida de Tiago Dória


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
22/1/2007
15h41min
É preciso fazer um resgate, na musica poular brasileira, e no âmbito da academia, da radiofonia, que, aliás, está paupérima, e nos movimentos sociais, é preciso trazer a figura de Duprat, como bandeira de uma transformação no campo da arte musical.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias]
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