50 anos de poesia concreta | Camila Diniz Ferreira

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Segunda-feira, 18/12/2006
50 anos de poesia concreta
Camila Diniz Ferreira
+ de 34800 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Em dezembro de 1956, ou seja, há exatos 50 anos, era lançada no Brasil a poesia concreta, no âmbito da Exposição Nacional de Arte Concreta realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em fevereiro de 1957, a mesma exposição foi transferida para o Rio de Janeiro e realizada, desta vez, no saguão do Ministério da Educação e Cultura. Ao lado de pintores e escultores concretos, o público via pela primeira vez uma nova forma de poesia, exposta em cartazes e chamando atenção pelo aspecto visual como as palavras eram organizadas no espaço branco. Os poetas concretos propunham a superação do verso e o uso de novos recursos expressivos conectados com o mundo contemporâneo. Iniciava-se assim o movimento concretista que influenciaria, nacional e internacionalmente, a produção poética a partir dos anos 50.

Os idealizadores do movimento concreto foram os poetas do chamado Grupo Noigandres, os paulistas Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos — responsáveis pela elaboração teórica e prática da nova poesia. Os três se reuniram em torno da revista-livro Noigandres, a partir de 1952 (foram publicados cinco números). Logo outros poetas integraram-se ao movimento, como os cariocas José Lino Grünewald, Ronaldo Azeredo e Wlademir Dias Pino e o maranhense Ferreira Gullar.

A denominação poesia concreta surgiu do encontro na Europa de Pignatari com o poeta suíço-boliviano Eugen Gomringer, então secretário do artista plástico Max Bill. Gomringer também produzia poemas visuais e permutacionais, que ele chamava de constelações. Em sintonia com Pignatari, logo em seguida o termo poesia concreta seria encampado por Gomringer e por outros poetas de várias nacionalidades: Henri Chopin, Pierre Garnier, Ian Hamilton Finlay, Vaclav Havel, Ernest Jandl, Kitasono Katue, Hansjorgen Mayer, Franz Mon, Edwin Morgan, Mary Ellen Solt, Adriano Spatola, Emmett Williams etc. O movimento se espalhou por todo o mundo, levando à exploração de recursos "verbivocovisuais" na poesia por diversos criadores.

Os concretos identificavam como precursores o Mallarmé do "Un Coup de Dés" ("Lance de Dados"), os caligramas de Apollinaire, o futurismo e o dadaísmo, o método de montagem ideogrâmica da poesia de Ezra Pound, a sintaxe visual de e. e. cummings e a prosa revolucionária de Joyce (Ulisses e Finnegans Wake) com suas palavras-montagem; no Brasil, destacavam a poesia sintética de Oswald de Andrade e a arquitetura funcional do verso de João Cabral de Melo Neto. Foram estabelecidas conexões com a música dodecafônica e serial, e com as artes plásticas de caráter abstrato-construtivo. Cinema, linguagem publicitária, televisão e quadrinhos também estavam dentro do campo de interesse dos concretos.

Juntamente com sua prática poética, os concretos teorizaram bastante, publicando diversos livros de ensaios (inclusive o volume Teoria da poesia concreta), e desenvolveram um grande projeto de tradução, incluindo poetas de diversas línguas e países, em geral, aqueles que foram decisivos para a evolução da arte poética: Mallarmé, Pound, cummings, Maiakovski e toda a poesia russa moderna etc. Recuperaram também criticamente, através de "revisões", poetas brasileiros inovadores que estavam esquecidos como Sousândrade, Pedro Kilkerry, Oswald e Pagu (Patrícia Galvão), Luís Aranha etc.

Em razão de discordâncias teóricas, Ferreira Gullar desligou-se do projeto original, criando o neoconcretismo, fundamental principalmente para a evolução das artes plásticas no Brasil, com nomes como Lígia Clark, Amilcar de Castro, Hélio Oiticica, Lígia Pape etc. Wlademir Dias Pino também seguiu uma trilha própria, enfatizando o uso de recursos não-verbais, derivando para uma posição independente que levou à criação do poema-processo.

Poetas de linguagens diferentes, mas que também entendiam a poesia como uma experiência criativa ou de vanguarda, aproximaram-se e dialogaram com o grupo concreto. Edgard Braga e Pedro Xisto, poetas mais velhos, aderiram ao movimento. Mário Faustino, mantendo sempre uma posição individual e sem abrir mão do verso, apoiou e divulgou o concretismo na sua página Poesia-Experiência, no Jornal do Brasil, reconhecendo sua importância. Em Minas Gerais, os poetas Affonso Ávila e Laís Corrêa de Araújo, sem abrir mão de um trabalho próprio e diferenciado, sempre estiveram em contato com os concretistas, dialogando com eles e mantendo uma relação de afinidade e amizade. Em 1963, Ávila coordenou a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, integrando novos poetas e críticos com os concretos paulistas, procurando estabelecer assim uma perspectiva crítica e participante para a poesia do momento. José Paulo Paes aproximou-se do movimento a partir do livro Anatomias, publicado em 1967, com uma poesia sintética que conciliava humor e crítica social. O mineiro Erthos Albino de Souza, radicado na Bahia, criou mais tarde uma "ponte" com os concretos, realizando as primeiras e pioneiras experiências poéticas utilizando o computador no Brasil — como o poema visual "Le Tombeau de Mallarmé" — e editando a revista de poesia experimental Código, em Salvador.

Poetas de gerações mais jovens também se aproximaram dos concretos. O mais conhecido deles é o paranaense Paulo Leminski que participou da Semana em BH, onde conheceu Augusto e Haroldo de Campos, e publicou seus primeiros poemas na revista Invenção — porta-voz do movimento a partir de 1962 (foram publicados cinco números). No final dos anos 1960, o movimento tropicalista na música popular (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé, Os Mutantes, Gal Costa, Rogério Duprat e outros) estabeleceu um diálogo com os concretos que resultou em discos e canções com alto teor criativo. Mais recentemente, Walter Franco e Arnaldo Antunes (este também através de poemas e livros) deram continuidade a experiências sonoro-poéticas que se referenciam ao universo da poesia concreta. Paralelamente, no âmbito da música erudita, Gilberto Mendes e Willy Corrêa de Oliveira já vinham musicando diversos poemas dos concretos.

Com o passar do tempo, os principais criadores da poesia concreta — Augusto, Décio e Haroldo — seguiram caminhos pessoais, desenvolvendo projetos individuais, mas sempre se orientando pelo experimentalismo e pela invenção: Augusto deu ênfase à visualidade, ao som e à cor nos seus poemas, utilizando os novos recursos tecnológicos possibilitados pelo computador, nos livros Despoesia e Não — também oralizou seus poemas no CD Poesia é risco (em colaboração com Cid Campos); Décio enveredou por uma prosa criativa e inquieta, com influxos semióticos, em O Rosto da Memória, Panteros e Errâncias e por processos de experimentação de novas linguagens e Haroldo acentuou sua versatilidade verbal, algo barroca, nas Galáxias e em poemas onde, muitas vezes, retoma e revivifica o verso, como em "A educação dos cinco sentidos". Segundo Pignatari, "antes da poesia concreta: versos são versos. Com a poesia concreta: versos não são versos. Depois da poesia concreta: versos são versos. Só que a dois dedos da página, do olho e do ouvido. E da história".

Para ir além
Leia também "50 anos de enganação"

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pela autora. Originalmente publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais. Escrito em co-autoria com Carlos Ávila.


Camila Diniz Ferreira
Belo Horizonte, 18/12/2006
Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sobre Sherlock Holmes de Flávio Moreira da Costa
02. Tim Maia Racional de Alexandre Matias
03. O grito eletrônico do Overmundo de Thereza Dantas
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa de Pedro Maciel


Mais Camila Diniz Ferreira
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
31/12/2006
18h10min
Toda literatura jovem é bem vinda para idealizar-se uma sociedade melhor e com educação disciplinada...
[Leia outros Comentários de Vanessa]
2/4/2010
11h37min
Engraçado você lincar tudo isso num texto tão irônico quanto este do Rogério Pereira e Paulo Polzonoff Jr. Aliás, quem são eles? O bom de ler um texto assim é que a gente percebe bem claro em que os rapazes sustentam suas opiniões (ironia). Sempre uma cobra mordendo o rabo, né? Pois não me proponho a discutir essas questões do gosto poético, mas me pergunto se tradutores tão profícuos que foram os concretos (a um incompetente é possível negar essa afirmação?) poderiam realmente ser considerados anacrônicos diante de pessoas que ainda sustentam que o verso é necessário à poesia.
[Leia outros Comentários de Marcelo]
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