A literatura de ficção morreu? | Rubem Fonseca

busca | avançada
52268 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Livro 'Autismo: Novo Guia' promete transformar a visão sobre o TEA
>>> Dose Dupla: Malize e Dora Sanches nos 90 anos do Teatro Rival Petrobras nesta quinta (3/10)
>>> Com disco de poesia, Mel Duarte realiza espetáculo na Vila Itororó neste sábado
>>> Teatro Positivo recebe o show de humor com Paulinho Mixaria
>>> Com premiação em dinheiro, Slam do Corpo realiza edição especial em SP
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
>>> Pablo Marçal por João Cezar de Castro Rocha
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Raul Gil e sua usina de cantores
>>> Filme em família
>>> O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> 7 destaques do cinema brasileiro em 2005
>>> Contos Gauchescos chega ao cinema
>>> De Sir Ney a Sai Ney
>>> Qual é o seu departamento?
>>> A Garota do Livro: uma resenha
>>> Eleições na quinta série
Mais Recentes
>>> Bíblia Em Versos João Evangelhos, Cartas e Apocalipse de Isnard Rocha pela Ébano (1989)
>>> O Patinho Feio Persistência de Paulo Moura pela Pé da Letra (2015)
>>> Coleção o Que É - Judaísmo de Edgard Leite Ferreira Neto pela Lafonte (2021)
>>> Ao Correr da Pena de José de Alencar pela Edigraf S. a
>>> Novo Testamento - Pedalando por Biblias de Varios Autores pela Sociedade Bíblica do Brasil (2002)
>>> O Meio Ambiente e a Escola Viva de Autores Diversos pela Secretária (1989)
>>> Bíblia Em Versos João Evangelhos, Cartas e Apocalipse de Isnard Rocha pela Ébano (1989)
>>> Coleção Paulo Coelho: as Valkírias de Paulo Coelho pela Gold (2002)
>>> Idéias para Construir um Mundo Melhor de Autores Diversos pela Leiturinha (2019)
>>> Eça de Queiroz: o Mandarim do Realismo Português de Francisco Maciel Silveira pela Paulistana (2010)
>>> Curso Básico de Espiritismo de Editora Aliança pela Aliança
>>> Questões da democracia e do socialismo de Diversos autores pela Marco zero (1988)
>>> Assassins Creed - a Cruzada Secreta de Oliver Bowden pela Galera (2014)
>>> Eu de Cabeça pra Baixo de Rosana Rios pela Jujuba (2021)
>>> Paradise de Ellen Sussman pela Leya Casa da Palavra (2014)
>>> Programa de Formação de Professores Alfabetizadores Modulo 3 de Autores Diversos pela Secretária (1989)
>>> Questões da democracia e do socialismo de Diversos autores pela Marco zero (1988)
>>> A Mesa do Pão de Leomar A. Brustolin - Coordenação pela Paulinas (2009)
>>> O Milagre - Só um Milagre Poderia Fazê-lo Se Apaixonar de Nicholas Sparks pela Agir (2010)
>>> As Memórias de Cleopatra o Beijo da Serpente de Margaret George pela Geração Editorial (2001)
>>> Lápis de Cor de Tatiana Bianchini pela Elementar (2012)
>>> Questões da democracia e do socialismo de Diversos autores pela Marco zero (1988)
>>> Nos Passos de Jesus de Bispo Macedo pela Universal (1997)
>>> O Demônio da Srta Prym - Coleção Paulo Coelho de Paulo Coelho pela Gold (2010)
>>> Um Grande Garoto de Nick Hornby pela Rocco (2000)
ENSAIOS

Segunda-feira, 30/7/2007
A literatura de ficção morreu?
Rubem Fonseca
+ de 15100 Acessos
+ 10 Comentário(s)


Muito antes de publicar o meu primeiro livro eu já ouvia dizer que o romance e o conto estavam mortos. Parece que a primeira morte teria sido anunciada ainda em 1880, não obstante, como todos sabem, Emily Dickinson, Tchekov, Proust, Joyce, Kafka, Maupassant, Henry James, o nosso Machado, Eça, Mallarmé, as Brontë, Fernando Pessoa (um pouco mais tarde) estivessem ativos naquela época.

No início do séc. XX, com o lançamento, por Henry Ford, do Ford Model T, um automóvel popular, construído numa linha de montagem, um carro barato que em poucos anos vendeu mais de quinze milhões de unidades, as Cassandras afirmaram que agora a literatura de ficção, na qual se incluía a poesia, estava mesmo com os dias contados. Dentro de pouco tempo todas as pessoas teriam automóvel e usariam o carro para passear, fazer compras, namorar em vez de ficarem em casa lendo. Ou porque não soubessem o que lhes reservava o futuro, ou lá porque fosse, o certo é que muitos escritores, como Yeats, Benavente, Galsworthy, Selma Lagerlof, Rilke, Kavafis, Edna St. Vincent Millay continuaram escrevendo, e talvez até mesmo tivessem um Model T na garagem deles.

Nova anunciação mortal veio logo em seguida, causada pelo cinema, denominado de Sétima Arte. Uma pesquisa da época mostrou que em cada 100 pessoas 80 freqüentavam o cinema e 2 (duas!) liam livros de ficção. Agora mesmo é que a literatura, enfim, havia morrido. Desta vez não tinha salvação. Mas Sinclair Lewis, Thomas Mann, Bunin, Céline, Ana Akhmatova, O'Neill, Pirandello, e muitos outros não sabiam disso. (Os dois últimos são autores de teatro, mas o teatro começou a morrer antes.)

Depois nova morte foi profetizada, quando do advento da televisão. Mas William Faulkner, Eliot, Gide, Hesse, Quasimodo, Pasternak, Camus, Hemingway, Beckett, Seferis, Kawabata, Mauriac, Steinbeck e muitos mais não pararam de escrever. Que diabo, esses caras não liam os jornais? Não sabiam que a literatura de ficção havia morrido?

Afinal veio o golpe de misericórdia: o computador e a Internet. Era a pá de cal. Mas o que estava acontecendo? Quem são (ou eram) esses loucos escrevendo poesia e romance – Carlos Drummond de Andrade, Czeslaw Milosz, João Cabral, Pablo Neruda, Montale, Heinrich Böll, Saul Bellow, Isaac Bashevis Singer, Octavio Paz, Brodsky, García Márquez ("se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto"), Canetti, Günter Grass, Kenzaburo Oe, Saramago, João Ubaldo, Ferreira Gullar e um montão de outros? O que na realidade está acontecendo?

Existem muitos estudos interessantes e extensos sobre o assunto, como o da ensaísta Leila Perrone-Moisés, em seu livro Altas Literaturas (Companhia das Letras, 1998). Uma coisa talvez esteja acontecendo: a literatura de ficção não acabou, o que está acabando é o leitor. Poderá vir a ocorrer este paradoxo, o leitor acaba mas não o escritor? Ou seja, a literatura de ficção e a poesia continuam existindo, mesmo que os escritores escrevam apenas para meia dúzia de gatos pingados?

Kafka escrevia para um único leitor: ele mesmo. Recordo Camões. Ele era um arruaceiro, e acabou na prisão, ou por motivos de suas rixas ou por ter se envolvido com a infanta Dona Maria, irmã do rei João III. Para obter o perdão do rei ele propôs-se a servi-lo na Índia, como soldado. Lá ficou 16 anos e, afinal, a bordo de um navio voltou para Portugal, acompanhado de uma jovem indiana, que ele amava, e a quem dedicou o lindo soneto "Alma minha gentil, que te partiste". O navio naufragou e Camões só pensou, durante o naufrágio, em uma coisa: salvar o manuscrito dos Lusíadas e dos seus poemas. Deixou a mulher amada morrer afogada (confesso que especulo), e perdeu todos os seus bens, mas salvou os seus manuscritos. Para quem ler? Estávamos no século XVI e muita pouca gente em Portugal sabia ler. Mas Camões pensou nesse punhado de leitores, era para eles que Camões escrevia, não importava quantos fossem eles.

Os leitores vão acabar? Talvez. Mas os escritores não. A síndrome de Camões vai continuar. O escritor vai resistir.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no Portal Literal, onde Rubem Fonseca hospeda o seu site.


Rubem Fonseca
Rio de Janeiro, 30/7/2007
Mais Rubem Fonseca
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
28/7/2007
08h24min
Hum. Resta saber que tipo de escritor será esse que, enquanto leitor, também não lê (lembrando que todo escritor é, também, e essencialmente, um leitor que escreve). É mais provável que haja um tipo de literatura que perdeu leitores. Mas, seguramente (tenho observado), há outro em substituição. Talvez seja necessário reciclar a palavra escrita. Abç, Paula
[Leia outros Comentários de paula mastroberti]
28/7/2007
10h38min
Excelente. Escritores sabem por que escrevem, mesmo que não saibam para quem. Fazer compras, ver TV, usar computador, ir ao cinema, namorar, nunca preencherão a alma de alguns; nem ler, nem escrever, mas estes são recursos que aliviam a angústia de quem consegue fácil ou aprendeu com esforço a criar, pensar, questionar o que está posto, determinado pelos antecessores, líderes, especialistas. Muito boa a frase do García Márquez, a criação nos faz humanos, nunca morrerá, ou morreremos. Talvez mudem as formas de fazer, inventar, inovar, mas não o ato de tentar fazer, algo pessoal, que nos aproxime dos outros ao nos diferenciar deles. Os homens (incluindo mulheres) têm necessidades que vão além da sobrevivência, da posse material, ou do lazer padronizado. Exigentes? Insatisfeitos? Desajustados? Ou apenas humanos?! São assim os escritores, as pessoas criativas, todos que tenham oportunidade de ver mais do que o permitido pelos padrões e modelos prévios de agir, de viver.
[Leia outros Comentários de Cristina Sampaio]
28/7/2007
11h25min
Num planeta habitado por pessoas que escrevem e outras que lêem, ainda que ocasionalmente - como quando caem de cama e param com sua rotina, por exemplo -, sempre haverá escritores e leitores, assim como sempre haverá mercadores de alimentação e gente para se alimentar. Portanto, a pergunta em questão, sempre refeita, já está se tornando retórica...
[Leia outros Comentários de isa fonseca]
29/7/2007
01h20min
A sub-cultura da auto-ajuda, que despreza o bom texto, vem tentando com insistência - e conivência das grandes editoras - assassinar a literatura. Acho que a morte da literatura está mais vinculada a essa sub-cultura do que à saída de moda da ficção e da poesia, uma vez que isto é consequência da primeira hipótese. E tudo está ligado à sobrevivência heróica do homo sensibilis e à proeminência medíocre do homo robotis. No dia em que a literatura de ficção morrer, a literatura em si já terá suspirado há muito tempo. E, sinceramente, não acho impossível isso acontecer. Ou seja: verdadeiros escritores, guardiãs da arte, subsistirem numa camada subterrânea da sociedade e da cultura, como os primeiros cristãos nas catacumbas...
[Leia outros Comentários de Joel Macedo]
29/7/2007
11h58min
A internet não acabou com a escrita, mas democratizou a edição. Todos nós podemos escrever e publicar o que desejamos a um custo baixo. O que acaba ocorrendo é um mar de blogs onde cada um diz o que quer da maneira que quer. Estes textos acabam vez por outra se agrupando e tomando a forma de um volume impresso. Que talvez seja lido. Quando a auto-ajuda, apontado por João Macedo como responsável pelo assassínio da literatura, não creio ser este o caso. A literatura de auto ajuda ainda assim é literatura (sem julgamento de valor, se boa ou má). Uma literatura que reflete a realidade de nosso tempo. Há escritores sem leitores, porque todos escrevem, há psicólogos sem clientes, porque todos se auto-ajudam. Lembro-me que o primeiro romance em português foi um livro de auto ajuda: "Máximas de Virtude e Formosura", de Tereza Margarida da Silva Horta. Que talvez percebendo a possivel má recepção (especulo...), mudou o nome do livro para "Aventura de Diófanes".
[Leia outros Comentários de Alvao]
30/7/2007
13h36min
A literatura de ficção não morreu. Pode ter se transformado. Se antes os períodos eram longos, agora são curtos. E por aí vai... Cada época deixa sua marca. Assim sempre vai haver essas afirmçaões, quando algo de novo acontecer. Preconizar a morte do velho, quando aparece o novo, é uma característica do ser humano?
[Leia outros Comentários de Anna]
31/7/2007
11h55min
Senhores. Vão às escolas... Quando preconizam a morte da literatura, há sem dúvida o germe da velhice lhes impregnando os ossos. Velhice, sim! Não falo do respeitoso olor da experiência, falo de inadequação! Quando recomendo que vão às escolas, não lhes impreco qualquer ofensa. Aconselho-os a ver que os jovens, sim, lêem! Muito mais escolas agora há, que possuem bibliotecas aqui no nosso país. Sabiam que existem até bibliotecários (em muitas) contratados para tocar a livrarada? Escolas públicas com bibliotecários? SIM! Podem não ter dentistas, mas bibliotecários e livros, têm (falo de São Paulo. Perdoem a generalização). No final de semana passado, vi minha sobrinha de doze com um livro gigantesco que havia ganho de véspera. O último Harry Potter (em inglês). Enorme! Conto nos dedos de uma mão o número de livros desse tamanho que eu mesmo já tenha lido (todos em português!). Se ela (e todos os da lista de Veja) agora lê um livro de fantasia desse tamanho, é natural ser otimista.
[Leia outros Comentários de Albarus Andreos]
31/7/2007
16h21min
A literatura, seja a de ficção, de não-ficção ou o terceiro sexo da "auto-ajuda", nunca irá acabar. Porque sempre haverá leitores, mesmo que estes estejam cada vez mais emburrecidos, por passarem mais tempo em frente aos jogos de computador do que em frente a um livro.
[Leia outros Comentários de Félix Maier]
3/8/2007
01h34min
Geralmente escritores são leitores ávidos e transbordam as influências das textualidades apreciadas; e se alguns não têm apetite para a literatura, outros a devoram obsessivamente. Literatura é, do meu ponto de vista, feita essencialmente pelo leitor, que dá vida e valor ao texto lido. A reverência emblemática dada ao livro só tem sentido quando o teor do seu conteúdo eleva a sua condição de objeto. A morte da literatura, como vaticinam as cassandras da vez, é sobretudo a morte da expressão e da liguagem, e quem pode prever até este ponto? Desconfio que tal juízo venha de uma disciplina cultural de jornadas retas e leituras corretas, mas esta prática é singular e delicada, cheia de voltas e reviravoltas, que deixa(m) tontos leigos e sábios; e as leis que a regem, se é que a regem, são hermeticas para juízos tolos. Literatura é a vida registrada em circunstâncias e palpitações, carregada de uma grandeza sensível que exalta o anti-herói; o que resta é o gramático, técnico na aridez sintática...
[Leia outros Comentários de Carlos E. F. Oliveir]
13/9/2007
17h14min
Para mim, a ficção vem em primeiro lugar quando se fala de literatura. O gênero pode possuir um enredo complexo e personagens marcantes e ainda mostrar um mundo onde possamos viajar. Gosto disso.
[Leia outros Comentários de Luiz Fernando]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Literatura Brasileira A Relíquia Coleção Ler é Aprender 7
Eça de Queirós
Klick



Uncover 3 students book
Ben Goldstein
Cambridge
(2015)



Clara dos Anjos e Outras Histórias
Lima Barreto
Folha
(1997)



Cochichos e Sussurros
Edson Gabriel Garcia
Atual Editora
(1992)



41º Festival Sesc Melhores Filmes
Sesc
Sesc
(2015)



O Homem e a Sociedade: uma Introdução á Sociologia
M. B. L. Della Torre
Nacional
(1986)



O Anjo Caído
Thomás Aragutti
Literata
(2012)



Pmp Exam Prep, Fifth Edition
Rita Mulcahy
Rmc Publications, Inc.
(2005)



O que é educação 491
Carlos Rodrigues Brandão
Brasiliense
(1994)



Palmirinha - Delícias da Vovó
Varios
Alaude
(2016)





busca | avançada
52268 visitas/dia
1,7 milhão/mês