The Murdoch Street Journal | Sérgio Augusto

busca | avançada
52268 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Livro 'Autismo: Novo Guia' promete transformar a visão sobre o TEA
>>> Dose Dupla: Malize e Dora Sanches nos 90 anos do Teatro Rival Petrobras nesta quinta (3/10)
>>> Com disco de poesia, Mel Duarte realiza espetáculo na Vila Itororó neste sábado
>>> Teatro Positivo recebe o show de humor com Paulinho Mixaria
>>> Com premiação em dinheiro, Slam do Corpo realiza edição especial em SP
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
>>> Pablo Marçal por João Cezar de Castro Rocha
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Raul Gil e sua usina de cantores
>>> Filme em família
>>> O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> 7 destaques do cinema brasileiro em 2005
>>> Contos Gauchescos chega ao cinema
>>> De Sir Ney a Sai Ney
>>> Qual é o seu departamento?
>>> A Garota do Livro: uma resenha
>>> Eleições na quinta série
Mais Recentes
>>> The Dolphin And The Crown - 2a de Ron Holt pela Macmillan (1994)
>>> Das Infinidades de Eloisa Elena pela Do Autor (2003)
>>> Como Eles Se Conheceram de Joey Green pela Panda Books (1989)
>>> Ciências - Química e Física - 9ª Ano de Armênio Uzunian e Outros pela Harbra (2016)
>>> Os Simbolos da Ciencia Sagrada de Rene Guenon pela Pensamento (1984)
>>> Eu Sou Maria de Sonia Rodrigues pela Formato (2012)
>>> Comunicação e Isolamento na Adolescência de Carla Maria Lima Braga pela Zagodoni (2012)
>>> Unlock - Listening e Speaking Skills 3 de Sabina Ostrowska pela Cambridge (2014)
>>> O Homem a Procura de Si Mesmo de Rollo May pela Vozes (1976)
>>> O Francês de Daniel de Carvalho pela Pandorga (2015)
>>> Español - Esencial 4 de Daiene P. S. de Melo pela Moderna (2013)
>>> O Livro dos Milagres de Kenneth L Woodward pela Mandarim (2000)
>>> O Médico Mágico de Angela Leite de Souza pela Ftd (1989)
>>> O Processo de Kafka pela Circulo do Livro (2021)
>>> A Vida Secreta de Jonas de Luiz Galdino pela Ática (1989)
>>> Cambridge Key English Test 1 de Cambridge pela Cambridge (2003)
>>> O Desenvolvimento Psicomotor do Nascimento na Idade Pré Escolar de Le Boulch pela Artes Médicas (1984)
>>> Didática de História-o Tempo Vivido-uma Outra História? de João Carlos Martins e Ana Lucia Lana Nemi pela Ftd (1996)
>>> Jaguaretê a Onça-pintada de Rosana Rios pela Scipione (1996)
>>> História - Sociedade e Cidadania - 7ª Ano de Alfredo Boulos Júnior pela Ftd (2018)
>>> Capitães de Areia de Jorge Amado pela Record (1912)
>>> Cambridge Key English Test 3 de Cambridge Esol pela Cambridge University Press (2003)
>>> Frank Einstein e o Motor Antimatéria de Jon Scieszka pela Intrinseca (2015)
>>> Didática de História-o Tempo Vivido-uma Outra História? de João Carlos Martins e Ana Lucia Lana Nemi pela Ftd (1996)
>>> A Estrada da Reserva de John Burnham Schwartz pela Objetiva (2001)
ENSAIOS

Segunda-feira, 27/8/2007
The Murdoch Street Journal
Sérgio Augusto
+ de 5600 Acessos

A novela finalmente chegou ao fim. Com o desfecho previsto: Rupert Murdoch dobrou as últimas resistências da família Bancroft, e sua News Corporation comprou a Dow Jones Corporation, proprietária do diário The Wall Street Journal. Valor da transação: US$ 5 bilhões (ou US$ 60,00 por ação).

As ações da Dow Jones valiam em torno de US$ 36,00 quando, em 1º de maio, a CNBC noticiou o interesse de Murdoch em arrematá-las. De imediato, subiram para US$ 56,00. Mas teriam caído com a mesma rapidez se Murdoch desistisse do negócio e nenhum outro interessado se apresentasse. O investidor Warren Buffett, a General Electric e poucos outros ameaçaram entrar no leilão, mas desistiram ao avaliar melhor a obstinação e o poder de fogo do magnata australiano.

Para Murdoch foi mais um negócio da China. Com circulação diária de mais de 2 milhões de exemplares, o WSJ é o segundo jornal mais lido dos EUA (o primeiro é o mcpaper USA Today) e o mais respeitado no que diz respeito à cobertura de assuntos econômicos (suas reportagens sobre show business são mais abrangentes que as do Variety e quejandos).

Para o jornalismo, foi um desastre, similar à eventual compra de qualquer um dos três maiores jornais do Brasil pelo bispo Macedo.

Para os Bancroft, bem, a família é enorme, vive espalhada entre Roma e o Havaí, e, naturalmente, dividiu-se. Uns foram contra a venda de cara. “Qualquer um, menos Murdoch!”, estrilou Elizabeth Steele, inflamada integrante do board da Dow, daquelas para quem o jornalismo é (ou deveria ser), em primeiro lugar, pentecostalista, e, só depois, lucrativo. Ou seja, acima de tudo, fiel a determinados princípios éticos e a um padrão de excelência profissional.

Os Bancroft poderiam ter oferecido conteúdo e parceria ao canal de negócios, Fox Business Channel, que Murdoch pretende inaugurar em outubro. Mas, em vez de vender só o leite, negociaram a vaca. De resto, sagrada. Desde 1902 que a família tocava, de forma invisível, o WSJ, procurando mantê-lo irrestritamente atrelado aos ideais do capitalismo, mas sem filiação partidária ostensiva (o último candidato a presidente endossado pelo jornal foi o republicano Herbert Hoover, em 1928).

Seus editoriais e colunistas podem ser irritantemente conservadores, mas a redação sempre trabalhou com espantosa liberdade e frutuosa competência, tradição imposta pelo legendário editor Barney Kilgore, que lá deu as cartas nas décadas de 40, 50 e 60. Muitas das denúncias contra ações fraudulentas no mercado de capitais, nos anos 80 e 90, que renderam ao WSJ vários prêmios Pulitzer, talvez não chegassem ao conhecimento dos leitores se o jornal já estivesse sob a tutela de Murdoch; se já fosse, enfim, The Murdoch Street Journal.

Murdoch é um misto de polvo e trator. Só na Austrália controla mais de 60% da imprensa, é dono da mais poderosa operadora de TV a cabo, de metade da Qantas (a maior empresa aérea do país) e de toda a liga de rugby. Também fez uma limpa no mercado internacional. Além de 93% da Star TV e 100% da HarperCollins, a News Corp possui mais de uma centena de revistas e jornais, a Fox TV, os estúdios de cinema da Fox e interesses em empreendimentos televisivos de cinco continentes. Seu império jornalístico já contava com 175 jornais antes da compra do WSJ. Nele, o sol nunca se põe – e há sempre, ao fundo, um televisor ligado (também é dele o programa mais visto no mundo, The American Idol) e um computador acessando o MySpace. Compará-lo a Charles Foster Kane é abusar do eufemismo.

Seu maior defeito não é ser de direita, é não ter escrúpulos e só pensar em acumular poder. Deram-lhe um apelido perfeito: “Aussie vulgarian”. Os australianos não primam pela sofisticação, mas Murdoch abusa do direito de cultuar e disseminar a vulgaridade, o sensacionalismo, o nivelamento por baixo. Ted Turner, dono da CNN, principal concorrente da Fox News, já o comparou a Hitler. Bruce Page, ex-editor do britânico Sunday Times, comprado e encolhido por Murdoch, preferiu compará-lo a Falstaff – uma injustiça com o boêmio e glutão personagem shakespeariano.

Murdoch não tem o menor constrangimento de usar suas publicações e emissoras de TV para seduzir políticos e alterar legislações criadas para evitar concentração de poder, monopólios e outros malefícios à democratização da mídia. Perseguiu o senador Edward Kennedy por sua vigilância às regras da Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês), que contrariavam os interesses da Fox Corp. A Fox News (vulgo “Faux News”) é linha-auxiliar confessa do governo Bush, promiscuidade que o comentarista do New York Times, Paul Krugman, caracterizou, muito polidamente, como “conflito de interesses”.

Suas ligações com os republicanos transcendem o campo das idéias. E do decoro. Ele ofereceu US$ 4,5 milhões de adiantamento por um livro ao então bambambã do Congresso americano, Newt Gingrich, não porque farejasse um best-seller, mas porque necessitava de sua ajuda para abrir brechas na legislação da FCC. Até o beneficiado assustou-se com a proposta.

Apesar de ferrenho anticomunista, não economiza agrados ao governo chinês. Não quer perder o fabuloso mercado que de certa forma já controla com a sua TV por satélite, a StarTV, sediada em Hong Kong desde 1993. Quatro anos atrás, tirou a BBC do cardápio da TV por assinatura BSkyB porque os manda-chuvas de Pequim não gostavam da maneira crítica como a emissora britânica cobria a China. Em seguida, não apenas suspendeu a publicação das memórias do último mandatário britânico em Hong Kong, Chris Patten, que sairiam pela HarperCollins, conglomerado editorial formado por Murdoch em 1989, como ofereceu US$ 1 milhão à filha de Deng Xiaoping para que escrevesse a biografia do pai, recebida como um monumento ao clichê, à propaganda e à pieguice.

O que mais se temia – a interferência de Murdoch na linha editorial do WSJ – pode até demorar, em função, sobretudo, das ameaças de cancelamentos de assinaturas que se avolumaram desde o início das negociações, mas na certa ocorrerá. Ele prometeu aos Bancroft e demais membros da cúpula da Dow Jones que respeitaria a liberdade editorial do jornal. Fez o mesmo com a família Carr, por ele usada para comprar The News of the World, sua ponta-de-lança na Inglaterra. Também assegurou a Dorothy Schiff que não mexeria na postura liberal do New York Post, que dela comprou em 1976, e o que se viu foi uma guinada repentina do jornal para a direita. Ao empalmar o londrino Sunday Times, reprisou as juras de sempre, para, na primeira oportunidade, demitir o editor Harold Evans, e pôr o jornal a serviço de Margaret Thatcher – e dos interesses da News Corp, claro.

A única publicação em cuja linha editorial Murdoch, sabiamente, não interferiu foi o semanário alternativo The Village Voice, por ele tonificado financeiramente em 1977, a pedido de Clay Felker, que também editava as revistas New West e New York, ambas beneficiadas pelo australiano. Na primeira oportunidade, passou a perna em Felker. Tem tudo para abafar no Brasil.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado na edição do dia 5 de agosto de 2007 no "Aliás", do Estadão.


Sérgio Augusto
Rio de Janeiro, 27/8/2007
Mais Sérgio Augusto
Mais Acessados de Sérgio Augusto
01. Para tudo existe uma palavra - 23/2/2004
02. O melhor presente que a Áustria nos deu - 23/9/2002
03. O frenesi do furo - 22/4/2002
04. Achtung! A luta continua - 15/12/2003
05. Filmes de saiote - 28/6/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




The Last Asylum A Memoir Of Madness In Our Times
Barbara Taylor
Hamish Hamilton
(2014)



Partials
Dan Wells
Id
(2012)



Conhecimento Moderno - Sobre Ética e Intervenção do Conhecimento
Pedro Demo
Vozes
(1997)



A Política Social Do Estado Capitalista
Vicente De Paula Faleiros
Cortez
(2009)



É isto um homem?
Primo Levi
Rocco
(2002)



English Tenses
Ken Singleton
SBs Publishing
(2004)



A Madona de Cedro
Antonio Callado
Nova Fronteira
(1998)



História do Mundo para as Crianças
Monteiro Lobato; Fernando Arcon
Globo
(2015)



Rosies Walk
Pat Hutchins
Arrow
(1998)



Obras escolhidas- Volume 2
Marx e Engels
Vitória





busca | avançada
52268 visitas/dia
1,7 milhão/mês