Carne Viva e Paulo Francis | Michel Laub

busca | avançada
85352 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Lenna Baheule ministra atividades gratuitas no Sesc Bom Retiro
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, estreia no Sesc Consolação
>>> “Itália Brutalista: a arte do concreto”
>>> “Diversos Cervantes 2025”
>>> Francisco Morato ganha livro inédito com contos inspirados na cidade
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Se falam em autor novo, saco logo a minha pistola
>>> A república dos bugres
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> FLIP X FLAP
>>> Viciados em Internet?
>>> Um plano
>>> 29ª Bienal de São Paulo: a politica da arte
>>> Música Popular, não
>>> Cinema de Poesia
Mais Recentes
>>> Estudar Historia: Das Origens do Homem á Era Digital - 7ºAno de Patrícia Ramos Braick e Anna Barreto pela Moderna (2018)
>>> Física: Conceito e Contextos - 2ºAno do Ensino Médio de Maurício Pietrocola e Outros pela Editora Do Brasil (2016)
>>> Gravity Falls: Journal 3 de Alex Hirsch pela Disney Press (2016)
>>> Dinossauros Vivos - Perigo! Este Livro Pode Morder! de Robert Mash pela Ciranda Cultural (2010)
>>> Escalas de representação em arquitetura de Edite Calote Carranza; outros pela G & C arquitectônica (2025)
>>> Coisas De Índio. Versão Infantil de Daniel Munduruku pela Callis (2020)
>>> Manual Pirelli de instalações elétricas de Pini pela Pini (2003)
>>> Piadas Para Rachar O Bico. Proibido Para Adultos - Volume 1 de Gabriel Barazal pela Fundamento (2011)
>>> O Ultimo Cavaleiro Andante de Will Eisner pela Companhia Das Letras (1999)
>>> Manual De Projeto De Edificações de Manoel Henrique Campos Botelho; outros pela Pini (2009)
>>> Introdução À Ergonomia: Da Prática A Teoria de Abrahão Sznelwar pela Edgard Blucher (2014)
>>> Concreto Armado: Eu Te Amo Para Arquitetos de Manoel Henrique Campos Botelho pela Edgard Blucher (2016)
>>> Instalacoes Eletricas E O Projeto De Arquitetura de Roberto De Carvalho Júnior pela Edgard Blucher (2016)
>>> O Edifício Até Sua Cobertura de Hélio Alves de Azeredo pela Edgard Blucher (2015)
>>> Um Garoto Consumista na Roça (2º edição - 13º impressão) de Júlio Emílio Braz pela Scipione (2018)
>>> O Misterioso Baú Do Vovô (com suplemento de leitura) de Marcia Kupstas pela Ftd (2001)
>>> Febre de Robin Cook pela Record (1999)
>>> Um Estudo Em Vermelho de Sir Arthur Conan Doyle pela Ftd (1998)
>>> Feliz Por Nada de Martha Medeiros pela L&pm (2016)
>>> O Demônio E A Srta. Prym de Paulo Coelho pela Objetiva (2001)
>>> Olga e o grito da floresta de Laure monloubou pela Leiturinha (2024)
>>> Desperte O Milionário Que Há Em Você de Carlos Wizard Martins pela Gente (2012)
>>> Tequila Vermelha de Rick Riordan pela Record (2011)
>>> Histórias Que cocam O Coração de Guilherme Victor M. Cordeiro pela Dpl (2006)
>>> Imperfeitos- Edição Comemorativa Capa Amarela de Christina Lauren pela Faro Editorial (2023)
ENSAIOS

Segunda-feira, 5/5/2008
Carne Viva e Paulo Francis
Michel Laub
+ de 8600 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Não lembro quem disse que para escrever um romance é preciso ser um pouco burro. É uma boa frase, para além de seus efeitos publicitários: construir personagens e dramas que tenham o mínimo de vida demanda, antes de mais nada, não ter vergonha de deixá-los entregues ao ridículo que, em maior ou menor grau, está presente em qualquer trajetória humana. Se o autor fica o tempo todo mostrando que não faz parte desse ridículo, ou seja, que não é capaz de rir, chorar ou se maravilhar com os encantos mesquinhos e corruptos da vida, a tendência é que o leitor, também ele uma alma corrupta e mesquinha, não se identifique com nada do que encontra nessas histórias.

Isso é verdade na maioria dos casos, mas não em todos. Não dá para dissociar o romance satírico, por exemplo, do bem-vindo sentimento de superioridade de quem o escreve. Ou o romance de idéias, que abdica da narrativa e da empatia em favor de teses postas na boca dos personagens, de um tipo de prazer estético muito mais ligado à inteligência do que às emoções.

Tudo isso para dizer que o fracasso do só agora publicado Carne Viva (Francis, 2008, 264 págs.), de Paulo Francis, não se deve apenas à sensação de artificialidade da trama, que parece engendrada tão-somente para veicular as opiniões de seu autor sobre o Brasil, o mundo, o homem, os tempos. Embora seja um defeito bastante incômodo, que faz com que alguns diálogos soem constrangedores em seu esquematismo e inadequação, o problema maior são as idéias mesmo.

Daria para falar de várias delas. A visão dos conflitos de classe na sociedade brasileira, por exemplo, é ruim menos por motivos ideológicos ― e seria ridículo fazer uma análise do livro a partir desse parâmetro ― do que por soar anacrônica, afetada, como uma conversa entre homens de terno, em pleno calor, num Country Club decadente de um Rio que não existe mais. Também surpreende que as relações entre homens e mulheres sejam descritas por Francis, sabidamente um sujeito do mundo, cujo charme pessoal sempre transpareceu em seus inesquecíveis comentários, críticas, ensaios e memórias, de forma tão reducionista, quase ingênua.

Mas o que incomoda mesmo em Carne Viva, algo presente nas entrelinhas da parte mais importante do livro, os discursos diretos e indiretos dos personagens masculinos, é a idéia de que o mundo caminha para a barbárie ― política, moral, de costumes. No que se refere à cultura, o fenômeno se manifestaria pela dissolução dos parâmetros, pelo fim dos debates inteligentes, pela tragédia que é a estética de massas.

É um argumento um pouco cansativo, não só por sua reiterada popularidade num tipo de crônica que, por algum motivo insondável, parece ser o preferido do público brasileiro há coisa de 50 anos, mas também por estar errado em seu prognóstico: dez anos depois da morte de Paulo Francis, nunca se teve tanto acesso a produtos culturais, nunca os artistas tiveram tanta facilidade de publicar, gravar um disco, fazer seus filmes, nunca o público pareceu tão interessado em se manifestar a respeito de tudo isso. Como em qualquer tempo, as obras de qualidade superior são raras, mas existem. E se os debates na Internet na maioria das vezes são estúpidos, é porque a humanidade sempre foi em sua maioria estúpida. Nenhuma mudança de grau no processo. Pelo contrário: a prática de se expressar por escrito e ouvir o contraditório, se pensarmos com um pouco de otimismo, quem sabe até melhore o nível geral da audiência com o tempo.

De certa maneira, a queixa de Francis era um lamento pessoal pela perda do próprio poder. Não estou dizendo nada de novo: com o Google, por exemplo, muito do charme de textos que se apóiam apenas em informações horizontais, abdicando de qualquer densidade analítica, foi por água abaixo. Da mesma forma, a influência que uma crítica publicada num grande jornal, anteriormente um dos três ou quatro julgamentos que o leitor iria conhecer sobre um romance, disco ou filme, hoje se dilui entre centenas de fontes igualmente lidas e comentadas. Para quem construiu a carreira como intelectual público, o humanista que incorporava o filtro pelo qual passava tudo o que fosse relevante na cultura, ajudando a criar no público e em si mesmo a ilusão de que era possível apreender a súmula de algo tão grandioso e fragmentado, não devia ser confortável viver com a perspectiva dos novos tempos ― já visíveis nos anos 1990, quando Carne Viva foi escrito.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no seu blog michellaub.wordpress.com.


Michel Laub
São Paulo, 5/5/2008
Quem leu este, também leu esse(s):
01. O momento Rafinha de todos nós de Michel Lent
02. Um gourmet apaixonado por Paris de Sérgio Augusto
03. 2003: No fio da navalha de Ana Maria Bahiana


Mais Michel Laub
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
5/5/2008
14h19min
Não sei se concordo, ainda não li o livro, apenas trechos. Me deu a impressão nítida de um romance ainda em fase de construção, idéias anotadas, story board literário, uma coisa desse tipo. Se for isso mesmo, essa crítica parece justa. Mas a tese do advento da barbárie já foi defendida pelo Francis, e com brilho, antes desse romance. É uma tese recorrente, sim, mas, nas mãos do Francis, não é totalmente descartável. Esse Carne Viva pode ser apenas um embrião de romance, ao contrário dos outros dois, não sei. É uma coisa pra se verificar. De qualquer forma, no caso específico do Francis e da crítica negativa e generalizada aos seus dois outros romances, pode-se inverter a frase que abre esse texto e dizer que, para se ler um romance, é preciso ser um pouco menos burro. Quanto ao medo da perda do próprio poder, é provável que Francis o sentisse, mas isso é um problema mais de jornalistas do que de escritores. E Francis gostaria de ser lembrado como escritor, se possível...
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Vida Nossa Vida
Francisco Cândido Xavier
Geem
(2010)



A Dinâmica Da Ação Educativa
Pierre Vayer e Jean Destrooper
Piaget
(1976)



A Terceira Guerra Mundial Agosto de 1985
General Sir John Hackett
Biblioteca do Exercito
(1980)



A Câmera do Sumiço 439
Laura Bergallo
DcL
(2007)



Balainha
Betânia Fidalgo Arroyo
Anzol
(2021)



Intencionais - 365 Ideias Para Virar O Mundo De Cabeça Para Baixo
Beatriz Hummel ; Vinicius Condo ; Julia Bomfim ; Stela Kruger ; Lissa Subirá ; Felipe Silveira
Vida
(2011)



L'Ancienne Corinthe: Le Site Et Le Musée - Petit Guide: Archéologique Illustré (Livro Em Francês)
Pétros G. Thémélis
Hannibal
(2004)



A Capacidade Contributiva Sob o Enfoque do Capitalismo Humanista
Terezinha de Oliveira Domingos
Lumen Juris
(2015)



Destros e Canhotos
José Quadros Franca
Melhoramentos
(1969)



Livro Literatura Estrangeira Gossip Girl Eu Mereço! Volume 4
Cecily Von Ziegesar
Galera Record
(2008)





busca | avançada
85352 visitas/dia
1,7 milhão/mês