Henry Ford | Monteiro Lobato

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Segunda-feira, 1/3/2010
Henry Ford
Monteiro Lobato
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Quando no futuro um outro Carlyle reescrever Os heróis, ao lado de Moisés, de Cromwell, de Odin, figurará Henry Ford - o herói do trabalho. Porque se há no mundo um herói do trabalho, um revelador de possibilidades do trabalho como remédio de todos os males que o não trabalho, que o mau trabalho, que a iníqua organização do trabalho criou, é Henry Ford. Grande homem ao tipo do herói carlyliano, não vale dizer o cabide de glórias que no momento se lantejoula de todos os galões da fama (em regra L'âne portant les reliques, de La Fontaine) - mas o que realiza ou lança a boa semente das benéficas transformações sociais. Um é Luís XIV, o grande; mas outro é Gutenberg, o imenso.

E quem no mundo moderno, mais que Henry Ford, está fecundando o progresso humano com o pólen que fará o nosso amanhã melhor que o nosso hoje e nosso ontem?

O valor de Henry Ford não reside em ser o homem mais rico de todos os tempos; isso não faria dele apenas um saco mais pesado que outros sacos cheios; seu valor reside em ser ele a mais lúcida e penetrante inteligência moderna a serviço da mais nobre das causas - a supressão da miséria humana.

Até aqui os solutores dos problemas sociais não passaram de idealistas utópicos, ao molde de Rousseau ou Marx, dos que imaginam soluções teóricas, belas demais para serem exequíveis. Ford não imagina soluções. Dedu-las. Admite o homem como é, aceita o mundo como está, experimenta e deixa que os fatos tragam a solução rigorosamente lógica, natural e humana. É o idealista orgânico. Suas ideias não vêm a priori, filhas da exaltação mental ou sentimental. Apenas refletem respostas às consultas feitas aos fatos. Daí o valor imenso das suas ideias, a repercussão que começam a ter e a influência profunda que necessariamente exercerão na futura ordem das coisas.

Vale, pois, Henry Ford, não como o maior saco de ouro que já existiu, sim como a mais alta expressão de lucidez moderna.

Henry Ford nasceu em 1863 em Deaborn, no Michigan, filho de modestos fazendeiros.

Nasceu mecânico e jamais trocou o estudo direto das coisas pelo estudo falaz dos livros. Educou-se a si mesmo e vem disso grande parte da sua vitória. Quem entope a mioleira com a vida morta dos livros é inábil para bem compreender a vida viva das coisas humanas. Olhava com seus olhos, pensava com seu cérebro, fazia com suas mãos.

Muito menino ainda, o seu espírito chocou-se com o atraso dos métodos agrícolas, a rotina imemorial de tudo fazer à força de músculos, humano ou bovino. E concebeu a ideia de transportar para a resistência do aço a dura tarefa que pesava sobre a carne.

Este pensamento o preocupou sempre, mas antes de desenvolvê-lo fez um desvio imposto pelas circunstâncias. Guardou no íntimo do cérebro a ideia da máquina que viria libertar a agricultura das algemas da rotina e entregou-se de corpo e alma à indústria intercorrente do veículo de turismo em condições de universalizar-se.

Anos e anos gastou no trabalho de criar o tipo que correspondesse à sua ideia, até que um dia o teve como sonhara. Só, então, criado o produto a fabricar, cuidou da fabricação.

Em 1896 organiza em bases modestíssimas a sua empresa, onde apenas entrou em dinheiro a soma de 28 mil dólares. Ford dá a ela uma diretriz toda sua, produto da observação do mundo e jamais cópia do que via fazer em redor de si.

Foi tido como um louco e olhado de cima pelos magnatas do momento. Mas Ford absorveu-se de tal modo e com tamanha inteligência na sua realização que as posições se inverteram e, vinte e poucos anos depois, era ele quem olhava do alto para os magnatas e severamente lançava a sua condenação aos processos monstruosos que os fizeram tais.

Ford criara a maior indústria do mundo. Sua produção cresceu e cresceu numa vertigem. Atualmente transforma matéria-prima em utilidades no valor de 12 milhões de contos anuais, produzindo mais de sete mil carros por dia de oito horas. Quer isso dizer que, com os cinquenta mil operários submetidos à sua genial direção, Ford produz mais... que o Brasil. O Brasil com os seus trinta milhões de habitantes não alcança extrair da terra ou manipular matéria-prima no valor nem da metade de 12 milhões de contos...

Muita honra faria a Henry Ford o simples fato de haver criado um negócio de monstruosas proporções, mas seu valor restringir-se-ia ao de um Creso moderno se ficasse nisso. Ford vai muito além. Traça riscos de uma futura ordem de coisas mais eficiente e justa que a atual. Fazendo donativos? Criando escolas, bibliotecas, hospitais? Não. Ensinando a trabalhar, provando que o trabalho é o supremo bem e demonstrando a altíssima significação da palavra indústria.

Indústria não é, como se pensava, um meio empírico de ganhar dinheiro; é o meio científico de transformar os bens naturais da terra em utilidade de proveito geral, com proveito geral. O fim não é o dinheiro, é o bem comum, e o meio prático de o conseguir reside no aperfeiçoamento constante dos processos de trabalho conduzido de par com uma rigorosa distribuição de lucros a todos os sócios de cada empresa. São três esses sócios, o consumidor, e receberá ele a sua quota de lucros sob a forma de produtos cada vez melhores e cada vez mais baratos; o operário, e receberá ele a sua parte sob a forma de salários cada vez mais altos; o dono, e receberá ele um equitativo dividendo.

Esta concepção, realizada com resultados surpreendentes em sua indústria, rompe com todas as praxes e põe a nu o vício que inquina os fundamentos da indústria moderna: associação de três onde um só, o dono, recebe, além do lucro que lhe cabe, as partes que cabem ao operário e ao consumidor.

Posta nas bases de Henry Ford, a indústria deixa de ser o Moloch devorador de milhões de criaturas em benefício dum núcleo de nababos e transforma-se em cornucópia inextinguível de bens. Extingue-se o sinistro antagonismo entre o capital e o trabalho, que ameaça subverter o mundo. Reajusta-se a produção ao consumo e, graças à distribuição equitativa, desaparece o monstruoso cancro da miséria humana.

É possível que a "questão social" não se solucione já com as ideias de Henry Ford: o homem é estúpido e cego. É possível que o comunismo, solução teórica, faça no mundo inteiro a experiência que iniciou na Rússia. Isto apenas retardará a única solução certa, visto como única baseada nas realidades inexpugnáveis - a de Henry Ford.

Homem de boa-fé não há nenhum que, lendo My life and work, o grande livro de Henry Ford, não sinta que está ali a palavra messiânica do futuro. É a palavra do Bom-Senso, é a palavra da Razão, é a palavra da Inteligência que não borboleteia, mas penetra no fundo das coisas como a broca de aço penetra no granito. Nele Ford enfeixou num só foco de luz todas as profundas conclusões do seu estudo das realidades. Essa luz, clara como a do sol, tonifica e desfaz a treva. A miséria humana é apenas uma consequência da treva.

Para o Brasil não há leitura nem estudo mais fecundo que o livro de Henry Ford. Tudo está por fazer - e que lucro imenso se começarmos a fazer com base na lição do portador da nova Boa-Nova!

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pela editora Globo. Originalmente publicado em 1925, é parte integrante do livro Conferências, artigos e crônicas (Globo, 2010, 248 págs.).

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Taubaté, 1/3/2010
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