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Segunda-feira, 14/10/2013
Um Coração Simples, de Flaubert, por Milton Hatoum
Julio Daio Borges
+ de 15900 Acessos




Digestivo nº 495 >>> Em meados da década de 2000, Milton Hatoum deu um curso na Casa do Saber. Estava às vésperas de lançar Cinzas do Norte (2005), e Dois Irmãos (2000) era objeto de culto só de alguns críticos, como Daniel Piza. Naquele curso, Milton Hatoum mencionou suas traduções de Faulkner e de Flaubert. Era um momento em que a Cosac Naify, pujante na fase desbragada de Augusto Massi, incentivava tradutores, pagando-lhes verdadeiros direitos autorais, em edições luxuosas, de capa dura. Foi na coleção "Prosa do Mundo" que saiu Três Contos, de Gustave Flaubert, uma parceria de organização (e tradução) entre Milton Hatoum e Samuel Titan Jr., então uma estrela ascendente na Flip e na mesma Casa do Saber. Os anos se passaram, e Milton Hatoum tinha razão: o conto "Um Coração Simples", sobre a vida da criada Félicité, é primoroso. Se mais contistas brasileiros o lessem, nos poupariam de seus próprios volumes de contos. Flaubert, como todo mundo sabe, é um estilista como poucos. Se Nabokov escreveu seus contos como um poeta (que também foi) ― e pode ser colocado ao lado de Tchekhov e Hemingway, como mestre da forma ―, Flaubert não transborda em poesia, mas aplica a precisão que a história exige, construindo-a como uma pequena obra-prima. Se Nabokov nos impressiona com seu poder verbal, Flaubert não nos impressiona: deixa que a história nos impressione sozinha. Se tecnicamente, o domínio é absoluto, estruturalmente, a composição não fica atrás. Na história da literatura, não são muitas as personagens esculpidas com a perfeição da Félicité de "Um Coração Simples". Subvertendo a expectativa de quem esperava uma heroína, uma mártir ou alguém "nobre", Flaubert nos brinda com uma criada. Hoje, uma empregada doméstica? Uma daquelas figuras-chave em qualquer família, que, além das tarefas domésticas, faz as vezes de mãe, de tia, às vezes de avó, emprestando seu amor materno (mesmo sem filhos), transformando uma casa num "lar", funcionando como braço-direito da dona, ajudando, enfim, na sustencação social, e psicológica, daquele núcleo que é simplesmente a base de qualquer sociedade. A beleza de Félicité, justamente, reside no fato de que ela ignora a complexidade do mundo, não compreende as sutilezas da convivência humana, tem origem humilde, não é estudada, mas age brilhantemente "por instinto", responde às demandas com galhardia e, no seu despojamento natural, cativa. É impossível terminar a história sem se deixar conquistar por esse "coração simples" (ou "singelo", na tradução de Fernando Sabino). Flaubert concentra a participação de Félicité na vida da família da senhora Aubain, mas acrescenta um prelúdio, narrando a juventude da criada, e finaliza com seus últimos anos, sozinha, na casa vazia, após a morte da senhora, e a erosão daquele círculo íntimo. No extremo oposto das práticas da nossa época, onde a "literatura" virou uma forma mal disfarçada de autobiografia, Flaubert, como um pintor, constrói painéis. É um observador poderoso, não se consola com uma visão "impressionista" da realidade, procura ajustar cada detalhe, como numa engrenagem, onde cada peça é única e não pode ser substituída. "Le mot juste", reza o clichê ― que, aliás, todo mundo repete, mas que a grande maioria dos escritores não entende (ou não põe em prática, o que dá no mesmo). Em música, é como se Flaubert, ao escrever uma canção, ou uma suíte, compusesse uma sinfonia, com o mesmo rigor, e o mesmo cuidado com a harmonia de conjunto. Por último, a escolha dos temas. Suas narrativas não soam como um "acerto de contas"; Flaubert não "se justifica" através delas. Não quer entender uma particularidade sua, forjando uma "paisagem" em torno. Como um grande artista, escolhe, primordialmente, um grande tema ― e o explora a fundo. Se um grande tema não se apresenta, Flaubert não se sente na obrigação de preencher um vazio, apenas para entregar "um novo livro" (como tantos fazem hoje em dia). A grande arte, como sempre, está acima das demandas de mercado. É preciso repetir? Flaubert, mais do que tudo, fala por si. E ler "Um Coração Simples", na tradução de Milton Hatoum, é um privilégio que a Cosac Naify, com todo o seu projeto gráfico nababesco, nos proporciona.
>>> Três Contos | Um Coração Singelo
 
Julio Daio Borges
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