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DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
19/3/2004
In the Line of Fire
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 167 >>>
O Ripley, de Patricia Highsmith, que começou a se multiplicar nas prateleiras graças à Companhia das Letras, agora ameaça se transportar para as telas num segundo episódio: “O Retorno do Talentoso Ripley”. Quem assistiu ao primeiro (em 1999) se lembra de um Matt Damon charmoso e cruel, ainda com laivos de “Gênio Indomável” (1997, que o revelou) – antes de sucumbir a papéis “fáceis” e seriados. Se o protagonista do Ripley inicial não soube se manter na ascendente, esse seu “Retorno” segue pela mesma estrada. Tom Ripley agora é John Malkovich: logo nas primeiras cenas, o mesmo vilão frio e violento ao qual estamos acostumados (“Na Linha de Fogo” [1993] e “Ligações Perigosas” [1988], entre outros). Mais amadurecido, casado e com ligações no mercado de arte, perdeu em sofisticação e em inteligência e parece resolver tudo na base do assassinato. Quando não consegue o que quer, trata de matar. No primeiro “Ripley”, pelo menos, as mortes têm um caráter acidental e inevitável – como se não fossem planejadas e impusessem ao personagem alguma dor de consciência. No segundo “Ripley”, não: ele mata quase que por esporte; ensina a matar; e, por último, faz da morte uma espécie de passatempo. Nada indica que seja assim nos livros de Highsmith (a criadora do Ripley). Foram-se, igualmente, os cenários deslumbrantes (ainda que Malkovich se mantenha na Itália), a sexualidade e a personalidade dúbias e um “cast” que, junto a Damon, ajudava a sustentar o longa. Malkovich está cercado de atores desconhecidos (ou iniciantes), o que confere à fita um ar de produção “B” – ainda que o astro se esforce. Vale por algumas tiradas (“Você tem a cultura de quem passou a vida lendo revistas de automóvel”; “Numa ação, nunca se preocupe com os detalhes que você não pode controlar”; etc.) Um “Ripley” assim desperdiçado provavelmente encerra a saga; e John Malkovich precisa tomar cuidado, para não acabar no estereótipo.
>>> O Retorno do Talentoso Ripley
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Julio Daio Borges
Editor
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