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Segunda-feira,
17/6/2013
Disputa Pelo Espaço Público
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Se há algo característico de um momento histórico é que não o assimilamos de imediato. Sobre os acontecimentos em São Paulo e em outras cidades do Brasil, muitas são as teorias. Há quem acredite que é mesmo um protesto sobre o preço altíssimo das tarifas de ônibus, há quem diga ser a inflação, a corrupção, os gastos absurdos nos preparativos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Pode ser a violência endêmica, a saúde, a ineficiência de todo e qualquer serviço público, a desigualdade social. Pode ser tudo isso ou nada disso, nunca saberemos.
Mesmo diante da incerteza, eu tenho uma percepção. Não exatamente do que deu início aos protestos, se foram os R$ 0,20 da passagem, já não importa mais; mas do que este movimento se tornou: uma disputa pelo espaço público. Por espaço público entende-se a própria cidade e seus espaços de circulação e interação entre os agentes sociais e, principalmente, onde as pessoas ganham voz e efetivamente participam do jogo democrático. O espaço público é onde o cidadão está e onde a democracia acontece, e o brasileiro tem sido sistematicamente alijado deste lugar.
Trata-se de um jogo de xadrez. De um lado, os que estão gritando sua insatisfação e seu desejo de mudança. De outro, o Estado, zelador do patrimônio público e privado, opressor, coercitivo, detentor do direito de exercer "violência legítima" (Max Weber). O que vimos na última quinta, 13 de junho de 2013, em São Paulo, foram lances deste jogo. É um duelo de discursos: nosso governador e setores de nossa imprensa tentam desqualificar toda e qualquer demanda dos manifestantes. "São baderneiros e vândalos", dizem. Nosso prefeito declarou que os manifestantes são "pessoas inconformadas com o estado democrático de direito".
Simbólica, naquela noite, foi a disputa pela Avenida Paulista (um dos cartões postais da cidade). A tropa de choque interditou o trânsito com o objetivo de impedir a chegada dos manifestantes ao local, para que eles... não atrapalhassem o trânsito! Meus amigos e conhecidos demonstraram grande estranhamento sobre isso, falando do quanto a atitude da polícia foi paradoxal ou exemplo claro de burrice. Nem uma coisa nem outra. Não se trata de manter a fluidez do trânsito. Uma revista semanal de grande circulação estampou em seu site a manchete "manifestantes impedidos de tomar a Paulista", e não há exemplo melhor do que estou falando, de que a atitude da tropa de choque é absolutamente coerente, dado o que está em jogo. O que temos é uma partida de "capture a bandeira", em que a Avenida Paulista é o prêmio que representa o tal espaço público. O que o poder público afirmou (e a polícia militar, boa mensageira que é, transmitiu o recado com esforço e dedicação), foi "a cidade é nossa, e nunca será de vocês". O que os manifestantes precisam responder? "Isso é o que vocês pensam!" Se não houvesse resposta, continuaríamos vivendo esta estranha situação de sermos reféns em nossa própria cidade, alienados de um espaço que é nosso.
O que me tranquiliza é que novas manifestações estão marcadas, em diversas cidades do país. Aparentemente, a opressão não ficará sem a resposta merecida.
Marcos Donizetti, escritor e psicólogo, no seu blog.
Postado por Duanne Ribeiro
Em
17/6/2013 às 11h00
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