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Quinta-feira,
20/6/2013
Prá frente Brasil
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E do caos fez-se o protesto. No início, manifestações pequenas degeneraram, previsivelmente, em violência e depredação. Truculências policiais, uma vaia avassaladora contra Dilma Rousseff e manifestações com outra pauta, sobre os gastos públicos na farra da Copa do Mundo, pontuaram o estágio intermediário.
Enfim, protestos multitudinários tomaram as ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Brasília. A sequência desafia a lógica convencional e escapa às ferramentas de tradução dos políticos, mas lança alguma luz sobre uma crise larvar que, agora, emergiu. Bem na hora em que o Palácio do Planalto preparava-se para tocar novamente uma velha canção da Copa do Mundo de 1970, o céu desabou.
(...)A escala faz a diferença. As quimeras das seitas esquerdistas tornaram-se inaudíveis nos protestos de multidões. No lugar delas, desenhavam-se os contornos de uma agenda implícita, ainda não cozida no fogo da linguagem política. As pessoas estão fartas do governo e da oposição, da corrupção e da impunidade, da arrogância e do cinismo, da soberba e do descaso. O estádio superfaturado, o ônibus superlotado, a escola arruinada, a inflação, a criminalidade, o Dirceu e o Eike ― é sobre isso que falam os manifestantes, ecoando palavras de milhões ainda inseguros quanto à conveniência de protestar nas ruas.
O inimigo, que ninguém se engane, é toda a elite política reorganizada durante a década de balofa euforia do lulopetismo. Um preocupado Gilberto Carvalho alertou contra a tentação de "tirar proveito político, de um lado ou de outro" dos eventos da segunda-feira. Mestre no ofício de "tirar proveito político", ele já percebeu que um ciclo se fechou.
(...)Hoje, porém, a "difusa" e "crescente" inquietação não encontra traduções políticas nítidas.
A desmoralização da ágora ― eis a pior herança do lulopetismo. O governo Lula cooptou os movimentos sociais, convertendo-os em marionetes de suas ambições eleitorais, e reforçou os grilhões que prendem o movimento sindical ao poder de Estado. No governo Dilma, completou-se a construção de uma esmagadora maioria parlamentar alicerçada sobre a distribuição de sesmarias na administração direta e nas empresas estatais.
Do lado de fora da ampla coalizão governista, destituídos de princípios ou convicções, os partidos de oposição remanescentes abdicaram da crítica e do debate, aguardando que um milagre transfira o poder para suas mãos. A política parlamentar democrática feneceu, exaurindo-se de sentido. As manifestações provavelmente teriam começado antes, não fossem as esperanças depositadas no julgamento do mensalão.
Nesse cenário, os protestos descrevem trajetórias pré-políticas e os manifestantes apalpam terreno desconhecido, em busca de uma linguagem e de uma agenda. A anomia não perdurará eternamente - mas, por enquanto, gera muito calor e pouca luz. De qualquer modo, uma festa terminou antes mesmo de começar: desconfio que "Prá frente Brasil" não será ouvida na Copa do Mundo de 2014.
Demétrio Magnoli, em "Protesto"
Postado por Julio Daio Borges
Em
20/6/2013 às 14h43
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