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Terça-feira, 5/5/2015
A saga japonesa em terras brasileiras
Guilherme Carvalhal
+ de 1200 Acessos



A escolha de Nihonjin para ganhar o Prêmio Jabuti de 2012 foi um momento bastante catastrófico da literatura recente do país. O uso de uma brecha do regulamento por um dos jurados para valorizar esse livro deu a entender que houve uma injustiça na premiação, quando na verdade este trata-se de uma obra bastante singular nas letras recentes de nosso país.

O trabalho de Oscar Nakasato, também vencedor do Prêmio Benvirá (premiação deste selo da Editora Saraiva focado em escritores iniciantes) possui muitos méritos para que o suposto arranjo na escolha do ganhador do Jabuti atraia mais os holofotes do que um livro escrito em uma linguagem formidavelmente simples e capaz de em poucas páginas apresentar um rico universo cultural dentro do Brasil jamais explorado em uma grande obra. Para sermos justos, deveríamos esquecer a polêmica e valorizar apenas o trabalho artístico.

O autor, como seu nome sugere, descende de japoneses e reside no interior de São Paulo. Em Nihonjin ele narra a aventura da vinda de um casal de japoneses que sai de seu país em uma nobre missão confiada pro seu imperador, de fazer riqueza do outro lado do mundo e depois retornar.

Dessa forma Hideo e sua esposa Kimie partem, instalando-se em uma fazenda de café no interior de São Paulo, onde começam a confrontar com a distante realidade, onde há um clima diferente, uma língua diferente e uma cultura diferente, todos desafios à sua própria adaptação. E em meio a essa choque de realidade, Hideo mantém-se firme em manter sua identidade japonesa, não querendo se misturar aos gaijins, aqueles que não possuem sua naturalidade.

O fio narrativo conta toda a trajetória desse homem em seu novo país junto à formação de sua descendência. Na lavoura de café, sua esposa fica à janela esperando cair neve, maior possibilidade de lembrança de sua terra, e o maior momento lírico do livro acontece justamente quando ela descobre não nevar no país. As saudades acabam tirando sua vida, remetendo à história do banzo, a doença da saudade que matava os africanos, dessa vez acometendo a uma etnia diferente.

Em terras brasileiras, constroem um ofurô aos fundos de casa e Hideo proíbe a esposa de conversar com uma família de negros, de quem ouviu falar para agirem com desconfiança. Da agricultura de café, a família parte para cultivar uma área própria, até se estabelecer em zona urbana, criando um comércio para si, mostrando facetas variadas, como a ocupação rural e a urbana, a formação de grupos sociais próximos (como locais para práticas religiosas) e a criação de laços através do casamento entre japoneses e o batismo dos filhos com nomes em sua língua natal.

A narrativa de Nakasato utiliza do passar dos anos para fazer um apanhado geral dos japoneses no país. Seus valores em muitos momentos se confrontam com os demais, caso do conflito provocado pela professora que ensina ao aluno que ele era brasileiro e o pai insistente que mesmo nascendo aqui, ele continuava japonês; da mulher que abandona seu marido para ir atrás de um gaijin em um amor proibido; e bem mais à frente, retrata ainda a figura do dekassegui, o descendente de japonês que retorna ao Japão, carregando uma mesma discussão: japonês, brasileiro ou ambos?

Outro ponto alto da história remete à derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, que é a formação do Shindo Renmei, grupo de japoneses que assassinou compatriotas alegando traição quando estes assumiam a derrota de seu país. Essa parte traz à tona com muito impacto o choque de realidades e apresenta um momento curioso do país, com a formação de um grupo terrorista em território nacional.

O principal de Nakasato é sua capacidade de conseguir explorar um tema distante dos eixos corriqueiros da literatura brasileira. Seu livro não é uma grande exploração de técnicas linguísticas nem tem pretensões de inovar no uso da linguagem. Tampouco tentou produzir um épico, o que sugeriria um livro contando uma geração de famílias no país. Pelo contrário. Ele é conciso e econômico nas palavras, e esta é sua maior qualidade, além de caminhar de maneira realista, sem nuances de fantasia. Nihonjin é um universo dentro de um livro curto, e seus vazios apenas servem de brecha para deixar o leitor completar a história por conta própria.

A importância de Nihonjin também se dá ao retratar de forma (muito bem) romanceada um trecho da história do país, com enfoque em um determinado grupo social. Outras narrativas se valem do mesmo tema, como Lavoura Arcaica e sua família libanesa ou os turcos na obra de Jorge Amado. Porém, nenhum desses trabalhos retratou com tamanha completude os valores e a cultura de um povo, junto ao choque de realidades. Tanto que para isso ocorrer, precisou de um país que destoa bastante do Brasil.

Nihonjin não merece nem um pouco da polêmica devido ao Prêmio Jabuti. Esse livro merece sim ser valorizado como uma pérola literária, que apresenta um mundo dentro do país, de uma comunidade que passou pelas suas muitas dificuldades e adicionou mais tempero ao caldo cultural do Brasil. E isso em uma narrativa enxuta e saborosa, daquelas que o tamanho exíguo deixam o leitor desejando que o livro fosse bem maior.


Postado por Guilherme Carvalhal
Em 5/5/2015 à 00h35

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