BLOGS
>>> Posts
Terça-feira,
2/6/2015
Três pétalas, muita poeira, quatro pedras, bilhete
Aden Leonardo Camargos
+ de 900 Acessos
Imagem: Adrian Sommeleng
Era uma vez (a décima terceira vez) uma menina vadia. Passava-se por santa. Envelhecia. Em doses diárias carregava pesos de esperanças. Treinava. Também levantava voos. Escondia. Ninguém percebia.
Enquanto seu corpo flutuava, seus pensamentos mexiam. Não era afeita ao comum. Ao dia a dia. Analisava planilhas. Desencantava-se da secura das linhas. Os números eram formais, em filas, representavam fortunas alheias.
Fim de semana bebia. Bêbada, caía. Em si. Não suportou quase nada. Fugia.
Viajava para um lugar muito, muito, muito distante. Um castelo sem janelas construía. Uma torre suja erguia.
Nessas corridas matinais encontrou o arqueiro. Sem saber como sabia, deu-se de repente sem armas ou fantasia. Perguntou se era a décima terceira vez que se apaixonaria.
Disse sim.
Não foram tantas as vezes. Sua história mentia. Era uma vez só. Era agora.
Futuro de pretérito foi bordado, tatuou um abraço, na cintura, do lado. Tatuou a espera de um menino encantado. Uma borboleta, um caracol, um sonho louco clássico.
Arqueiro carregou nos braços, todas as flores desenhadas. Sorveu o tempo possuído. Tão pouco, mas o melhor tempo já na Terra vivido. Ele não foi mal. Apenas dominado. Pela flecha de seu mestre, destino já lançado.
A menina vadia, sempre bem comportada, vestida de professora, doou-se toda à verdade das loucas transgressoras.
Numa linda noite, ele de vez adoeceu. Lembrou-se de outra moça. Não escutou a voz, simplesmente apagou a única vela da escuridão -dela - distraiu. O mestre veio e levou-o. Exigível objeto ficou. Uma flecha, um arco e a felicidade marcada a ferro e fogo de lua tão nascente no abismo amor, pulso adentro calou. Só teve a visão dos quartos em doces encantos de excessos. Os olhos sempre se fecham por beijos, princípio da loucura.
Logo o tempo não parou. Num dia qualquer, nem lindo, sem datas, a menina doeu-se tanto que apoiando nas pedras agachou. Deu dois passos meio mortos, bem perto do fim para um mergulho, desesperou ao vento: traga os deuses tortos para mim?
Respondeu a divina potência em tempestade, enviou do alto dois raios riscados e fortes. Cortaram seu coração. Foi um corte quente fechando imediatamente - com vida - três pétalas, muita poeira, quatro pedras e a resposta de um Deus, escrita em grego. Tudo cicatrizou. Nunca leu. Nem soube do seu amuleto místico, guardado na trouxinha de crochê, em quarenta e três pontos altos, dentro do peito... Quem mesmo sabe o que guarda nos seus próprios segredos?
É só mais um conto de menina vadia, com coração cheio de pedras, poeira, pétalas e um bilhete em grego num amuleto.
Vadias não estudam grego. Salvam-se do amor, amando. Lobos
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
2/6/2015 às 07h39
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|
|