Xingando semáforos inocentes | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

busca | avançada
55391 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
>>> Reinvenção após os 50 anos: nova obra de Ana Paula Couto explora maturidade feminina
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Jeff Jarvis sobre o WikiLeaks
>>> Folia de Reis
>>> Hamlet... e considerações sobre mercado editorial
>>> Pedro e Cora sobre inteligência artificial
>>> Fred Trajano sobre Revolução Digital na Verde Week
>>> Spyer sobre o povo de Deus
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> O tempo e a água (série: sonetos)
>>> A história de Tiago Reis e da Suno (2023)
>>> Arquipélago
Mais Recentes
>>> Salomao, O Homem Mais Rico Que Ja Existiu de Steven K. Scott pela Sextante (2008)
>>> O Menino Que Perdeu A Sombra de Jorge Fernando Dos Santos pela Positivo (2013)
>>> Visão Espírita da Bíblia de Herculano Pires pela Correio Fraterno (2000)
>>> Cantar Em Espirito e Verdade Orientaçao para Ministerio de Musica de João Carlos Almeida pela Loyola (1994)
>>> Themen Neu - Kursbuch 2 de Hartmut Aufderstrasse, Heiko Bock, M. Gerdes, H. Muller, J. Muller pela Hueber Max Verlag Gmbh & Co (2002)
>>> Era uma Voz de Gisele Gasparini, Renata Azevedo & Mara Behlau pela Thot (2006)
>>> Hiperatividade - Como Ajudar Seu Filho de Maggie Jones pela Plexus (2004)
>>> Programaçao Neurolinguistica Para Leigos de Romilla Ready pela Alta Books (2019)
>>> Touch And Feel - Dinosaur de Dk pela Dk Children (2012)
>>> Gibi Chico Bento n 316 Edição com Album Ploc É O Tchan! Total de Mauricio de Sousa pela Globo (1999)
>>> O Segredo da Pirâmide - Salve-se Quem Puder de Justin Somper pela Scipione (2012)
>>> Rompendo o Silêncio de Wilson Oliveira da Silva pela Do Autor
>>> Problema e Mistério de Joana D Arc de Jean Guitton pela Dominus (1963)
>>> Toda a Verdade Sobre os Discos Voadores de Ralph Blum] - Judy Blum pela Edibolso (1976)
>>> Como Conjugar Verbos Em Frances de Jorge De Souza pela Campus Editora Rj (2004)
>>> Nova York - Guia Visual da Folha de Ana Astiz pela Folha de São Paulo (1997)
>>> Papai Foi Morar Em Outro Lugar de Gergely Kiss pela Ciranda Cultural (2011)
>>> Bruxa Onilda Vai A Festa de E.larreula/r.capdevila pela Scipione (2001)
>>> Na Minha Casa Tem Um Lestronfo de Rosana Rios pela Elo (2022)
>>> Os Fofinhos - Woofits - Livro Ilustrado - Album - Completo de Os Fofinhos - Woofits - Multi Editorial pela Multi Editorial (1983)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha de Pedro Bandeira pela Moderna (2014)
>>> Mansfield Park de Jane Austen pela Martin Claret (2012)
>>> Os Três Mosqueteiros - Coleção Clássicos Zahar de Alexandre Dumas pela Zahar (2011)
>>> Os Pensadores -Sócrates - Defesa de Socrates - Apologia de Sócrates de Sócrates pela Abril Cultural (1980)
>>> Garota, Interrompida de Susanna Kaysen pela Unica Editora (2013)
COLUNAS

Terça-feira, 19/12/2023
Xingando semáforos inocentes
Renato Alessandro dos Santos
+ de 6300 Acessos

“Entrou no carro da família Belsey dirigiu numa velocidade hostil até o centro da cidade, cortando outros carros e xingando semáforos inocentes” (p. 420)

“A maior parte da crueldade deste mundo não passa de energia colocada no lugar errado” (p. 13)


As horas do relógio, águas que passam, ficam para trás, nos dando as costas, e, como correntes contínuas, açodadas ou vagarosas, elas têm os segundos e os minutos que se vão para sempre e não voltam mais, levando consigo um pouco do que, nelas, ficou da gente enquanto iam existindo no gerúndio, acontecendo, acontecendo...

Carpe diem? Tédio? Tempus fugit... Ninguém nada nunca.

Gastei meu tempo investindo.

Em dinheiro?

Não. Em horas de leitura, debruçado sobre o livro Sobre a beleza, e nenhum tesouro nacional, ou qualquer metáfora contendo tempo e cifrões, será páreo com esse terceiro romance de Zadie Smith em que, distraídas, batendo perna por aí, ficam as horas.

Repara: é um disparate quando o tédio, achando que o tempo está desatento, encarrega-se de enganar a clepsidra, soterrando a existência mútua do encanto, da expectativa e da esperança. Mas com Zadie não tem como dar errado, e o tédio, é bom que se diga, inexiste enquanto se lê Sobre a beleza, pois Cronos, feito motoboy, passa voando, e ele pula, sai do chão, dá cambalhota.

O que quer esse confuso entrudo?

Não pensava em nada disso, enquanto ia finalizando a leitura de Sobre a beleza, mas me imaginei, uma hora lá, desperdiçando o tempo de vocês, azafamados leitores, que, com os pés no Rubicão, como naquela travessia monstra de "O burrinho pedrês", já estariam enfrentando comigo a enxurrada da rua, xingando semáforos inocentes.


Ponderem, leitora e leitor: vão pra uma ilha? Não se esqueçam da lanterna de proa de Zadie, e, caso haja pessoas cheias de desculpas contra a oportunidade de se ler um romance, sem qualquer necessidade de se parar tudo, valeria a pena sugerir este sofisticado archote, além de descobrir o quanto não se perde tempo quando ele é esbanjando com Sobre a beleza.

Mas, Renato, pay attention, s'il vous plait, pois nesta resenha de bijuteria ainda falta aos ledores esse convencimento que se dá de forma muito plena quando, com persuasão, as palavras buscam ser empregadas a fim de se dar a alguém um pouco do muito que é a leitura concentrada de uma obra feita durante dias, dias, dias...

No alvo, leitora ou leitor de pouca fé: leia Smith. Leia. Se não der certo, decerto, a culpa é minha, que gosto de "Vamos pular", de Sandy e Junior, além de ser fã de Hedvig Mollestad.

E nem é muito difícil encontrar outra obra capaz de jogar luz com tanta vivacidade sobre a vida que se leva hoje, com celulares, mundo digital, Amazon e viagens particulares ao Sideral.

A correria é enorme, mas, você sabe, com ou sem ela, a vida acontece do mesmo jeito; então, por que não, em vez do mirante, o tobogã?


Ou...

E se fôssemos todos rumo ao precipício e, lá, ficássemos a contar histórias uns aos outros, enquanto com o espírito alerta (para não cair escuridão abaixo), misturássemos “Abre-te sésamo”, Sobre a beleza e O apanhador no campo de centeio, tudo ao mesmo tempo?

Ou...

E se, em vez disso, fôssemos todos fazer boa a vida que escapa agora, e agora, e agora, que nem aquele verso do Ted Hughes?

Porém, diz: como se faz isso? Porque, enquanto a vida flana, nem todo mundo é capaz de ter aquele jogo de cintura repleto de coragem e ousadia, sem contar os que são cancelados de viver, ou aqueles que se impedem de se arriscar um pouquinho. Escapar? Como?

Um romance? Drummond? Netflix? Absinto?

THC? Sexo? Star Wars?


Um pós-doutorado? Outro vinil?

Futebol?

Um churrasco?

(...)

Um romance?!

Sim, um romance.

Com uma competente tradução de Daniel Galera, Zadie Smith conta a história de duas famílias, com dois professores universitários que não escondem o penduricalho social do qual se beneficiam, dos dois lados do Atlântico, naquela vida no campus onde se reúnem alunos, pesquisadores, ativistas, bem como oportunistas e gente nada a ver em meio à cintilante vida pastoril & cosmopolita dos campi.

Há as esposas, ambas incumbidas de zelar pela imagem de mulheres que têm de ser vistas independentes, donas de si e, mais do que nunca, capazes de deixar sua marca nesse frontispício anedótico que é a falta de vergonha na cara da humanidade quando tira, de todos, os direitos que gênero, posição social e tradição negaram-NOS.

(Nosotros somos todos nosotros, e todos temos gosto de frango caso um urso, por desgosto, viesse a nos comer com chimi-churri.)


Não há gênero. Não há pele. Não há dinheiro. Há esse magnífico rio que é Sobre a beleza, com seu grotão de vida que nos escapa, e escapa sem que nada possa ser feito a fim de se medir o coar do tempo.

E, de personagens, há os filhos, adolescendo em meio ao lusco-fusco do trânsito intenso da idade, enquanto a maturidade, para ser anexada à correria, aguarda atrás da porta. É tanto o rapazinho Levy, à espera de reconhecimento, quanto a jornada de Zora, a menina que, naquela revolta à deriva, luta-bravamente-como-uma-garota-niilista.

Ficamos assim: começa tudo no início, veja você, logo na primeira página, e vale a pena atravessar todas as que vêm em seguida, umas após as outras, até que o ponto final chega, láááááá adiante, na página 442.

Dobrado o Cabo das Tormentas, ou o Cabo da Boa Esperança (depende de como você vê um Ipê florido), tudo parecerá como antes – mas a gente já sabe que o importante é o durante, né? – e, por isso, segundo a segundo, enquanto a magia acontece, o atravessar é uma luz brilhando sem fim acima daquele morro, jorrando lume sem parar, que nem aquela luzinha verde, intermitente, que fez de Gatsby um joguete do destino, feito Romeu, ou feito você e eu, Mandiopã.



Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 19/12/2023

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Algumas leituras de 2009 de Vicente Escudero
02. Ânsias e náuseas de Elisa Andrade Buzzo
03. Copacabana-Paulista-Largo das Forras de Ana Elisa Ribeiro
04. Traficante, sim. Bandido, não. de Adriana Baggio


Mais Renato Alessandro dos Santos
Mais Acessadas de Renato Alessandro dos Santos em 2023
01. Xingando semáforos inocentes - 19/12/2023
02. Obra traz autores do século XIX como personagens - 24/1/2023
03. Ultratumba - 25/7/2023
04. Rabhia: 1 romance policial moçambicano - 23/5/2023
05. Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar - 10/10/2023


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Guia Para o Planeta Terra
Art Sussman
Cultrix
(2000)



Poder S. a - Histórias Possíveis do Mundo Corporativo
Beto Ribeiro
Marco Zero
(2008)



História da Linguística - 2ª Edição
Joaquim Mattoso Câmara Jr.
Vozes
(1975)



The Woman S Encyclopedia of Myths and Secrets
Barbara G. Walker
Harper One
(2019)



Cozinha Regional Brasileira Goiás
Abril Coleções
Abril Coleções
(2009)



Trilha sonora para o fim dos tempos 385
Anthony Marra
Intrínseca
(2018)



Livro Pediatria Social A Criança Maltratada
Franklin Farinatti
Medsi
(1993)



Marx on Economics
Karl Marx
Harvest
(1970)



Sofrer e Amar
João Mohana
Agir
(1966)



208 Maneiras De Deixar Um Homem Louco De Desejo
Margot Saint-Loup
Ediouro
(2002)





busca | avançada
55391 visitas/dia
1,7 milhão/mês