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Terça-feira, 19/12/2023
Xingando semáforos inocentes
Renato Alessandro dos Santos
+ de 6300 Acessos

“Entrou no carro da família Belsey dirigiu numa velocidade hostil até o centro da cidade, cortando outros carros e xingando semáforos inocentes” (p. 420)

“A maior parte da crueldade deste mundo não passa de energia colocada no lugar errado” (p. 13)


As horas do relógio, águas que passam, ficam para trás, nos dando as costas, e, como correntes contínuas, açodadas ou vagarosas, elas têm os segundos e os minutos que se vão para sempre e não voltam mais, levando consigo um pouco do que, nelas, ficou da gente enquanto iam existindo no gerúndio, acontecendo, acontecendo...

Carpe diem? Tédio? Tempus fugit... Ninguém nada nunca.

Gastei meu tempo investindo.

Em dinheiro?

Não. Em horas de leitura, debruçado sobre o livro Sobre a beleza, e nenhum tesouro nacional, ou qualquer metáfora contendo tempo e cifrões, será páreo com esse terceiro romance de Zadie Smith em que, distraídas, batendo perna por aí, ficam as horas.

Repara: é um disparate quando o tédio, achando que o tempo está desatento, encarrega-se de enganar a clepsidra, soterrando a existência mútua do encanto, da expectativa e da esperança. Mas com Zadie não tem como dar errado, e o tédio, é bom que se diga, inexiste enquanto se lê Sobre a beleza, pois Cronos, feito motoboy, passa voando, e ele pula, sai do chão, dá cambalhota.

O que quer esse confuso entrudo?

Não pensava em nada disso, enquanto ia finalizando a leitura de Sobre a beleza, mas me imaginei, uma hora lá, desperdiçando o tempo de vocês, azafamados leitores, que, com os pés no Rubicão, como naquela travessia monstra de "O burrinho pedrês", já estariam enfrentando comigo a enxurrada da rua, xingando semáforos inocentes.


Ponderem, leitora e leitor: vão pra uma ilha? Não se esqueçam da lanterna de proa de Zadie, e, caso haja pessoas cheias de desculpas contra a oportunidade de se ler um romance, sem qualquer necessidade de se parar tudo, valeria a pena sugerir este sofisticado archote, além de descobrir o quanto não se perde tempo quando ele é esbanjando com Sobre a beleza.

Mas, Renato, pay attention, s'il vous plait, pois nesta resenha de bijuteria ainda falta aos ledores esse convencimento que se dá de forma muito plena quando, com persuasão, as palavras buscam ser empregadas a fim de se dar a alguém um pouco do muito que é a leitura concentrada de uma obra feita durante dias, dias, dias...

No alvo, leitora ou leitor de pouca fé: leia Smith. Leia. Se não der certo, decerto, a culpa é minha, que gosto de "Vamos pular", de Sandy e Junior, além de ser fã de Hedvig Mollestad.

E nem é muito difícil encontrar outra obra capaz de jogar luz com tanta vivacidade sobre a vida que se leva hoje, com celulares, mundo digital, Amazon e viagens particulares ao Sideral.

A correria é enorme, mas, você sabe, com ou sem ela, a vida acontece do mesmo jeito; então, por que não, em vez do mirante, o tobogã?


Ou...

E se fôssemos todos rumo ao precipício e, lá, ficássemos a contar histórias uns aos outros, enquanto com o espírito alerta (para não cair escuridão abaixo), misturássemos “Abre-te sésamo”, Sobre a beleza e O apanhador no campo de centeio, tudo ao mesmo tempo?

Ou...

E se, em vez disso, fôssemos todos fazer boa a vida que escapa agora, e agora, e agora, que nem aquele verso do Ted Hughes?

Porém, diz: como se faz isso? Porque, enquanto a vida flana, nem todo mundo é capaz de ter aquele jogo de cintura repleto de coragem e ousadia, sem contar os que são cancelados de viver, ou aqueles que se impedem de se arriscar um pouquinho. Escapar? Como?

Um romance? Drummond? Netflix? Absinto?

THC? Sexo? Star Wars?


Um pós-doutorado? Outro vinil?

Futebol?

Um churrasco?

(...)

Um romance?!

Sim, um romance.

Com uma competente tradução de Daniel Galera, Zadie Smith conta a história de duas famílias, com dois professores universitários que não escondem o penduricalho social do qual se beneficiam, dos dois lados do Atlântico, naquela vida no campus onde se reúnem alunos, pesquisadores, ativistas, bem como oportunistas e gente nada a ver em meio à cintilante vida pastoril & cosmopolita dos campi.

Há as esposas, ambas incumbidas de zelar pela imagem de mulheres que têm de ser vistas independentes, donas de si e, mais do que nunca, capazes de deixar sua marca nesse frontispício anedótico que é a falta de vergonha na cara da humanidade quando tira, de todos, os direitos que gênero, posição social e tradição negaram-NOS.

(Nosotros somos todos nosotros, e todos temos gosto de frango caso um urso, por desgosto, viesse a nos comer com chimi-churri.)


Não há gênero. Não há pele. Não há dinheiro. Há esse magnífico rio que é Sobre a beleza, com seu grotão de vida que nos escapa, e escapa sem que nada possa ser feito a fim de se medir o coar do tempo.

E, de personagens, há os filhos, adolescendo em meio ao lusco-fusco do trânsito intenso da idade, enquanto a maturidade, para ser anexada à correria, aguarda atrás da porta. É tanto o rapazinho Levy, à espera de reconhecimento, quanto a jornada de Zora, a menina que, naquela revolta à deriva, luta-bravamente-como-uma-garota-niilista.

Ficamos assim: começa tudo no início, veja você, logo na primeira página, e vale a pena atravessar todas as que vêm em seguida, umas após as outras, até que o ponto final chega, láááááá adiante, na página 442.

Dobrado o Cabo das Tormentas, ou o Cabo da Boa Esperança (depende de como você vê um Ipê florido), tudo parecerá como antes – mas a gente já sabe que o importante é o durante, né? – e, por isso, segundo a segundo, enquanto a magia acontece, o atravessar é uma luz brilhando sem fim acima daquele morro, jorrando lume sem parar, que nem aquela luzinha verde, intermitente, que fez de Gatsby um joguete do destino, feito Romeu, ou feito você e eu, Mandiopã.



Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 19/12/2023

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