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Quinta-feira, 9/8/2007
Ânsias e náuseas
Elisa Andrade Buzzo
+ de 4100 Acessos


ilustração: Tartaruga Feliz

Rodrigo!

Recebi sua mensagem ontem e fiquei tão chateada por eu não ter enviado algo escrito de punho próprio junto com o livro da Ana Cristina Cesar, que resolvi escrever pra você hoje mesmo. Esta carta: cheia de imprecisões (mais do que impressões) e ressalvas, fadada ao erro e sujeita às disposições do momento. Na verdade, havia te enviado aquele envelope prestes a viajar pra cá, e provavelmente foi impossível... Então, está sendo proveitosa a leitura? E me perdoa a indelicadeza?

Agora são 8h18, estou no tramway (uma espécie de metrô de superfície ou um bonde contemporâneo...) indo pra minha aula. Não de todo desperta, neste balanço suave meu sono se completa. E anuncia o futuro que já devia ter chegado (ou que já chegou?), contrasta e se molda com os prédios baixos de pedra dos séculos XVIII e XIX. Sabia que neste mês Bordeaux ganhou o status de patrimônio mundial pela Unesco? O tram não é o metrô de Santiago, mas tem lá seus encantos a carcaça azul metalizada e o sininho que avisa sua passagem a 50 km/h...

Acredite, por aqui passam todos os tipos de monstros e piratas. Outro dia, uma família completa, algo que eu acreditava possível apenas em seriados de televisão. Voilà, com os dentes arreganhados e a boca murcha um deles se regozija ao validar o cartão.

Os piratas são vistos geralmente nos pontos de parada do tram - gente antiga de pele enrugadíssima e cansada, olhos apagados, unhas longas e azuladas. Revistos no Centre Mériadeck, algo como um pequeno shopping para os padrões paulistanos, ou mesmo em supermercados de descontos (que vendem de penhoar a casinhas para coelhos). É também nestas paradas, geralmente nas mais movimentadas, que a mendicância de latinhas das ruas se transforma em repetida lamúria, ma petite fille... Quem são essas pessoas que pedem na França? E, afinal, não são poucas.

Hoje, que chove uma chuva insistentemente chata e fria, um dos pedintes de ponto fixo, logo na entrada que dá acesso à Pont de Pierre - que une as duas partes da cidade dividida pelo Garrone -, não aborda os motoristas.

Apesar da minha estranheza, aceitei esta realidade como se fosse a minha ou mesmo parte da própria vida. Como se estas ruas fossem reais, a tranquilidade que reina normal, tivessem serventia as antigas portas bordegãs. Ainda que o espírito se rebele vez ou outra. E se sou mera cerejinha nesta torta de morangos...

Mas eu queria te contar qualquer coisa extraordinária e sequer leio com muita atenção os jornais gratuitos daqui. Menos do que uma aventura, meu dia-a-dia tem sido exaustivamente provinciano. E agora me relembro da imprecisão do que escrevo, desta transcrição sumária de apenas três semanas e alguns dias inexpressivos.

Por que escrever, continuar um relato, se tudo parece volúvel, inexato? E se eu disser que aqui existem prédios antiqüíssimos de paredes de pedra negra e no dia seguinte elas amanhecerem beges claras, restauradas? Não saberia mais dizer com precisão se gosto ou não gosto, se odeio, adoro ou devoro. Duvidarei de mim mesma? Será apenas impressão volátil a falta de açúcar que sinto nas coisas, o amargo da cobertura dos éclars de chocolate?

Não sei se meus dentes vão um dia roer com segurança estas baguetes duras. Há uma secura escondida, que não se pode denunciar, mal é sentida. Talvez ressentida nos S.V.P. impressos nas vitrines das lojas, na senha necessária para ir ao banheiro do McDonald's (e mesmo no Quick). Há uma dureza encontrada em qualquer lugar, desde que se esteja predisposto a reconhecê-la, e uma simpatia, ainda que esta se circunscreva geralmente à boa educação.

Eu queria. A carruagem do carrossel. A girafapanteraogansoleão. A música brasileira se distingue no primeiro acorde. O tigre do carrossel. O homem que beija a pata de seu gato. O cavalo do carrossel. As reproduções de célebres pinturas. O carrossel vazio de 1900. Acabo vendo essa tentativa de criar relações afetivas como estratégia de sobrevivência. Vamos nos agarrar a algo, com todas as nossas forças e... amenizar o que quer que seja. E incutir um sentido amplo e verdadeiro. E ter uma meta, que seja forçosa, mas incentivadora e apaixonante.

Ainda não te contei que no momento ocupamos provisoriamente parte de uma casa do Observatório de Bordeaux, que fica numa cidadezinha próxima. Em Floirac tudo caminha na velocidade dos bichos e de acordo com o humor dos astrônomos. Lagartos mirrados se equilibram no capim recém-cortado. Uma recolhida família de bambis. A aranha no umbral da porta da casa. A mini-exuberância dos cinco corvos e suas asas negras flap flap flap.

Da casa, o relógio de números art decó que morreu ao 12h30. O motor do ônibus 32 sempre adiantado. O sino da dura igreja de San Vincent. Um ovo de codorna estoura na panela. Ruídos que sublevam a calma.

E como anda a vida na Huara-Huara? Saudade das ruas de Providencia, dos passeios pelo centro, tudo tão agradável e moderno; a visão diáfana e breve da Cordilheira. Há qualquer coisa de calma e movimento em Santiago, contração e relaxamento. A cidade é linda, as pessoas são lindas, tudo é muito europeu, mas acho que me seduz mais o caráter ermo e sofisticado de Santiago do Chile. Buenos Aires é um pouco excessivo. E, para quem mora em São Paulo, não parece oferecer um novo tipo de vida. Não é que concordo com estas colocações do escritor Santiago Nazarian? E, coincidentemente, estive num período próximo ao que ele esteve nestas duas cidades.

Pois veja você que esta foi mais uma manhã de chuva, crua, em que tudo fica úmido sobressalente, triste e adormecido. Fora o cheiro de cachorro molhado. E o desequilíbrio das madames esmagando os dedos dos meus pés.

Finalmente aparece o sol, cheguei ao ponto final, Quinconces. O tempo aqui é mais louco do que o de São Paulo, onde todas as estações do ano acontecem num mesmo dia. Aqui todas se revezam umas duas vezes em pleno verão e Tour de France.

espero suas notícias,
com meu carinho de sempre.


Elisa Andrade Buzzo
Bordeaux, 9/8/2007

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