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Quinta-feira, 25/5/2017
Infinitamente infinito
Raul Almeida
+ de 1400 Acessos

Os primeiros momentos da manhã começaram a tinturar o céu com o azul entremeado de tons indefinidos, variando entre o rosa dos flamingos, o borgonha avinagrado do vinho dormido e o amarelo do sol, espiando ainda muito discretamente.
Ela acordou e foi saindo da cama, conferindo o horário no relógio embutido na moldura da Tv. Calçou os chinelos, moveu-se com absoluta discrição e cuidado evitando acordar o marido, espichado com a cara virada para cima, tranqüilo, arrumadinho na cama, como sempre ficava. Nunca foi de ficar se virando para um lado e para o outro. Apagava , ficava quieto depois que desligavam a TV. situada bem em frente a cama, sobre a cômoda de nove gavetas, jacarandá legitimo, herança de muitos anos, desde o tempo da bisavó. Aquele relojinho eletrônico, com sua luz verde não apagava nunca. Acabou por mostrar-se de utilidade indiscutível. Quando havia remédio para tomar de seis em seis ou de quatro em quatro horas, no meio da noite, ele estava ali para a conferencia do horário. Os dois tinham a capacidade de acordar e tomar o medicamento sem que fosse preciso o uso de qualquer alarme. Bastava pensar firmemente na hora da próxima pílula e, pronto, acontecia. O relógio confirmava o acerto. Bem, às vezes não dava muito certo, mas meia hora pra lá ou para cá, não fazia grande diferença no entender do casal.
Deu mais uma olhada no companheiro, aproveitando o fiapo de luz que escapava para dentro do quarto, escorregando num canto onde a cortina ficava afastada alguns centímetros da parede. Lá fora a claridade aumentava rapidamente desde que acordou ate agora, o suficiente para não precisar acender o abajur.
Foi ao banheiro tomar os cuidados de sempre. Escovar os cabelos curtos e prateados após limpar os dentes, colocar as próteses ate ali afogadas na solução de bicarbonato de sódio, piscar, repetidamente os olhos, fitar-se profundamente, tentando ver melhor o que o espelho teimava mostrar sem pena: A ação do tempo sobre a fisionomia. As linhas de expressão transmutadas em finas rugas, as marcas em torno dos olhos, as pupilas denunciando a catarata, os lábios sem o viço antigo, o pescoço.
- Arre, o tempo não da folga. Estou velha, murmurou consigo mesma.Em seguida foi preparar o café matinal, rotina que alternava com o marido.
Enquanto arrumava o suporte para o coador de flanela pensava na vida, nas centenas de cafés da manhã divididos com ele, o esposo amado.
Um arrumava a mesa, e o outro fazia o resto. A leiteira no fogão sendo cuidada para não ferver e entornar, a cesta com o pão de dieta, as torradas eventuais, a manteiga sem sal, a geleia do gosto mais dela do que dele, o eventual omelete de um ovo sô, na verdade um mexido mal acabado.
Sorriu, lembrando das ocasiões em que transbordavam de alegria por qualquer motivo. Eram jovens, estavam começando a caminhada juntos.
Cerrou o cenho lembrando os momentos de apreensão e angustia, quando ele perdeu um promissor emprego, depois quando ela adoeceu de repente e mais tarde quando nasceu o primeiro filho dos três que tiveram.
A pratica matinal consumiu pouco mais de um quarto de hora na preparação da primeira refeição. Conferiu tudo: A posição do material, as xícaras, pratos, talheres, comidinhas, água, e os remédios.
Abriu a janela puxando a alavanca que movimentava as três peças de vidro que a compunham, deu uma olhada sem ver nada no lado de fora, imaginado o bom tempo que a luminosidade daquela manha estava sinalizando.
Pegou a cadeira, afastando-a da mesa para poder sentar-se.
- Que estranho! Ele ainda não acordou, não fez nenhum barulho, não tossiu nem pigarreou, nem foi ao banheiro! Esta velho mesmo... Dorme, dorme, dorme.
Vou apagar o fogo do leite e descansar mais um pouquinho também, voltou a resmungar colocando a cadeira no lugar.
Começar a fazer o café e depois voltar para dormir mais um pouco era um costume que os dois tinham de longa data. Na maior parte das vezes levantavam juntos. Um habito com peculiaridades.
Conforme o aperto, um ia lavar o rosto primeiro enquanto o outro aliviava os momentos chamados de “necessidades”. Faziam troça com a coincidência. Mas não era nada de mais. Comiam nas mesmas horas, bebiam água ou sucos, igualmente juntos, enfim, só o banho e que um esperava o outro terminar.
Outra peculiaridade era destrancar a porta de entrada, logo que o primeiro acordasse. Assim, não precisavam pular da cama quando a ajudante chegasse. Ela era pontual e as oito horas da manha, metia a mão na porta, entrava pé ante pé, e ia trocar de roupa. Já vinha de café tomado, mas uma xícara daquele perfumado café mineiro, coado a moda antiga sempre era filada.
Ela voltou para o quarto, agora bem claro, deu uma ajeitada na cortina buscando alguma penumbra, sentou-se, descalçou os chinelos e aboletou-se ao lado do dorminhoco. Pouco tempo depois procurou a mão do companheiro estendida ao lado do corpo em repouso, enquanto a outra restava sobre o peito.
Não houve a habitual resposta, o acolhimento entrelaçando os dedos. Ela insistiu, notando a temperatura fora do habitual, muito mais fria. Alem do mais, estava flácida, sem consistência.
Não teve tempo para manifestar qualquer reação.
O marido sorridente exclamou com surpresa: Você também veio. E abraçando-a com ternura, beijou-lhe a testa soltando o abraço e mantendo as mãos dadas.
- Vamos, olha só que coisa maravilhosa! Que céu! Que azul mais delicado. Não sei como descrever, se e escuro ou claro! E quantas estrelas, que coisa mais linda.
Enquanto falava, percebia o espaço estava coalhado de pontos de luz, semelhantes as estrelas mais distantes, afastando e se misturando ao mesmo tempo.
-Que lindo, que suave, que cheiro bom.
-Aroma, e aroma que se diz, corrigiu a senhora.
-Tão suave, delicado, parece que estamos no céu...
Enquanto falavam e observavam os entornos, deram conta de que também estavam sublimando, transformando-se em pontos luminosos ao mesmo tempo em que se fundiam um ao outro. Logo estavam completamente integrados e brilhando. Em breve iriam participar daquela reação magistral formando uma nova estrela.
A empregada chegou, abriu a porta, deu uma olhada no quarto do casal, olhando pela fresta da porta, hoje encostada, diferente dos outros dias em que ficava fechada. Parou para fixar a vista, desconfiou e entrou.
Voltou para a sala, pegou o caderno de telefones e procurou um numero especifico , assinalado com o destaque: Em caso de emergência, ligar para este numero.
Foi para a cozinha, encheu a xícara com o café já coado e morno, pegou uma fatia do pão de dieta, marrom, meio duro, passou manteiga e ficou esperando alguém da família.

RA.


Postado por Raul Almeida
Em 25/5/2017 às 20h24

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