AMULETO | Blog de Diana Guenzburger

busca | avançada
46027 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Concertos gratuitos levam obras de Mozart e Schumann para a população em outubro
>>> Espetáculo de dança da amazonense Francis Baiardi Estreia no Mezanino do Sesc Copacabana
>>> Estação Educativa Futuros realiza oficinas de jogos teatrais
>>> Rolé Carioca abre inscrições para passeio no Museu do Samba
>>> Exposição ‘Maréu: Um mergulho no céu, um voo no mar’ chega no Sesc São João de Meriti
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
>>> Poesia sem oficina, O Guru, de André Luiz Pinto
>>> Ultratumba
>>> The Player at Paramount Pictures
>>> Do chão não passa
>>> Nasce uma grande pintora: Glória Nogueira
>>> A pintura admirável de Glória Nogueira
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
Colunistas
Últimos Posts
>>> Graham Allison no All-In Summit (2023)
>>> Os mestres Alfredão e Sergião (2023)
>>> Como enriquecer, segundo @naval (2019)
>>> Walter Isaacson sobre Elon Musk (2023)
>>> Uma história da Salon, da Slate e da Wired (2014)
>>> Uma história do Stratechery (2022)
>>> Uma história da Nvidia (2023)
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Paulo Guedes fala pela primeira vez (2023)
>>> Eric Santos sobre Lean Startup (2011)
Últimos Posts
>>> CHUVA
>>> DECISÃO
>>> AMULETO
>>> Oppenheimer: política, dever e culpa
>>> Geraldo Boi
>>> Dê tempo ao tempo
>>> Olá, professor Lúcio Flávio Pinto
>>> Jazz: 10 músicas para começar II
>>> Não esqueci de nada
>>> Júlia
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Blogo, logo existo
>>> O cinema de Weerasethakul
>>> A política brasileira perdeu a agenda
>>> Lady Gaga, uma aula do pastiche
>>> História (não só) de livraria
>>> Vias da dialética em Platão
>>> Ninguém me chama de Baudelaire
>>> O que mais falta acontecer?
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Façam suas apostas
Mais Recentes
>>> A Auto-estima - Descubra o Que Afeta a Sua Imagem e Viva Melhor de Willy Pasini pela Rocco (2007)
>>> As Vítimas Ocultas da Violência na Cidade do Rio de Janeiro de Gláucio Ary Soares / Dayse Miranda e Doriam Borges pela Civilização Brasileira (2006)
>>> Almas Gêmeas: Eterno Masculino/Eterno Feminino: O fim da solidão de Patricia Joudry / Maurie D. Pressman pela Mandarim (1997)
>>> Avanços e persperctivas da gestão pública nos estados de Consad pela Consad (2006)
>>> A Única Esperança de Alejandro Bullón pela Casa Publicadora Brasileira (2014)
>>> Anedotário da Rua da Praia 2 de Renato Maciel de Sá Junior pela Globo (1989)
>>> A Volta do Parafuso de Henry James pela L&pm Pocket (2008)
>>> Anjo de Barbara Taylor Bradford pela Record (2023)
>>> Estratégias De Vida de Phillip Mcgraw pela Elsevier (1999)
>>> Contratos coligados no direito brasileiro de Francisco Paulo de Crescenzo Marin pela Saraiva (2009)
>>> Chassidim de Daniel Oppenheimer pela Daniel Oppenheimer (2018)
>>> Self-Hypnosis The Complete Manual for Health and Self-Change de Brian M. Alman e Peter Lambrou pela Brunner (1992)
>>> Mulheres que Foram à Luta Armada de Luís Maklouf Carvalho pela Globo (1998)
>>> Os Órfão de Ruanda de Elmore Leonard pela Rocco (2003)
>>> Agência Nº1 de Mulheres Detetives de Alexander McCall Smith pela Companhia das Letras (2003)
>>> Vocabolario Napoletano Italiano de Raffaele Andreoli pela Igei (1988)
>>> Descobertas e Extravios - história de maria I e Mão de Luva de Vera de Vives pela Record (1997)
>>> House of Trump House of Putin The Untold Story of Donald Trump and the Russian Mafia de Craig Unger pela Dutton (2018)
>>> Obra Poetica Mil Novecientos Sesenta y Nueve Dos Mil de Edna Pozzi pela Vinciguerra Colección Metáfora (2000)
>>> Rumo à Estação Finlândia de Edmund Wilson pela Rumo à Estação Finlândia (1995)
>>> A Visão Integral de Ken Wilber pela Cultrix (2008)
>>> O Livro das pequenas Infidelidades de Edgard Telles Ribeiro pela Record (2004)
>>> Medicina dos Espíritos de Luiz da Rocha Lima pela Frei Luiz (2013)
>>> Tudo sobre arte de Stephen Farthing e Richard Cork pela Sextante (2011)
>>> The Permanent Playboy de Ray Russell pela Crown Publishers Inc (1959)
BLOGS >>> Posts

Quarta-feira, 30/8/2023
AMULETO
Diana Guenzburger
+ de 200 Acessos

Waldir morava em um prédio velho de Botafogo, que dava para morro coberto por árvores frondosas. Essa vista para a natureza exuberante fora um dos principais motivos para a escolha do imóvel, quando finalmente teve condições financeiras favoráveis para comprar casa própria. A princípio, ele e sua mulher Durvalina ficaram extasiados com o que viam. Além de micos e macacos-prego, pássaros variados habitavam a mata, incluindo tucanos de bico preto e peito laranja. Entre as várias espécies, os bem-te-vis eram os favoritos do idoso casal. Amarelos e pretos, eram os primeiros a acordá-los pela manhã, com seus gritos estridentes desde o nascer do sol. Rolinhas, sabiás, pardais, andorinhas, maritacas e até ocasionais jacutingas, pretas e pesadonas, alegravam a paisagem. Muitos construíam ninhos nos galhos das árvores em frente, ouvindo-se os piados dos filhotes, saudando a aproximação dos pais trazendo alimento.

Recentemente, porém, as coisas começaram a mudar. Já não havia tantos pássaros e os ninhos escassearam. Em compensação, um novo habitante da floresta começou a surgir: o urubu. A princípio, eram poucos e voavam alto, em círculo, por cima do morro. Durvalina olhava pela janela, intrigada e apreensiva. O que será que atraía estas aves agourentas? Não gostava deles, e não entendia sua aproximação. Que soubesse, não havia lixo nem carniça naquele local. Chegou a imaginar teorias tenebrosas sobre corpos de pessoas assassinadas, jogados no alto do morro pelos bandidos que habitavam a favela próxima. Isso certamente atrairia as aves de rapina, que gostam de carniça. Mas, não: se fosse isso, o fato já teria sido descoberto pela polícia.

E o mistério continuava. O número de urubus foi aumentando, voando cada vez mais baixo. O casal morava no quinto andar, e as aves tiravam rasantes pela altura das janelas do apartamento. Pousavam em galhos próximos e abriam as grandes asas, para secar ao sol. Eram inteiramente negros, com exceção das beiras das asas, onde se viam penas brancas.

Durvalina começou a sentir-se inquieta, e ultimamente evitava olhar pela janela. O que era antes um grande prazer, agora estava assustando-a. Mostrou as aves para o marido, que deu de ombros. “É um pássaro como outro qualquer. Você anda vendo fantasmas.” Mas a velha senhora não acreditava. Desde criança, sua mãe lhe havia dito que urubu era uma ave de mau agouro. Quando apareciam perto, nada de bom poderia acontecer.

Insistiu com o marido sobre o assunto, mas Waldir rebateu, desta vez irritado. Pois não sabia ela que o urubu era considerado um benfeitor da natureza? Era um pássaro-lixeiro, que limpava o mundo do lixo e da carniça espalhados pelos humanos, principalmente nas grandes cidades. Li isso na internet, declarou ele, com certo desprezo pela ignorância da mulher. Mas ela não se convenceu.

Um domingo, Durvalina estava lendo o jornal numa poltrona da sala, de fronte para a janela. Ao olhar para a frente, viu que um grande urubu pousara em galho curvo de uma árvore próxima. Estava quieto, com as asas arriadas, e parecia olhar para ela. A mulher sentiu um arrepio pelo corpo, mas tentou continuar a leitura. No entanto, não conseguiu concentrar-se e olhou em frente outra vez. O animal não se movera e continuava a encará-la.

Levantou-se, interrompendo a leitura. Dias depois, a mesma cena repetiu-se, quando estava lendo um livro. Depois da terceira ou quarta vez, resolveu-se.

“Preciso tomar uma providência”, raciocinou Durvalina. “Ou vou esperar acontecer uma desgraça? Não, isso nunca.”

Foi para o quarto, e começou a abrir gavetas do seu guarda-roupas. Não era uma pessoa organizada, e anos de negligência haviam resultado em uma grande bagunça, papéis velhos acumulados, roupas gastas amarfanhadas misturadas com novas. Levou várias horas vasculhando as gavetas, até encontrar o que procurava.

Levantou-se, segurando nos dedos o cordão de ouro, com a cruz de pequenos brilhantes pendurada. Tinha pertencido à sua mãe, e, antes disso, à avó e à bisavó. A mãe lhe dera de presente quando fez quinze anos, com a recomendação:

“Guarde isso com cuidado, viu, minha filha? Vai lhe proteger, como protegeu a mim, sua avó, bisavó, e todas antes delas. Na verdade, ninguém sabe quem foi a primeira dona, nem quando foi fabricado. Toda vez que você se sentir ameaçada, use esse cordão. Ele vai te resguardar!”

Durvalina prendeu o cordão em volta do pescoço, e logo sentiu-se melhor. Quero ver o que o urubu vai fazer agora, pensou. De fato, quando se punha a ler na poltrona de frente à janela, não viu mais a ave agourenta. Além disso, parecia-lhe que, agora, havia menos desses pássaros rondando o prédio.

Suspirou aliviada, e voltou a olhar pela janela, admirando a mata. Pouca gente, nesta cidade poluída e congestionada, tem o privilégio que nós temos de viver tão próximos à natureza, ponderava. Quando tinha esses pensamentos, porém, lembrava-se dos urubus e automaticamente levava a mão ao pescoço, apertando a pequena cruz de brilhantes.

O tempo foi passando e nada de notável aconteceu. Os urubus haviam ficado cada vez mais escassos, e somente de vez em quando um ou outro aparecia em volta do morro. Durvalina podia ler tranquilamente em sua poltrona predileta em frente à janela, que nenhuma ave esdrúxula aparecia para espiá-la.

Um sábado, a velha senhora, como de hábito, foi à feira do bairro comprar peixe e verduras. Arrastava atrás de si o carrinho de lona colorido, que estava leve, mas ficaria bem mais pesado quando cheio com as compras. Era um dia bonito de sol, sem nuvens, e Durvalina sentia-se alegre e satisfeita. Percorreu vagarosamente toda a feira, que afinal não era muito grande, e decidiu-se por um robalo fresquinho, bananas e algumas folhagens para salada, como alface e agrião. Estava voltando para casa, abrindo caminho entre a multidão que a essas alturas bloqueava a rua das barracas, quando sentiu um empurrão de alguém, que batera com força em seu ombro. Virou-se para trás indignada e viu um adolescente, a cabeça coberta por um capuz que lhe escondia também boa parte do rosto. Pediu desculpas em voz baixa, parecendo envergonhado.

Continuou a caminhada para casa, esforçando-se para não dar maior importância ao incidente. Quando chegou, logo esqueceu-se do ocorrido, na faina de guardar as compras feitas. Tudo arrumado na geladeira, voltou-se para a área de serviço, onde a aguardava uma cesta cheia de roupa suja, para lavar na máquina. Ao olhar para a janela, porém, levou um tremendo susto e seu coração disparou.

Um grande urubu encontrava-se pousado no parapeito, as asas meio abertas mostrando as penas brancas nas pontas. Olhava para ela, balançando a cabeça de um lado para outro.

Apavorada, Durvalina levou automaticamente a mão ao pescoço, em busca do amuleto protetor. O cordão havia se rompido e a pequena cruz de brilhantes desaparecera.



Postado por Diana Guenzburger
Em 30/8/2023 às 13h35

Mais Blog de Diana Guenzburger
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Segredos de Alto Impacto
Coord. Marcelo Simonato
Literare Books
(2018)



O Velho da Horta Auto da Barca do Inferno Farsa de Inês Pereira
Gil Vicente, Segismundo Spina
Brasiliense
(1996)



Tudo Que a Gente Sempre Quis
Emily Giffin
Arqueiro
(2019)



A Casa na Árvore Com 39 Andares
Terry Denton
Fundamento
(2017)



Manual de economia e negocios internacionais
Manual lima
Saraiva
(2011)



Resumo de patologia
Edward f goljan
Roca
(2002)



Bananas Podres
Ferreira Gullar
Casa da Palavra
(2011)



Dc Comics Coleção de Graphic Novels - Mulher-maravilha: os Olhos da Gó
Varios Autores
Dc Comics



Dom Casmurro (Com Nova Ortografia)
Machado De Assis
Saraiva
(2009)



O fantasma
Jo Nesbo
Record
(2017)





busca | avançada
46027 visitas/dia
1,7 milhão/mês