Considerações Sobre a Segunda Divisão Poética | Daniel Aurelio | Digestivo Cultural

busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
>>> Expo. 'Unindo Vozes Contra a Violência de Gênero' no Conselho Federal da OAB
>>> Novo livro de Nélio Silzantov, semifinalista do Jabuti de 2023, aborda geração nos anos 90
>>> PinForPeace realiza visita à Exposição “A Tragédia do Holocausto”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Literatura Falada (ou: Ora, direis, ouvir poetas)
>>> Viver para contar - parte 2
>>> Ed Catmull por Jason Calacanis
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> Conduzinho Miss Maggie
>>> Relações de sangue
>>> Unsigned and independent
>>> Pô, Gostei da Sua Saia
Mais Recentes
>>> Ana Levada da Breca - coleção girassol 5 edição. de Maria de Lourdes Krieger pela Moderna (1991)
>>> Os Permitinhos de Fabiana Barros pela Manticore (2005)
>>> Cafe, Suor e Lagrimas - coleção veredas 3 edição. de Luiz Galdino pela Moderna (1995)
>>> Origens do Intelecto: A Teoria de Piaget de John L. Phillips pela Universidade de Sp (1971)
>>> Diálogos Sobre a Vida de Krishnamurti pela Cultrix (1975)
>>> Dicionário Das Religioes de John R. Hinnells pela Cultrix (1984)
>>> Técnica de H.P. Magalhaes pela Sarvier (1983)
>>> Desenvolvimento Na Palavra de Apótolo Estevam Hernandes pela Renascer (2011)
>>> Pmp de Joseph Phillips pela Campus (2004)
>>> Sendmail Performance Tuning de Nick Christenson pela Addison-wesley (2003)
>>> Livro Doenças Da Alma de Dr. Roberto Brólio pela Fe (1999)
>>> Treinamento e desenvolvimento de Márcia Vilma G. Moraes pela Erica (2011)
>>> Handbook Of Health Economics (volume 2) (handbooks In Economics, Volume 2) de Mark V., Mcguire, Thomas G, Barros, Pedro Pita Pauly pela North Holland (2012)
>>> Budismo Puro E Simples de Hsing Yun pela De Cultura (2003)
>>> Dificuldades Escolares Um Desafio Superavel de Rubens Wajnsztejn - Alessandra Wajnsztejn pela Artemis (2009)
>>> Reminiscências e Reticências de Mário Ferrari pela Autografia (2015)
>>> O Intertexto Escolar de Samir Meserani pela Cortez (2001)
>>> Como Ensinar Bem de Leo Fraiman pela Opee (2015)
>>> Livro CÃNCER : Corpo e Alma de Dr. Renato Mayol pela Os Magos (1992)
>>> Festa No Céu de Maria Viana pela Maralto (2021)
>>> Física I de Young & Freedman pela Pearson (2003)
>>> As Cruzadas de Orlando Paes Filho pela Planeta (2005)
>>> Livro Formação Online de Educadores: Identdade e Construção de Ana Hessel/ Lucila Pesce/ Sonia Allegretti pela Rg (2009)
>>> Em Busca Do Sucesso de Robert Henry Srour pela Disal (2007)
>>> Cinquenta Tons De Liberdade de E. L. James pela Intrinseca (2011)
COLUNAS

Sexta-feira, 5/12/2003
Considerações Sobre a Segunda Divisão Poética
Daniel Aurelio
+ de 5400 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Gosto de poesia. Como noventa e nove virgula nove por cento da população minimamente letrada, cometi meus sonetos capengas. Donde se conclui qual é a nascente do desinteresse mercadológico pela poesia profissional e editada: a graça está, necessariamente, no caráter autodidata que a norteia. Em qualquer cidadela remota, você é capaz de identificar os tipos sociais mais comuns: tem o bêbado, o padre, a fofoqueira, tem o poeta também, aquele ali, meio pancada. Aliás, diga-se, não entendo muito da seara técnica que não raro a corrompe. Até pouco não sabia distinguir, com precisão, a cisão formal entre um poema e uma poesia.

Tenho a tendência de apreciar poetas que ousaram ser rima e verso e caíram na própria armadilha lírica. Leia-se, aqui, Dylan Thomas, Arthur Rimbaud, Charles Baudelaire, Augusto dos Anjos e Mario Faustino. Nem tanto pelo legado - ora impecável, ora desproporcional - que deixaram. É que eu tenho ainda essa cisma, tola, de enxergar poeta e poesia como a prova tácita da vida em erro, da centrifuga autodestrutiva, da navalha em verso — por isso estranho os concretos, engenheiros de uma anticiência, inexata e feroz.

Aviso logo que não sou Ítalo Moriconi ou Ivan Junqueira, mas caíram-me dois livros de poemas em mãos. Os volumes clamavam para serem resenhados. Prometo analisá-los como quem grafa (entre o ávido e o verborrágico) confidências em um diário.

Máquina de Escrever
Que o poeta me perdoe, mas o nome Armando Freitas Filho sempre pertenceu a segunda divisão do texto nacional. Em seu mais recente livro, um cartapácio de 607 páginas com toda sua obra reunida e revista, Freitas Filho mostra o que aprendeu com modernistas e concretos, principalmente com os ídolos Drummond, Bandeira, João Cabral e Gullar. Bebeu bem. E de boa fonte. Aqui mora seu vício, sua virtude e seu erro de cálculo.

Em um vôo plano, é imperceptível diferenças conceituais ou alguma centelha de inventividade no catálogo que vai de "Palavra" (1963) até "Numeral/Nominal" (2003). Uma erotização aqui, alguma temática social acolá, namoro rotineiro com os colegas mais ilustres acima. Cada guinada em sua época devida, nada fora do eixo. É presumível que a tal "revisão" tenha tornado homogêneo e cimentado paisagens outrora mais intensas.

Tudo funciona direitinho, adaptado e bem construído, coisa de quem devorou a cartilha e o abecedário da poesia pós-parnasiana. Serve, por sinal, como um ótimo cursinho para fabricação de versos em escala industrial (ou, trocadilho cruel, de como ser uma "máquina de escrever"). Basta decorar e aplicar, na íntegra, a formula empregada nele. Na verdade, "Maquina de Escrever" não tem apelo, não tem cor, nem cheiro. Não agride. Não emociona. Eu não recitaria seus versos para uma namorada, a não ser que desejasse entorpecê-la de tédio. Fosse algum teórico da literatura, não me disporia a procurar entendê-lo dialeticamente. Ou seja, a compilação não faz a ínfima diferença.

Talvez por isso seja apenas Armando Freitas Filho. E não Gullar, que dispensa o prenome para ser reconhecido.

Martim Cererê
Longe de mim, ignóbil colunista quinzenal, querer demolir um ícone modernista como o poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Mas para quem convive diariamente com a leitura de Marcel Mauss, Malinowski, Claude Leví-Strauss e Gilberto Freyre, considerar "Martim Cererê" um marco das raízes da brasilidade, como tenta persuadir os comentários de orelha e o projeto gráfico do livro, é um tremendo engano, um despropósito. Não é antropologia, é até ofensivo ser taxado como tal, portanto, não pode ser avaliado pelo prisma teórico. É, com a licença do chavão, antropofágico. Demasiado antropofágico. A imagem e semelhança, em grau superlativo (não qualitativo), de Oswald de Andrade ou Portinari. Portanto, é arte, uma interpretação da vida sob o julgo estético. O que é ótimo. Isto posto, adentremos ao universo do poeta.

É alarmante abrir um livro cuja dedicatória é mirada ao filósofo, escritor e líder católico Plínio Salgado (1895-1975), tido como a matriz ideológica do fascismo tropical. Eram amigos, companheiros da facção nacionalista do Modernismo e da luta integralista. O voto carinhoso é justificado. Salgado, patriarca da Ação Integralista Brasileira (AIB), virou guru de ideologia derivada dos regimes totalitários da Europa Ocidental e candidato a presidência da República.

Cassiano Ricardo, entretanto, preferiu caçar o mito da força tupiniquim via literatura, transformando-se em polaroid de uma época, tema de estudo e influência decisiva para um grande movimento artístico como o tropicalismo nos anos 60. É evidente e sabido, quiçá consciente, o exagero das suas elegias a formação do povo brasileiro. O cenário colorido e exótico que descreve, por exemplo, é tão idealizado que constrangeria Carmem Miranda. Mas é um documento histórico de respeito sobre o Modernismo, ao menos para certa turma atraída pelo clichê de Brasil, que gringo tanto aprecia. Não deixa, portanto, de ser um belo exercício poético.

Fez muito bem o Cassiano, ao desviar-se do holofote da política. Nesse ponto, a poesia é indolor.

Falso Brilhante
Creio que Cassiano Ricardo e Armando Freitas Filho pecaram, ao menos, em um aspecto: cortejavam a eternidade em terreno minado e efêmero. No final, quase desejei ser Alvares de Azevedo ou um desses ultra-românticos embriagados. Lembrei, astuto, da tuberculose e da overdose. Afinal, gosto de poesia. Mas como seu amante voyeur.

Escrevo com um nó doído no peito, já que são dos ótimos poetas: impossibilitado, porém, de traça-lhes um perfil acadêmico — seria desqualificado pela sua própria natureza, introspectiva e imponderável — resigno-me a deleitar poesia ao meu modo insensato de enxergá-la, como um diário datado, de páginas amareladas, perdido em alguma caixa de sapatos no guarda-roupas do passado. Fruto de uma paixão qualquer. Não parece ser esse o caso dos nossos bem amados poetas, dignos de honras, antologias e reedições caprichadas.Enquanto isso, o bardo verdadeiro, a quem deveriamos reverenciar, agoniza em papel menos nobre.

Para ir além









Daniel Aurelio
São Paulo, 5/12/2003

Mais Daniel Aurelio
Mais Acessadas de Daniel Aurelio em 2003
01. Canto Infantil Nº 1: É Proibido Miar - 26/9/2003
02. Canto Infantil Nº 2: A Hora do Amor - 7/11/2003
03. O Sociólogo Machado de Assis - 5/9/2003
04. O Calígrafo de Voltaire - 13/6/2003
05. Elogio Discreto: Lorena Calábria e Roland Barthes - 19/12/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
14/12/2003
09h22min
Imagine, Daniel, ter que passar três anos da faculdade de Letras com um professor de literatura profundamente concreto. Ter que ter a 'inspiração' (bah!) para produzir poemas concretistas e defender o movimento, sob pena de levar bomba. Nós, alunos, costumávamos nos animar uns aos outros, dizendo: 'Arbeit macht frei'.
[Leia outros Comentários de Barbara Pollacsek]
19/12/2003
04h55min
Talvez só um riso escancarado/ aliviasse o amargor do ricto/ que nos envelhece a face./ Não adianta a maquiagem./ Na solidão de um ventrículo vazio,/ na seriedade de um ventríloquo mudo,/ não há disfarce que suavize/ uma boca entre parênteses./ maria da graça almeida
[Leia outros Comentários de maria da graça]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O misterio do hotel/ MARTIN WIDMARK
Martin Widmark
Callis
(2002)



Tibete: Magia e mistério
Alexandra David-Neel
Hemus
(1978)



Longe de Ramiro
Chico Mattoso
34.0
(2007)



Livro Do Cientista, O
Marcelo Gleiser
Companhia Das Letrinhas - Grupo Cia Das Letras
(2003)



Arquivo Aberto
Jose Carlos Bittencourt
Ghemini
(2010)



Espirança
Héloise S C M Schoedler
All Print
(2016)



Liderando com Metas Flexíveis
Niels Pflaeging
Bookman
(2009)



Seraph Of The End - 19
Takaya Kagami, Yamato Yamamoto
Fisicalbook
(2020)



Direito Processual do Trabalho 2 Tomos
Francisco Ferreira Jorge Neto
Lumen Juris
(2009)



A Supremacia de Bourne
Robert Ludlum
Guanabara
(1986)





busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês