Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 3 | Luis Eduardo Matta | Digestivo Cultural

busca | avançada
83554 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Drama da pandemia em Manaus é tema da peça Desassossego
>>> 14º Rio Festival Internacional de Cine LGBTQIA+
>>> Lenna Baheule ministra atividades gratuitas no Sesc Bom Retiro
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, estreia no Sesc Consolação
>>> “Itália Brutalista: a arte do concreto”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Para o Daniel Piza. De uma leitora
>>> Os Doze Trabalhos de Mónika. 8.Heroes of the World
>>> Fim dos jornais? Desconfie
>>> Blogwise
>>> Site de Rafael Sica
>>> Reid Hoffman por Tim Ferriss
>>> Suspense, Crimes ... e Livros!
>>> Entrevista com Chico Pinheiro
>>> Mi casa, su casa
>>> Produtor Cultural Independente
Mais Recentes
>>> O anarquismo e a democracia burguesa de Malatesta; Bakunin; Kropotkim; Engels; D. Guérin pela Global (1979)
>>> A natureza da pobreza das massas de John Kenneth Galbraith pela Nova Fronteira (1979)
>>> O Propósito Da Família de Luciano Subirá pela Orvalho (2013)
>>> Manual de Saúde e Segurança do Trabalho - Vol 1 de Sebastião Ivone Vieira pela Ltr (2005)
>>> Chefiar Ou Liderar? - Seu Sucesso Depende Dessa Escolha de John Adair e Peter Reed pela Futura (2005)
>>> Mulher e A Rádio Popular - Manuais de Comunicação 11 de Maria Cristina Mata coordenadora pela Paulinas (1997)
>>> Problemas da Criança Normal - Educaçao e Saude de Caleb Elias do Carmo pela Juerp (1985)
>>> Escola Cidada - Questoes da Nossa Epoca nº 24 de Moacir Gadotti pela Editora Autores Associados (2001)
>>> Avaliação Educacional - Fundamentos e Práticas de Isabel Cappelletti pela Articulação Universidade (1999)
>>> A Lagostinha Encantada de Virginia Lefevre pela do Brasil
>>> Os Templários de Adelino de Figueiredo Lima pela Spiker (1958)
>>> O Colapso do Universo de Isaac Asimov pela Círculo do Livro (1987)
>>> Revista Refundar a IV Internacioanl - Janeiro 2001 de Vitoria Classista Na Associaçao de Pos Graduaçao da Usp pela Do Autor (2001)
>>> Aforismos Para A Sabedoria da Vida de Arthur Schopenhauer pela Melhoramentos (1953)
>>> Biblia Sagrada - Ediçao Contemporanea de João Ferreira de Almeida pela Vida (1990)
>>> Revista Ante A Luz da Verdade nº 63 Novembro 1965 de Francisco Cândido Xavier - Waldo Vieira pela Grupo Espirita Emmanuel (1965)
>>> O Adeus da Academia a Machado de Assis de Rui Barbosa pela Casa de Rui Barbosa (1958)
>>> Matemática Aplicada a Vida nº 03 - Prandiano de Aguinaldo Prandini Ricieri pela Prandiano (1991)
>>> São Luís: Alma E História de Albani Ramos pela Instituto Geia (2007)
>>> Arte Moderna de Giulio Carlo Argan pela Companhia Das Letras (1992)
>>> 100 Fabulas Fabulosas de Millor Fernandes pela Record (2003)
>>> Neuromancer de William Gibson pela Editora Aleph (2016)
>>> Hollywood de Charles Bukowski pela L&pm (2001)
>>> Bia na África (2º Edição - 6º Impressão) de Ricardo Dreguer; Thiago Lopes pela Moderna (2020)
>>> Seita: O Dia Em Que Entrei Para Um Culto Religioso de Paula Picarelli pela Planeta (2018)
COLUNAS

Terça-feira, 10/8/2004
Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 3
Luis Eduardo Matta
+ de 10400 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Embora plenamente ciente de que a discussão em torno da identidade brasileira daria assunto de sobra para muitas dezenas de artigos, podendo render até um livro - como, aliás, já rendeu vários - vou encerrar, com este texto, a minha modesta e um tanto pretensiosa análise do tema, podendo, como bom e atento brasileiro, retornar futuramente a ele, em novas abordagens.

Se, no artigo anterior, o foco foi a nossa produção cultural, neste tomarei como ponto de partida uma célebre frase do saudoso Tom Jobim, que afirmava, com boa dose de razão e lucidez, que no Brasil, fazer sucesso é ofensa pessoal. O maestro referia-se, naturalmente, à reação negativa que boa parte da nossa sociedade tem diante de conquistas, sobretudo profissionais e financeiras, de conterrâneos seus. Alguém que ganhe muito dinheiro, fama ou reconhecimento fatalmente se tornará, em alguma escala, objeto de ressentimento e maledicências, estará sujeito a sofrer boicotes dos formadores de opinião e a ser violentamente bombardeado por críticas ensandecidas e, muitas vezes, irracionais. Um caso emblemático é o de Pelé. O maior desportista de todos os tempos, que com suas jogadas impressionantes, sua garra e seu insuperável talento, arrebatou todo o planeta numa época, é bom frisar, na qual a televisão não tinha o poder e o alcance que tem hoje e as notícias e imagens não costumavam ganhar o mundo com a velocidade e o impacto proporcionado pelas conquistas tecnológicas verificadas nas últimas duas décadas. Pois bem, o fato é que Pelé, a despeito de todos os seus méritos como grande jogador e personalidade que, mais do que qualquer outro brasileiro, já assegurou o seu lugar na galeria dos heróis da História do esporte mundial, nunca recebeu do Brasil o reconhecimento de que é merecedor; em qualquer outro lugar, Pelé seria idolatrado e se converteria em alvo de certo de fãs ensandecidos e fanáticos - assim como acontece com Maradona, na Argentina -, mas o que a realidade nos mostra é algo bem diferente. E a causa disso é o fato de Pelé, o nosso grande Pelé, ter se notabilizado como um homem sério e bem-sucedido, alguém que venceu e deu um rumo consistente à própria vida. Não fosse esta a razão, como explicar o fato de Garrincha, um jogador notável, porém inferior e que sucumbiu, precocemente, à decadência imposta pelo vício do alcoolismo, ser muito mais cultuado?

O caso de Pelé é o mais ilustrativo de como o Brasil trata os seus vitoriosos por ser, a meu juízo, o mais gritante, mas há vários outros. A mágoa diante do sucesso alheio é um traço marcante da condição humana, um lado negativo e obscuro que todos possuímos, mas que, compreensivelmente, nos esforçamos para ocultar. O que ocorre no Brasil, porém, é algo mais complexo e está intrinsecamente ligado à eterna sina do país, preso há décadas num atoleiro do qual não consegue se desvencilhar. Habituamo-nos à estagnação, à condição de país onde tudo parece conspirar para torpedear qualquer pretensão de galgar alguns íngremes degraus da pirâmide social; onde a ambição é invariavelmente interpretada como uma grave falha de caráter; onde ainda prevalece uma mentalidade ibero-católica de redenção plena por meio da abnegação e do sofrimento. Nós, enquanto povo, nos identificamos com a figura do derrotado e nos solidarizamos com ele, pois reconhecemos nas suas desventuras o nosso próprio projeto fracassado de nação (no sentido como foi colocado no artigo que abre esta série). Na mesma medida, o sucesso alheio nos afronta e nos causa indignação. É como se nos assaltasse um inevitável questionamento sobre se aquela pessoa, que soube prosperar tão habilmente é, de fato, merecedora de júbilos. Inadvertidamente podemos nos flagrar perguntando: Fulano é tão bem-sucedido, conseguiu tanta coisa, tanta glória, tanto dinheiro, tornou-se alguém de prestígio, tudo isso numa terra ingrata, desigual, que maltrata sua gente e reserva a poucos o direito de usufruir suas riquezas. Não seria, então, o caso de voltarmos nossa atenção para aqueles que lutaram e lutam tanto e que, por um capricho injusto do destino, nunca alcançaram o êxito que deveriam?

Trata-se de uma inversão perfeita - e igualmente nefasta - da velha e detestável teoria norte-americana do winners (vencedores) e losers (perdedores). Enquanto nos Estados Unidos, os vitoriosos são incensados quase à categoria de semideuses, aqui se dá o mesmo com os derrotados, os marginalizados, os coitados... É quase um compromisso de cunho social, que une corações e opiniões em torno do que seria a verdadeira essência do brasileiro: um povo sofrido, ingênuo e desprovido da malícia perversa imposta pelo modelo ocidental de sociedade.

A percepção de que prosperar no Brasil sempre foi difícil - quando não impossível - é uma das grandes causas dessa entranhada mentalidade, mas é inegável que o nosso histórico complexo de inferioridade como nação, que tanto nos atormenta e nos deforma a visão da realidade tem, também, sua parcela considerável de influência. Basta observar, por exemplo, a reação das pessoas ao descobrir que o profissional tal, que está ganhando milhões e gozando de enorme prestígio em sua carreira, resolveu, por uma razão qualquer, sair do Brasil e fixar residência em Nova York, Londres, Paris, Barcelona ou qualquer recanto do planeta identificado com o mundo desenvolvido e "civilizado", que nós, brasileiros, sempre desejamos reproduzir por aqui. Embora morar no exterior, até onde eu saiba, não constitua um crime previsto no código penal, nada impedirá que o indivíduo que fizer tal opção seja visto, a partir de então, como um Judas, um verdadeiro traidor da pátria que, na primeira oportunidade, abandona a sua terra para aproveitar as delícias e o progresso faustoso do "Primeiro Mundo".

Há ocasiões, contudo, em que essa fórmula se inverte sem, obviamente, alterar a sua lógica. É quando um brasileiro, sobretudo um artista ou intelectual, torna-se uma celebridade no exterior e somente aí é descoberto pelos brasileiros. Nesses casos a boa receptividade da opinião pública estrangeira funciona como um certificado de qualidade, um aval de que aquela pessoa tem, de fato, talento e por isso foi valorizada. É meio patético um país como o nosso, mais de cento e oitenta anos após a sua independência, ainda não se sentir seguro o bastante para saber reconhecer sozinho os méritos de seus cidadãos, mas está longe de ser surpreendente. O exemplo mais recente e dramático deste descalabro foi o de Sergio Vieira de Mello. Foi preciso um atentado em Bagdá mandá-lo tragicamente pelos ares para sempre, para descobrirmos tardiamente que um dos mais conceituados e competentes diplomatas em atividade no mundo era um brasileiro.

Sou muito otimista em relação ao Brasil, apesar de tudo, e acredito que tudo isso, que todo esse complexo de inferioridade que nos leva a uma cegueira parcial diante da realidade e a uma acentuada inversão de valores vá se modificando aos poucos, à medida que o povo for se instruindo e amadurecendo e, com isso, adquirindo seus próprios referenciais; e, também, quando o país der oportunidades concretas às pessoas de progredir, sem os obstáculos da burocracia, da corrupção e de todos os percalços que tanto emperram e atrasam as nossas vidas. Quem sabe, no dia em que o Brasil deixar de sabotar o Brasil, nosso país terá a chance de caminhar por conta própria e dar mostras, espontaneamente, de todo o seu poder e grandiosidade?


Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 10/8/2004

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Inquietações de Ana Lira de Fabio Gomes
02. Cantando na Chuva faz 50 anos de Clarissa Kuschnir


Mais Luis Eduardo Matta
Mais Acessadas de Luis Eduardo Matta em 2004
01. Os desafios de publicar o primeiro livro - 23/3/2004
02. A difícil arte de viver em sociedade - 2/11/2004
03. Beirute: o renascimento da Paris do Oriente - 16/11/2004
04. A discreta crise criativa das novelas brasileiras - 17/2/2004
05. Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 1 - 13/7/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
11/8/2004
22h52min
Amigo, não vou dizer que concordo com todo o texto (1,2 e 3) mas está bem próximo da realidade e do meu pensamento. E como no seu último parágrafo vc resumiu o que eu iria deixar de comentário. Nada mais a falar. Beijos da amiga, Elaine P@iva
[Leia outros Comentários de Elaine P@iva]
15/8/2004
10h58min
O texto é bem escrito, mas as idéias por vezes se chocam. Agora bom mesmo é o comentário da Elaine P@iva, que diz que o texto está bem próximo da realidade e de seu pensamento. Auto-arvorada realistíca amiga, tens procuração? Evandro
[Leia outros Comentários de Evandro]
9/9/2004
00h45min
Eu tenho morado em diferentes cantos do mundo e, a cada novo lugar que vou, valorizo mais meu pais. Sou uma brasileira que AMA o Brasil. Acho que o maior cancer que temos sao os nossos politicos, eles impedem o nosso crescimento e ensinam ao povo que o crime compensa, a propina vale a pena e que ser honesto nao tem valor algum. Acho o povo brasileiro inteligente e batalhador sem ser neurotico. Para vc entender o neurotico, outro dia estava falando com uns americanos e eles falaram que os brasileiros eram preguicosos e sem ambicao. Eu disse: nao, vcs e' que sao neuroticos com tudo. Nos queremos um pais melhor e queremos ser felizes! O Brasil tem muita coisa que precisa ser melhorada mas eu ainda acredito que e' o melhor lugar do mundo e com as melhores pessoas.
[Leia outros Comentários de Fabiana]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Didático Extensivo R1 Pediatria Volume 1
Carlos Eduardo Carlomagno, Lygia Lauand
Medcel
(2020)



Três Peças de Martins Pena -texto Integral
Martins Pena
Ciranda Cultural
(2007)



Alimentos E Bebidas
Carlos Alberto Davies
Educs
(2007)



Ciências 9
Vários Autores
Moderna
(2014)



Livro Literatura Estrangeira Gossip Girl Eu Mereço! Volume 4
Cecily Von Ziegesar
Galera Record
(2008)



A Ordem Do Sexual
Carlos Augusto Nicéas e Joel Birman
Campus
(1988)



O Encanto da Matemática
W. W. Sawyer
Ulisseia Lisboa
(1970)



Abaixo a Mulher Capacho!
Sonia Abrão
Manole
(2009)



Livro Literatura Estrangeira Inverno (Om Vinteren)
Karl Ove Knausgård
Companhia das Letras



Gestão em Enfermagem ferramenta para prática segura 428
Gestão em Enfermagem ferramenta para prática segura
Yendis
(2011)





busca | avançada
83554 visitas/dia
1,7 milhão/mês