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COLUNAS

Quarta-feira, 12/11/2008
O Brasil é carioca
Luiz Rebinski Junior
+ de 3300 Acessos

Os cinqüenta anos da Bossa Nova não serviram apenas para celebrar o movimento que colocou a música brasileira no mapa da cultura internacional. A efeméride foi também um exercício de exaltação, praticado por diferentes mídias, das belezas naturais do Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa, durante as comemorações, foi amplamente citada como a grande fonte de inspiração para a turma do banquinho e violão. Daí a aparição de seus conhecidíssimos cartões-postais em toda e qualquer publicação que tivesse a Bossa Nova como tema. Nada mais natural, afinal, as garotas cheias de graça, gaivotas e barquinhos foram vistos ou imaginados ali, nas belíssimas praias de Ipanema e Copacabana.

Foi mais uma oportunidade para conhecer as belezas de uma cidade que influenciou tantos artistas, não só da Bossa Nova. Mas nem precisava. O brasileiro já está tão acostumado com o charme irresistível da orla carioca que nem mesmo é preciso se deslocar até o Rio para saber quão gostosas e macias são as areias de Ipanema; não é necessário nem mesmo se interessar por cultura para ouvir as irresistíveis histórias acontecidas no Posto 9; nem conhecer a localização exata da Barra da Tijuca para saber que ali é o ponto de encontro de artistas de qualidade duvidosa, sempre em busca de um paparazzo que possa lhes saciar a vontade de ser fotografado.

Assim como não é preciso ir a Paris, lógico, para conferir a elegância intelectual de seus cafés, o Rio de Janeiro se conhece por inteiro apenas ligando a televisão. Ele está lá a todo o momento, da abertura da novela à propaganda da Embratur. A cidade está sempre com os braços abertos a mostrar-se por inteira, exatamente como o seu maior cartão-postal, o Cristo Redentor. E se você desliga a televisão e vai ao cinema, lá está ela novamente, na abertura do filme nacional patrocinado pela Ancine (todos, né?!), com o Cristo sendo filmado em uma tomada panorâmica, que é para não deixar dúvidas de sua esplendorosa beleza. No Brasil, é praticamente impossível não se sentir parte do Rio de Janeiro, ainda que a região em que você more não tenha absolutamente nada a ver com a cidade de Machado de Assis. E o jeito do carioca viver, virou o jeito do brasileiro. Não importam as diferenças geográficas, climáticas e culturais, é no carioca que se encontra a essência do brasileiro: a alegria, a espontaneidade, o carisma e aquele jeito especial de deixar a vida correr solta, exatamente como canta o grande poeta Zeca Pagodinho em um de seus clássicos. Ou seja, somos todos um pouquinho cariocas. E não adianta lutar contra. O estereótipo ideal do brasileiro vem sendo burilado há décadas, no mínimo desde as bananas de Carmen Miranda. E vem dando certo, muito certo.

Mas serviria de alento, pelo menos, se essa idéia forjada fosse apenas mais um golpe de marketing (burro, é claro) para vender nossa "tropicalidade" aos gringos, sempre sedentos pelo exotismo de nossa terra. Mas o pior de tudo é que isso não é apenas um conceito tipo exportação. Não, é algo disseminado como regra em todo país. Não há escapatória, more onde morar, viva como viver, faça o que fizer. Somos todos um só, bem moreninhos e alegres.

E as explicações para esse fenômeno são tão despropositadas quanto o fato em si. A mais comum delas é a que diz ter o Rio de Janeiro "o melhor e o pior do Brasil", ou seja, a síntese ideal. A frase é de uma imbecilidade de doer. Como se os problemas do Brasil se resumissem às favelas cariocas e, nossas qualidades, às belezas naturais da cidade. É um pensamento, no mínimo, preguiçoso, reducionista e pobre. Foi-se o tempo em que o Rio era a casa do rei. Os tempos mudaram e, de lá para cá, muitos Brasis se formaram, com peculiaridades tão fortes e marcantes quanto os traços que definem a Cidade Maravilhosa e seus habitantes. Não se trata, é claro, de negar os atributos da cidade e sua importância histórica e social, nem de construir um panfleto preconceituoso contra seus habitantes. Isso seria burrice.

O fato é que, apesar da inegável importância de Rio de Janeiro e São Paulo, que polarizam as atenções, o Brasil não pode ser definido por um samba de uma nota só. Isso seria o mesmo que transformar o país em uma massa homogênea com o Corcovado e o Maracanã fincados em cima. É um estereótipo que ninguém faz questão de questionar e, muito menos, mudar. Pelo contrário, só o alimentam. E essa imagem, conseqüentemente, é cada vez mais difundida no exterior ― nossos cineastas, por exemplo, adoram reforçá-la. O que só faz perpetuar, lá fora, um lugar-comum, nunca contestado, sobre o nosso país. Como podemos reclamar de o Brasil ser eternamente visto como um grande campo de futebol, com mulatas e sambistas bebendo caipirinha na arquibancada, se a propaganda oficial faz questão de ratificar essa imagem, não só fora do país, mas, o que é pior, dentro também?

E o mais engraçado é que não se trata de uma questão econômica. Porque se assim fosse, São Paulo, com seu PIB monstruoso, sua produção e agenda de cultura, certamente seria o nosso símbolo nacional, mesmo com sua feiúra cinzenta. Hoje, é difícil imaginar que uma cidade, por mais bela e fascinante que seja, defina tudo que se faz, se vive e se produz em um país com as dimensões do Brasil.

É o mesmo erro que até pouco tempo se cometia com a literatura de Jorge Amado, colocado sempre como o "escritor do Brasil", aquele que, por meio de seus romances, trazia a alma nacional a público. Durante muitos anos, e para muitos ainda hoje, o baiano era o escritor essencialmente brasileiro. Mas será que, agora, a literatura de Jorge Amado dá conta de explicar o país? De certo modo, sim. Mas não por inteiro. Jorge Amado escreveu sobre um Brasil, e, por méritos próprios, foi justamente o Brasil que "pegou", aqui e lá fora. Mas será que é um Brasil inteiramente verdadeiro? Penso que não, é apenas uma parte, importante, é verdade, mas que não consegue explicar o que somos de maneira mais ampla. E é isso que acontece quando o Rio de Janeiro aparece como o retrato do Brasil ideal, aquele que revela nossas raízes mais originais. É uma situação que se perpetua há tempos e que, para desgosto de quem está longe demais das capitais, não dá sinais de esgotamento. Uma pena, pois até que isso mude, seremos todos "cariocas".


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 12/11/2008

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